31.3.03


Num adesivo de carro, nos EUA:

Who buried OUR oil under THEIR sand?!






2 + 2 = 5?

Acabo de conversar com o Paulinho, que mora em Michigan e está acompanhando a guerra como pode, ou seja, basicamente por rádio e internet, já que jornais e emissoras de televisão americanas estão, a essa altura, completamente desacreditados entre as cabeças pensantes nos EUA. Ele fez uma associação interessante: ontem, pela primeira vez, a coletiva habitual da Casa Branca mostrou certa tensão entre o porta-voz Ari Fleischer e os repórteres, que começam -- afinal! -- a questionar seriamente o governo. Pouco depois, o Peter Arnett foi demitido pela NBC.

Não é uma associação muito óbvia; o Peter Arnett de fato extrapolou ao dar uma entrevista à TV iraquiana, o que pode, sem exagero, ser considerado motivo para demissão por muita gente. Eu não vi a entrevista, não sei exatamente o que ele disse; mas, de repente, junta-se a fome à vontade de comer, e fica dado o recado: "Olhaí, moçada, vamos tratar de manter a cabeça abaixadinha..."

Fazer sentido, faz.

Update: YESSSSS!!!






Cuspida e escarrada

Há uma super gripe matando gente na Ásia e, agora, Europa e Canadá. Começou na China, e vai se propagando pelo mundo através de gente que viaja de lá pra cá, e vice-versa, como sempre acontece com as epidemias. Depois de ir a Shangai, e ver como o povo cospe na rua despreocupadamente, não estranho mais que todas as Grandes Gripes venham daquelas bandas. Os chineses acreditam que os maus fluidos devem ser expelidos do corpo, e o fazem com extraordinária freqüência; o chão dos mercados é uma gosma só.








Provas? Que provas?!

A BBC mostra soldados britânicos e americanos encontrando máscaras e uniformes contra armas químicas no Iraque, e fazendo um certo fuzuê com isso. Nada mais normal, a meu ver: se você tem um inimigo do tamanho dos EUA, que não tem qualquer problema de consciência para usar Napalm, você não teria toda a proteção possível contra isso também?

E agora uma das figuras mais antipáticas dessa história (em que não há ninguém simpático, ou pelo menos humano, com exceção, talvez, do Colin Powell), uma loura estupidamente gelada do Pentágono, cujo nome sempre me escapa, está novamente reclamando que os iraquianos não respeitam a Convenção de Genebra, e afirmando, peremptoriamente, que "our humanity contrasts sharply with their inhumanity".

Então, tá. Give me a break.








Show de web

Pedro Doria está fazendo a melhor web-cobertura da guerra.






Fotologs

Copiado, na maior cara de pau, da Angela, do Tempo Imaginário:
"Muitos fotologs estão publicando fotografias das manifestações anti-guerra nos EUA.
Esse aí, o Uttlog, de São Francisco, tem várias.
Outros fotologs com fotos sobre os protestos:
KDunk,
bunnyrivera`s California,
dogseat`s anti-war,
sk8rsherman,
factoid,
Einstein Was Right,
Where the planet makes fun of g.w.."


Copy&Paste descarado do Contexto da Descoberta. :)

update: "Oi, tem mais um: O mundo é contra a guerra. Estou reunindo nele as fotos que
saem nos jornais sobre os protestos anti-guerra.
Abraços, Chris."

Valeu Chris, bem vinda : ))"














30.3.03




Ontem eu estava na casa do Chico e da Eliana mexendo com o computador enquanto o Chico e o Millôr assistiam a um futebol e a Eliana, como sempre, fazia mil coisas ao mesmo tempo, e achei este desenho. É de 14 de dezembro de 1998, quando a gente ainda achava que o Bush era só um bobo alegre.





29.3.03








Dines, imperdível!







Eu hein!

O JB online traz esta pesquisa:
A advogada de Fernandinho Beira-Mar, Cecília Machado, deve ser punida pela OAB por ter admitido que recebe dinheiro do tráfico?
Desculpe, mas é a pergunta errada. A pergunta certa é quantos anos de cadeia ela deve pegar por isso! Como diz o Janjão, o mundo vai acabar.

Ah: Dora Kramer manda ver...




Enquanto isso, no Iraque

A BBC acaba de informar que cinco soldados americanos foram mortos num ataque suicida; mas o Rumsfeld ainda acha que o povo vai receber os invasores de braços abertos.







I-Law

Terminou ontem à tarde o I-Law, seminário sobre internet e legislação promovido pelo Berkman Center da Faculdade de Direito da Universidade de Harvard e pela Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas. Foi um dos eventos mais interessantes de que já participei, tanto pelo que se discutiu quanto pela qualidade dos participantes; achei sensacional ver os grandes problemas da rede destrinchados, um por um, pelas pessoas que estão tentando resolvê-los. Afinal, a rede é formada por tecnologia e por legislação -- e, se boa parte dos problemas tecnológicos já está resolvida, os abacaxis legais mal e mal estão começando.

* * *

Eu já conhecia de nome esses professores do Berkman Center, e tinha lido pelo menos alguma coisa de cada um, já que não há processo importante na área de que um ou outro não participe; mas o único cujo trabalho posso dizer que conheço a fundo é Lawrence Lessig, até porque é o mais "popular" deles. Lessig escreve regularmente no New York Times, na Wired e na falecida Industry Standard, e é autor de um dos livros mais importantes que li ultimamente, The Future of Ideas.
"In the realm of Internet politics and law, no one even approaches Lessig's stature. He is the chief theorist, the most respected mind, the most passionate speechifier. He is cyberlaw." (Wired 10.10)
Em pessoa é tímido na primeira meia hora, e depois muito simpático e afável; é, além disso, o único -- mas realmente único -- bom usuário de Power Point que já vi.

Explico. Eu ODEIO Power Point. Acho uma das piores invenções de todos os tempos, uma receita infalível para acabar com qualquer palestra. A maioria das pessoas simplesmente repete o que está dizendo na tela; outros inventam gracinhas de matar. Em todos os casos, o Power Point engessa o que está sendo dito: o camarada vem com aquilo pronto, e vai seguir a ordem dos benditos quadros até o fim, independentemente da reação da platéia.

Mas Larry Lessig inventou um jeito muito pessoal de usar Power Point, que funciona como um sublinhado das idéias. Um pouco antes de falar, enquanto arruma na cabeça o que vai dizer, ajeita meia dúzia de palavras no notebook, e pronto: o efeito é excelente.

* * *

Adorei Charles Nesson, que viaja na mesma freqüência do Barlow e é a mais amistosa das criaturas, e sua mulher Fern, um capítulo à parte. Depois de passar 20 anos na área legal, ela voltou à universidade e fez matemática e história. Matemática para tirar o trauma de infância; história porque gosta. Hoje é professora das duas disciplinas. Ela é inteligente, engraçada, extremamente antenada, um ótimo papo; ficamos amigas.

* * *

Uma das coisas que me deixou mais contente foi conhecer alguns dos jovens advogados que participaram do encontro. Se eles não dissessem que são advogados, poderiam perfeitamente passar por geeks. É muito bom saber que há uma leva de garotos tão preparados e tão bem dispostos no país: nós vamos precisar deles para preservar a internetBR do que vem por aí.

* * *

Ah, sim: o I-Law foi todo blogado ao vivo no Copyfight, de Donna Wentworth.







Ontem fui patrona desta turma da Gama Filho, os primeiros formandos do Curso Superior de Tecnologia em Desenvolvimento de Websites.

Parabéns, meninos!






Portal da Cidadania: confiram!






28.3.03



Não é bonitinho? Ganhei da Zel...






David e Golias

A BBC acaba de dar enorme destaque ao blog do Salam Pax. Isso é genial: um blogueiro desconhecido, que posta sob pseudônimo, ocupando um dos espaços mais disputados da comunicação mundial -- simplesmente porque sabemos que existe, porque vários de nós têm razões para acreditar que é uma pessoa de verdade, desvinculada de interesses de propaganda de quem quer que seja e, portanto, uma das vozes mais confiáveis de Bagdá. É o homem certo no lugar certo errado na hora certa errada.

Mas a BBC não está comunicando uma descoberta sua. Na verdade, está se pautando pelos milhares de vozes blogueiras que, mundo afora, repetem o que o Salam diz, preocupam-se quando não posta, ficam felizes quando reaparece e criam links para o seu blog, numa grande conversa mundial. A BBC, aquela fenomenal máquina de notícias, percebe que não pode ignorar o que vai pela blogosfera, essa espécie de "consciente coletivo conectado".







Carácoles! Como sobrevivemos tanto tempo sem isso?!

Um estudante da Universidade de Brunel, na Grã-Bretanha, Robin Southgate, desenvolveu, como um trabalho de fim de ano, uma torradeira capaz de se conectar à Internet para saber a previsão do tempo.

Ele se inspirou em um programa de pesquisas que procura transformar objetos cotidianos em condutores de informação.

O eletrodoméstico imprime na torrada (acima) as informações da meteorologia, através de imagens de sol, nuvens ou chuva. Versões mais sofisticadas da torradeira poderão incluir mapas e até mesmo textos sobre a previsão do tempo.
A Bia Badaud me mandou. Ela achou aqui.





27.3.03


Retratos de família




















Roubei do Matusca! Ao que eu saiba, esta é a primeira super-produção luso-brasileira da blogosfera...












Michael Moore: o vídeo

Para quem perdeu o nosso herói na noite do Oscar. Aliás, News from Babylon, um dos sites que hospeda o vídeo, merece uma visita.






Pra cá de Bagdá

Três ótimas reportagens publicadas na Inglaterra e nos Estados Unidos mostram que parte da imprensa começa, enfim, a acordar para a realidade: atacar o Iraque não está sendo o piquenique prometido por Bush & Co.

E um excelente artigo publicado pelo meu queridíssimo amigo José Paulo Cavalcanti Filho no Jornal do Commercio, no Recife -- que, por acaso, achei no Palavras Tortas.





26.3.03


Um (possível) ponto positivo do ataque

Ao gerar a maior onda de antiamericanismo jamais vista, Bush pode ter liberado a cultura mundial


Poucas coisas perturbam tanto Jack Valenti, eterno presidente da MPAA (Motion Pictures Association of America, entidade que devota boa parte do seu tempo e energia a combater qualquer inovação tecnológica), quanto uma nova descoberta:

-- A crescente ameaça representada por essa nova tecnologia põe em perigo a vitalidade econômica e a segurança futura de toda a nossa indústria -- afirmou, em depoimento ao congresso americano. -- Para o produtor de cinema e o público americano, ela é equivalente ao estrangulador de Boston diante de uma mulher sozinha.

Corria o ano de 1982, e ele queria porque queria que o congresso banisse uma coisa terrível chamada videocassete, que permitia aos usuários gravarem programas e filmes direto da televisão. Felizmente os tempos eram outros, e os legisladores entenderam que o público seria prejudicado se os interesses da MPAA fossem atendidos.

Ironicamente, Hollywood também saiu ganhando com a sua derrota. Não fossem os videocassetes e toda a indústria de venda e aluguel de filmes que geraram, os estúdios estariam, hoje, numa situação assaz complicada.

* * *


Tá, mas isso foi há mais de duas décadas. Por que tocar no assunto agora? Simples: porque, nos últimos anos, a MPAA e o indefectível Jack Valenti voltaram a atacar, dessa vez opondo-se à internet e aos formatos digitais que permitem a transmissão de músicas e vídeos pela rede. Graças ao poderoso lobby da indústria de entretenimento, os EUA aprovaram, em 1998, o DMCA (Digital MIllenium Copyright Act), que dispõe sobre direitos autorais no mundo digital. Inicialmente destinado a coibir a pirataria, o DMCA representou um gigantesco retrocesso legislativo: através dele, os direitos dos usários têm sido postos em xeque, e a pesquisa científica, a liberdade de expressão e a livre concorrência vêm sendo sistematicamente ameaçadas.

Ainda assim, Mr. Valenti não está contente. Quer mais - e, para isso, acaba de descobrir uma palavra mágica: terrorismo. Assim, a pirataria internacional estaria não apenas ameaçando a indústria, mas também financiando o terrorismo. O governo lá de cima, que não precisa de estímulo para ser truculento, já mandou avisar ao mundo que se cuide. Enquanto isso, a MPAA uniu-se à RIAA (Recording Industry Association of America - aquela, que matou o Napster) para convencer governos estrangeiros a adotarem legislação tão daninha quanto a sua. Não surpreendentemente, a união atende por "Coalisão da indústria do entretenimento pelo livre comércio", Entertainment Industry Coalition for Free Trade, ou seja: mais um daqueles free-alguma-coisa em que eles, para variar, têm todos os direitos e nós, todos os deveres.

