19.7.06

Vida selvagem

A essa altura, se o vôo da Tap saiu no horário, a Bia já está cruzando o Atlântico rumo ao Brasil. Sete quadrupes tristonhos nem sabem (ou será que sabem?) mas, logo logo, vão ter uma grande surpresa.

Para mim,Paris perdeu boa parte da graça; acho que amanhã, quando pegar o avião, pela primeira vez na vida não vou embora com aquele gostinho de "Quero mais!".

Cobrir a Copa foi uma das grandes aventuras da minha vida, e esta temporada européia se encerrou com chave de ouro com a companhia da minha bipinha; mas agora quero a minha casa, a minha cidade, o meu país; quero ouvir o pessoal falar brasileiro na rua, esbarrar nos amigos pelas esquinas, sentir o gosto da nossa comida e o cheiro do mar.

* * *

Ontem fomos à Place des Vosges e ficamos batendo perna sem destino pelo Marais, que é um dos meus cantos favoritos em Paris. Descobri um perfume maravilhoso no Fragonard, fiz a besteira de não comprar na hora e agora vou ter que sair para caçá-lo: Fragonard a gente só encontra nas poucas lojas Fragonard ou pela internet, mas parece que há uma aqui em Saint Germain.

Vou procurar.

Comemos por lá mesmo, num ótimo vietnamita com cadeirinhas na calçada. Depois andamos até o Centro Pompidou, onde há uma exposição que me interessa -- O Movimento das Imagens -- mas estava fechado, dããã, era terça-feira, e assim nos atiramos às liquidações.

Esta é uma experiência que eu nunca tinha vivido, época de super liquidações em Paris. E é uma experiência que ou você ama ou você odeia: milhares de pessoas disputando roupas e sapatos atirados por todos os cantos, filas quilométricas no caixa e, nem preciso dizer, ar refrigerado deficiente na maioria das lojas.

Curiosamente, eu, que odeio shopping center e detesto experimentar roupas, adorei. Acho que é o elemento de caça ao tesouro da coisa, ou quem sabe a sensação de estar participando, ao vivo, de um cartum secular -- mas o fato é que voltei triunfante para casa com:

  • Uma saia da veludo liiiiiiiiiiiiinda por 10 euros;

  • Uma blusa cinza de algodão, de manga comprida, cheia de nervuras, que custava originalmente 50 euros e que saiu... grátis!, porque quando a caixa foi passá-la, a máquina registrou 0 e ficou por isso mesmo;

  • Uma sapatilha preta lindinha a 10 euros;

  • Uma outra sapatilha meio tênis, sei lá, difícil de explicar, mas muito simpática, a 12 euros;

  • Umas três ou quatro blusinhas básicas, ótimas para trabalhar, a preços diversos mas igualmente interessantes.

    A Bia, naturalmente, descobriu muitas coisas lindas, chiques e baratérrimas mas, ao contrário da mãe, ela é magrinha e arrumada, ao passo que eu faço aquele look de quem acabou de cair da árvore.

    * * *

    À noite deixamos tudo em casa e fomos ao Champs-Elysées comprar uma mala. A que ela trouxe já estava inteiramente detonada antes mesmo de sair do Brasil e, depois dos carinhos da companhia aérea, detonou-se de vez. Era uma Samsonite de casco duro que me acompanhava há anos, e que se tivesse milhagem própria bem que podia dar uma volta ao mundo. Fico meio triste de abandonar essa velha companheira, mas levá-la ao Brasil vazia, para reparos, nos custaria 120 euros de bagagem extra... mais os reparos.

    Aproveitamos para jantar por lá mesmo, compramos um daqueles sacões de rodinhas no Monoprix que fica aberto até meia-noite e voltamos para casa, onde passamos umas duas horas brincando de Pack-man; às cinco a Bia, que mal cochilou, já estava de pé para esperar o taxi. Seu avião saía aí pelas 7h30.

    Dormi até meio-dia, achei a casa totalmente vazia, e agora vou para a rua: ainda não desisti dos telefones e minha primeira parada será uma SFR.

    A palavra do dia é SAUDADE.
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