28.7.06

Gente, hoje é aniversário da Heliana!!!

Parabéns, querida!!!

Muita saúde, muitas felicidades, muitos gatos e, claro, muitas ondas bacanas para continuar surfando na boa por muitos e muitos anos!

Teste




O Rio é uma festa





Taí, eu já tinha me esquecido de como tem agito nessa cidade! Só esta semana fui ao show da Marisa Monte, ao sneak-preview para amigos do filme do Cacá e, ontem, à estréia de Porcelana Fina, a nova peça da Vera Fischer. E ainda teve o Prêmio Tim, que coincidia com o filme e deixei pra lá.

Resultado: em menos de uma semana, já revi uma quantidade enorme de amigos -- e o melhor é que todos têm notado que emagreci... :-)

Isso é ótimo, porque dá muita força pra continuar seguindo a dieta direitinho.

Por outro lado, ver a Vera é sempre deprimente, e me dá uma baita vontade de jogar a toalha. Somos amigas há quase 30 anos e, juro, mesmo com o pouco-quase-nada de exercício que faço, ainda me mexo mais do que ela; pra não falar que dieta é palavra que não consta do seu vocabulário... ao passo que não sai do meu.

E a danada sempre linda e esplendorosa.

* suspiro *

DNA é tudo...

27.7.06

Saindo do estúdio do Millôr




Somos pobres, mas somos fresquinhos



Minha primeira compra, agora que voltei para casa, vai ser um quadro-negro. Preciso escrever cem vezes: "Nunca mais reclamo do calor do Rio". Não me lembro mais se, em algum momento da vida, estive na Europa no verão; mas sei, com certeza, que nunca vou me esquecer de dois dias em Hamburgo e três em Paris em que tive saudades daquele arzinho fresco de Manaus e da aragem de Cuiabá -- e em que compreendi, afinal, por que as ondas de calor européias fazem tantas vítimas.

Antes, devo dizer que sempre achei um disparate morrer de calor lá para aquelas bandas. Minha impressão era a de que as vítimas sucumbiam de puro susto, para não dizer frescura, palavra pouco adequada sob todos os aspectos às trágicas circunstâncias; agora, que senti a canícula na pele, literalmente, me penitencio. Não só é possível morrer de calor na Europa, como é espantoso que mais gente não o faça.

Chega a ser assustador verificar como, a esta altura dos desmandos ecológicos, o continente está despreparado para o calor. Vi dúzias de lojas chiquérrimas em Saint-Germain onde as vendedoras, coitadas, trabalhavam com o escasso refresco de um ventilador mirrado voltado em sua direção; ar-refrigerado, e ainda assim fraco, só nas grandes lojas e em alguns cinemas. Os outros desconhecem esta peça essencial à sobrevivência humana. No metrô, nos ônibus e nos trens, o calor da hora do rush , em que milhares de pessoas se apertam nos vagões, só não é o que há de pior porque, além dele, há o cheiro das supracitadas pessoas.

* * *

Na casa das minhas amigas em Hamburgo, pude ver como tudo conspira contra o bem-estar de um europeu no verão, a começar pela decoração, invariavelmente pensada para o frio. Carpetes, cortinas, estofados -- tudo é feito para ajudar aqueles pobres bípedes a atravessarem os longos meses de inverno. As janelas podem ser abertas, claro, mas a idéia não é essa. Todas são decoradas com rendas, vasos de flores e objetos lindos de se ver da rua, mas complicados de tirar do lugar no ocasional dia de calor. Para não falar no pavor que todo bom europeu tem de correntes de ar.

No banheiro não há chuveiro. Há banheira e uma ducha móvel que, nos hotéis, pode ser presa à parede na altura de um chuveiro; mas a simples configuração deste arranjo hidráulico é a prova de que os banhos refrescantes sem os quais não conseguimos sobreviver aqui não fazem parte da vida diária de lá.

