Acabou ontem a série de sabatinas com presidenciáveis lá no Globo. O último convidado era o Lula que, covarde e previsivelmente, não apareceu: a democracia que ele pratica é a do monólogo e a de encontros com fiéis embasbacados.
Mas não vou falar dele; quem acompanha este blog conhece de sobra a minha opinião a seu respeito.
Também não posso falar a respeito de Heloísa Helena. Não fui ao encontro com ela, apenas mandei uma pergunta. Portanto, o que eu sei a seu respeito é o mesmo que vocês todos -- o que sai no jornal e o que se vê na televisão. Os colegas me disseram que ela é menos radical do que parece, e que o seu discurso faz mais sentido quando exposto em minúcias.
Sobram Cristovam Buarque e Geraldo Alckmin.
Sou meio suspeita para falar do Cristovam, que conheço pessoalmente há anos, e de quem gosto muito como pessoa.
Mas gosto também como candidato. Cristovam é um camarada sério, digno e decente, que está falando na única coisa que pode tirar este país do buraco: educação. Tem fairplay em relação à sua posição nas pesquisas, mas observa que quer marcar posição e que não vai mudar de assunto só porque as pessoas acham chato falar sobre educação.
Há pontos discutíveis na sua plataforma, obviamente. Quando ele diz que pretende estabelecer uma espécie de avaliação periódica de profissionais, qualquer professor universitário fica de cabelo em pé -- hoje a parte que se gasta da carga horária com burocracia já é monumental. A medida tende a prejudicar os bons profissionais, que vão ter que tirar tempo do trabalho para se preparar para uma bobagem.
Paradoxalmente, pretende acabar com o vestibular porque sabe, como qualquer pessoa que já pensou sobre o assunto, que os cursinhos viraram máquinas de fabricar aprovados, e que o resultado das provas é, no mínimo, muito questionável.
Mas tudo isso é detalhe -- e é base para uma discussão sobre um tema real, necessário e urgente. Urgentíssimo!
Entrevistar o Cristovam, mesmo para quem não o conhece, é como conversar com um amigo. Ali está um homem de verdade, e não um produto de marketing; um sujeito sereno, com senso de humor, totalmente apaixonado pela sua plataforma, que entende, corretamente, como um projeto de longo prazo. Dá vontade de ir para o boteco da esquina e continuar o papo noite adentro.
O fato de seu vice ser o formidável Jefferson Peres também é muito positivo.
Geraldo Alckmin eu não conhecia. A seu favor, ter trabalhado com Mario Covas, a quem eu admirava e, pelo que dizem amigos paulistas, um bom saldo de governo. Contra, ter tirado o Serra da jogada no que, até agora, me parece uma decisão suicida do ponto de vista partidário, e egoísta do ponto de vista do país.
A questão partidária não me comove, porque eles que são brancos que se entendam; mas acho que é preciso que quem não está satisfeito com o atual governo possa ter uma alternativa concreta, e esta alternativa, até prova em contrário, era o Serra -- que já saía com uma boa margem nas pesquisas, e a quem o eleitorado já conhecia.
O que achei dele? Bem preparado, com certeza; com bons argumentos e metas razoáveis de governo. Não fez nenhuma proposta mirabolante, tocou nos pontos certos -- segurança, educação, saúde -- com bastante realismo e pragmatismo. Mas não empolga ninguém, especialmente ninguém carioca. É formal demais, paulista demais. Falta a ele um pouco (na verdade, muito) da paixão que move Heloísa Helena e Cristovam Buarque.
A meu ver, isso não faz dele um mau candidato do ponto de vista administrativo, ou seja, acho que, se fosse eleito, faria, provavelmente, um bom governo. Fala em reduzir gastos, diminuir o número de ministérios e de cargos de confiança, coisas que nem de longe são aventadas por Lula.
O problema é que, no mundo inteiro, cada vez mais, políticos são eleitos não pelo que propõem ou pelo que efetivamente podem fazer, mas pelo que são, dizem ser ou representam. E, sob este aspecto, Alckmin deixa a desejar.
A equação é perversa: um cara que poderia ser bom presidente é mau candidato. É gentil e bem educado, mas não tem carisma; não é à toa que lhe deram o apelido de picolé de chuchu.
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