30.4.10

Matilda: fortes emoções









As paredes detonadas pela infiltração começaram, enfim, a ser repintadas -- e a Matilda ficou na maior felicidade. Nunca viu nada igual na sua vidinha, e curtiu intensamente cada folha de jornal pelo chão e cada micrograma de poeira.

Depois, naturalmente, desmaiou, exausta de tantas emoções.

Sugar blues



A gente lê na embalagem quanto açúcar um determinado produto tem, mas ver ao vivo, cubinho de açúcar sobre cubinho de açúcar, são outros 500.

A missão do blog Sugar Stacks é mostrar quanto açúcar as comidas escondem. Embora boa parte dos produtos seja norte-americana, dá pra fazer uma adaptação fácil à nossa realidade.

Medo, muito medo!

29.4.10

Adeus, amigo!

É com pesar que este blog registra a aposentadoria compulsória do Nokia N95.

O valente aparelhinho começou a ratear, travar e desligar, depois de mais de dois anos de uso ininterrupto, em condições nem sempre ideais, durante os quais, além das suas funções habituais de telefone, registrou milhares de fotos.

Na falta do meu celular favorito, e com o N97 fora de combate (tela detonada, SO precisando de upgrade), voltei ao iPhone 3GS, que passou a fazer dupla com o Droid da Motorola.

Ontem, aliás, foi dia de Revolta Geral de Máquinas & Similares por aqui: passei o dia sem internet.

* suspiro *

Queiram desculpar




Um dos maiores sucessos do cinema no já muito distante ano de 1970 foi “Love story”, historinha melodramática que, a essa altura, teria caído no mais completo esquecimento se, por acaso, não tivesse uma fala que entrou para a história. “Love means never having to say you’re sorry”, dizia a personagem de Ali McGraw para o personagem de Ryan O’Neal, o namorado que, depois de fazer uma besteira qualquer, tentou pedir desculpas: “Amar é não ter que pedir perdão”.

A frase deu origem à tirinha “Amar é...”, virou chavão, adesivo e capa de caderno escolar, é batida e piegas, mas encerra uma verdade incontestável: quem se importa com o outro, de verdade, trata de pensar e de agir bem consistentemente, em vez de magoar e, depois, pedir desculpas. Quem gosta cuida, presta atenção, evita ferir. Oferecer desculpas depois que o mal está feito é em geral pouco e, na maioria das vezes, não adianta de nada.

Em 1992, por exemplo, o Papa João Paulo II pediu desculpas em nome da Igreja pelo processo movido contra Galileu Galilei, que ousou afirmar que a Terra girava em torno do sol. Além de Galileu já estar morto há 350 anos, o caráter patético do episódio ampliou-se com a declaração mesquinha do pontífice, que fez questão de observar que a condenação fora resultado de uma trágica “incompreensão mútua”. Oi?! Como assim? Desde quando Galileu, que corria o risco de ser queimado em praça pública, era obrigado a “compreender” seus algozes?!

No mês passado, o Papa Ratzinger pediu desculpas às vítimas dos padres pedófilos. Seria bonito se não viesse na esteira de um escândalo escancarado e de um princípio de clamor pela renúncia do Papa -- acusado, ele próprio, de ter acobertado os crimes em áreas sob sua jurisdição. Desculpas para salvar a própria pele, porém, não têm qualquer valor, moral ou afetivo.

Acontece que pedir desculpas está na moda. De Bill Clinton a Tiger Woods, de Britney Spears à Lindsay Lohan, todo mundo deu de pedir desculpas – e todos, todos, com a mesma insinceridade, com a mesma falta de um arrependimento genuíno, que se possa notar em ações subsequentes. É como se o simples ato de dizer “Desculpe” ajeitasse tudo o que deixou de ser pensado e cuidado antes.

A mais recente figura da lista é o prefeito Eduardo Paes. Se as suas desculpas são sinceras, e ele de fato não soube dimensionar um evento que a cada ano fica maior, falta-lhe competência; se não são, e ele achou que um pedido de desculpas resolveria tudo depois, falta-lhe boa fé.

Em tempo: se magoei alguém da Igreja ou da prefeitura ao escrever isso, peço desculpas.

