Desculpem a falta de mais posts escritos. Sei que acompanhar um blog de fotos de gatos e de vistas da janela não é exatamente o que há de mais divertido, e agradeço a todos a lealdade da freqüência.
O problema é que, em mim, um dos efeitos colaterais do joelho quebrado está sendo a falta de assunto. Não sei explicar por quê: já estou novamente cercada de livros e voltei a ler os jornais.
O diabo é que uma coisa é tomar conhecimento de um acontecimento, outra é ter cabeça, e sobretudo coração, para escrever a seu respeito. É possível que a dor, já bastante suportável mas sempre contínua, associada ao fato de ficar imóvel e trancada em casa por tanto tempo, tenha me deixado algo apática.
Nada me toca suficientemente para despertar paixão e vontade de pôr por escrito empolgação, tristeza, indignação; essa mediocridade de sentimentos é, com certeza, a sensação mais esquisita de todas as sensações esquisitas que venho experimentando.
Sinto asco do Renan Calheiros e nojo de todo o congresso? Com certeza. Mas para escrever preciso sentir ASCO e NOJO. Fico horrorizada com o caso da menina do Pará? Claro que sim... mas como escrever com um horror em caixa baixa?!
A gente só pode fingir que é dor a dor que deveras sente.
Na outra encarnação eu era uma criatura explosiva, apesar do exterior aparentemente inofensivo. A emoção que devia estar à flor da pele estava, pelo visto, à flor dos ossos: só isso explica que uma porcaria de joelho partido consiga me deixar tão impermeável ao mundo lá fora.
Entendam, por favor, que isso não é nem queixa nem baixo astral. É apenas a análise de um fenômeno bizarro que está acontecendo comigo, e que estou pondo por escrito para, justamente, tentar compreender melhor.
Espero que a minha capacidade de indignação e a minha alegria voltem, intactas, assim que eu retomar a vida normal, e que o meu joelho deixar de ser o centro do universo.
Afinal, como todos sabem, o centro do universo fica no umbigo.
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