30.1.07

Um ótimo filme ruim

O Tomzinho me chamou para ver "O perfume, história de um assassino". Topei porque estava histérica de nervoso: amanhã de manhã cedíssimo tenho que fazer exame de sangue, e não sei o que me deixa mais contrariada, se a espetada da agulha ou o celular uivando ao lado da cama para me acordar. Sem falar que estou de jejum desde as oito.

Num estado de espírito desses eu toparia assistir até "Ananconda, a monja muçulmana" (para juntar num mesmo saco dois filmes cult do Tom, he he he).

Não encontrei ainda quem tivesse gostado do filme, e eu, pessoalmente, tenho uma implicância danada com o livro, que li assim que saiu, na esteira do sucesso d'"O nome da rosa".

Acontece que o Umberto Eco era original e delicioso de ler, ao passo que "O perfume" era tão pretencioso quanto mal escrito. Para fazer de conta que aquele era um romance "sério", o autor despejava sobre os leitores uma catadupa de informações sobre cheiros e perfumes, usada como pano de fundo para a história de um serial killer barroco.

Li-o de ponta a ponta, reclamando a cada página virada. A única coisa de que me lembro hoje é, justamente, essa capacidade de forçar os leitores a irem até o fim, enredados no suspense da trama. Muito pouco, convenhamos, para um romance tão cheio de si.

Sair de casa para ver uma versão filmada deste livro esquecível, portanto, ainda por cima apodada de "História de um assassino", só com motivação muito forte. O pior é que ainda perguntei ao Tom se ele achava que o filme prestava, e a resposta foi exatamente o que eu esperava:

-- Mas é claro que não! Deve ser uma bomba.

Pois não é que o filme nos prendeu do começo ao fim, e é muito interessante? Mais do que isso: é muito bom. Seus defeitos -- basicamente, rombos de lógica enervantes -- não são defeitos cinematográficos, mas literários. Se fossem consertá-los, o diretor Tom Tykwer e os roteiristas Bernd Eichinger e Andrew Birkin teriam que filmar um outro romance.

Tirando a história capenga em que se baseia o roteiro, porém, o resto é excelente: cenários, figurinos, fotografia, atores, narração. O conjunto da obra, digamos assim, compensa a ida ao cinema.

* * *

Quando já estávamos quase aqui na porta é que me lembrei: a Luiza ligou de tarde, avisando que o exame de sangue não era logo mais, de manhã, mas na quarta-feira.

Fiquei aliviada, estressada, indignada comigo mesma pela cabeça de vento. Nem ao menos tirei qualquer consolo de não precisar acordar TÃO cedo, porque tenho que acordar, quase tão cedo, para a cabine de um filme que estréia essa semana.

Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!

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