* * *

Sou viciada em sorvete de iogurte, e fico muito feliz a cada nova sorveteria que se abre na cidade. Acho que no dia em que o Rio tiver tantas lojas de sorvete de iogurte quanto tem farmácias, serei, enfim, um bípede realizado. Mas não suporto a mania que algumas têm de pedir o nome do freguês. A principal idéia por trás disso talvez seja facilitar a entrega dos pedidos, mas não vejo nada errado na boa e velha descrição do produto, tal como é feita em qualquer lanchonete; e implico mesmo com a idéia secundária, aquele falso tom de intimidade importado dos Estados Unidos. Não vou a lojas de sorvete de iogurte para criar uma relação com o estabelecimento; vou apenas tomar sorvete. Será pedir muito que me deixem quieta?!

* * *

Peguei o picolé de limão da geladeira. Este picolé, que tem menos de 60 calorias, é o ponto alto – e alegre – da dieta que, pela enésima vez, estou fazendo. É um momento de expectativa e de prazer antecipado: tirar o papel, jogar no lixo, olhar para aquela belezinha descascada e... nhac! Ó, felicidade. Pois não é que, no outro dia, o picolé veio com defeito? Olhando de fora, estava lindo e perfeito. Na boca, era salgado e amargo, mais ou menos como a limonada inesquecível do Sarojini Market, em Nova Delhi.

Pessoas de dieta são hiper sensíveis a qualquer ato de traição por parte de alimentos, e não sou exceção: como é que aquele picolé me fazia aquela desfeita?! Liguei pro 0800 da Kibon.

-- Não acredito, -- disse a Bia. – Você se deu ao trabalho de ligar pro SAC pra reclamar de um picolé? Mas para quê?

-- Para desabafar, ora essa! O pessoal que está lá é pago para ouvir reclamação. Não vou alugar família e amigos para reclamar de um picolé salgado, mas preciso reclamar com alguém.

-- E o cara não riu de você?

-- Não. Pelo contrário, foi gentil e atencioso. Pediu todos os dados do picolé e, se eu tivesse guardado aquela porcaria no congelador, provavelmente teria até mandado alguém buscar, para descobrir o que estava errado. Detestei o picolé, mas gostei muito do atendimento do SAC.

* * *

-- Alô, mãe? – disse a Bia. -- Liguei pro SAC!

-- Você também pegou um picolé salgado?!

-- Não! Liguei pro SAC das fraldas, para reclamar das tirinhas adesivas. Foi muito engraçado. O cara me perguntou: “Posso te chamar de mamãe?” e aí ficou aquele papo, “Mas mamãe, como é que você põe a fralda nos bebês?” e “Mamãe, como é que você tira o papel das tirinhas?” Muito louco...

Pensando bem, prefiro que as lojas de sorvete de iogurte continuem pedindo o meu nome. Já pensou se a moda do SAC das fraldas pega?

-- Vovó, tem um chá verde aqui...

-- Mamãe, pega o seu maracujá no capricho!

Eta, mundo.


(O Globo, Segundo Caderno, 29.04.2010)

26.4.10

Almocinho light de segunda-feira

Se beber, não telefone



Teria sido assim: Gray Powell, jovem engenheiro da Apple, saiu para comemorar o aniversário de 27 anos com amigos numa cervejaria de Redwood, California, chamada The Gourmet Haus Staudt. Estava usando o iPhone, como de costume, e a certa altura mandou para o Facebook uma mensagem louvando as virtudes da cerveja alemã. Foi a sua última comunicação através do aparelho que, pouco depois, ao sair, esqueceria no banco onde estivera sentado.

O iPhone foi encontrado por um rapaz que estava na mesa ao lado. Ele esperou mais um pouco, com amigos, por uma eventual a volta de Gray, mas, como ela não aconteceu, levou o celular para casa. Lá, finalmente, percebeu que o que tinha em mãos não era, por baixo da capinha protetora de plástico preto, um 3GS comum. Para começar, era chato na parte de baixo, tinha uma tira metálica em toda a lateral e, milagre, uma câmera frontal. Brincou um tiquinho com o brinquedo, dormiu e, no dia seguinte, encontrou o telefone bricado.