* * *

E aqui, enfim, eu chego onde queria. Desde que Bush & Co tomaram o poder e, sobretudo, desde que começaram o ataque ao Iraque, o mundo mudou muito - sobretudo em relação aos EUA, que se tornaram a nação mais detestada do planeta. Ser antiamericano passou a ser um trunfo político tão forte que até o senador José Sarney passou a ser antiamericano desde criancinha. Por complicada e eventualmente injusta que seja esta situação, ela não deixa de ter pelo menos um ponto positivo: daqui em diante, vai ser bem mais difícil, para qualquer parlamento da Terra, aprovar leis para agrado das megacorporações americanas. Paralelamente, contando com o apoio do público, será mais simples promover os vários sabores das muitas culturas regionais. Posso estar sendo excessivamente otimista - mas não seria curioso ver Jack Valenti e suas gangues de Hollywood como collateral damage do ataque ao Iraque?

* * *

A delicada questão dos direitos autorais está na ordem do dia aqui no Rio: até amanhã, estão reunidos no Méridien alguns dos principais estudiosos do assunto, num seminário promovido pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Berkman Center da Universidade de Harvard. Aberto por Lawrence Lessig, ciber-jurista com status de popstar no mundo conectado, o primeiro dia do encontro terminou com John Perry Barlow -- de quem já falei aqui -- e Gilberto Gil conversando sobre música online. Para ficar de acordo com o programa, eu deveria dizer "debatendo", mas seria o verbo errado, já que Barlow e Gil, fãs um do outro, praticamente não têm divergências em relação ao assunto. É claro que, enquanto Barlow pôde se dar ao luxo de pregar o fim sumário de todos os intermediários entre o artista e seu público, Gil, como ministro, teve de ser mais cauteloso. Mas não se apertou: leu um manifesto do próprio Barlow a favor da livre circulação de música e de idéias, que traduziu - e interpretou - às mil maravilhas. Para bons entendedores, foi suficiente.

Tenho a impressão de que vamos ver coisas muito interessantes acontecendo na cultura brasileira.

* * *

Será que a CNN realmente acredita que está conseguindo enganar alguém?

(O Globo, Segundo Caderno, 26.3.03)


















Esses são os meus favoritos; mas aqui tem mais.






A caravana passa

Acho que Élio Gaspari -- com quem mais concordo do que discordo -- pisou na bola ao comentar o "Caso Michelle" -- uma tempestade em copo d'água causada pela ida da cadelinha do presidente da Granja do Torto para o Alvorada numa Kombi do governo. Élio condena o fato, e tece considerações em relação aos custos de alimentação de um cão num país com tantos esfomeados.

Não é por aí. Há várias coisas de que não gosto no atual governo, mas um animal de estimação no Palácio certamente não é uma delas; pelo contrário. Acho que ao demonstrar afeto por sua cadelinha, Lula dá um excelente exemplo para todo mundo. A vida de uma pessoa que ama animais é muitíssimo mais rica do que a de quem acha que bicho é luxo. Rica num sentido que o Gaspari, que passou anos implicando com as alíquotas para a importação de ração para gatos, jamais vai entender -- mas que qualquer mendigo acompanhado do seu vira-lata conhece muito bem.

Ainda agora bateu na minha mailbox do Globo uma excelente carta a respeito do assunto, dirigida ao ministro José Dirceu por Ana Maria Pinheiro, militante ambientalista há mais de 30 anos e presidente da entidade zoófila União em Defesa da Natureza, que faz parte do Forum de Proteção Animal. Vejam alguns dados que ela aponta:
Gostaria de lembrar a V. Exa. que o chamado "pet business", negócio de produtos voltados para animais de estimação, segundo o jornal O Estado de São Paulo, de 24.10.2002, movimenta um mercado de R$ 5 bilhões. A reportagem informou: "O aquecimento dos negócios tem chamado a atenção até mesmo de grupos internacionais que resolveram investir na realização da primeira edição da Pet South America, feira que começa hoje, no Transamérica Expo Center, em São Paulo, e vai reunir mais de 200 expositores." A mesma reportagem informou que o setor "pet" cresceu 21% em 2001. No final de 2001, existiam no Brasil 8.000 lojas especializadas em animais de estimação, com um total de 40.000 pontos de venda em lojas em geral.

Segundo a revista Veja São Paulo de 7.8.2002, um em cada dois lares de São Paulo tem seu cachorro de estimação. São Paulo possuia na ocasião 4.700 "pet shops", para 4.000 farmácias e 3.200 padarias. Em 2001 foram abertas em São Paulo aproximadamente 1.000 "pet shops".

Pesquisa Ibope de 2000 informa que em 59% dos domicílios brasileiros existe um animal de estimação, 16% dos brasileiros com mais de 16 anos possuem gatos, 44% possuem cachorros e 15% possuem outros bichos, como pássaros e peixes.

Se considerarmos que em cada loja especializada trabalhem aproximadamente 5 pessoas, para a limpeza, venda de produtos, prestação de serviços como banho, corte de pelo, incluindo um veterinário responsável, vemos que apenas as "pet shops" empregam 40.000 pessoas, sem contarmos os trabalhadores empregados nas indústrias que produzem toda sorte de artigos, desde alimentação a roupas, coleiras, produtos de limpeza, remédios, serviços de diagnóstico e clínicas veterinárias que não possuem lojas anexas. São empregos de todos os níveis de especialização, muitos não requerendo especialização nenhuma. Para brasileiros que chegam às grandes cidades, oriundos do meio rural, onde adquirem experiência "lidando com criação", como dizem, tais empregos são preciosos e vêm de encontro ao que essa mão-de-obra sabe e aprecia fazer. Não será difícil para o Ministério do Trabalho calcular exatamente o número de empregos criados pelos animais de estimação.

As "pet shops" informatizaram-se para melhor atender ao mercado, indicando a demanda também por produtos de informática. Os remédios veterinários movimentaram em 1998 nos Estados Unidos US$ 3,6 bilhões. Há condomínios de luxo que oferecem instalações de hotelaria para animais, existindo ainda hotéis específicos para sua hospedagem, quando seus donos não os podem ter em casa por um curto período. Isto tudo representa maior movimentação de dinheiro e mais empregos.

A produção nacional de ração para cães e gatos saltou de 220.000 toneladas em 1994 para 1.170 .000 em 2001.

Segundo dados da Anfal-Pet, apenas 35% dos animais de estimação no Brasil consomem ração. O objetivo das empresas do setor é atingir um consumo de 50% no país, com um aumento substancial de faturamento, de recolhimento de tributos e de criação de empregos.

Um dos três centros de pesquisa da Royal-Canin, empresa líder do mercado de alimentos secos para animais na Europa situa-se em Descalvado, interior do estado de São Paulo.

Portanto, condenar o presidente da República e dona Marisa Letícia por servirem de exemplo de amor aos animais é atitude anacrônica, é caminhar na contramão do sentimento nacional e do desenvolvimento de um negócio que só traz vantagens para o país.
Estou totalmente de acordo.






Cotton

Quando o Paulinho voltou de viagem, escreveu uma coisa tão bonitinha pra mim e pra Bia:
Fiquei triste com a morte do Cotton. Apesar de ele nunca ter ido com a minha cara, era bonitão e cuidava bem de vocês. Merecia meu respeito. Agora tá lá, nariz empinado, peludo e macio no céu dos gatos. Tocando cravo.






internETC. hackeado

Ontem à noite o blog foi hackeado: alguém entrou aqui e trocou um dos banners do template. Foi uma hackeada elegante, que não causou maiores distúrbios. O timing é que foi péssimo, porque eu estava justamente escrevendo a minha coluna para o Segundo Caderno. Entre o blog e o jornal acabei me enrolando, e só consegui sair da redação depois das duas da matina.

De qualquer forma, hacker, seja você quem for, muito obrigada por não ter feito nenhum estrago no blog.






Eleição

O Pulso Único está concorrendo ao prêmio do kit.net. Vamos votar nele?





25.3.03








Suipa pede socorro

Acabo de receber este email do Carlos, da Suipa:
"Olá amigos, a SUIPA (Soc.União Internacional Protetora dos Animais) está precisando muito da sua ajuda. O abrigo está superlotado de animais que foram abandonados.

Participe do programa Adote um focinho carente, que será reiniciado no Clube Boqueirão do Passeio, junto ao MAM -- Museu de Arte Moderna -- próximo ao Aeroporto Santos Dumont, no Aterro do Flamengo. Será aos sábados, das 10 às 16 horas nos seguintes dias: 12 e 26 de abril, 10 e 31 de maio, 14 e 28 de junho, 12 e 26 de julho, 9 e 30 de agosto, 13 e 27 de setembro, 4 e 18 de outubro e 8 e 22 de novembro. Além desses dias, vocês podem adotar de segunda a segunda na sede, em Benfica.

Os "sobrinhos" adultos, já esterilizados, precisam muito de um lar, de um cantinho em suas casas. Eles são dóceis, têm olhares de tristeza e, quando saem do abrigo para um novo lar, se transformam em cães e gatos alegres, felizes. Pensem nisso!

Para adotar é muito fácil, basta gostar de animais, ser morador do Estado do Rio de Janeiro, apresentar cópias de comprovante de residência, identidade e CPF. Não se gasta nada!!!

Você também pode ajudar de outras formas, como, por exemplo, tornando-se sócio e/ou fazendo doações. Para se informar melhor entre no site da Suipa, que foi desenvolvido por voluntários e está muito legal, vale a pena conferir.








Product Info
Qatar (Arabic)
PAL & NTSC
90 Minutes
SubTitles: English, French

A closer look at the Saudi businessman Osama Bin Laden, one of the CIA's most wanted man, blamed by the U.S for the september 11 attacks (and others) and a hero to many young people in the Arab world. Exclusive interviews and testimonials with the man who provoked worldwide polemics.


Product Info
Directed By Al Jazeera Channel
Lebanon (Arabic)
NTSC
120 min
Zone 1

In commemoration of the September 11 attacks, Al Jazeera has taken up a scoop by broadcasting an exclusive interview with two Tanzim Al-Qaeda terrorist leaders who had a focal role in planning of Washington in New York attacks. The first announcement of the two men – wanted by the FBI against a 25 million-dollar reward for each – was a direct confession of Al-Qaeda’s involvement. This was during two special episodes-titled “The Road to 11 September” a top-secret program that uncovers the background of the Tanzim, (the organization) and tracks its steps since the early nineties. As the first episode ends, Yussry Fouda -presenter and editor of the program -unvells the identity of the two individuals. The program was shot in different locations such as Hamburg, London, Paris, Tragutta, Cairo, Kfar Cheikh, Beirut, Marj Bekaa, Dubai, Doha, Islam Abad, Kabul, Kandaher, Washington, and New York, and held therefore special interviews with parents of the attackers, representatives from the Ministry of Foreign Affairs of America, the CIA, and the Muslim community in Europe, as well as writers and other interested persons. Throughout the program a question is raised: “Was AL-Qaeda nothing but the cutting edge of a sword that some bigger force somewhere was manipulating?”

Duas amostras do estoque da Sabbah.com, uma espécie de Amazon.com do Líbano. Para quem fala árabe e tem uma fé inabalável nos serviços postais do mundo, pode ser um prato cheio... Para mim, o detalhe mais estranho é ver alguém se referindo a Bin Laden como "o executivo saudita Osama Bin Laden".

Ah, sim: mudando de assunto, mas ficando no mesmo lugar -- hackers americanos atacaram o site da Al Jazeera com uma chuva de DDOS. Demorou.












Durma-se com um barulho desses

Quando a gente trabalha em editoria de informática, acaba esquecendo que existe uma coisa chamada carta -- escrita em papel, postada na agência de correios mais próxima. No Segundo Caderno, nem todos os leitores são conectados à rede, e às vezes chegam, ainda, cartas à redação.

Esta é uma delas: veio na semana passada, mas eu não tive tempo de digitar. Agora acabei instalando a nova versão do OmniPage Pro -- que está ótima, por sinal -- só para postá-la aqui.
"Senhores editores

Achei lamentável e profundamente hipócrita o artigo de Cora Rónai dando guarida aos argumentos facciosos do hippie John Perry Barlow, comparando a tragédia do World Trade Center ao incêndio do Reichstag. É sabido que noventa por cento da mídia brasileira é marxista e anti-americana, como a própria Cora. Com exceção do pobre Olavo Carvalho, ninguém defende aqui os pontos de vista da economia de mercado. Não há direita no Brasil, nem nas eleições nem nos partidos políticos. Até ACM e Zé Sarney, estas raposas tradicionais, viraram caudatários do Lula. Até os socialites lularam, como acaba de proclamar Hildegarde Angel. Então, que história é essa de que a opinião pública está dormindo, anestesiada pelo pensamento americano? Muito pelo contrário. Graças à nossa imprensa fanaticamente esquerdista a opinião pública brasileira virou anti-americana fanática, pronta para defender qualquer Saddam Hussein assassino que apareça contra os Estados Unidos. Nem na Rússia Soviética existiu um jornalão tão parcial, tão comuna como O Globo de hoje. Até nas cartas dos leitores o patrulhamento é pior do que nos tempos da KGB. Valha-nos Deus.

