O caderninho sai de cena
O mundo nunca mudou tanto quantonos últimos 17 anos; nós acompanhamos
No dia 4 de março de 1991, um caderno chamado “Informática etc.” fez sua estréia no GLOBO. Dirigido aos pioneiros que usavam computadores pessoais como ferramenta de trabalho e de diversão, o “caderninho”, como o chamávamos, foi, durante muito tempo, o tambor de repercussão da tribo. Como nunca se tinha feito coisa parecida no país, enfrentamos algumas dificuldades práticas hoje inimagináveis, como a falta dos caracteres @ e % (importantes em certas linhas de programação — é, até sobre isso escrevíamos!) entre as fontes disponíveis na gráfica. Solução? Imprimir as tais linhas e publicá-las, como ilustração, no meio do texto. O trabalho que dava!
A reportagem de capa do primeiro caderno, “A guerra não acaba nunca”, usando a Primeira Guerra do Golfo como gancho, era um apanhado de vários joguinhos temáticos para PC. Foi escrita por mim, que cuidei também das fotos: feitas com a câmera montada no tripé, em frente ao monitor. E usando filme.
Atualmente, basta capturar a tela e mandar o jpeg direto para o sistema. Câmeras e filmes foram eliminados do processo. E, nem preciso dizer, a qualidade das imagens sai bem melhor. Muita coisa aconteceu de lá para cá, e o acervo de histórias do “Informática etc.”, que entrevistou Bill Gates antes do primeiro milhão de dólares, é interminável.
O caderninho foi acompanhando os tempos, as famosas bolhas e, sobretudo, a mudança de público: de um momento para outro, com a popularização da internet, não estávamos mais falando só com uma tribo, mas com todos os segmentos da sociedade. E, embora já tivéssemos % à vontade, não tínhamos uso prático para o sinal, porque não fazia mais sentido publicar linhas de programação. A @, por outro lado, presente em todos os endereços de email, virou estrela dos novos tempos, e passou a ser uma espécie de logomarca universal da tecnologia de informação.
Atualmente, os computadores são nossos companheiros constantes. Ninguém se lembra mais de como vivia antes do Google, da Wikipedia, dos celulares. E, assim como o mundo mudou, está na hora do caderninho mudar também.
Esta é a última edição do “Info etc.”, que, em seus 17 anos, foi íntima testemunha da revolução tecnológica que transformou a terra num planeta conectado. Era a revolução que todos nós, geeks de primeira hora, queríamos: computadores ao alcance de todos e por todos os lados, conexões rápidas disponíveis em toda parte, a informação na ponta dos dedos.
O fim do “Info etc.”, ainda que possa ser considerado o fim de uma época, não é motivo para tristeza. Pelo contrário: ele sai de cena para abrir caminho para “Digital”, a revista que vem com tudo, e que vai substituí-lo às segundas-feiras. Na edição, nosso intrépido Nelson Vasconcelos; a equipe está a postos.
(O Globo, Info etc., 2.6.2008)
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