Bricado, conforme vocês sabem, é um neologismo que vem de “To brick”, transformar em tijolo, coisa que acontece quando um aparelho eletronico de formato retangular vai pro espaço em conseqüência de pico de energia ou de incompetência do usuário. Alguns aparelhos celulares também podem ser bricados à distância -- clássica defesa em casos de perda ou roubo.

O rapaz ligou para a Apple tentando devolver o tijolo. Ninguém lhe deu ouvidos. E assim, sabe-se lá como, o aparelho foi parar nas mãos do Gizmodo, popular site de notícias da vida digital, que teria pagado por ele US$ 5 mil, cash.

Lá o falecido celular foi devidamente despido da sua capa preta, fotografado, analisado, estripado. Os jornalistas da casa chegaram à conclusão de que estavam diante de um protótipo do iPhone 4, que só será (seria?) oficialmente apresentado ao mundo no segundo semestre. Mais importante, talvez, estavam diante da primeira falha séria na segurança paranóica da Apple, que não admite vazamentos e é reconhecidamente severa, mesquinha até, com quem ousa desagradá-la.

Nos dias seguintes à publicação da história e apresentação do iPhone 4, na segunda passada, o Gizmodo virou uma espécie de centro nevrálgico do mundo geek. Houve de tudo, de gente achando que era um Primeiro de Abril atrasado, a gente convencida de que tudo não passava de um golpe de marketing da Apple. Devo confessar que a minha primeira reação foi essa também. Depois, lendo a matéria, percebi que estava diante de um caso clássico de falha humana. Empresas que testam protótipos fora de “casa” e de um ambiente fechado a sete chaves devem aprender a contar com este elemento; se não contam, são burras mesmo, por mais inteligentes que sejam.

O mais esquisito é que houve, e há, gente que acha que o Gizmodo não deveria ter publicado a reportagem sobre o celular. Estão malucos?! A troco de quê o site perderia esta oportunidade?! A matéria seria anti-ética se o telefone houvesse sido apresentado pela Apple com toda a boa fé e o site tivesse assinado um NDA (Non-Disclosure Agreement). Como foi, cabia à Apple cuidar melhor do que era seu. Ponto.

Onde o Gizmodo pisou na bola, a meu ver, foi em entregar o pobre do engenheiro distraído, ainda mais com o tom ligeiramente debochado que usou. Sim, a Apple saberia logo quem perdeu o protótipo e o nome logo se espalharia pela comunidade de Cupertino, que não é lá tão grande; mas ele não ficaria exposto para sempre na internet como aquele cara que bebeu mal.

E o celular? Ah, sim: tem dois botões de volume, uma câmera com flash e uma câmera frontal. Nada que um bom smartphone não tenha há tempos.


(O gordinho da foto é Steve Wozniak)


(O Globo, Revista Digital, 26.04.2010)

25.4.10

Gente que faz

Minha amiga Rosana Monteiro, que muitos de vocês já conhecem aqui do blog, está trabalhando como voluntária na Zona Oeste, onde mora, para ajudar as vítimas das enchentes.

Ela não é candidata a nada, não pertence a nenhuma igreja ou grupo político: é apenas um bípede de bom coração, que se aflige ao ver gente e bichos passando necessidades.

Rosana pede donativos para as pessoas da sua região, que perderam tudo.

Não precisa levar lá. Um dia ela vem de carro e pega tudo por aqui. O ideal, porém, seria que pessoas com poder de organização criassem alguns pontos de recolhimento de donativos, até para facilitar esse trabalho de coleta.

Maiores informações sobre o que acontece na Zona Oeste e sobre o que a Rosana está fazendo podem ser encontrados no seu blog, Viva Mais Feliz.

23.4.10

O lugar favorito do Tiziu



Depois de alguns meses juntos, vamos nos conhecendo melhor.

A essa altura, o Tiziu, felino arguto que é, já sabe tudo sobre mim; e eu, claro, sei duas ou três coisas sobre ele.

Ainda não nos comunicamos por telepatia, como é o caso da Keaton, mas fazemos progresso.

Uma coisa ficou bastante óbvia desde que veio para casa: sua única e imensa preocupação é... comida. Passa o dia rondando as tijelinhas, vira e mexe está na cozinha e não pode ouvir o barulho de qualquer espécie de embalagem sendo aberta: vá que seja coisa de comer?