Saudações

Maria Azevedo"
Esta carta é autêntica. Juro: eu não tenho talento para inventar um texto desses.

Agradeço, de coração, à dona Maria, que se lembrou de nos distrair um pouco, nos afastando da televisão e do computador.





24.3.03


The Arrogant Empire: muito bom!







Byrd rides again

Podem dizer o que quiserem do homem, mas ele está falando bem.






Gatinhos em Campinas

Mais uma sensacional página felina: o Adote um gato!, de Campinas. Confiram!






A noite americana

Valeu assistir ao Oscar para ver Michael Moore receber o prêmio de melhor documentário por Bowling for Columbine. Ele subiu ao palco acompanhado de uma quantidade de documentaristas e fez o melhor e mais direto protesto de uma noite de protestos sutis e amedrontados.

Explicou que tinha convidado os colegas porque, como documentaristas, preferem fatos reais a ficção -- e assim, protestavam por estarem vivendo num mundo fictício, onde um presidente que se elege de forma fictícia faz uma guerra por motivos fictícios. Mandou muito bem! A pláteia se dividiu entre vaias e aplausos, e se uniu numa baita saia justa: foi patético ver a pusilanimidade de atores que não tinham idéia do que fazer. Grande Moore!

Almodóvar, que ganhou o Oscar por melhor roteiro, também fez um ótimo protesto, recebido com um silêncio constrangido -- como é estrangeiro, ninguém se sentiu obrigado a tomar partido.

E passaram todos rapidinho ao próximo item.






Tenha medo. Tenha muito medo.

Taí, essa foto eu ainda não tinha visto: o intrépido senador Walter Jones no dia em que contribuiu para o esforço de guerra americano trocando o nome das batatinhas...

Seria cômico se não fosse assustador: é esta gente que está dando as cartas.





23.3.03


Parece que foi ontem

Peter Turnley cobriu a primeira Guerra do Golfo. Fez fotos impressionantes, que publicou num ensaio chamado, apropriadamente, The Unseen Gulf War. São 44 fotos que valem mais do que uma semana de noticiário da CNN.

Que, aliás, está inassistível. John Simpson, meu herói, está dando um show na BBC; e quem também está batendo um bolão é o pessoal da RTP Ah, sim: se você lê inglês, não perca o Robert Fisk, do Independent, de Londres..

PS -- Desculpem o blog estar meio solto, mas é que estou fora do ar este fim-de-semana.





21.3.03


Sobre o Salam, aqui e aqui

Uma coisa que o Paul Boutin não diz, mas que eu sei de experiência própria na China: o Blogspot (que hospeda os blogs) pode estar censurado, e o Blogger (onde se escrevem os blogs) não. Em Shangai eu conseguia postar, mas não ver o meu blog.

Tenho a impressão que a censura de governos totalitários como os da China e do Iraque diz mais respeito a consumo interno do que externo. Eles não se preocupam com o que os cidadãos têm a dizer, mas sim com o que lêem e ficam sabendo.






Planeta Diário

Para ver como a imprensa está tratando do ataque ao Iraque, vá ao Newseum, utilíssimo site que exibe as capas dos principais jornais do mundo.






*sigh*

A CNN mandou o Kevin Sites parar com o blog.






Que filhos da puta!!!

Desculpa, gente, mas tem hora em que só palavrão, mesmo.






Oh, que delícia de guerra!

Dá pra acreditar nisso?!

O pior é que dá, sim.

Como diria o Ivan Lessa, desculpem, que vou lá dentro vomitar.

Update: Alguém deve ter dado um toque neste capitalista selvagem. Ele mudou a página. Mantenho o link para quem quiser trocar umas palavrinhas com ele.






Multishow, hoje

Logo mais, às 21h45, rola uma entrevista comigo num programa sobre blogs no Multishow.






Estamos perdidos...

A Bia recebeu pela internet e me passou:

Você sabe que o mundo vai acabar quando o melhor rapper é branco, o melhor golfista é preto, a França acusa os Estados Unidos de arrogância e a Alemanha não quer ir à guerra.






Emergência felina!

Hoje, no Globo, o drama dos gatinhos de Botafogo:

Gatos em teto de zinco quente

Desde outubro morando no prédio 344 da Rua Sorocaba, em Botafogo, a psicóloga Solange Wertman se arrepende cada vez que inspira o ar de sua casa. A origem do mau cheiro que toma conta dos corredores do edifício está num apartamento ao lado. Lá, há quase uma década, o advogado aposentado Alfredo de Lemos, de 73 anos, dá abrigo a uma superpopulação de gatos. Sem ter culpa de nada, muitos dos felinos acabaram envenenados por vizinhos que tentaram uma solução drástica para o problema.

Após ver sua filha de 6 anos ter uma asma agravada pela vizinhança dos gatos, Solange acionou o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), que notificou o aposentado: ele teria que vacinar os animais e deixar seu apartamento em condições aceitáveis de higiene. Como nada fez, Lemos foi multado. De posse da avaliação negativa do CCZ, Solange recorreu à Justiça. No dia 20 do mês passado, o juiz Eduardo Oberg, do IV Juizado Especial Cível, concedeu liminar estabelecendo multa diária de R$ 50 até que Lemos se desfaça dos animais.

— Para os próprios gatos a situação é ruim, já que eles são muitos e ficam num ambiente fechado. Alguns moradores do prédio se mudaram — diz Solange.

Preocupado com o destino dos gatos, o casal de estudantes Luiz Aucar e Bianca de Lena, que mora num edifício vizinho, na Rua Voluntários da Pátria, vem ajudando o aposentado. Os dois passaram a abrigar em seu apartamento mais de 20 dos cerca de 40 gatos de Lemos e agora tentam encaminhá-los para adoção. Cinco gatos já encontraram uma família. Muitos estão doentes e vêm recebendo tratamento da veterinária Andrea Lambert, que vem castrando os animais adultos. Assim como Andrea, outros voluntários se juntaram à causa e tentam encontrar um lugar seguro para os bichos.

O engajamento de Luiz e Bianca, que já criavam 12 gatos e um cachorro, começou quando eles flagraram vizinhos dando chumbinho para os bichanos do aposentado. Eles chegaram a registrar queixa na delegacia denunciando a matança dos gatos. O casal criou uma página na internet para contar o drama dos bichanos (www.gatosbotafogo.hpg.ig.com.br) e pôs seu telefone à disposição para quem quiser ajudar: 2527-0431.

Luiz acredita que Solange exagerou ao entrar na Justiça. Para ele, o advogado Lemos precisa de orientação para cuidar dos animais, e não de punição:

— Ele não conhecia técnicas de controle populacional — sugere Luiz, que se mostrou preocupado com a decisão judicial, especialmente porque o gatil do CCZ já está lotado.

A diretora do CCZ, Claudia Magalhães, confirmou não ter condições de receber mais gatos. Ela disse apoiar o trabalho feito por Luiz e Bianca.

— Na época, oferecemos castração e vacinação gratuita, mas ele (Lemos) não se pronunciou — afirma a diretora do CCZ, lembrando que no Rio não é mais permitido o sacrifício de animais para controle populacional.

Lemos se defende dizendo ter sido muito maltratado por causa dos seus bichos de estimação:

— Sou meio relaxado, não pensei que eles proliferassem com essa rapidez. (Jorge Eduardo Machado)
Por mim, quem tinha de ir pro CCZ era este senhor. Adotar e/ou recolher animais é uma responsabilidade muito séria. Felizmente, neste mundo de loucos em que estamos vivendo, ainda há gente como a Andrea, o Luiz e a Bianca.

Fica aqui o apelo aos gateiros cariocas que lêem este blog para que ajudem a divulgar o site e o telefone desse pessoal do bem: vamos ver se arranjamos lar para os gatinhos antes que o CCZ os recolha!






Salve-se quem puder!

Como agir em casos de ataque de terrorismo? O governo americano explica, alguém interpreta e o Cat traduz.






Quebrando notícias

A redação está vazia, com exceção do pessoal da Internacional, que está ligado direto na guerra. Acaba de chegar a notícia de que caiu um helicóptero matando vários soldados ingleses e americanos; a CNN a recebeu ao mesmo tempo, acaba de ir ao ar. A primeira tendência é dizer "Ahá! Bem feito!" -- depois a gente pensa melhor e se dá conta de que eles são pessoas também, coitados, inteiramente manipulados pelos seus governos.

Fizeram a escolha errada ao se alistar, é óbvio; mas mesmo assim.

O que me impressiona, contudo, é a capacidade que os americanos têm de perder soldados em acidentes. Chego a achar que perdem mais gente em barbeiragens do que em combate.

Não deixa de ser preocupante -- extremamente preocupante -- saber que o maior arsenal do mundo está nas mãos desses caras.

Ah, sim: enquanto isso, mais de mil pessoas já foram presas em São Francisco em manifestações pela paz.






B(log)BC

Ótima iniciativa da BBC: um blog dos seus correspondentes no Oriente Médio. Muito bom. Faz uma dobradinha das mais interessantes com o diário do Kevin Sites, da CNN.





20.3.03




Vi a dica na Luciana, e corri :uma coligação de blogs pela paz, em contraposição aos "warblogs" hidrófobos que andam se espalhando pelo mundo anglo-parlante.

A iniciativa está sendo um sucesso: nas primeiras 60 horas de vida do site, o PeaceBlogs arregimentou cerca de 200 blogs de 17 diferentes países. A idéia é fazer conexões entre bloggers que se opõem ao ataque ao Iraque

Se você é a favor da paz, conecte-se! A associação é supra-partidária, não faz distinção entre língua, nacionalidade ou religião... e já está cheia de bandeirinhas brasileiras!


















Collateral profit

Alguém devia fazer essa conta. Quanto será que estão lucrando os laboratórios farmacêuticos que fabricam coisas como Lexotan, Prozac e Dormonid desde que começou essa confusão?






A marcha da insensatez

Pronto: cá estamos nós, mais uma vez reféns da nossa própria estupidez, imperfeitos que somos, incapazes de tirar da História as lições mais elementares; cá estamos nós, mais uma vez empenhados em nos matarmos uns aos outros e em cultivar o ódio como se fosse uma flor rara, porque, em última instância, é ele que justifica a barbárie.

Digo “nós”, naturalmente, como coletivo planetário, como bípedes inviáveis que somos, incapazes de enxergar um palmo diante do nariz; mas é claro que quero dizer “eles”, pondo nisso uma indisfarçável carga de ressentimento. Provando, portanto, que pertencemos de fato à mesma espécie.

Dick Cheney, Condoleeza Rice, John Ashcroft, Colin Powell, Saddam Hussein, Donald Rumsfeld — todos são seres humanos, como qualquer um de nós. Até George W. Bush, dizem, é humano. Como Michael Jackson, ou Fernandinho Beira-Mar.

Deprimente? Bota deprimente nisso! Sei que a esses exemplos se poderiam facilmente contrapor outros tantos do que a espécie tem de melhor: Bach nos redimiu, e ainda vai redimir, por muitos e muitos séculos, como Shakespeare, Giotto ou Fernando Pessoa. Mas, neste específico momento do tempo registrado, só encontro motivos para ter uma profunda e inerradicável vergonha de ser humana.

* * *

Independentemente do resultado “oficial”, os americanos já perderam a guerra. Podem acabar com o Iraque, reduzir Bagdá, Níneve e Samarra a cinzas, liquidar Saddam Hussein, sua família, amigos e animais de estimação, varrer a população civil do mapa e, de lambuja, trazer Bin Laden vestido de odalisca e preso por uma coleira no pescoço para um tour amplamente televisado do Ground Zero; podem até ter um surto tardio de consciência e recolher todas as tropas do Golfo Pérsico — mas, a esta altura, nada do que façam ou deixem de fazer poderá alterar o resultado do placar.

Em apenas dois anos, como já observaram tantos comentaristas internacionais, George Bush e o cartel que representa conseguiram transformar a gigantesca onda de simpatia e solidariedade que se formou em torno dos EUA logo após o atentado numa tsunami de antiamericanismo de proporções nunca vistas.

Conseguiram também transformar uma imprensa antes forte, independente e admirável numa massa tão amorfa e subserviente que Art Spiegelman, o melhor desenhista da “The New Yorker”, ainda uma das melhores revistas americanas, não agüentou o clima e pediu o boné, depois de dez anos de magníficos serviços prestados. Diretamente, aliás, à própria mulher, a diretora de arte Françoise Moulay — que permanece a bordo como, diz, “uma espécie de refém”.

Resultado? O americano médio está, hoje, mais alienado e desvinculado do resto do mundo do que jamais esteve. Ele não tem idéia de como o resto da Humanidade vê o seu país e os seus governantes e não se sente mais seguro em lugar algum do planeta — exceto, talvez, no porão de casa. Onde, com seu consentimento, é vigiado dia e noite pelo governo, enquanto maldiz a Rússia, muda o nome das batatinhas e joga fora o champanhe que ainda poderia lhe trazer um pouco de alegria.