* * *

Sob este aspecto, o Rio é uma cidade singularmente bem adaptada às suas circunstâncias. Quando eu era criança e ar-refrigerado ainda era um luxo, os cinemas já tinham aparelhos tão possantes que se davam ao luxo de deixar as portas abertas, para atrair os passantes. Uma das coisas de que eu mais gostava no verão era de passar em frente ao Metro ou ao Copacabana, só para sentir a onda de ar frio que vinha lá de dentro. Táxi sem ar praticamente não existe mais, e nem se imagina uma loja com um mínimo de sofisticação sem refrigeração.

Pois só agora, depois da onda de calor que, há três anos, deixou 15 mil mortos na França, alguns estabelecimentos mais espertos começam a perceber o potencial de marketing de um bom ar-refrigerado. Para mim, acostumada à temperatura polar subártica da refrigeração média carioca, parecia piada ver hotéis e restaurantes de certa categoria com imensas placas anunciando "Climatisé" -- como se todo o conceito do ar-refrigerado houvesse sido inventado ontem, e as mudanças climáticas não fossem realidade já há décadas.

É verdade que, se algum dia nevar no Rio, estamos fritos; mas a hipótese parece remota, sobretudo nesta linda tarde invernal de terça-feira em que escrevo, vendo o termômetro marcar 30 graus lá fora. Acabo de chegar da Lagoa, onde fui dar uma volta de bicicleta e conferir a minha querência. Os filhotinhos de frango d'água que eram pequetitinhos quando viajei vingaram e estão lindos: nunca vi tantos deles por aqui. Os biguás estão ótimos, as duas garças minhas amigas continuam onde sempre estiveram, e o teimoso casal de quero-queros, mais uma vez, dá voltas em torno do campo de beisebol. Burros! Como pretendem que seus filhotes sobrevivam lá?! Acho que vou adotar o mantra que Mamãe usa nesses casos:

-- Darwin, Darwin...

* * *

Para que a vossa cronista possa tomar pé, e resolver a penca de problemas e pendências que se acumularam durante sua ausência, esta coluna sai do ar por duas semanas. Fiquem bem; a gente retoma a conversa no dia 17 de agosto. Até lá!


(O Globo, Segundo Caderno, 27.7.2006)

25.7.06

Outono no meu quintal

Outono no Rio

Ouro sobre azul II

Olá, vizinho!

Ouro sobre azul I

Ele não é lindo?

Um dos filhotes que cresceu enquanto fiquei fora

Algumas notícias:

  • A Vivo vai ter GSM. Achei o máximo. Sei que este tipo de notícia dificilmente empolga as massas, mas achei a coisa mais interessante;

  • Saiu um novo picolé de banana que é ótimo;

  • Os filhotes de frango d'água que eram pequenos quando eu viajei vingaram, e a Lagoa está cheia de lindos frangos d'água jovenzinhos;

  • Os quero-queridos vão bem, obrigado. Burrinhos como sempre: já estão lá no campo de basebol novamente, com cara de quem vai, mais uma vez, fazer ninho em local inviável... * suspiro *

  • O vet deu uma geral na Família Gato e, tirando uma otite que pegou Keaton, Pipoca e Lucas, tudo está na mais perfeita ordem.
  • Voltando pra casa depois de ver um lindo filme




    22.7.06

    O outro lado




    O lugar mais bonito do mundo




    Caramba!

    Vejam como está fotografando este menino...

    Volta ao lar


    O avião da Air France estava lotado, atrasou quase duas horas mas, ainda assim, a viagem foi boa: eu estava voltando, e em viagem de volta a gente tem um bom humor que resiste a tudo. Ou quase tudo: ainda tenho que ligar pro Luis Fernando Verissimo e pra Lucinha, pra saber se humor deles resistiu ao cancelamento do vôo Varig SP-RS que os levaria até Porto Alegre.

    Aqui em casa estava bem e lindo e gostoso; a começar pelos quadrupes, que fizeram fila na porta para me receber. Normalmente, quando volto de viagem, aparecem um ou dois, mas acho que desta vez acharam que eu tinha sumido no mundo e se esqueceram de fazer de conta que estavam me ignorando.