Prova de tudo, e não se conforma quando descobre que existem coisas de que não gosta. Até suco de maracujá ele bebe (desde que esteja num copo, servido para bípedes). Fazendo careta, mas bebe. Gelatina diet, salada, arroz com feijão -- tudo é lucro.

É claro que, com esta característica predominante, já está uma bolinha. Na verdade, nunca vi um jovem gato tão... errr... digamos, "forte".

Exercício que é bom, nada; pelo contrário. Nisso, aliás, é completamente atípico: erra pulo, derruba as coisas, se esparrama feito água. Agilidade só pra correr pra dentro da geladeira quando ouve o "scheffff" da porta abrindo.

Tem tão boa índole que, da Tutu ao Lucas, conquistou todo mundo aqui em casa.

É absolutamente pateta, inocente e encantador, um dos quadrupes mais carinhosos que já conheci.

22.4.10

Mamãe está nas paradas hoje... :-)



(Prontinho, agora está bem legível... é só clicar na foto, ela aumenta.)

Ela adora um livro

Afinal de contas


(Esta foi a foto publicada)


(E aqui, o auxílio luxuoso que eu tive da Lolinha)

Nunca imaginei que, um dia, eu pudesse ficar animada e feliz ao saber que o correio trouxe muitas contas; e, no entanto, assim é. Chego da rua, a Vanessa diz que a escrivaninha está cheia de contas -- e não é que largo tudo e corro para o escritório? Os envelopes são geralmente pardos e forrados de plástico bolha. Vêm da China, da India, de Cingapura, da Austrália, da Malasia, do Nepal, dos Estados Unidos e da Europa, mais especificamente da Grécia e da Itália. Alguns têm selos (sobretudo os de Hong Kong, que trazem séries de pássaros, e são lindos, e os do Nepal, que comemoram incansavelmente os 50 anos de relações diplomáticas com a Alemanha, e são horríveis); outros, como Austrália e Thailandia, têm adesivos impressos nos correios, com data, hora e valor exato da postagem, mais um caprichado canguru ou elefante enfeitando a burocracia; os demais, que são maioria, nem ligam para esses detalhes gentis, e vêm apenas com o carimbo de liberação sem graça que mostra ao mundo que não são viajantes clandestinos.

Dentro, as contas vêm soltas ou embrulhadas em mais plástico bolha, papel, algodão. Algumas são tão pequenas que a gente tem que tomar o máximo cuidado para não jogá-las fora junto com a embalagem.

* * *

Liga uma amiga:

-- Está ocupada?

-- Mais ou menos. Estou às voltas com as contas.

-- Ah, nem fala, eu também. Se indignação matasse eu morria todo ano nessa época. Separo a papelada do imposto de renda, somo o total do que paguei... e é muita coisa! O Bergman se exilou, foi embora da Suécia porque ficou indignado com o que o imposto de renda arrancava dele e o que o governo lhe dava em troca – na Suécia! E devia pagar menos do que eu! É um absurdo ver um dinheiro tão difícil de ganhar fugindo pelo ladrão...! Você já viu político com dificuldade de fechar as contas no fim do mês? Já viu político morando mal? Mesmo os que entram humildes na profissão, se é que aquilo é profissão, acabam em apartamentos de alto luxo, com carro blindado e motorista... e a gente que agüente transporte de quinta, ônibus assassinos, aquele metrô nojento... mas tudo a custo de imposto sueco... e temos sorte, ainda, porque não dependemos dos trens.

Concordo inteiramente com tudo, mas minha atenção está nas contas; o pior é que, depois de tal tirada de civismo fiscal, nem tive coragem de dizer que as contas às quais me referia eram outras. O mundo está acabando, os aviões pararam, o imposto bate à porta – e eu me refugio em brilhos, desenhos, materiais e formas miúdas.

* * *

-- Você não acha isso muita alienação? – perguntou um amigo. – Que passatempo de madame!

-- Errou nas duas. Depende de como você olha. E as madames usam o resultado final. Madames jogam bridge, não enfiam conta. Quer ver uma coisa? Hoje recebi duas contas de acrílico, um fio de 12 contas de bronze muito toscas e uns peixes esculpidos em pedra, à mão, um por um. Qual foi o mais caro?