* * *

A verdade é que nem só em sangue e construções demolidas se contam as derrotas. Será preciso muito tempo, muita paciência e muita diplomacia para romper o medo, o isolamento e a insegurança em que vivem os Estados Unidos de Bush.

* * *

Isso não significa, logicamente, que se viva melhor no Iraque de Saddam Hussein — ou, de resto, em qualquer país do mundo árabe, pelo contrário. Mas que derrota se pode inflingir a quem já está derrotado? A miséria não é boa conselheira; as condições de vida da população iraquiana são tão precárias que qualquer carga extra de desgraça que se lhe lance por cima pode ter conseqüências imprevisíveis. Não há poder igual ao de quem não tem nada a perder, nem loja de louças tão delicada quanto a explosiva região que está na mira de Bush.

É uma ironia do acaso que o animal que representa seu partido seja um elefante.

(O Globo, Segundo Caderno, 20.3.03)












Blog!






19.3.03


Emergência felina!

Os Gatinhos de Botafogo estão ameaçados: o CCZ está querendo exterminá-los, mesmo sabendo que já foram vacinados e castrados, e que há gente cuidando deles, alimentando-os e arranjando lares para que sejam adotados.

O que passa na cabeça desses caras?! Que espécie de gente é essa?!

A história completa está aqui, no Causa Felina.






Direto do Iraque:

Where is Raed? é o blog de um rapaz de Bagdá, que escreve do olho do furacão:
"O pior é ver e sentir a cidade parar. Nada. Nada de compra, nada de venda, nada de gente correndo atrás dos ônibus. Voltamos correndo para casa. Do lado de dentro, pelo menos, não é tão triste."

Está em inglês -- ótimo inglês, aliás. A epígrafe que ele escolheu, de Samuel Huntington, não podia ser mais adequada:
"O Ocidente conquistou o mundo não pela superioridade das suas idéias ou princípios ou religião, mas sim pela sua superioridade no uso da violência organizada. Os ocidentais freqüentemente se esquecem disso. Os não-ocidentais não se esquecem disso nunca."









.



Família Gato: update

Tati está melhorando, muito devagarzinho. Hoje não pude passar tanto tempo com ela, e acho que está um pouco caidinha. Ainda não se alimenta sozinha, mas bebe bastante água e, pelo menos, demonstra interesse pela comida. Morde uns dois ou três pedacinhos de ração, fica olhando o prato, depois vai embora.

Já está suficientemente forte para subir em cima da escrivaninha e pular para o computador, o que é um avanço: há alguns dias, não conseguia sequer subir na cama. Estamos dando a ela água de coco e uma ração especial chamada A/D, super-calórica, que salvou a Pipoca.

O curioso é que todos os gatos detestam esta ração... com exceção, justamente, da Pipoca, que passou quase um mês sem comer outra coisa a não ser este patê, que lhe empurrávamos goela abaixo. Agora, quando a gente abre a lata, ela vem correndo e pede um pouco. Não sei se pegou gosto pela coisa, ou se instintivamente percebe que aquela porcaria, que os outros desprezam, lhe fez bem.

A Família Gato continua abalada. O fato da Tati não estar bem de todo é motivo de estresse para eles, que ainda não retomaram as suas rotininhas e implicâncias. Mas vamos levando a vida todos, bípedes e quadrúpedes, e aos poucos tudo voltará ao normal.






A nossa guerra







A história de um cartum

Vejam como são interessantes as voltas que internet dá! Aos que não lêem O Globo impresso, esclareço: na coluna de segunda-feira, publiquei três charges sobre a guerra que estão rodando pela rede, entre as quais essa aí em cima; agora, o Mariano deixou este comentário aqui no blog:
"O cartum que abre a sua coluna no Globo desta semana, foi a capa da Charge Online em 21/09/2001.
É do cartunista Lúcio, na época chargista da Tribuna do Norte (PR), e originalmente não tinha balão (muito menos em inglês), como pode ainda ser visto: aqui

A seleção completa de charges que publicamos naquele ano sobre o 11 de setembro está no Charge Online.

Há sete anos no ar, com atualização diária (sem uma única falha), a gente mostra cerca de 50 charges dos principais jornais do Brasil inteiro, além de trabalhos de muitos chargistas independentes.

Temos hoje uma média de 1,5 milhão de page views mensais, e cerca de 10 mil charges/mês são enviadas por email, através do mecanismo de envio do site. Somos com certeza a fonte da maioria absoluta das charges que circulam na Internet brasileira. E, pelo, visto, lá fora também.

Como a Tribuna do Norte não tem edição online, o original do cartum foi necessáriamente obtido no nosso site para a adaptação que você publicou. O que nos deixa lisonjeados, é claro, mas também ansiosos por uma citação da fonte.

Grande abraço.

P.S.: É interessante como a Internet possibilita essa recriação de charges, por interação com internautas criativos. Na seleção que citei acima, tem um exemplo engraçadíssimo, de um cartum do Arionauro, feito muito antes do 11 de setembro, e que foi um dos que mais circulou na época, ganhando uma nova leitura com o ataque ao WTC. O próprio Arionauro, coitado, sob o clima de intensa comoção transmitido pela mídia na época, chegou a me pedir desesperado que explicasse que o seu cartum não tinha nada a ver com o atentado, e coisa e tal...








Clique na imagem acima e faça o seu próprio discurso do Bush!
(via Cat)






Hoje, em Brasília

Protesto contra a demissão de TT Catalão do Correio Braziliense. Se você estiver na área, dê uma força!





18.3.03


Cantando contra a guerra

Ótimo site: dica do Ricky, que também recomenda o Poets Against the War.

Enquanto isso, Janjão me manda um email do Marcos Arruda, propondo uma greve de fome contra a guerra.

Acho bonita essa mobilização, tenho reproduzido aqui o que me parece mais interessante, mas a verdade é que à medida em que a ameaça vai se concretizando, o meu sentimento predominante é de frustração e impotência. A escumalha que tomou o poder nos EUA não está ligando a mínima para a opinião pública, nem mesmo na America, quem dirá no resto do mundo.

De que adianta fazer passeata, acender ou apagar as luzes, deixar de beber Coca-Cola ou passar fome, cantar, escrever poemas, divulgar slogans e charges, bater panelas, usar camisetas ou adesivos nos carros, mandar emails e dar telefonemas para congressistas em Brasília e em Washington?

De que adianta Robin Cook renunciar ou Art Spiegelman se demitir do New Yorker?

Tudo é inútil.

Esta guerra estava prometida aos fabricantes de armas e à indústria petroleira desde 1991; era só questão de tempo. George W. Bush está patético no papel de Homem Mais Poderoso do Mundo, é matéria prima de primeira para anedotas, mas não vamos nos iludir: ele não tem a menor importância na ordem natural das coisas. Se amanhã for eliminado, a política americana não vai mudar rigorosamente nada.

As pessoas deixaram de ter importância. O mundo é das megacorporações e dos cartéis -- como, aliás, sempre foi. A única diferença é que hoje, apesar da conduta vergonhosa da imprensa americana, estamos mais bem informados -- e, eventualmente, mais inconformados. Só isso.

Não há nada, rigorosamente nada, que qualquer um de nós possa fazer para mudar o curso da História.

Update: Desculpa, gente, este não foi um post feliz, sob nenhum aspecto. Além da angústia gerada por esta insensatez inominável, tenho andado muito triste com a perda do meu Gatinho, e muito aflita pela Tati. Ontem, porém, vendo um replay do Bush na BBC, me bateu uma depressão que nem conto: uma tsunami de desânimo e frustração. É difícil a gente conservar, já nem digo a esportiva ou o bom humor, mas a simples objetividade, diante disso tudo.








Até que ficou bonito! O Helvécio Mafra tentou ler o blog e apareceu isso. Logo depois as coisas se normalizaram, mas ele foi rápido no gatilho e capturou a tela. Muito obrigada, Helvécio, até que gostei dessa versão...






BLOG!

(Indicação da infalível Marina W.)






Estranho, muito estranho!

Esta não é a formiga original, que estava aqui ontem. Tive que subir o desenho novamente. Não tenho idéia do que possa ter acontecido; é possível que eu estivesse com duas janelas de Blogger abertas, com a formiga na janela de edição e, sem querer, a tenha mandado pro espaço. Mas não lembro como ou quando isso aconteceu: trabalho com um monte de janelas abertas, às vezes me perco completamente na minha própria máquina. Os 16 comentários, porém, que são o que importa, estão lá no YACCS, direitinho.

Ontem postei a formiga porque me pareceu uma imagem muito emblemática. Para começo de conversa, estou com uma invasão de formigas aqui em casa que é uma loucura. A menor coisinha que caia no chão é imediatamente coberta por milhões delas, seja na cozinha, na sala, no escritório -- não há canto da casa que não esteja infestado.

Depois, houve todo aquele episódio do repórter da Globo se portando mal numa exposição onde havia uma instalação com formigas e, sinceramente, me identifiquei com as formigas. Mas, na seqüência, pensei: "Coitado, afinal ele também é uma formiga, ainda que uma formiga mal educada, e sob uma carga de estresse miserável". Daí a nos ver a todos como formigas sendo esmagadas pela Marcha da Insensatez foi um pulo.

Procurei então uma formiga que exprimisse e sintetizasse tudo o que eu estava pensando, e pronto. Foi uma viagem meio louca, mesmo.

Juro que não bebi nem fumei nada.





17.3.03


Uai...

A formiga sumiu.












Gato numa hora dessas?!

Pois é: mas tenho notícias legais! A Tati começa a se interessar pelo mundo novamente: já dá umas beliscadas na ração, anda pela casa e fica atenta aos barulhos da casa. Ainda não está criando caso com ninguém, ainda não tentou me morder quando forço comida pela garganta dela, mas tenho a impressão de que, em breve, voltará a ficar bem, isto é, mal-humorada como sempre... :-)))






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Já perderam até a noção de ridículo...







O Maurício me mandou; valeu, amigo.






A Cultura acorda. Ufa!

Confesso que, quando Lula indicou Gilberto Gil para o Ministério da Cultura, achei a escolha péssima. Para que pegar um artista excepcional como Gil e acorrentá-lo a um cargo burocrático que, em última instância, com suas verbas minúsculas, pode ser exercido por qualquer um — como foi — sem qualquer alteração perceptível da realidade?! Para mim, a contribuição de Gil à cultura brasileira seria sempre muito mais relevante no palco, até porque talento é dom, não é cargo e — ao contrário do MC — não é para qualquer um.

Bom, errei na mosca. Estou descobrindo que um ministério tem exatamente o tamanho do ministro que o ocupa. Assim, enquanto Ciência e Tecnologia (que é hoje o verdadeiro Ministério da Defesa, ao contrário do que supõe o jurássico PCdoB, que o recusou) literalmente sumiu — apesar da excelente estrutura deixada pelo ex-ministro Ronaldo Sardenberg — o Ministério da Cultura adquiriu uma dimensão inesperada. E, o que é mais interessante: começa, afinal, a se voltar para alguns dos temas mais palpitantes do setor.

Não querendo desmerecer a cerâmica do Vale do Jequitinhonha ou as figureiras de Taubaté, os principais desafios da cultura estão, no momento, em esferas bem mais complexas e delicadas — ainda que não necessariamente restritas à área específica de atuação da pasta.

Aí está a internet, com sua cáfila de problemas; aí estão os formatos de multimídia abertos, que as gravadoras e a indústria cinematográfica querem matar a qualquer custo; aí está a interminável questão dos direitos autorais num mundo em que a tecnologia evoluiu, e evolui, com velocidade incomparavelmente superior à da legislação.

Essas são questões importantes demais para serem deixadas à solta, ao alcance do lobby das mega-corporações americanas e/ou da primeira deputada despreparada disposta a legislar sobre o que não entende. São questões em aberto, intimamente ligadas à cultura, que têm que ser pensadas conjuntamente pela sociedade e pelo governo.

E — espanto! — o Brasil tem finalmente um ministro da cultura que se deu conta disso.

Eu, porém, só me dei conta disso quando Gil convidou John Perry Barlow para vir ao Brasil. É óbvio que um convite ao Barlow tinha mesmo que partir do MC — mas há tantos anos a cultura oficial ignora que há uma revolução tecnológica acontecendo que eu cheguei a me espantar: ué, o Gil vai trazer o Barlow?

Faz o maior sentido, é claro. Gil desde sempre esteve antenado com a internet e com a cultura hi-tech; chamou para assessorá-lo Hermano Vianna, uma das belas cabeças ciber-pensantes do país; e, na semana que vem, vai participar do I-Law, que tem tudo para ser um dos mais importantes seminários já realizados no Brasil sobre o futuro das idéias — para citar o seu participante mais conhecido, Lawrence Lessig (um dos ciber-heróis deste blog), “inventor” do direito de internet e autor, justamente, de “The future of ideas”, um livro fundamental para quem quiser saber a quantas anda a liberdade de expressão. Cultura com C maiúsculo é por aí, mesmo.