    Foi uma festa completa! Todas as divergências entre eles foram esquecidas. Me deitei no chão e fiquei um tempão brincando com todo mundo. Depois, quando começaram a cheirar as malas, achei melhor tirá-las de cena o mais rapidamente possível, antes que alguém tomasse satisfação com elas.

    Deixei a idéia de dar uma pedalada na Lagoa pra lá e, pela úlyima vez na temporada, já coma ajuda da Sônia, brinquei de Pack-Man: trois paquei (do original ã péquin, do Ribondi, transformado em deux péquin pela Mônica L) tudo e guardei as malas no closet, antes que alguma vingança maligna as inutilizasse olfativamente.

    Por falar nisso, sabem a tal pilha de jornais tão bem arrumadinhos pela Sônia descrita pelo meu amigo? Pois dançou, junto com boa parte da correspondência e o Razr prateado que eu tinha emprestado pra Bia antes de ela trocar o preto comigo pelo W800. Este Razr andava dando problemas (desligava sozinho, a tela às vezes só acendia pela metade) de modo que não foi uma grande perda, mas agora estou sem o celular que os meus amigos conhecem: o chip que estava lá dentro era o meu telefone habitual.

    Não sei quem foi o(a) culpado(a), mas, puxa, dá pra entender. Quase dois meses sem notícias, tadinhos, era querer demais que se portassem feito lordes ingleses ou British Short Hairs.

    Tirando isso, tudo na mais perfeita ordem: antes que a última mala fosse guardada, todos já estavam dormindo pelos cantos. Tenho para mim que os gatos culpam as malas pelas nossas viagens. Afinal, quando saímos de casa sem elas, sempre voltamos logo; quando entra um daqueles quadrados pretos em cena, pronto, é ausência longa. Desfazer as malas e tirá-las da vista deles os tranqüiliza, é sinal de que vamos ficar em casa.

    Quanto a mim, que achei que estava no maior pique, desmaiei antes da meia-noite cercada de gatos, na minha prórpia cama! e com o meu próprio travesseiro!, acordei morta de fome de madrugada, não consegui continuar na cama depois das oito, tomei café quando o corpo pedia almoço já!, fui para o sofá ler o jornal e... acordei ainda agora, sem noção de que tinha adormecido.

    Ontem, enquanto desempacotava as coisas, fiz várias fotos da Família Gato. Mais tarde subo pra cá, para que vocês possam conferir com seus próprios olhos como estão lindos; agora vou dar uma volta pela Lagoa e conferir como anda o quintal.

    É tão bom estar em casa... :-)

    Uma esperança pro Tom

    Deu no Ancelmo de hoje:
    A 10 Câmara Cível do TJ do Rio condenou a Churrascaria Gaúcha, em Laranjeiras, a indenizar em R$ 10 mil um vizinho, o advogado Marcelo Turra, por excesso de barulho.

    O desembargador Bernardo Garcez determinou que a casa faça um tratamento acústico.
    Quem sabe, hein, Tomzinho? Se Deus for justo -- e a justiça também -- você ainda fatura uns trocados pela chateação rotineira...

    20.7.06

    Desligo, câmbio.

    Povo, aqui encerro as transmissões do Velho Continente.

    Tenho que terminar de fazer a mala, guardar o notebook, tomar banho e correr com a vida, ou perco o avião.

    Muito obrigada a todos pela companhia maravilhosa que me fizeram, pelas dicas, pelo carinho; sem vocês por aqui, a viagem não teria tido a metade da graça.

    E, como sempre, um agradecimento super especial aos queridos gerentes que cuidaram do blog quando eu não tinha conexão: Tom Taborda, Lucas, Jussara, Eduardo Stuart e, sempre, o Fábio "The Man" Sampaio, nosso Caryorker.

    Se Deus quiser, o próximo post irá ao ar da Muy Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, onde, apesar de tudo, mora o meu coração.

    O dia em que fui presa em Paris


    Quis o Bom Deus que, em março de 1977, o governo francês convidasse a editora do Segundo Caderno do "Correio Braziliense" para uma semana de comemoração da inauguração do Centro Georges Pompidou; e que, salve Ele!, esta editora fosse eu. Assim é que, com 24 anos incompletos, mochila nas costas, sandália de pneu, poncho peruano e uma cabeleira que ia quase pela cintura, desembarquei na cidade, para horror dos diplomatas impecáveis que me esperavam na pista da aeronave num reluzente Mercedes preto último tipo.