-- O que é que isso tem a ver com o que eu perguntei?

-- Tudo! Responde, vai.

-- As pedras esculpidas?

-- Errou. Os peixes são chineses, e foram o lote mais barato. As duas contas de acrílico são japonesas e, apesar de serem produto industrializado, custaram bem caro.

-- Ah, mas assim é óbvio: você não me falou de onde vinham! Os chineses têm mão de obra escrava, e os japoneses tem um custo de produção altíssimo, Tóquio é uma das cidades mais caras do mundo.

-- É, só que as contas mais caras de todas foram as africanas, feitas em Gana. Não sei qual é o custo de vida em Gana, mas a mão de obra local deve ser mais barata do que a japonesa.

-- O material é mais caro.

-- Negativo. O material das chinesas é mais caro. Vai, explica!

-- Sei lá!

-- Escala e logística. Deve existir uma aldeia na China onde todo mundo passa dia e noite esculpindo peixinhos em pedras semipreciosas, e como há muitos chineses há muitos peixinhos. Vai ver que essa aldeia que eu imagino é maior que Gana inteira, que tem 24 milhões de habitantes... A China é uma máquina de exportar que se alimenta de dólares. Há incentivos e facilidades de todos os tipos para exportadores, o país é um gigantesco entreposto. Mandei vir contas de todas as partes da China, sempre tão baratas que me espantam, sobretudo quando a mão-de-obra é mais importante do que o material. Mas vai comprar uma conta africana! Já comprei várias, de diferentes países e tribos, mas sempre através de terceiros, geralmente na Inglaterra, na Grécia e nos Estados Unidos. Não descobri na internet um único canal de compra direto para o continente. E desconfio que os africanos que fazem as contas, seja em Gana, no Quênia ou em Madagascar, ganham menos ainda do que os chineses. Viu só como bijuteria é um ramo complexo da atividade humana? Geografia, sociologia, antropologia, economia, história: o que você quiser você encontra num reles colarzinho globalizado.

* * *

Eu nem devia estar me queixando agora, que as contas começam enfim a chegar, mas me queixo mesmo assim, porque não é possível tanta demora. Colombo levou dez semanas para descobrir a America, Cabral chegou ao Brasil em um mês e meio, a Apolo XI chegou à Lua em menos de quatro dias, mas os Correios precisam de pelo menos um trimestre para trazer um mísero pacotinho de Hong-Kong!

O pior é que, a essa altura, estamos com o filme queimado em meio mundo. No eBay, maior site de compra e venda da internet, já são incontáveis os vendedores que se recusam a enviar mercadoria para o Brasil, seja por causa da demora, seja por causa da perda pura e simples dos produtos.

Convenhamos: é humilhante descobrir que somos um dos poucos países excluídos da brincadeira por gente que não tem nada contra mandar mercadoria para o Afeganistão ou para o Iraque.


(O Globo, Segundo Caderno, 22.04.2010)

21.4.10

Tudo engarrafado, o dia inteiro!

Final Feliz!

E aí, hoje, chegou este email:



"Queridos amigos!

O Gatinho foi adotado :-)))

Aí está ele com a sua nova dona, Andrea.

Gostaria de agradecer em especial a Rita, Fabiana e Shirleine, que também se interessaram em adota-lo; à Teresa, que lutou para alimentá-lo e cuidá-lo durante o tempo que passou na rua. E a Renata Muricy, minha prima Lídia e minha cunhada Chris pela super divulgação.

Obrigada de coração.

Um grande beijo! Bom feriado para todos.

Renata"

Lucas

20.4.10

Jantar com amigos

Um folgato perfeito...

Emergência felina!

Recebi este apelo lá no jornal:



"Este lindo siamês foi encontrado em fins de março num terreno no canal de Marapendi, na Barra da Tijuca, atrás do condomínio Golden Green. Pelo que conseguimos descobrir, a ex-dona resolveu abandoná-lo quando teve um bebê.

O gato passou vinte dias apavorado dentro de uma manilha de escoamento de água. Não tinha coragem de sair nem para comer. Depois de várias tentativas, e após um longo período de medo, finalmente está saindo para se alimentar.

Ele é extremamente dócil e carinhoso, e deve ter uns sete anos. Não tem condições de continuar vivendo ali. É um gato de apartamento.

