Bom dia!
Aqui vos fala um ser que passou o dia inteiro na rede: aquela, de pano, que fica na sala. Lendo um livro formidável, de Bill Bryson, chamado "A Short History of Nearly Everything".Acho que não tenho mais energia para ir a Manaus num pé e voltar no outro, não... tsk.
Para compensar, aqui vai uma crônica do colega Paulo Sant'ana, da Zero Hora, Alegre, que o Ilton Dellandrea gentilmente me mandou:
O pastor alemãoInfelizmente, os pastores lá do sítio, a Mala e o Xarope, não têm esta afável disposição de espírito.
Enquanto a manicure Loreni me faz as unhas, conta-me uma história comovente. Ela mora em Viamão e tem uma cadela pastor alemão.Um belo dia do mês passado, caiu de uma árvore um papagaio quase adulto, no canto do pátio.
A cadela pastor alemão, de nome Zimba, que percebe tudo que acontece no pátio, viu o papagaio tombar da árvore e cair na grama do chão.
A cadela avançou sobre o papagaio e o abocanhou, parecendo tê-lo engolido.
Todas as pessoas que estavam no pátio espantaram-se com a aparente fúria gastronômica da cadela, mas seguiram com os olhos o animal, que se dirigiu à sua casinha.
Lá, a cadela abriu a boca e saltou de dentro dela, vivo, íntegro e sadio, o papagaio, que assim foi depositado pela cadela na sua casinha.
As pessoas correram para lá e puderam notar que o papagaio tinha sobre suas penugens a baba da cadela.* * *
Durante 15 dias o papagaio viveu sob a guarda da cadela, dormindo com ela dentro da casinha, na maior parte do dia passeando no pátio.
Até que o segundo fato impactante veio a ter o pátio como cenário.
Alguém jogou da rua uma trouxa em que estavam enrolados oito gatinhos recém-nascidos.
Não há animal que seja mais rejeitado pelos seus donos quando nasce do que o gato.
Mais uma vez alguém quis se desfazer de uma ninhada de gatos e atirou-os vivos, enrolados em um pano no quintal da cadela Zimba e do papagaio.* * *
Para pasmo dos residentes humanos da casa, a cadela se arremessou sobre a ninhada de gatos e segurou com as presas um dos filhotinhos pelo cangote.
Fez a viagem até sua casinha e lá depositou, vivo e salvo, o gatinho.
Cumpriu com extraordinária precisão as outras sete viagens, sempre transportando com a boca, pelo cangote, os outros sete gatinhos até sua casinha.
E lá deixou os oito gatinhos abrigados na casinha, junto com o papagaio.
Estão lá vivendo até hoje os gatinhos, crescidos, alimentados por leite servido pela dona do sítio, em convívio estreito com o papagaio e a cadela.* * *
Esta é apenas uma das milhares de histórias de meiguice animal, que sai do anonimato apenas porque uma manicure resolveu contá-la para um colunista de jornal.
Surpreende a rapidez de raciocínio da cadela. Tão pronto caíram no pátio o papagaio e os oito gatinhos, ela decidiu protegê-los, dando-lhes guarida em sua casa, numa atitude admirável de solidariedade animal, que passou por cima da diferença entre as espécies.* * *
Tenho defendido aqui que os animais têm inteligência. E a par da inteligência os animais têm caráter.
Esta cadela pastor alemão de Viamão tem um caráter dirigido para o bem.
Fosse ela um pitbull ou um rottweiler, sem dúvida que estraçalharia os oito gatinhos e o papagaio logo que eles tivessem aparecido nos domínios do seu pátio.
Calculo eu, leigo no assunto, a julgar pelos atos beneméritos desta cadela de Viamão, que a raça pastor alemão traz intrínseca em sua gênese e ancestralidade a bondade e a solidariedade, traços que haverá de demonstrar até mesmo quando for educada para tarefas mais enérgicas ou agressivas.
Leio na Internet que o pastor alemão pertence a uma raça das mais inteligentes, sensíveis, equilibradas, amigas e protetoras entre os cães de todas as raças caninas.
Mas que também pode ser feroz quando ataca os agressores de seu dono.
Então o lema característico da raça pastor alemão deve ser aquele slogan criado por Che Guevara: "Hay que endurecer, sin perder la ternura jamás". (Paulo Sant'ana)
Há uma sabiá
Mamãe já tentou mudar o ninho de lugar, já tentou explicar à sabiá que aquele canto não tem futuro, mas qual...
Mamãe, que adora bichos, sem exceção, mas é essencialmente pragmática, só diz uma coisa:
-- Darwin.
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