    Alguém estava com a roupa errada, e não eram eles.

    No trajeto até o hotel, percebi que ficaram aliviados ao perceber que a selvagem recém-chegada não só era capaz de se comunicar em palavras, como, ainda por cima, o fazia num francês bastante razoável; e que, incroyable !, sabia até quem eram os nomes do sofisticado cardápio cultural preparado para a imprensa estrangeira. Ainda assim, como apresentar aquela coisa no front-desk do Lutetia, uma espécie de Copacabana Palace da Rive Gauche?

    Pobres diplomatas. Hoje me ponho no seu lugar e fico de cabelos em pé só em pensar na saia justa em que os meti. Ser hippie em Brasília já era meio esquisito, mas em Paris era definitivamente out, pelo menos nas altas rodas do Quai d?Orsay. Mochileiros como eu dormiam nos bancos da estação, e olhe lá.

    Diga-se a favor dos bravos empregados do Lutetia que nenhum fez cara de espanto. Fui regiamente acomodada numa suíte maior do que o apartamento em que morava na época -? e, imediatamente, telefonei para todos os amigos para virem me visitar.

    Eu nunca havia estado em Paris antes, mas, naqueles anos, o que não faltava na cidade eram brasileiros exilados. Na mochila, além de uma ou duas trocas de roupa (todas igualmente inapropriadas), eu trazia goiabada para um, livros para outro, um gravador para uma terceira; de modo que, em dois dias, eu já tinha ótima turma local.

    Entre uma cerimônia no Pompidou e um concerto na Sale Pleyel, nos encontrávamos na Rue Mouffetard, comíamos lindamente a ótimos preços e percorríamos a cidade de graça. Para isso, bastava entrar no metrô pela porta da saída. As portas eram diferentes das de hoje, que mal dão passagem para uma pessoa. Ouvíamos desaforos à beça dos nativos, mas, naquela época e com aquela idade, eu apenas achava tudo muito divertido... até o dia em que fomos pegos pelos flics, os tiras, sem dúvida alertados por algum cidadão furioso com aquele bando de arruaceiros.

    Todos fizemos caras de anjos: como podiam pensar que jamais nos passaria pela cabeça entrar no metrô sem pagar?! Cara e conversa não convenceram, porém, e os flics pediram nossos documentos. Todos tinham identificação, menos eu, instruída no Brasil a jamais sair na rua com o passaporte, que poderia ser roubado por algum perigoso subversivo. Eu nada tinha a temer dos perigosos subversivos meus amigos, mas se perdesse o raio do passaporte levaria meses até conseguir outro no Itamaraty -- e precisava voltar ao Brasil em poucos dias.

    Os policiais ficaram tão contentes em encontrar alguém sans papiers que concentraram as atenções em mim e deixaram os outros para lá. Apelei:

    -- Estou em Paris a convite do governo francês!

    -- Claro -- disse um dos flics. -- E eu sou a Rainha da Inglaterra.

    -- Mas é verdade! Posso provar. Só preciso ir até o Hotel Lutetia pegar os meus papiers.

    -- Ao Hotel Lutetia?!

    Os flics perderam a compostura e tiveram um acesso de riso. Depois, ainda enxugando as lágrimas, me levaram para a delegacia. Pedi a um dos amigos que passasse no hotel para pegar o passaporte e a carta em papel timbrado, chique ao último, que estavam na gaveta da escrivaninha. No caminho para a delegacia, insisti tanto e tão convincentemente na minha história, que me deixaram ligar para o Lutetia. Pedi para falar com o gerente e, mico dos micos, expliquei que estava chez les flics , e que um amigo passaria em breve por lá para pegar os papiers.

    Foi quase tão difícil convencer o homem a deixar um desconhecido subir para o meu quarto quanto convencer os policiais de que eu não tinha tomado chá de cogumelo, mas, finalmente, tudo acabou bem e, uma hora depois, o amigo chegava com o passaporte e a carta para me salvar.