Alguém se candidata a ficar com ele? Será um excelente companheiro.

Para maiores informações, é só falar com a Renata ou com a Lidia (também nos telefones 2295.0680 ou 8203.5555)"

19.4.10

O apartamento vazio

Nem sempre a mesma vista é a mesma vista

Um aparelhinho matador

Responda depressa: o que é que as pessoas querem em época de Copa do Mundo?

a) Editor do Word

b) Leitor de PDF

c) Wi-fi

d) TV Digital


A Vivo aposta que acertou quem marcou a última opção, e apresentou, na última quinta-feira, o seu grande trunfo para a temporada: o ZTE N290, um celular leve, simpático e jeitoso que, embora sem características de smartphone, tem tudo para roubar a cena. Afinal, reúne no mesmo pacote TV Digital e preço muito acessível – R$ 199 no plano Vivo Você 200, ou R$ 399 no pré-pago.

Seu concorrente (legal) mais próximo é o Samsung Star TV i6220, que sai a R$ 649 na versão pré-paga; fora dos camelôs e dos importabandeados, o ZTE N290, com sua boa tela de 3”2, passa a ser, aliás, uma das opções mais baratas de TV digital do mercado, fazendo frente até à TV digital portátil de 3.5" da Tectoy, vendida pelos mesmos míticos R$ 399 nas boas casas do ramo.

Como celular, o N290 é simples, mas muito bem resolvido. Tem o formato clássico dos touch-screens, uma interface agradável, com widgets que podem ser arrastados para a tela ou para fora dela, e os features básicos da espécie: rádio FM, capacidade de expansão da memória de 50Mb para 8Gb através de cartão micro SD, Bluetooth, câmera de 2Mp.

Ele se dá até ao luxo de ter uma canetinha embutida, para quem prefere um touch-screen à antiga; nas horas vagas, ela faz o papel de antena. Não é a peça mais resistente do planeta, mas como bossa é interessante.

Como telefone o N290 é ótimo, e a vida da bateria é boa: segura três horas seguidas de TV, o que garante que ninguém vai perder detalhes dos jogos. Ele pode ser carregado também através do cabo USB, o que é uma salvação no trabalho para quem vive perto de computadores.

A câmera é apenas razoável, embora com luz diurna faça até um bonito, mantendo fidelidade às cores e detalhes: aí na página estão alguns exemplos do seu comportamento. Ela pode ser usada também como filmadora, mas é claro que tudo isso é detalhe, já que o ponto de atração do aparelho é mesmo a TV, que funciona em mono com o áudio externo e estéreo com headphones.

Apesar de tantos predicados, Eliandro Ávila, presidente da ZTE no Brasil, reconhece que a empresa precisa vencer o preconceito contra os produtos chineses, agravado pelos xinglings de camelô que funcionam uma semana e depois morrem. A estratégia, porém, é a mais simples possível: deixar que os produtos falem por si mesmos.

Pois o N290 é um excelente porta-voz.


(O Globo, Revista Digital, 19.04.2010)

15.4.10

Imperdível. Mesmo!



O Yannis, nosso amigo violinista francês, mandou o link para um sensacional programa da da France 3: um concerto juntando o Sirba Octet (um grupo klezmer fantástico) e a cantora Isabelle Georges.

O repertório -- que vai de "Yiddische Mama" a "Over the rainbow", de "Rozhinkes mit Mandlen" a "My funny Valentine" -- é engraçado, eclético e inesperado; não deixem de assistir.

É muito bom!

(Aqui no blog, o video vai dedicado à Monca, desejando-lhe toda a felicidade do mundo na casa nova.)

Memento mori

Death is not in life
(Wittgenstein)



Eu vi morrer três pessoas:
a uma acompanhei até ao fim,
no que seria talvez o que lhe restava de vida
ou porventura o que lhe sobrava de morte;
outra morreu quando eu dormia,
longe do hospital:
e tive que atravessar pela madrugada
uma cidade estrangeira
para chegar à sua morte;
e meu Pai, enquanto eu ia
comprar-lhe uma garrafa de oxigénio,
que nunca soube a quem serviu depois.

