Seguindo os passos do Xexéo
Quando li na crônica de domingo do Xexéo que ele já fez as malas para a Copa, entrei em pânico. Vamos viajar no mesmo dia, no mesmo avião, e eu sequer começara a pensar no assunto; Xexéo já cobriu quatro Copas, tem know-how no assunto e, ainda por cima, é homem, coisa que muito facilita nessa hora. Todo mundo sabe que com dois sapatos, duas calças, duas camisetas, duas camisas e um blazer um homem pode dar a volta ao mundo.Mas o que faz uma mulher que nunca foi à Copa, não tem a menor idéia do dress-code do evento e sempre faz as malas às vésperas da viagem?! Telefona para a Mãe, é claro; e pede socorro à irmã. Assim que ouviram o tom da minha voz, Mamãe e Laura vieram em meu imediato socorro. Perceberam que, desta vez, a coisa era séria, muito séria. Fato que, abre parênteses, já havia sido constatado no dia anterior pela secretária de uma agência de RP, que ligou lá para casa para pedir o endereço. Atendi.
-- Bom dia. Estou falando com a senhora Cora ou com a senhora Bia?
-- Com a Bia.
-- Ah, pois não. Senhora Bia...
-- Não, aqui não é a Bia. É a mãe dela.
Pano rápido, fecha parênteses. Ando assim mesmo, completamente zureta.
* * *
A Laura é uma daquelas criaturas privilegiadas que sabem arrumar conjuntos de cores parecidas, misturar com três ou quatro acessórios e criar um guarda-roupa chique onde, aparentemente, só havia o caos.-- UM jeans para 40 dias?! Nem pensar. Pelo menos dois. Calça social preta, cadê?
Por acaso tenho duas calças sociais pretas. Gosto muito da de linho.
-- Linho??? Para cobrir Copa do Mundo?! Nem pensar. Malha não amassa e vai com tudo. Casaco para combinar, cadê?
Exibi, triunfante, o casaquinho preto irmão-gêmeo da calça social. Fui muito elogiada pela Laura e pela Mamãe. Depois peguei uma saia nova linda que comprei no outro dia.
-- Saia, em viagem de trabalho?! Nem pensar. Põe de volta no armário. Camisetas?
Guardei a saia com um suspiro, e fui para as camisetas. Nisso, pelo menos, eu havia pensado: a camisa oficial do Flamengo estava devidamente separada. Tirei-a da gaveta com o mesmo ar de triunfo com que havia pescado o casaquinho preto, esperando mais palavras de aprovação... mas Laura e Mamãe deram um grito de horror em uníssono assim que a viram. Os motivos de uma e outra eram diferentes: o da Mamãe por ser vascaína, o da Laura por achar qualquer camisa de clube um pavor que jamais deve freqüentar armários femininos.
-- Mas é o Manto Sagrado -- argumentei. -- Se eu não usar na Copa, quando é que vou usar? O time acaba de ganhar um jogo importante. E olha como é boa esta malha para um dia de calor, para andar de bicicleta...
As duas, ressabiadas, viraram a camisa pelo avesso, estudaram a confecção e, ufa!, aprovaram o Manto Sagrado, que foi para a mala junto com uma camiseta de bandeira do Brasil, que usei para torcer por Mamãe e seus companheiros no Campeonato Mundial de Natação Masters na Itália, há dois anos. Depois separamos camisas lisas, écharpes, meias, sapatos, bolsas. A Laura fazia o trabalho duro, e Mamãe anotava os itens, um por um ? apenas para riscá-los a cada vez que mudávamos de idéia. Algumas horas depois, a mala estava pronta, fechada, com listinha completa do conteúdo e instruções meticulosas do que usar com quê. Tomamos um café, e Laura e Mamãe, com a satisfação do dever cumprido, foram embora.
A Bia chegou do trabalho pouco depois, e levou um susto ao ver a mala pronta. Perguntou o que eu estava levando.
-- O quê?! DOIS jeans?! Para que tudo isso?! E você não vai levar nenhuma saia?! Ah, não. Tenho que dar um jeito nessa mala já!
* * *
No dia 30, às vésperas da viagem, lanço "Fala Foto", livrinho de fotos com imagens colhidas exclusivamente por câmeras de celulares, como as quatro que ilustram a crônica. A festa, com jeito de bota-fora, acontece na Livraria Argumento, na Rua Dias Ferreira 417, no Leblon, a partir das 19h30m. Apareçam, amigos! Vai ser um prazer me encontrar com vocês em pessoa.(O Globo, Segundo Caderno, 25.5.2006)
Nenhum comentário:
Postar um comentário