    Ao ver a papelada, os flics ficaram perplexos. Onde é que o governo andava com a cabeça para convidar criaturas desqualificadas como eu?! Ainda assim, me pediram desculpas ("A senhora parece muito mais nova", uma forma polida de dizer que eu já devia ter aprendido a me vestir e a me portar direito), me ofereceram um café bem forte e me deram carona até o hotel, cheios de dedos e galanteios.

    Nem preciso dizer que nunca mais andei num ônibus, trem, metrô ou vaporetto sem o bilhete devidamente carimbado, registrado, perfurado e o que mais exija a legislação local.

    Ontem voltei pela primeira vez ao Lutetia depois de quase 30 anos, para mostrá-lo à minha filha. Paris mudou muito, a globalização acabou com qualquer vestígio de elegância turística, mas o Lutetia continua igual, com seus mármores, seus espelhos e seus bronzes reluzentes.

    O poncho peruano, os cabelos desgrenhados e a sandália de pneu sumiram na poeira dos tempos, mas, usando Birkenstocks, bermudas e uma camiseta berlinense, me senti tão inadequada e fora de lugar quanto nos idos de 1977. Dei um bordejo rápido pelo hall e fugi correndo, antes que alguém daqueles tempos me reconhecesse.


    (O Globo, Segundo Caderno, 20.7.06)

    Ele chove!




    Madrugada na Rue St-Péres




    Galeries Lafayette




    Galeries Lafayette




    A fila do caixa




    Soldes




    Bolha

    Desde que saí do Rio, minha sensação tem sido a de estar vivendo dentro de uma bolha. Primeiro na Copa, onde a única coisa de que se falava era futebol; depois aqui, com a Bia, onde as únicas coisas relevantes eram a temperatura lá fora, o que faríamos ao longo do dia, quem encontraríamos e a quantas andavam os nossos então ainda existentes euros.

    O Brasil e o mundo ficaram isolados, lá longe.

    Aqui passei a semana inteira sem jornal e, mesmo no Globo online, lia apenas as manchetes, e olhe lá. Às vezes uma notícia mais séria conseguia furar a bolha, mas logo era varrida para baixo do tapete. Para quem passa o ano inteiro com uma baita sobrecarga de informações ("information overload", como se diz por aí), há poucas coisas mais saudáveis do que passar um tempo como viviam as pessoas antigamente -- ligada apenas às circunstâncias imediatas.

    Ninguém agüenta saber das desgraças e infortúnios do mundo inteiro 24 horas por dia, 365 dias por ano.

    Amanhã, assim que chegar ao Rio, ainda vou me dar uma folga: preciso botar em dia a relação com sete quadrupes saudosos e matar as saudades que estou sentindo deles, da minha casa, da minha família.

    Mas o fim de semana vai ser fogo. Pilhas de jornal me aguardam e a rotina da informação globalizada já está lá, rosnando atrás da porta.

    Às vezes tenho muita inveja das pessoas que viveram antes da Era da Informação, para quem mesmo os jornais do dia só traziam notícias ali da esquina, e olhe lá.

    * * *

    Ontem à noite fui jantar com Lucinha, Veríssimo e o Dinho, um jornalista brasileiro que mora aqui. Voltei a pé para casa à meia-noite, sentindo um cheiro de chuva no ar.

    Assim que entrei, o céu veio abaixo, com direito a raios e trovoada. Se não estivesse tão cansada, teria saído para fotografar.

    Imagino que, com isso, hoje esteja um pouquinho mais fresco lá fora: o termômetro ontem chegou aos 40 graus no sol, 37 na sombra.

    * * *

    Bia viajou super bem, espichada em três poltronas e dormindo a viagem inteira.

    Disse que encontrou a gataiada ótima, mas pra lá de carente.

    Agora vou pra rua atrás do meu perfume, depois volto para fazer as malas e, se sobrar um espacinho (e uns quilinhos), rua de novo para comprar uns livros.

    Fui!