* * *

Organizado pela Escola de Direito da FGV e pelo Berkman Center for Internet & Society da Universidade de Harvard, este seminário vai reunir, além de Lessig e Barlow, feras como Jonathan Zittrain (do caso Micro$oft — banda boa, é lógico!), Charles Nesson (fundador do Berkman Center e valente defensor do direito de expressão na rede), Yochai Benker (estudioso dos problemas da exclusão digital) e William Fisher (especialista em propriedade intelectual, ultimamente às voltas com a regulamentação das rádios online, a respeito das quais prestou depoimentos para o congresso americano).

Definir um encontro como o I-Law como um simples debate sobre direito é desconhecer o que está em jogo. A discussão sobre o futuro dos direitos autorais, por exemplo, é cultura profunda e filosofia de alta densidade atômica. Há um mundo a ser redefinido e, a menos que a sociedade se organize como um todo, ele acabará nas mãos de meia dúzia de conglomerados de mídia.

Leia mais: O André Machado fez uma ótima entrevista com Ronaldo Lemos, o jovem coordenador de Direito e Tecnologia da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas.

Update: Acabo de receber o jornal impresso e, por coincidência, a capa do Segundo Caderno traz uma manchete diametralmente oposta ao título da minha coluna: Pânico na Cultura, assinada pelo Arnaldo Bloch e pelo Jaime Biaggio. O povo da área está, parece, bem apreensivo em relação à escassez de verbas.

(O GLOBO, Info etc., 17.3.03)






Brasileirinho

Desde a semana passada, o Semente, lá na Lapa, parou de vender Coca ou Pepsi em sinal de protesto contra a guerra. Quem não quiser chope, que vá de guaraná.






Mistério

Por que diabos as emissoras de televisão fazem questão que seus correspondentes internacionais mandem as notícias do meio da rua, chova ou faça sol, vente ou chova canivete, caia granizo ou neve?

Eu até entendo que John Simpson, lá no fim do mundo, mande a melhor cobertura da guerra do meio do deserto; ele está lá, no centro dos acontecimentos.

Mas por que a repórter da BBC que fala sobre uma discussão no Parlamento Europeu, reunido num prédio com calefação central e todos os confortos da civilização, tem que enfrentar a nevasca do lado de fora para mandar a matéria? Ou por que um repórter da Globo, falando de Londres sobre um atentado no Oriente Médio, tem que se apresentar do lado de fora, de capa, luva e echarpe, agasalhado da cabeça aos pés?

Eu hein.






Cut & Paste

Não resisti, e roubei este excelente post da Elis:
Que civilidade? Que moral?

Cena 1: a pária namorada de um certo rapaz muito do esperto é traída em cadeia nacional de televisão.
Cena 2: Os babacas aqui assistem a tudo isso, em vez de estarem lendo coisas boas ou vendo filmes edificantes.
Cena 3: a outra "namorada" dele é expulsa do programa do qual participava. Ele exulta, feliz por ter vencido a "amada".
Cena 4: a outra "namorada" chega no local onde um monte de párias esperam o momento de recepcioná-la.
Cena 5: a pária namorada "oficial", vestida com uma camiseta na qual se lê "eu te amo, Fulano", vai abraçar a "outra", com quem seu namorado, aquele com quem divide problemas e alegrias, passou quase dois meses se agarrando em cadeia nacional de televisão;
Cena 6: as duas se abraçam, como velhas conhecidas
Cena 7: o apresentador do programa grita "QUE CIVILIZAÇÃO!!!"
Cena 8: os párias aqui continuam vendo isso...

Moral da história: caro Bial, não é civilização, ou civilidade, ou cordialidade. Isso se chama abominação. Agora, respondam: vocês venderiam seus namorados, amigos, amantes, parentes, por R$ 500 mil? Venderiam sua dignidade, em cadeia nacional de televisão?

Que mundo é esse em que a fidelidade, aquela pura e cristalina, gerada por um sentimento maior que a ganância ou a possessão, deixou de ser natural e se tornou objeto de compra e venda?

Que mundo é esse em que se estimula o jogo sujo, em nome de uma suposta fama e de um dinheiro que nasceu de relacionamentos falidos, sujeiras nacionais, sacanagem explícita?

Tenho dó de você, Bial, por deixar que as pessoas pensem que vender umas às outras é natural.

Tenho dó da nossa sociedade, que perde seu tempo assistindo a monstruosidades desse tipo.

Tenho dó daqueles que passam a ver em atitudes como essas tendências de comportamento.

Assino embaixo.





16.3.03


Millôr, quem diria, defende o Papa

"Mensagem ao Teólogo Frei Boffe e a Marcos Arruda, do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul -- PACS. Economist and educator, Member of the Movement Faith and Politics." Clique aqui.






Família Gato: update

Tati continua na mesma. Hoje preparamos fígado picadinho, pequenos bocados de carne moída e outras guloseimas felinas, e ela mal toca a comida. Mas está bebendo água e, ao longo do dia, aceitou dois bocadinhos de carne que lhe ofereci na mão. Está muito carente, mia fraquinho quando a gente sai de perto dela e pede carinho o tempo todo.
Estamos obedecendo.






Plágio é plágio, não se discute

Márcia Peltier, do JB, copiou palavra por palavra um texto do Pedro Doria, do no.minimo. Não devia ter feito isso. Mas digamos que, distraidamente, tivesse dado um cut & paste no artigo do Pedro, para ler depois e, sem querer, o tivesse baixado com a sua coluna; ou que o tivesse lido e, inconscientemente, o tivesse decorado e transcrito; deveria ter, então, pedido desculpas no dia seguinte, atribuindo ao verdadeiro autor o texto publicado como seu.

O que ela fez, porém, foi inacreditavel: num texto carregado de má fé, tentou atribuir ao Pedro o plágio de um terceiro texto.

Conheço a Márcia, que acho uma pessoa delicada e simpática. A imagem que tenho dela não combina, de jeito nenhum, com a baixaria publicada pelo JB. Prefiro imaginar que esta emenda, tão pior que o soneto, tenha sido escrita por alguém menos educado, menos sensível, menos digno.

Isso não a exime, porém, de prestar atenção e de se responsabilizar pelo que sai no jornal em seu nome.

P.S. -- Essa história já vem rolando há alguns dias; eu ia falar sobre o caso na hora, não tive tempo e, com a confusão reinante aqui em casa, esqueci. Agora, um email da lista do sempre atento Cat voltou a me lembrar o assunto.





15.3.03


Diplomacia à americana

Recebi isso do Cat:
Eis uma lista dos paises que foram bombardeados pelos Estados Unidos, após o fim da 2ª Guerra Mundial:

China 1945-46

Coréia 1950-53

China 1950-53

Guatemala 1954

Indonésia 1958

Cuba 1959-60

Guatemala 1960

Congo 1964

Laos 1964-73

Peru 1965

Vietnam 1961-73

Cambodja 1969-70

Guatemala 1967-69

Granada 1983

Líbia 1986

El Salvador anos 80

Nicarágua anos 80

Panamá 1989

Iraque 1991-__

Sudão 1998

Afeganistão 1998

Yugoslávia 1999

Afeganistão 2001

PERGUNTA:

Em quantos destes países, os bombardeios e outras ações militares fizeram emergir um governo democrático e respeitador dos Direitos Humanos ?

ESCOLHA uma resposta :

(a) 0

(b) zero

(c) nenhum

(d) nem um só

(e) o numero inteiro que fica entre -1 e +1
Pois.






Cala a boca, jornalista!

Meu amigo TT Catalão foi demitido por motivos políticos do Correio Braziliense, hoje nas mãos do governador Joaquim Roriz, uma espécie de Rosângela Matheus piorada (se é que isso é possível). Os detalhes estão aqui; e a Xenia fez uma página de protesto aqui.

Que nojo.

Pescado dos comentários:
"Chamar o Roriz de Rosinha Piorada é um elogio. O cara é um Quércia misturado com coronel nordestino. Nem a Rosinha merece (ainda) ser comparada a isto. Mas se deixarem ela chega lá." (Alexandre Boechat)






Nossa, que lindo...

Tem até uma trilha sonora klezmer.

Update: Eu adoro klezmer e fui ver se descobria alguma coisa a respeito do compositor e do povo que toca a musiquinha. Achei a página do grupo, o Jontef (na foto, o compositor Joachim Günther, clarinetista da trilha, é o do acordeão.)

Também fui atrás de Theodore Ushev, o autor do filme. Ele é búlgaro e mora em Montreal. Quando vi esta página do Animation Express, descobri que já conhecia coisas dele do Anima Mundi.

Puxei o post pra cima porque não me canso de olhar a animação.





14.3.03


Retrato de família

Os (lindos!) gatinhos do Marcus Borelli.
























Família Gato

Desde que o Cotton foi internado, sábado passado, a Tati, mãe dele, parou de se alimentar. Nós brincamos com ela, demos atenção redobrada e comidinhas especiais, mas não conseguimos tirá-la da apatia em que mergulhou.

Ontem de manhã teve que ser internada. Perdeu muito peso, está fraquinha demais e tem que tomar soro e alguns remédios. Estou extremamente apreensiva.

Os outros estão bem abalados, e muito desarvorados "socialmente", digamos: a sua pequena hierarquia foi toda mexida. Não sei se sabem exatamente que o Cotton morreu, mas tenho certeza de que sentem a grande tristeza que há na casa, complicada ainda pelas obras intermináveis do banheiro e pela falta da empregada a quem estavam habituados.

Os dias têm sido muito duros e confusos.








Pig!






13.3.03












HOJE!

Noite felina em Ipanema

Heloísa Seixas lança logo mais, a partir das 20hs, na Livraria da Travessa, uma delícia de livro: Sete Vidas, reunião temática de contos mínimos.

Adorei este livro, por tudo. Ganha dez como conjunto de obra, do texto às ilustrações e projeto gráfico lindíssimos do Iran do Espírito Santo, passando pela edição primorosa (as usual) da Cosac & Naify.

Helô, em cujo estúdio -- vizinho ao do Millôr -- mora uma das gatinhas mais lindas de Ipanema, vive com seis gatos e com o Ruy Castro, outro bípede esclarecido que sabe a Ordem Natural das Coisas e põe os felinos no seu devido lugar, isto é: lá em cima.

Vejam o que diz a Helô a respeito deles:
"Tenho certeza de que os gatos têm poderes especiais. Tenho tido inúmeras provas disso. Meus gatos sabem quando vou viajar, sabem muito bem que o veterinário está chegando, muito antes de tocar o interfone. Não é nada de sobrenatural, é apenas um poder fantástico de observação, uma sintonia fina que talvez ainda seja remanescente dos tempos de vida selvagem. O cachorro já perdeu um pouco isso, embora não completamente. Os gatos têm uma ligação mais forte com seus ancestrais selvagens. Há um tigre ou uma pantera dentro de cada um deles e isso traz às vezes um comportamento que nos parece fora do comum."
É isso mesmo. Borges costumava dizer que Deus fez os gatos para que os homens pudessem acariciar os tigres; Neruda os descreveu como mínimos tigres de salão, num dos mais lindos poemas que escreveu, a Ode ao Gato.

(Se você ainda não a conhece, não deixe de lê-la, em espanhol ou português. Para quem gosta de comparar traduções, encontrei também essas versões em italiano, inglês e... esperanto!)

Para ler uma ótima entrevista com a Heloísa, ter mais detalhes sobre o livro e até comprá-lo com desconto, clique aqui.

Livraria da Travessa: Rua Visconde de Pirajá 572, tel. 3205-9002


(Estou sentindo tanta falta do meu tigrinho cinza...)






Novo leilão na campanha

Luciana Barrichelo, que mora nos Estados Unidos e é amiga de meio mundo blog.BR, doou uma aquarela linda para ser leiloada na campanha para o Lucas.



Sobretudo, não deixe de visitar o Wumanity. O lado negro da história começa a aparecer: é vida em estado puro, contada com emoção e intensidade pela Rô.

Taí uma pessoa admirável.






John Perry Barlow:
um ianque contra a guerra

No dia 11 de setembro de 2001, quando a BBC ainda estava se dando ao trabalho de informar aos telespectadores que as cenas do World Trade Center não eram trailer de filme, um e-mail de John Perry Barlow bateu nas caixas de correio eletrônico dos seus 897 amigos mais chegados. Barlow — um dos maiores ativistas do ciberespaço, responsável, inclusive, pelo uso da palavra “ciberespaço” para designar... bem, o ciberespaço — previa, já naquele momento, o que, em pouco tempo, se provaria realidade: o ataque dos terroristas dava à linha dura americana a desculpa que estava querendo, há tempos, para controlar a mídia do país e a vida dos seus cidadãos.

“Como muitos de vocês sabem, acredito que, ao longo dos últimos 30 anos, os Estados Unidos vêm se tornando, de forma gradual, sutil e invisível à maioria de nós, um estado policial”, escreveu então. “Os acontecimentos desta manhã são, de modo geral, equivalentes ao incêndio do Reichstag, que deu, aos nazistas, a desculpa social para se apossarem da Alemanha. Não estou dizendo que, como os nazistas, as forças autoritárias da América tenham participado diretamente desta tragédia inconcebível (...). No entanto, nada poderia servir melhor àqueles que acham que a “segurança” americana é mais importante do que a liberdade americana.”



