4.11.09

A fool and his money




Udaipur é mesmo uma das cidades mais bonitas e agradáveis do mundo: o que vocês viram nas fotos é a ponta de um iceberg, que vai do pitoresco ao deslumbrante. As ruas da cidade velha, com suas incontáveis lojinhas de artesanato, lembram os nossos clássicos points de bixos-grilos, e podiam estar na Bahia ou no México.

Só que aí passa um elefante e cai a ficha -- aqui é a matriz!

O tempo está ótimo. Faz calor durante o dia, mas um calor que qualquer carioca tira de letra; à noite é fresquinho.

Há turistas mas não muitos, apenas na conta certa para que a gente se divirta vendo os colegas do resto do mundo, e se sinta parte da onda de bípedes que não param quietos. Há pequenos grupos de turistas masters, há mochileiros, há japoneses que ainda têm dinheiro gastando quase mil dólares para ficar no hotel do lago.

O simpaticíssimo Jagat Niwas parece uma sucursal da ONU.

Neste momento, divido o cibercafé com uma dinamarquesa que, pelo visto, é habituée da casa: troca notícias da família e dos amigos com o rapaz da caixa. Tem cara de quem chegou e não vai mais embora. O casalzinho francês que procurava hotel em Jaisalmer saiu há alguns minutos.

O grande problema de Udaipur é que seus habitantes passam o dia tentando separar os firangs das suas rúpias; e, diga-se, com notável sucesso. Não sei se isso acontece com todo mundo ou se sou presa particularmente fácil por estar sozinha, mas é impossível parar na rua sem que alguém venha nos oferecer alguma coisa.

Ter um guia, como foi meu caso até o meio da tarde, não ajuda em nada; pelo contrário. Ele é o primeiro a tocar a vítima para o abatedouro.

A certa altura cansei deste cabo-de-guerra com os nativos, e pulei dentro de um tuc-tuc para passear em paz pela cidade. O rapaz era muito simpático. Deu todas as voltas que eu quis e contou que dirigia o tuc-tuc como bico. No resto do tempo, contou, estuda arte.

E, antes que eu pudesse dizer Are baba!, me levou para a sua "escola".

Já cai neste golpe em Hong-Kong, quando um casalzinho me pescou no Bund e me carregou pela cidade até uma suposta exposição num daqueles lindos prédios do século XIX.

Não me importo com isso.

Eles passeiam comigo, me dão um monte de informações interessantes e me mostram coisas que eu não veria num tour tradicional; em contrapartida, compro umas pinturas bonitinhas por preços que para mim são baratos e, para eles, representam uma fortuna.

O que me aborreceu, aqui, foi constatar que qualquer resistência é inútil. Nào há fuga possível.

Tirando isso, fazem-se, sem dúvida, ótimas compras. As miniaturas características de Udaipur são lindas e, no topo da cadeia alimentar, incrivelmente bem acabadas. Os tecidos são maravilhosos, os bordados assombrosos.

Adoro arte indiana, preciso de panos para o sofá por causa dos gatos (ó saudade!), quero fazer uma pequena galeria exótica no corredor...

Os idiotas não sabem que eu gastaria o dobro, de bom grado, se não me chateassem tanto.


(Valeu, querido Luis Filipe! Aquele Tintin sou eu, sem tirar nem pôr...)

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