Nosso programa básico em Nova York tem sido, até aqui, bater perna, fuçar, descobrir que ônibus leva a que lugar, ver lojas e fazer compras -- não necessariamente nessa ordem.
Amanhã começamos a programação cultural, muito embora fazer cultura, aqui, não seja coisa para amadores: entradas para o que quer que seja, de cinema a museu, passando por teatro e concertos, estão espaventosamente caras.
A temporada de clássicos começa semana que vem. Dentro dos mais rigorosos ditames da Lei de Murphy, tudo o que eu gostaria de assistir acontece depois da minha volta pro Brasil.
Mas o melhor de Nova York continua sendo Nova York.
Andar sem destino e sem pressa (ao contrário de quem mora aqui), parar quando dá vontade, assumir a turistice de vez e se acabar fazendo fotos do Times Square.
Gosto daqui, mas a cidade está ainda mais neurótica do que quando vim da última vez, em julho de 2001 -- e não só por causa do 11 de setembro, ou mais precisamente, não só pelo atentado em si, mas antes pela cultura do terror cultivada desde então. A crise econômica, que (ainda) não dá para perceber a olho nu, faz sua parte também.
Há uma xenofobia latente no ar, o que é paradoxal e patético numa cidade feita de estrangeiros. Ela ainda não me atingiu diretamente, talvez porque eu tenha um ar centro-europeu que se disfarça bem entre os nova-iorquinos; mas incomoda sempre, o tempo todo, por motivos óbvios.
Por outro lado, invejo os nativos, que, apesar do tamanho da sua cidade, podem usufruí-la como nós, há tempos, já não podemos usufruir a nossa. Há parques menores ou maiores por toda a parte e, em todos, há gente tranqüilamente sentada lendo o jornal, usando computador, namorando, comendo o almoço do clássico saco de papel pardo, tocando ou ouvindo música.
Pode-se andar pelas ruas -- na maioria delas, pelo menos -- sem a sensação iminente do assalto. Pode-se usar transporte público, eficiente, barato, limpo, seguro. Podem-se até usar câmeras e celulares, e jóias para quem gosta, sem maior angústia.
É claro que aqui também acontecem roubos, assaltos, assassinatos. Eu mesma já fui roubada em Nova York, tempos atrás. Mas a tônica da cidade não é a violência descontrolada. As notícias de polícia ocupam um espaço relativamente modesto no jornal, como ocupavam no Rio da minha juventude.
Pego o New York Times e penso como deve ser interessante fazer um jornal que pode se dar ao luxo de ter uma primeira página tão variada. No jornais cariocas estamos, há tempos, sendo pautados por uma guerra civil que não podemos ignorar, e da qual não podemos fugir.
Este é o maior contraste que se vê hoje entre o Rio e qualquer cidade civilizada.
É de morrer de tristeza.
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