O barata-voa só não foi maior porque, convenhamos, o que voou de barata naquele momento não foi brincadeira; ainda assim, Barlow foi apedrejado com igual vigor pela direita e pela esquerda. Quem manda pensar com a própria cabeça? Porque é nisso, afinal, que ele se especializa — e é por isso que é tão difícil encontrar um rótulo para defini-lo.

Filho e neto de senadores republicanos, republicano ele mesmo até o dia em que Bush tomou o poder, Barlow nasceu numa fazenda no interior do Wyoming (ô, pleonasmo, esse!), formou-se em teologia, criou gado até meados dos anos 80, foi letrista do Grateful Dead, ajudou a deslanchar a “Wired” (revista que marcou época na cultura com tomada) e foi um dos fundadores da Electronic Frontier Foundation, organização que defende com galhardia os direitos civis no ciberespaço.

Viajante incansável e zeloso evangelista da internet, não raro junta essas duas vocações em alguma aventura improvável. Uma vez, por exemplo, foi ao Mali, na África, só para instalar o primeiro provedor de internet da região — e isso numa época em que a metade dos EUA ainda não havia sequer ouvido a palavra internet. Quando perguntei o porquê daquela mão-de-obra, a explicação foi simples:

— Porque quero poder chegar para as pessoas e dizer: “Como é que vocês ainda não têm internet? Já existe internet até em Timbuktu!”



Desde o começo de março, Barlow está no Brasil. Foi convidado por Gilberto Gil para ver o carnaval e um pouco do país junto com Jack Lang, o ex-ministro da cultura francês; quando a agenda oficial acabou, decidiu esticar por conta própria. Neste momento, está na Praia do Forte, que considera a melhor imitação de paraíso que já viu na vida.

Está impressionado e feliz com o país (que visitou pela primeira vez em 1998), com a música, com a energia que sente em toda a parte e, sobretudo, com a cordialidade das pessoas, artigo cada vez mais raro nos EUA. John Perry sinceramente acha a alegria uma arma fundamental para a sobrevivência da espécie, e luta como pode contra o clima de medo e pessimismo vendido pela mídia americana — que, na sua opinião, criou uma espécie de hipnose coletiva movida a futilidades.

— O que eu acho que está acontecendo na América é que estamos nos fartando de pão e circo — diz. — Só temos reality shows , açúcar e televisão, e muitos de nós caímos num torpor induzido por essa obesidade social. As coisas que aconteceram foram demais para muita gente; agora, está todo mundo fazendo de conta que está dormindo. Acontece que, quando as pessoas fazem de conta que estão dormindo, é impossível acordá-las. Você entende? Não há como chamar a sua atenção, porque elas estão fazendo de conta que não têm atenção alguma... É um círculo vicioso. A mídia simplesmente torna coletivo o sonho dos que fazem de conta que estão dormindo. Ela não pensa em ninguém, especificamente; apenas expressa o que se tornou lugar-comum — por estar na mídia — e reforça isso. Faz o que sempre fez, ou seja, tenta segurar um público desatento com uma dieta crescente de medo, sexualidade e violência.



Se isso nos parece familiar, é porque é familiar mesmo. Para Barlow, há uma tendência mundial de se aceitar sem discutir o que vem da televisão — que passou a ser a ferramenta universal de interpretação dos fatos.

— Uma das minhas principais preocupações neste momento é a possibilidade de um totalitarismo privado — que, aliás, acho que já está acontecendo. A massa está cada vez mais impermeável à realidade, e a internet não está conseguindo contrabalançar isso. Há um bom nível de dissidência na rede, mas ele não chega a fazer a menor diferença. Se fizesse, a esta altura eu já estava preso.


(O GLOBO, Segundo Caderno, 13.3.03)





12.3.03


O Pé Sujo está de sapato novo.







Enquanto isso...

Outra piadinha que recebi por email:
Saddam e Bush se encontram pela primeira vez, em Washington, para discutir a paz.

Quando Saddam sentou na poltrona destinada a ele, notou que havia três botões na cadeira de Bush. Depois de cinco minutos de conversa, Bush apertou o primeiro botão e uma luva de boxe saiu do braço direito da cadeira de Saddam e socou o ditador iraquiano na cara. Confuso, Saddam continuou falando sobre paz enquanto Bush ria.

Alguns minutos depois, Bush apertou o segundo botão e uma bota acertou o traseiro de Saddam. Bush achou tão engraçado que apertou o terceiro botão, e um balde de água caiu na cabeça do iraquiano, enquanto o presidente americano rolava no chão de tanto rir.

Finalmente, Saddam se tocou de que o processo de paz havia fracassado e voltou a Bagdá.

Duas semanas depois, as negociações recomeçaram, e foi a vez de Bush ir ao Iraque. Quando o americano chegou à sala do iraquiano, percebeu que na cadeira de Saddam também havia três botões, e ficou preparado para a revanche do ditador.

Os dois começaram a conversar e Saddam apertou o primeiro botão. Bush se encolheu todo, mas nada aconteceu. Saddam caiu na risada. A conversa continuou e, alguns minutos depois, o ditador apertou o segundo botão. Bush deu um pulo na cadeira, mas de novo nada aconteceu... e Saddam caiu na gargalhada. Poucos segundos depois, Saddam apertou o terceiro botão. Bush arregalou os olhos, mas novamente nada. Agora era Saddam quem rolava no chão de tanto rir.

Bush, irritado com aquela bobagem, levantou-se e disse:

-- Esqueça a paz! Estou voltando para Washington!

E Saddam, chorando de rir:

-- Que Washington...???












A guerra, vista de lá

"Se vocês estivessem por aqui nesta terra, se lessem os jornais locais, se ouvissem as televisões regionais, se sintonizassem as rádios tocando raps e pops estúpidos, e no meio de tudo isso escutassem as palavras de Bush, soltas e desengonçadas, não só aquelas no teleprompter, em cadeia nacional, mas ouvissem também as entrevistas coletivas, as risadas sarcásticas, a arrogância em cada resposta, o olhar pretensioso, a obsessão messiânica, a falta de cortesia, a escassez de raciocínio, o argumento tosco, a resposta pronta e repetida, se ouvissem tudo isso, dia após dia, pela manhã, à tarde e também no fim da noite, e, de quebra, vissem também a desfaçatez das cadeias de televisão, que ignoram solenemente a voz das ruas, locais e estrangeiras, como não houvesse senão um grito, aquela voz berrante da Casa Branca, estariam, como estou agora, bem p. da vida."
O resto está aqui, no excelente Amarar, do Danilo Amaral -- indiscutivelmente um dos grandes talentos da nossa blogosfera.







Desmandos de Rosângela

Dora Kramer, no JB, fala sobre o desgoverno do Rio.

Está imperdível, sobretudo para nós, cariocas.





11.3.03



S.O.S. Gatinhos

A valente turma do S.O.S. Gatinhos avisa que não só está de página nova, lojinha redesenhada e reabastecida como, ainda por cima... sim, claro: vários novos gatinhos precisando de ajuda e de afeto!

Só para vocês verem que diferença faz o carinho na vida de uma criatura: o gatinho da foto apareceu pela primeira vez neste blog em maio do ano passado, na foto à esquerda, à procura de alguém que o adotasse. Poucos dias antes da foto ser feita, ele estava no Campo de São Bento, em Niterói, com a pata quebrada, sangrando, quando teve a sorte de ser recolhido pela Susana Barbagelata, que o levou a um vet e pagou o tratamento, mas não podia ficar com ele.

Aí entraram em cena a Marta e o Arli, que o levaram para viver com seus outros Felindos. Hoje o Curau está perfeitamente integrado à família, é o xodó da casa e, aparentemente, não teve qualquer problema com o pino fixado à patinha. Diz o Arli, a respeito da foto à direita:

Curau, um segundo antes de pular sobre a máquina! Aliás, uma das características marcantes dele é a rapidez quando quer pegar algo. É incrível!
Não é uma linda história? Eu não resisto a um happy end...







Achei aqui.






Forum

O internETC. informa: nosso Forum está no ar novamente.






Muito importante:
dê a sua opinião!

A presidência da União Européia está promovendo uma pesquisa para saber a opinião do mundo conectado a respeito de um ataque ao Iraque. A pesquisa está aberta a gente de todos os continentes, e pode ser preenchida aqui.

Participe, é importante -- ainda que a gente ache que os Estados Unidos vão mesmo fazer o que lhes der na telha, é bom que fique registrado o que a opinião pública mundial pensa disso.








Parabéns, Bia!

Este não vai ser dos aniversários mais felizes da família, mas a tristeza não vai impedir a gente de comemorar devidamente a Bia.

Na verdade, eu nem preciso de data especial para isso. Como boa mãe coruja (sobretudo no fuso horário...) passo 365 dias por ano encantada com o meu bípede, cheia de orgulho por ser mãe de uma pessoa tão atenta, tão generosa e tão interessante.

Muitas felicidades, Bipe! Você merece tudo de bom que há na sua vida, e tudo o que ainda vai acontecer de extraordinário e maravilhoso.






Pesadelo no Vale

Um dos leitores do Info etc. recebeu uma carta de um amigo que mora en San Jose, Califórnia, coração do Vale do Silício. A coisa não está nada boa para aqueles lados. O retrato que o amigo do Wang Yu traça é triste — e, pelo que sei, muito verdadeiro:

“Aqui vai um instantâneo do vale mais triste dos EUA. Dizem que o índice de desemprego está em 8%... mas anda mais próximo a 20%, se o número de pais desempregados nas reuniões da escola servir de indicativo. A taxa de imóveis comerciais desocupados anda em torno dos 60% a 70%. Muitos desses imóveis ainda têm contratos vigentes, de modo que os números oficiais falam em “apenas” 30% de desocupação.

Há uma rua em Milpitas que liga a estrada 237 com a Montague Expressway, chamada McCarthy Boulevard. Na verdade, é o Boulevard das Startups Quebradas. Tem cerca de 30 prédios construídos ao longo de um percurso de uns quatro quilômetros, dos quais todos, com exceção de cinco, estão vazios...

Acho que todos os lucros reportados na área são uma invenção, já que ninguém precisa mais de nada; as empresas estão gastando o que ainda sobra do que receberam dos investidores, e fazendo de conta que tudo vai bem. Há material estocado nos almoxarifados para durar anos.

As pessoas tentam parecer ocupadas no trabalho, mas a maior parte dos empregados hi-tech daria conta do que tem a fazer em uma ou duas horas de serviço por dia.

Eu sei: passei por três empresas diferentes nos últimos três anos.

Nos próximos anos, as últimas companhias que ainda conseguiram levantar dinheiro entre 1998 e 2000 vão chegar ao fim das suas reservas, fechar as portas e acrescentar mais alguns milhares de indivíduos às hordas de desempregados. Uma manchete do Mercury News dizia, no outro domingo, que a economia vai se recuperar em... 2011! Sinistro!”

Para mim, o pior não é que as coisas estejam assim; é que ninguém tenha previsto que, como estavam, não podia dar certo. Sempre fiquei chocada com o desperdício que via durante a bolha: empresas recém-nascidas mudando-se para edifícios de luxo, equipamentos praticamente novos postos no lixo apenas porque havia um novo modelo na praça, casas e carros de preços estratosféricos. Algumas vezes perguntei a amigos que estavam nessa se não era melhor uma empresa se consolidar primeiro e começar a ganhar dinheiro para, depois, quem sabe, se mudar para a área mais rica da cidade, mas invariavelmente ouvia a mesma resposta: a aparência fazia parte do jogo. Como eles estavam (e em alguns casos ainda estão) ricos e eu não, só me restava meter a viola no saco — muito assombrada com aquilo tudo.

Houve uma época, por exemplo, em que, em vez das canetinhas e camisetas de costume, o pessoal distribuía coisas inteiramente extravagantes na Comdex, de discos voadores de brinquedo a mini ventiladores de pilha: coisas relativamente caras, de que ninguém precisava e cujo destino óbvio era a lata de lixo, num futuro mais ou menos próximo — grátis, aos milhares, para quem quisesse. As embalagens de alguns press-kits, então, me afligiam demais: caixas extravagantes, lindas... que não podiam ser recicladas para nada. Isso, aliás, me deixa perturbada até hoje: o que é que justifica tanto desperdício?

O Wang, que me mandou a carta do amigo, pergunta o que acho disso, querendo saber se, como consumidores, seremos prejudicados pela atual situação do Vale. Sinceramente, não sei. É possível que a turma da bolha precisasse mesmo deste choque de realidade para virar gente; é quase certo que as grandes extravagâncias sejam coisa do passado. Mas para as boas idéias e para os conceitos verdadeiramente revolucionários, acho que sempre haverá futuro.

(O Globo, Info etc., 10.3.2003)







O que há de errado com a internet?

