6.7.06

Quem parte leva saudades

Já está virando rotina: novamente escrevo de dentro do trem. Depois de dois dias deliciosos em Hamburgo, na companhia de amigos bípedes e quadrúpedes, volto para Berlim -- constatando, pela enésima vez, como é difícil deixar para trás gente e bichos queridos, cuja vida há tanto tempo acompanho.

De Hamburgo propriamente dita não cheguei a ver muito, além do centro e da baía do rio Alster. Fazia um calor pra amazonense nenhum botar defeito, e minhas amigas concluíram, mui sabiamente, que tudo o que eu precisava era de descanso e de um pouco de calma e tranqüilidade.

Assim, fomos para a casa da Antje, outra conhecida de Fotolog. Antje mora a 50 quilômetros de Hamburgo, numa área tão pacífica que as estradas ainda são de terra batida; é indescritível a quantidade de pássaros que se podem ver e sobretudo ouvir no seu jardim.

A casa da Antje é um capítulo à parte. É da primeira metade do Século XVIII, e desde então conserva-se maravilhosamente de pé com suas vigas de madeira, seus tijolos aparentes e seu telhado de palha. Foi comprada por ela e pelo marido há cerca de 15 anos, num leilão meio blind-date -- os dois viram a casa por fora, mas não podiam ver por dentro.

Sobrava pouquíssima coisa da estrutura original, mas aos poucos eles refizeram tudo a seu gosto. Ainda há uns tijolos modernos postos pelo proprietário anterior que incomodam a Antje, mas o lugar é um perfeito paraíso, pelo menos numa tarde de verão que vai até às dez da noite, com sol, cheiro de flores no ar e aquele passaredo incrível.

Tanto Bine e Dani quanto Antje têm lindos gatos, que sempre admirei pela internet. Bine é uma das melhores fotógrafas de bichos e insetos que conheço; Antje topa todas as brincadeiras fotográficas, como números em seqüência, alfabetos, cores, tampas de bueiros e por aí vai. Quando nos deixou na estação, por exemplo, trouxe a câmera porque estava precisando muito de um número 4.

Todas cozinham incrivelmente bem, o que foi outra benção para quem vinha de tantos dias de comida de hotel e restaurante, e fizeram questão de me mimar a mais não poder. Dani fez uma salada com frango simplesmente deliciosa, Antje assou uma torta e trutas com amêndoas, Bine preparou um magnífico espaguete à bolonhesa para o meu bota-fora.

A dieta, que eu vinha seguindo com certo cuidado, foi pro espaço; mas vocês hão de convir que eu não podia fazer a desfeita com as minhas amigas de não comer os petiscos que elas prepararam com tanto carinho, né?

Agora são onze da noite em Berlim e chove fininho lá fora; amanhã, se o tempo melhorar um pouco, passo o dia de bicicleta para expiar o pecado...

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