23.11.05



Greve online

Ao longo da minha vida profissional, vi umas três ou quatro greves gerais de jornalistas.

Todas foram um fracasso retumbante.

Para começo de conversa, eram decididas nos sindicatos, em reuniões formadas basicamente por sindicalistas, colegas desempregados e estudantes de comunicação, às quais os jornalistas militantes, isto é, aqueles devidamente empregados em orgãos de comunicação, ou não se interessavam em ir, ou não iam porque estavam trabalhando.

Boa parte deles, aliás, que já tinha visto o filme antes, era contra as greves.

Mas, sobretudo, greves de jornalistas não dão certo porque quem de fato pára as máquinas não somos nós, e sim os gráficos. Um jornal até consegue funcionar durante algum tempo sem a redação, porque a meia dúzia de editores que não pode aderir às greves tem, à sua disposição, material de agência suficiente para fazer não um, mas vários jornais.

Desde que as máquinas continuem rodando...

No Brasil há uma outra questão perversa, que é a seguinte: os dissídios dos jornalistas do Rio e de São Paulo não coincidem -- e, concorrência ou não, os patrões sempre se entendem. Assim, quando os jornalistas de São Paulo fazem greve, os jornais do Rio fornecem o material das suas reportagens; e vice-versa.

E, nem preciso dizer, greve de jornalista não chega a ser noticiada em manchete, de modo que, tirando outros jornalistas, pouquíssima gente fica sabendo.

Mas agora está acontecendo uma coisa curiosa na França. O Libération está em greve; e os jornalistas que fazem o site do jornal aderiram. Ora, websites não precisam de gráficos nem de rotativas; e, hoje, o conteúdo das agências está online, para o leitor que quiser ler e comparar.

Que efeitos terá uma greve de jornal online sobre um jornal de papel?

Taí um caso interessante para acompanhar.

Em tempo: a turma do Libération, que atravessa uma tremenda crise, está fazendo greve para impedir a demissão de mais de 50 colegas.

Bonne chance, camarades!

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