Nós nunca vemos ninguém morrer,
porque morrer é por dentro de cada um,
como talvez tudo o que tenha algum sentido,
como talvez o amor.

O que verdadeiramente importa
é opaco ao nosso olhar
e cada prova que vivemos
é só e única:
morrer ou ver morrer
e o amor também.


(Luis Filipe de Castro Mendes)



Não é só nos livros que eles se escondem, os grandes poemas portugueses: às vezes, moram em blogs com nomes despretenciosos e engraçados, como Tim Tim no Tibet...

Genesis

De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.

Nem de existir, que é a vida atraiçoada,
para sentir o tempo andar comigo;
nem de viver, que é liberdade errada,
e foge todo o Amor quando o persigo.

Por mais justiça ... -- Ai quantos que eram novos
em vâo a esperaram porque nunca a viram!
E a eternidade... Ó transfusâo dos povos!

Não há verdade: O mundo não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais, todos mentiram.


(Jorge de Sena)

O que faz um bípede com dor nas costas?

Deita no chão, revira os livros e se queixa do mundo em geral.

Às vezes encontra um poema que diz "Epa!", e fica lá, martelando na cabeça, porque não é para ler só assim, costas no chão, mas com a máxima reverência.

Então.

14.4.10

Por que preciso de um iPad para ontem

Tutu não é a única sumida por essas bandas...

Eu também ando ligeiramente fora do ar; a tal ponto que amanhã, infelizmente, a coluna nem sai.

Pela primeira vez na vida estou com uma dor séria nas costas, que não só me impede de ficar muito tempo numa posição, como me desconcentra completamente.

Passado este desagradabilíssimo momento, vou fazer o que já devia ter feito há séculos, ou seja, uma crônica de gaveta para ser usada em emergências assim.

Tutu, a sumida (odeia tirar retrato)

Tiziu

12.4.10

Nossos classificados



Fala, Laura!
"Tenho aqui, paradas e novas, 4 capinhas de silicone para Ipod classic 80 GB (encomendei para a Ma, mas veio o modelo errado).

Os modelos são bem bonitinhos. 2 pretas com desenho branco e outra lisa transparente

Fico com pena de elas estarem aqui à toa. Alguém precisa? Troco por qualquer coisa útil para mim, como um saco de jujubas..."

10.4.10

Os meus vizinhos da floresta

 
Posted by Picasa


O matinho da pedra, atrás do prédio, anda cheio de micos. Do meu andar são difíceis de fotografar -- a pedra é longe, e eles ficam no alto das árvores, ao passo que eu vejo melhor a parte de baixo -- mas hoje consegui pegar esses aí em flagrante.

Enquanto escrevo, ouço os seus chiados lá fora.

Parece até provocação!

8.4.10

Rio: um estado de calamidade pública




Os astros deviam estar mesmo completamente desalinhados na última terça-feira, quando o mundo veio abaixo. O presidente e o governador não só estavam de passagem pelo Brasil como, ainda por cima, encontravam-se ambos no Rio. Aproveitaram para tirar da gaveta as suas caras mais compungidas, deram uma espanada e uma mão de óleo de peroba, e prontamente puseram-se a desfiar o óbvio, como se fosse súbita e espantosa revelação:

“Não é mais possível permitir que as pessoas ocupem áreas irregulares, -- pontificou Lula, cujos conceitos de regularidade e irregularidade até hoje não ficaram claros. “É preciso que os administradores públicos antevejam isso.”

Concordamos todos. Teria sido muito bom para o Rio de Janeiro se o governo federal, em algum momento, tivesse antevisto isso. Talvez tivesse sido melhor ainda se tivesse destinado verba um pouco mais generosa do que o 1% dos recursos federais para a prevenção de enchentes que veio para cá.

O governador Sérgio Cabral, capaz de chorar lágrimas de crocodilo em defesa dos royalties do petróleo, não viu, porém, necessidade de tocar nessa cobrança desagradável com o visitante ilustre, e pos a culpa pelas mortes nos próprios mortos:

“Não é possível a construção irregular continuar. Se você pegar essas pessoas que morreram, quase todas estavam em áreas de risco.”

Não diga, governador! É mesmo?! Ainda bem que temos um líder dotado da sua sagacidade, capaz de identificar, com essa precisão cirúrgica, um problema que nenhum de nós jamais percebeu.