    19.7.06

    Vida selvagem

    A essa altura, se o vôo da Tap saiu no horário, a Bia já está cruzando o Atlântico rumo ao Brasil. Sete quadrupes tristonhos nem sabem (ou será que sabem?) mas, logo logo, vão ter uma grande surpresa.

    Para mim,Paris perdeu boa parte da graça; acho que amanhã, quando pegar o avião, pela primeira vez na vida não vou embora com aquele gostinho de "Quero mais!".

    Cobrir a Copa foi uma das grandes aventuras da minha vida, e esta temporada européia se encerrou com chave de ouro com a companhia da minha bipinha; mas agora quero a minha casa, a minha cidade, o meu país; quero ouvir o pessoal falar brasileiro na rua, esbarrar nos amigos pelas esquinas, sentir o gosto da nossa comida e o cheiro do mar.

    * * *

    Ontem fomos à Place des Vosges e ficamos batendo perna sem destino pelo Marais, que é um dos meus cantos favoritos em Paris. Descobri um perfume maravilhoso no Fragonard, fiz a besteira de não comprar na hora e agora vou ter que sair para caçá-lo: Fragonard a gente só encontra nas poucas lojas Fragonard ou pela internet, mas parece que há uma aqui em Saint Germain.

    Vou procurar.

    Comemos por lá mesmo, num ótimo vietnamita com cadeirinhas na calçada. Depois andamos até o Centro Pompidou, onde há uma exposição que me interessa -- O Movimento das Imagens -- mas estava fechado, dããã, era terça-feira, e assim nos atiramos às liquidações.

    Esta é uma experiência que eu nunca tinha vivido, época de super liquidações em Paris. E é uma experiência que ou você ama ou você odeia: milhares de pessoas disputando roupas e sapatos atirados por todos os cantos, filas quilométricas no caixa e, nem preciso dizer, ar refrigerado deficiente na maioria das lojas.

    Curiosamente, eu, que odeio shopping center e detesto experimentar roupas, adorei. Acho que é o elemento de caça ao tesouro da coisa, ou quem sabe a sensação de estar participando, ao vivo, de um cartum secular -- mas o fato é que voltei triunfante para casa com:

  • Uma saia da veludo liiiiiiiiiiiiinda por 10 euros;

  • Uma blusa cinza de algodão, de manga comprida, cheia de nervuras, que custava originalmente 50 euros e que saiu... grátis!, porque quando a caixa foi passá-la, a máquina registrou 0 e ficou por isso mesmo;

  • Uma sapatilha preta lindinha a 10 euros;

  • Uma outra sapatilha meio tênis, sei lá, difícil de explicar, mas muito simpática, a 12 euros;

  • Umas três ou quatro blusinhas básicas, ótimas para trabalhar, a preços diversos mas igualmente interessantes.

    A Bia, naturalmente, descobriu muitas coisas lindas, chiques e baratérrimas mas, ao contrário da mãe, ela é magrinha e arrumada, ao passo que eu faço aquele look de quem acabou de cair da árvore.

    * * *

    À noite deixamos tudo em casa e fomos ao Champs-Elysées comprar uma mala. A que ela trouxe já estava inteiramente detonada antes mesmo de sair do Brasil e, depois dos carinhos da companhia aérea, detonou-se de vez. Era uma Samsonite de casco duro que me acompanhava há anos, e que se tivesse milhagem própria bem que podia dar uma volta ao mundo. Fico meio triste de abandonar essa velha companheira, mas levá-la ao Brasil vazia, para reparos, nos custaria 120 euros de bagagem extra... mais os reparos.

    Aproveitamos para jantar por lá mesmo, compramos um daqueles sacões de rodinhas no Monoprix que fica aberto até meia-noite e voltamos para casa, onde passamos umas duas horas brincando de Pack-man; às cinco a Bia, que mal cochilou, já estava de pé para esperar o taxi. Seu avião saía aí pelas 7h30.

    Dormi até meio-dia, achei a casa totalmente vazia, e agora vou para a rua: ainda não desisti dos telefones e minha primeira parada será uma SFR.

    A palavra do dia é SAUDADE.
  •