Não costumo puxar aqui para as matérias do Info etc., porque me parece meio cabotino, mas desta vez não dá para deixar de chamar a atenção para a reportagem que a Cris De Luca fez a respeito da zorra geral que impera na internet BR. É uma leitura muito importante, que explica o que está por trás das confusões que temos visto entre os provedores e que alerta para os riscos que estamos correndo.





10.3.03


Como ter um relacionamento perfeito

Bia Badaud mandou um textinho para me fazer rir. Conseguiu:
1. é importante encontrar um homem que trabalhe em casa, eventualmente cozinhe e limpe, e que tenha um bom emprego;

2. é importante encontrar um homem que faça você rir;

3. é importante encontrar um homem que seja responsável e não minta;

4. é importante encontrar um homem bom de cama e que adore fazer sexo com você;

5. é extremamente importante, mas extremamente importante que estes quatro homens nunca se encontrem.







Cotton.BAK
1994 - 2003

Ontem, assim que eu terminei de subir as fotos do desfile, telefonaram do veterinário para avisar que o Cotton estava morto. Ele havia sido internado no sábado, muito fraco e com todo o jeito de gato que comeu uma barata detetizada, mas nunca imaginei que pudesse estar correndo risco tão sério.

Fui para o carnaval relativamente despreocupada. Insetos envenenados já aconteceram antes na Família Gato, e foram tirados mais ou menos de letra, com alguns dias de soro e tratamento adequado. Além disso, depois do que aconteceu com a Pipoca, passei a acreditar piamente em milagres felinos.

Mas o meu Gatinho querido, coitado, não teve a mesma sorte. Foi embora tão rápido que nem deu tempo ao dr. Jaime de tentar fazer alguma coisa por ele. A Bia resumiu a nossa perplexidade:

-- Mas o que foi isso, bala perdida?!

Estamos todos, bípedes e quadrúpedes, tristes demais. O Cotton era o mais carinhoso dos gatos, um eterno filhote carente que vivia pedindo colo; daí, aliás, seu apelido de Gatinho. Gostava de ficar em cima da escrivaninha fazendo concorrência ao mouse pad ou, quando eu ia dormir, espichado na cama, bem ao lado da minha cabeça. Eu brincava com ele:

-- O que é que você acha que é, um travesseiro anti-alérgico?

Ele se fazia de desentendido. Afinal, aquela era a cama dele que, por excepcional gentileza, a dividia comigo, com a Keaton e com algum outro gato que, durante a noite, resolvesse tirar um cochilo -- em geral a Tati, que adorava. Os dois nunca perderam a relação mãe e filho, e estavam sempre juntos. Tati detesta gatos, mas para ela o Cotton pertencia, evidentemente, a uma outra espécie.

Agora ela está aqui na escrivaninha, ao meu lado, tão órfã do Gatinho quanto eu.





9.3.03


























Direto da Sapucaí

Hoje vim com a Bia ver o desfile, já que, na segunda, cumprimos apenas o nosso ritual habitual de carnaval, que é encontrar os amigos no quintal do camarote da Brahma para conversar e ver a fauna de modo geral -- da qual, possivelmente, somos nós mesmos os espécimes mais esquisitos nessa época do ano e nesse quadrante do globo.

Graças à Bia, que tem todas as manhas que faltam à mãe dela, saí do Camarote da Brahma para fazer umas fotos mais próximas dos desfiles. No meio do caminho encontrei uma sala de imprensa, deduzi que aqui haveria um micro ou dois (há cinco) e entrei para dar um alô (e tomar uma prise de ar refrigerado).

Fotos depois!





8.3.03


Papa em Bagdá

Mais um teólogo brasileiro entra em contato com o Papa pedindo-lhe que vá para Bagdá para evitar a guerra. Conforme já escrevi lá embaixo, acho ótima essa idéia. Ainda que Bush & Co. não sejam católicos, o Papa é o líder espiritual de uma parcela da população americana que eles não podem ignorar. Para a população mundial estão andando, conforme a gente sabe, mas quando Cheney fizer uma variante da clássica pergunta -- "Afinal, quantos votos tem esse Papa?" -- pode se surpreender...
Al Papa Giovanni Paolo II,

La Santità Vostra ha intrapeso un gran lavoro in favore della Pace, nei suoi discorsi, preghiere, nella nota sull'attegiamento della Santa Sede rilasciata a tutti gli ambasciatori accreditatti presso la medesima Santa Sede, coll'invio del Cardinale Etchegaray a Bagdad e del Cardinale Pio Laghi a Washington, con l'invito ad una giornata di digiuno per la pace, in questo mercoledì delle cenere.

Pare che niente di questo ha potuto cambiare l'intransigenza del Presidente Bush e di Tony Blair.

La presenza del Papa in Bagdad non porrebbe un obice morale intrasponibile a questa guerra che si annuncia come un vero genocidio?

Tutte le persone amanti della pace sarebbero di cuore e mente con Lei e l'umanità li sarà eternamente gradita per aver ritardata e, speriamo, allontanatta questa sciagura troppo annunciata.

Pe. José Oscar Beozzo








Antigo Leblon

Rogério Barbosa Lima fez um site que é pra matar qualquer carioca de saudade e tristeza: Antigo Leblon, uma aldeia encantada. São depoimentos, crônicas, fotos e até filipetas dos tempos em que Copacabana era o centro da ação, o Cinema Miramar ainda existia e o Leblon não passava de um areal muito distante.






Em off -- de verdade

Kevin Sites, correspondente da CNN no Kuwait, dá uma informação interessantíssima aos leitores do Boing Boing: aparentemente, os americanos têm uma arma secreta pronta para ser usada contra os iraquianos. Ela emite um sinal em micro-ondas que literalmente frita qualquer aparelho ou objeto eletrônico no seu caminho.

Voando sobre uma cidade, pode detonar tudo, de sistemas de comunicação por rádio a celulares, passando por marcapassos e câmeras digitais. Bípedes e quadrúpedes que não dependam de nenhuma ajuda eletro-eletrônica para sobreviver, escapam (não totalmente ilesos, porém, conforme esta matéria do Guardian).

Sites diz que o efeito seria semelhante a desligar uma tomada gigantesca. Os jornalistas que estão lá equipadíssimos para fazerem suas transmissões em tempo real com antenas, notebooks e aparelhos de toda a sorte estão ligeiramente apreensivos. Se o boato for verdade, terão que voltar aos rolos de filme e ao papel e lápis.






World of ends

Doc Searls e David Weinberger, do Cluetrain Manifesto, explicam a internet de forma tão simples que até um executivo da indústria fonográfica é capaz de entender. Desde que seja anglo-parlante (por enquanto; mas este é o tipo de texto que logo encontra almas caridosas dispostas a traduzi-lo).

Update:Como o Pedro Doria informa nos comentários, já encontrou: o Rainer mandou uma mensagem ontem avisando que já está lá no site dele. Curiosamente, ela entalou num servidor solto aí pelo espaço e só bateu na minha mailbox de manhã.






Poesia numa hora dessas?

Indeed. Estava eu procurando informações sobre a guerra de uma forma meio aleatória quando esbarrei num verdadeiro tesouro: um website sobre os Poetas da Primeira Guerra, com boas notas bibliográficas, ótimo material iconográfico e links. Está em inglês, mas vale a visita, nem que seja pelas figurinhas e pela nostalgia de visitar um tempo ainda mais louco do que o nosso.





7.3.03




Matusca ensina como fazer um gif animado, passo a passo -- quer dizer, osso a osso...






A última do papagaio

Essa piada é possivelmente a mais velha de todas as piadas de papagaio, mas só me contaram agora, e eu achei muito engraçadinha...

Um dia um homem passou por uma loja de animais, e um papagaio que estava na porta chamou a sua atenção. O bicho dava bom-dia para todo mundo na maior cortesia, cantava o Hino do Vasco e já tinha decorado metade do samba-enrêdo da Mangueira. O homem não pensou duas vezes e comprou o papagaio, no ato. Mal chegou em casa, porém, o louro, antes tão simpático, desandou a resmungar, dizendo palavrão e mandando as visitas cometerem atos reprovados pela Igreja.

Muito desapontado, o homem tentou de tudo para reconquistar a sua simpatia. Comprou frutas importadas fora de estação, instalou um som legal e um ventilador ao lado do poleiro... e nada. Quanto mais o tempo passava, mais o humor do papagaio azedava. O homem tentou recorrer à força bruta: gritou, xingou, ameaçou torcer o pescoço do papagaio. E o papagaio cada vez pior..

O homem já não sabia mais o que fazer, até que, um dia, depois de uma briga particularmente desagradável, pegou o papagaio e fechou-o no freezer, para ver se esfriava as suas idéias. Nunca o papagaio gritou tanto e disse tantos palavrões.

Até que, subitamente, calou-se, no meio de um impropério.

O homem abriu o freezer alarmado, achando que tinha matado o bichinho. Que saiu de lá todo meigo e obsequioso:

-- Sei que meu linguajar tem sido mais do que inapropriado a este ambiente familiar e que a minha atitude não condiz com a atenção que o senhor tem me dado. Gostaria de apresentar minhas sinceras desculpas e prometer que, daqui em diante, me portarei adequadamente.

O homem ficou estarrecido. Estava prestes a perguntar ao louro o que o fizera mudar de tal maneira, quando o papagaio, cheio de ternura, quis saber:

-- Só por curiosidade: o que foi que o frango fez?






Frila

Acho que há trabalho para os Carneiros Pretos lá nos comentários dos Melhores Blogs do no minimo...






Pela Paz

Leonardo Boff mandou esta carta para o Papa, endossando uma idéia de Marcos Arruda. Os dois partem do pressuposto de que o Papa é a única pessoa que pode parar a guerra. Como? Simples: dirigindo-se a Bagdá, e lá permanecendo, como "vitíma inocente e pura" (palavras de Boff). Não é que é uma ótima idéia?! Acho muito difícil que o Cartel de Washington tivesse coragem de bombardear a cidade sabendo que poderia acertar o líder espiritual de todos os católicos do mundo...

"Santità,
Padre nella fede de tutti i credenti,

Voglio fare anche mia la carta del carissimo amico Marcos Arruda, un cristiano de grande trasparencia e impegno per la pace.

In questo momento sono convinto che solamente Lei potrà bloccare la guerra dislocandose como vitima innocente e pura a Baghdad. Questo lo farebbe securamente Maathma Gandhi si vivo fosse.

Santità, faccia questo gesto profetico e messianico per amore a l'umanità, a la pace e a gli vitime de Iraq e comme servizio che la fede può prestare a Dio e a tutti quelli che cercano la pace.

Con le mie preguiere dinanzi a Quello che è l'unico Signore della storia.

Leonardo Boff
teologo brasiliano
Caixa Postal 92144
25741-970 Petropolis, RJ, Brasile"


"His Holiness John Paul II
"Father, why has thou forsaken me?"

Your Holiness:

I write to you today out of a sense of great urgency. As you know the United States of America is on the verge of launching what may be one of the most cataclysmic wars in history using weapons of mass destruction upon the Iraqi people, fifty percent of whom are less than 15 years of age.

Conservative estimates are that such a war will result in the death of 500,000 Iraqis. It seems clear that, at this time, you are the only person on Earth who can stop this war. Indeed, your physical presence in Baghdad, will prevent the impending slaughter of hundreds of thousands of human beings, and force the international community of nations to identify and implement a truly peaceful resolution to this unprecedented, preemptive aggression.

I implore you to travel to Baghdad and to remain there until a peaceful solution to this crisis has been implemented. The lives of the people of Iraq rest in your hands -- as does the fate of the world.

With hope,

Marcos Arruda
Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul - PACS
Rio de Janeiro - Brazil
Economist and educator
Member of the Movement Faith and Politics
"
Taí: se aceitasse a sugestão, o Papa adquiriria uma dimensão histórica e moral inigualável.








Hoje o Globo On deu esta foto do Palocci debaixo da manchete Acordo com o FMI não deve mudar.





6.3.03


Land of the free

Demorou: em Albany já levaram em cana um advogado só por estar usando uma camiseta a favor da paz dentro de um shopping center. Li na Luciana, vizinha do Paulinho.






Fala sério...

Parece que está para sair do forno um acordo entre a Apple e as principais gravadoras americanas para distribuição (paga, claro!) de música. Em tese, os usuários poderão baixar músicas dos sites das gravadoras num formato proprietário para os seus iPods, mas não poderão copiar essas músicas de máquina para máquina, como acontece hoje com o MP3. Se for assim mesmo, não vai dar certo. Será que esse povo não percebe que a beleza da coisa está nos formatos abertos?!






5.3.03


Deus e as gangues:
viva o povo brasileiro!


