6.11.05



Coisas da vida

E aqui está a vossa blogueira, teclando de uma célula do famigerado Ibis, sentadinha na cama medianamente confortável, olhando para as paredes de chapisco pintadas de beige (now there's a real commitment to color!).

Não, este não é o lugar ideal para passar uma noite de sábado; eu poderia ter vindo mais cedo para São Paulo, e caído na gandaia com algum dos maravilhosos amigos que tenho na cidade. Mas os gatos teriam ficado sentidos. Além disso, a Bia chegou ontem à noite de Fortaleza e eu queria saber como foram as coisas por lá (sim, ela viaja mais do que eu); e amanhã cedo, mas cedo mesmo (8h30!) vem um povo me arrancar deste antro de segurança e mediocridade para me levar a um outro lugar a três horas de carro daqui, para que eu aprenda um pouco sobre video digital.

* * *

Acabo de ler os comentários sobre a entrevista da "Isto é" com o tal Roberto Shinyashiki. Para vocês verem como são as coisas: se eu soubesse quem ele é, soubesse que está ligado ao mercado de auto-ajuda, provavelmente jamais teria lido o texto e, muito menos, o postado aqui.

De modo geral, acho a indústria da auto-ajuda um embuste sem tamanho.

Mas o fato é que ele bate numa tecla em que eu mesma venho batendo há anos. Acho que nunca se criou máquina de infelicidade coletiva mais perniciosa do que a sociedade de consumo. Como todo mundo, sou vítima dela e, ao mesmo tempo, dela tiro o meu sustento, rodando uma das suas pequenas engrenagens: sei bem que, cada vez que falo de um novo celular ou de uma câmera que acaba de sair, ajudo a criar numa multidão de leitores a sensação de que estão defasados em relação aos novos tempos.

Este, porém, não é o aspecto mais daninho desta sociedade malsã. Os seus maiores problemas, a meu ver, são a obscena cobrança de uma aparência física irreal, e a acentuação de diferenças entre quem tem dinheiro (ou seja, quem se deu bem) e quem não tem (ou seja, em tese, quem não se deu).

A coisa chega a um tal ponto que pessoas perfeitamente normais e magrinhas se acham gordas e fora do padrão; quem é baixo, então, dançou mesmo, porque o mundo, em tese, exige que todos sejam Giselle Bundchen ou Paulo Zulu.

Do alto do meu 1m54 sei que isso não é verdade.

Não deixei de viver o grande amor da minha vida ou de ter meus filhos lindos e queridos por causa da minha altura, nem de ser bem sucedida na profissão que adoro, e que não trocaria por nenhuma outra, por não usar tailleurzinho e salto alto.

Mas como convencer uma menina ou um menino que estão crescendo hoje, mergulhados em mensagens publicitárias 24/7, de que a vida é perfeitamente possível sem uma calça Diesel ou um tênis Puma?

Como é possível convencer alguém, hoje, de que ninguém precisa ter uma casa na Barra com churrasqueira e piscina para ser feliz e realizado?

* suspiro *

Ah, desculpem, eu só estava pensando em voz alta.

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