“É uma loucura, é uma irresponsabilidade!”, exclamou, ao ver – pela televisão, é claro -- os desabrigados que, desesperados, tentavam salvar seus poucos pertences em meio à lama. “Essas pessoas estão cometendo quase que um suicídio!”

É provável que o governador não tenha percebido antes a loucura e a irresponsabilidade que são a construção e a existência em “áreas irregulares” porque, quando as visita, vai a caça de votos, e aí, com aquela gente toda em volta, e mais galhardetes, cartazes, artistas e seguranças, não dá para ver nada direito. Além disso, em dias de sol, a loucura e a pulsão suicida evaporam junto com a água e os demais problemas. Agora então, que as casas nas favelas vão levar umas mãos de tinta, tudo vai ficar uma beleza.

Assim como o presidente, o governador também foi enfático ao lavar as mãos e ressaltar a responsabilidade das “autoridades”. Sobrou para o prefeito Eduardo Paes, que fez a única coisa possível: deu nota abaixo de zero à cidade. Um diagnóstico perfeito, do qual não há carioca que discorde. A diferença é que ele ganha para fazer com que essa nota melhore, mas tirando o famigerado convênio com a Fundação Cacique Cobra Coral, não se tem notícia de qualquer providência de sua parte em relação a obras que poderiam aliviar o drama.

Estamos fritos.

* * *

Seria até tranquilizador ver todos os manda-chuvas (!) de acordo em relação ao absurdo que é a construção em “áreas irregulares” se, às palavras vazias, houvesse sido acrescentada alguma ação concreta em tempos secos e não-eleitoreiros.

Derrubar casas de classe média construídas em encostas perigosas é jogada demagógica para a platéia, e não resolve nada a longo prazo; derrubar casas pobres, além de não resolver nada também, é, anda por cima, politicamente incorreto, e leva à perda de votos -- algo pior, para esses cínicos, do que a perda de vidas.

Acontece que, enquanto a lei não for de fato respeitada, e enquanto cada um puder fazer o que bem entender onde bem não pode, tudo continuará na mesma.

Por outro lado, não adianta ameaçar com os rigores da lei quem não tem para onde ir. Ou se trata a periferia com dignidade, cria-se um programa sólido e permanente de habitações populares e dá-se jeito no deplorável panorama dos transportes públicos da cidade, ou o Rio será, entra ano sai ano, o eterno cenário de uma tragédia anunciada.

* * *

A melhor frase sobre a calamidade que vivemos foi da leitora Luisa Maria de Sant’Anna Cardoso, publicada na seção de cartas da edição de ontem:

“O governo do Rio cumpre promessa de campanha: levar água e esgoto a todas as casas do Rio de Janeiro!”.

* * *

Há alguns (muitos) anos eu estava em Congonhas, caminhando com outros passageiros em direção ao avião que me traria de volta para o Rio, quando o sujeito que ia à minha frente, tendo terminado de ler o jornal, atirou todas as suas folhas ao vento. Tenho testemunhas: o sujeito era o cultíssimo, elegantíssimo, refinadíssimo Mario Henrique Simonsen, e até hoje não consegui esquecer o seu gesto de absoluta barbárie.

Ora, quando até um Mario Henrique Simonsen acha normal jogar um jornal inteiro (!) na pista de um aeroporto (!!!), o que se pode esperar de pessoas menos sofisticadas? É evidente que temos uma grave falha cultural em relação ao lixo; ou o governo toma providências em relação a isso, criando campanhas de conscientização permanentes e multando os porcos, ou continuaremos na mesma, pois já ficou claro que, em casa, esta educação não está funcionando.

Impossível não é. O cigarro, com todo o lobby das companhias de tabaco por trás, passou a ser mal visto; a mesma coisa se poderia fazer com o lixo, que sequer emprega marqueteiros internacionais.

Já está provado: o ser humano pode ser treinado.

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Cariocas, recortem esta foto. Guardem. Os que querem emagrecer podem até colar na porta da geladeira, porque dá engulhos e tira o apetite. Mas, sobretudo, lembrem-se dela no dia das eleições. É isso que dona Dilma acha que o Rio merece.

(O Globo, Segundo Caderno, 8.4.2010)