Certos filmes não são comparáveis,
mas a gente compara mesmo assim



No domingo de carnaval fui assistir novamente a “Deus é brasileiro”. Desta vez, já escolada pela primeira experiência, fiquei repetindo com os meus botões imaginários: “Não vou chorar, não vou chorar, não vou chorar” Adiantou? Que nada! No final, lá estava eu pagando mico no cinema, de novo comovida com aquela associação de palavras, música e imagens -- e de novo pensando em que ponto da minha cabeça ou do meu coração bateu o filme, de onde vem ou onde está essa química que fez com que eu e tantos espectadores tenhamos deixado o cinema em estado de graça, enquanto outros, no mesmo dia e horário, nas mesmas condições climáticas e geográficas, tenham saído reclamando disso ou daquilo, obviamente intocados pelo que haviam visto. Fiquei com vontade de pegar os insatisfeitos todos, um por um, e levar para tomar um café comigo no Clipper ali do lado, só para ver se descobria como é possível uma tal diferença de sintonia entre as gentes. Assim, tipo... um estudo antropológico, sabem como é? Então.

* * *

Acontece que, na semana passada, vi “Gangues de Nova York”, que metade da humanidade acha um filme extraordinário -- e detestei! Achei quase tudo ridículo, a começar pelo começo, ou seja, duas turmas de gangsteres bem-comportadinhos esperando o fim do falatório infantil dos seus chefes para -- só então, e obedecendo à Nobre Arte de Eliminar a Concorrência! -- caírem de pau uns sobre os outros. Para mim, nenhum personagem conseguiu, em momento algum, ser mais do que uma caricatura tosca; odiei o roteiro, que me pareceu um amontoado de lugares comuns salpicado com umas tiradinhas anti-Bush muito primárias; e me decepcionei demais com o trabalho dos atores, sobretudo Daniel Day-Lewis, de quem esperava bem mais do que uma imitação de Robert De Niro.

Tudo isso, paradoxalmente, com uma cenografia interessante, uma trilha sonora espetacular e uma direção maravilhosa. Se Scorsese ganhar o Oscar de melhor diretor não se estará cometendo nenhuma injustiça, pelo contrário. É impressionante que alguém consiga pôr aquilo tudo de pé e movimentar, de forma tão fluente, tantas engrenagens. Mas quando o filme acaba e rolam os créditos, a sensação de vazio é acachapante. O que quer dizer toda aquela confusão? O que é que fica com a gente, além da sensação de que as últimas três horas poderiam ter sido mais bem aproveitadas? Ali há apenas uma história contada por um ótimo diretor, cheia de som e fúria, significando nada. Ou, em outras palavras do mesmo autor, muito barulho por nada.

Na verdade, “Gangues” é um exemplo mal sucedido de um gênero que cada vez me irrita mais, mesmo quando dá certo: a super-produção hollywoodiana cheia de atores, extras, efeitos especiais, lutas, o diabo a quatro. Não agüento mais nem aquele vidro cenográfico que sempre se estilhaça de forma tão espetacular e ruidosa: parece condição sine qua non do cinema americano a exigência de que, em cada filme, haja pelo menos uma janela ou vidraça quebrada violentamente.

* * *

No dia seguinte eu estava de novo no cinema, vendo “Deus é brasileiro” pela primeira vez. Obviamente, é impossível comparar esses dois filmes, que são animais tão distintos quanto um cão e um gato. Ao contrário de “Gangues”, o filme de Cacá Diegues é simples e “pequeno”, um road movie sem uma fração da complexa cinematografia que envolve o Scorsese. Mas o roteiro é uma delícia, com ótimos personagens e excelentes atores. Quando a gente sai do cinema, o filme vem junto, no coração -- trazendo, de quebra, uma das cenas finais mais bonitas de todos os tempos.

O mundo é mesmo vasto, variado e misterioso. Como é que alguém pode não gostar disso? Como é que alguém pode não gostar de gatos?

* * *
.
Volta ao palco, esta semana, “Novas diretrizes em tempos de paz”, peça de Bosco Brasil que lotou uma temporada no Laura Alvim, no ano passado e revelou, ao Rio, a existência deste extraordinário autor, até então “escondido” em São Paulo. Para mim, além de ser o melhor espetáculo que vi em 2002, “Novas diretrizes” teve um apelo sentimental especialíssimo: é que para criar Clausewitz, o imigrante cujo destino está nas mãos de um ex-torturador, Bosco inspirou-se em Ziembinski e no meu pai, Paulo Rónai.

Como Ziembinski, Clausewitz é ator e vem da Polônia; como papai, aprendeu português antes de chegar aqui. Quando explica ao inspetor Segismundo (Tony Ramos, perfeito) porque fala português e o que pensa da língua, Clausewitz usa as palavras que papai escreveu em “Como aprendi o português e outras aventuras”, que tantas vezes ouvi ao longo da vida.

Dan Stulbach faz este personagem tão bem que chegou a me surpreender com as semelhanças entre ele e papai – semelhanças que, a rigor, nem existem, exceto pelas mãos expressivas, por um certo jeito de bondade e delicadeza e por algumas inflexões no sotaque observadas pela Bia, minha filha -- mas que eu não saberia reconhecer. Na vida real, nunca reparei neste sotaque, que o teatro, afinal, me trouxe de volta. A arte tem dessas coisas.

* * *

Todo poder a Yvonne Kassu!

(O Globo, Segundo Caderno, 6.3.03)





4.3.03




Tá com o som ligado? Então clique na imagem: é muito legal!
(Valeu, Maurício!)







3.3.03




Fernando e Marina Caruso, com Bia.
A foto, se não me engano feita pela Eliana, é do século passado.






Doze anos amanhã

Quando publicamos a série 4 x 4, em dezembro passado, com ensaios de quatro veteranos do Info etc. (B. Piropo, Cat, Cristina De Luca e Ricardo Rangel) descrevendo suas trajetórias tecnológicas, alguns leitores escreveram reclamando a minha presença. Mas, como respondi na ocasião, minha coluna tem sido, ao longo dos anos, uma espécie de diário digital: aqui escrevo sobre o que me acontece com programas e computadores, e descrevo a minha experiência com os mais diversos tipos de equipamento — do banho involuntário de Veja Multiuso que dei num teclado ainda no pré-Cambriano à minha satisfação com o Sony Clié (atualmente em banho-maria, já que não estou conseguindo fazer com que o bichinho conecte-se com o Windows XP de jeito nenhum). De modo que me pareceu redundante falar sobre tudo isso novamente.

Amanhã, porém, o Info etc. faz 12 anos, e achei que valia gastar um pouco desta segunda de carnaval relembrando o passado.

Houve um tempo, por incrível que isso possa nos parecer hoje, em que não usávamos internet. É difícil descrever o que era fazer um caderno de informática sem internet, ainda por cima num país que vivia em plena reserva de mercado. Escrevíamos sobre miragens, sonhos de consumo que chegavam aqui (quando chegavam) debaixo dos panos, nas malas de contrabandistas bem situados com a Receita Federal.

Por causa dessa reserva, os jornalistas brasileiros eram solenemente ignorados pela vasta maioria dos desenvolvedores de hardware e software: de que adiantava mandar material para um país onde ninguém podia comprar nada? Nossos pedidos de entrevista eram ignorados, ninguém mandava as fotos que solicitávamos (pelo correio!), ninguém nos dizia nada a respeito do que estava no forno.

A salvação da lavoura eram as feiras de informática, sobretudo a Comdex Fall, em Las Vegas, que reunia todo mundo da área. Lá, cada produto lançado, cada tendência anunciada e cada mudança de diretoria de empresa correspondiam a uma pastinha ou um folder com informações que não obteríamos em outro lugar — e, freqüentemente, fotos.

Meu Deus, como gostávamos de material com fotos! Uma boa temporada nos rendia o suficiente para ilustrar uma quantidade imensa de edições.

Havia tantos press releases e press kits em Las Vegas que a sala de imprensa da Comdex era dividida em duas partes: uma exclusivamente para as pilhas de pastas e folders, e a outra com mesas, cadeiras, computadores e café para que trabalhássemos. Além de poltronas e sofás, já que parte do trabalho era juntar todos os kits — e mais o que não chegava à sala de imprensa e nos era entregue na exposição — e separar o joio do trigo.

Esta rotina não era exclusividade nossa; os jornalistas de outros veículos, inclusive de alguns jornais americanos menores, gastavam boa parte do tempo abrindo pastas, olhando títulos e aberturas de releases, conferindo a existência ou não de fotos, e jogando fora o que não prestava. A qualquer hora que se entrasse na sala de imprensa, lá estavam dezenas de jornalistas, cercados, cada qual, das suas pastas e caixotes — um para o lixo, outro para o material que interessava. O desperdício de papel sempre me impressionou muito. (Os repórteres da grande imprensa americana não passavam por isso: a verba dos seus veículos permitia que juntassem rigorosamente tudo e despachassem para casa. Gastavam centenas de dólares com isso.)

Faltavam caixotes para todos. Uma vez, a IBM conquistou muitos corações e mentes com um gesto da maior simplicidade: a oferta de grandes caixas de papelão com alças de plástico, fáceis de fechar e de levar ao correio. De outra feita, a HP fez a alegria dos jornalistas americanos e canadenses despachando gratuitamente o material de todos a partir da própria sala de imprensa. Quer dizer: ninguém precisava mais carregar as suas toneladas de papel até o posto dos correios! Os jornalistas do resto do mundo quase morreram de inveja, e maldiziam os colegas afortunados enquanto arrastavam caixas pelos corredores.

Já aqui, separávamos as pastas mais uma vez. Trazíamos uma fração do que nos caía em mãos durante a feira; mas na redação éramos confrontados com o tamanho imutável do armário. Começava aí a angústia de decidir que parte do material antigo ficava ou não. E começavam aí meses de estresse para a Luiza, que tinha a ingrata tarefa de manter aquela papelada dentro dos limites do administrável.

Pensando bem, durante aqueles anos pré-internet, a Luiza foi uma espécie de Google do Info etc., catalogando e buscando informações na nossa “base de dados”. Complicada ainda pelo fato de que cartas, artigos e releases de produtos brasileiros chegavam em papel. Algumas cartas vinham escritas à mão: em geral, reclamações de usuários com problemas com impressoras, ou que nos pediam orientação em relação à compra de impressoras, então ainda um equipamento caro.

E aí chegou a internet.

Acho que hoje nem a Luiza se lembra mais de quando foi a última vez em que recebemos uma carta manuscrita...

(O Globo, Info etc., 03.03.03)






03.03.03!!!

Foi a Flavinha quem lembrou.






Momento musical

Vale a espera... mas aviso: é em inglês, com legendas em francês. Aqui.





2.3.03




Agora imaginem só a decepção do dono do bichinho quando acendeu o cigarro de... catnip!!!






Nada AV

Há algo estranho acontecendo com o blog do Mario AV! Quando a gente aponta browser pra lá, aparece o blog de um certo John Ellis. Eu hein...

Update: Ufa! Tá de volta.






Red Herring: ponto final
































Por que me ufano do meu país

Recebi este email, que resolvi subir como página. Acho que o simples fato de as pessoas o estarem passando adiante já é motivo de orgulho; além do que, o MIDI do Hino está muito legal.

Portanto, crianças, inflem o peito e... cliquem aqui!






Como é que é isso...?

Eu já exaltei aqui várias vezes o denodo com que o João Ubaldo enfrenta as vagas procelosas da internet, de lá voltando sempre com algo interessante; a tal ponto que, volta e meia, ele acaba sendo meio que co-autor do blog. Pois hoje ele mandou isso para os amigos:
Entrem no endereço abaixo e sigam as instruções. Eu sou cético e, claro, ainda tenho certeza de que é um truque, só que eu não sei qual é. Já matei diversos desses "milagres" na Internet, mas não saquei este ainda, embora ele seja bastante semelhante a um que desmascarei uma vez, mas não consigo lembrar quase nada. Se vocês sacarem, me digam. O endereço é este:

http://mr-31238.mr.valuehost.co.uk/assets/Flash/psychic.swf

Se não abrir direto para o navegador, marque (selecione) o endereço, copie-o e cole-o na linha de endereço do navegador. E só para alguém não dizer que não acertou somente porque não sabe inglês (acho que todos vocês sabem inglês suficiente para entender de sobra as instruções), o negócio é pensar em um número de mais de um algarismo, somar os ditos dois algarismos, subtrair este último resultado do primeiro número e associar o resultado a seu símbolo respectivo, que está na tabela à direita. Por exemplo, pense em 38. 3 mais 8 dá 11. 38 menos 11 dá 27. O símbolo, neste caso, é o que está junto ao número 27. Facílimo. Vejam aí.
Beijos gerais de

João Ubaldo
Update: Santa Tabuada, Batman! Mal publiquei isso aqui, já o Fábio e o Raphael tinham a resposta. Êta nóis!






Blog!






1.3.03


Say, what?

Este gato extremamente contrariado (por justa causa, aliás!) foi vítima de uma confusão de pronúncia; a dona pediu um line cut, ou seja, aquela aparada básica que a gente manda dar na barriguinha deles quando o pelo fica muito embaraçado, e o pessoal da tosa entendeu lion cut...

Quem me mandou o link para esta dramática história foi o Rainer, lá de BH.