Na sexta passada fui à redação pela primeira vez desde que fui atropelada. Foi uma sensação esquisita, complexa, difícil de descrever.
Nunca me passou pela cabeça naquela outra sexta-feira, dia 20 de outubro, que eu ia passar tanto sem ir ao Globo. O que eu previa, na verdade, era ficar dez dias sem ir ao jornal -- aproveitaria um resto de férias para fazer uma palestra num evento da Goodyear, em Florianópolis; para participar, como expositora, de um evento sobre mobilidade em Buenos Aires; para ir ao Festival de Cinema da Amazônia, em Manaus, onde, além de me divertir, colheria algumas crônicas.
Eu esperava que sobrasse um tempo, também, para resolver uma quantidade de pendências de banco e de casa, essas coisas que a gente nunca tem tempo para fazer no dia-a-dia.
O abacaxi maior daquela minha outra encarnação é que as estantes novas já estavam encomendadas, e eu precisava supervisionar a retirada dos livros e das estantes velhas.
E aí aconteceu o que aconteceu.
Num filme, eu faria um corte aqui e pularia para a porta do Globo na sexta passada, onde, como sempre, desembarquei de um taxi. A diferença visível estava na muleta; as invisíveis, no joelho e na alma.
Os colegas foram todos uns amores, fizeram festa, foram super carinhosos.
Fiquei comovida, porque agora dei para esss coisas; e fiquei só um pouquinho na redação, porque não tem nada mais estressante para quem está trabalhando do que gente que chega em pleno fechamento e quer saber de tudo o que é novidade antiga.
Muita gente notou que emagreci, e muita gente achou que estou com a aparência bem mais descansada.
Bom. Alguma vantagem eu tinha que ter tirado do Wounded Knee Spa, né? essa experiência radical que me segurou na cama por três meses. Se nem mais descansada eu estivesse, era para cortar os pulsos...
No tempinho que passei por lá, a mesa me saudou com a bagunça habitual e a cadeira com a habitual ausência; um dos momentos rotineiros da minha vida na redação é procurar pela cadeira sumida.
Me senti totalmente em casa.
Está tudo exatamente como estava, ou quase: agora já dá para ver muito bem que a Elis não está sozinha, e que o Guilherme ocupa um um bom espaço.
Ainda não dá para voltar com todo o gás. Ainda tem um joelho no meio do caminho que dói, que fica inchado, que precisa de gelo várias vezes por dia. Rever a parte da minha vida que estava faltando, porém, me deu ânimo renovado para a fisioterapia, para ver se consigo, o quanto antes, voltar a ter uma vida normal, daquelas em que a gente sai de casa, vai aonde tem de ir e faz o que tem de fazer, sem pensar quando ou como vai, sem pensar se tem ou não tem escada, sem ter de planejar tudo com antecedência, nos mínimos detalhes.
Há novidades pela frente, há um ano de venturas e aventuras à minha espera, e o que eu sinto é que estou recomeçando -- agora, como nem podia deixar de ser -- com o pé direito.
Saúde!
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