3.3.08

Dos comentários

Fala Maria Helena Nascimento; eu assino embaixo.
" Antes de mais nada, desculpe por postar meu desabafo aqui, mas não descobri como escrever para você de outro modo e preciso passar isto adiante pra nao adoecer.

Escrevo com ódio. Ódio mesmo, simples e claro. Minha filha de 11 anos acaba de se recuperar de uma dengue hemorrágica muito grave, que causou a ela um sofrimento enorme, durante mais de dez dias, vinte e quatro horas por dia, sem descanso, sem alívio, fora o risco que ela correu. Imagine o que é ver uma criança assim. (agora no Globo.com vi que um menino da idade dela morreu de dengue hemorrágica em S. J. de Meriti) Eu mesma já tive a doença duas vezes (a primeira há nove anos) e nada me autoriza a pensar que estamos livres de ter outras vezes. Evito me perguntar quantas vezes um organismo aguenta ter dengue.

Não devemos estar longe de descobrir.

Sei que ser brasileiro é aceitar o inaceitável, tolerar o intolerável, mas que raio de cidade é essa? Por que é que ninguém faz nada? Essa negligência é maldade, sadismo, ou uma incompetência além de todos os limites? Como é que em 2008 podemos estar reféns de um mosquito que já tinha sido erradicado há décadas? A maioria das pessoas toma todas as providências a seu alcance para evitar a proliferação do aedes em suas casas, mas a cidade não é só feita de casas, e alguma coisa me diz que saúde pública não se resolve com ações individuais descoordenadas. Alguém deveria estar cuidando disso e não está. A única ação que se vê é o eterno e nauseante jogo de empurra das autoridades, enquanto pessoas vão morrendo por nada, por uma coisa que se resolve se hover vontade.

Do fundo da minha impotência, então, só me resta desejar, com toda força e com os piores sentimentos de que sou capaz, que os irresponsáveis que deixaram esta situação chegar onde chegou sintam na pele – e no estômago, na cabeça e nos ossos – todo sofrimento que estão proporcionando à população.

De preferência repetidas vezes.

E se alguém souber de alguma coisa que possa ser feita para pressionar essas pessoas a cumprir sua obrigação – processo, ação popular, sei lá, o que for – me avise, eu faço tudo que estiver ao meu alcance. Muito obrigada."

Maria Helena Nascimento

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