31.10.05 A Grande PajelançaPara mim, a Futurecom é uma espécie de Grande Pajelança das Telecomunições. Durante três ou quatro dias reúnem-se em Florianópolis todos os executivos de operadoras, fabricantes de equipamentos, altos funcionários do governo, jornalistas da área.Há palestras básicas, ao alcance da compreensão de qualquer interessado; há coisas cabeludas que só interessam, e só são compreensíveis, a engenheiros de telecom com uns três títulos de pós-graduação. Há muito ôba-ôba, algumas festas e, sobretudo, há uma ótima oportunidade para se encontrar as pessoas do setor, ver o que vai ser lançado ao longo dos próximos meses e conferir para que lado sopram os ventos. Há muitos fabricantes de produtos pesados, muitos negócios de infra-estrutura mas, para nós, usuários, o que interessa, em última instância, é o que vai chegar às nossas mãos, e por quanto. Há poucas coisas mais pessoais, hoje, do que um celular -- o aparelho que está sempre ao lado do dono, mesmo quando ele deixa todo o resto do seu arsenal tecnológico em casa. Isso explica a imensa variedade de modelos e desenhos em que os fabricantes estão apostando. A Motorola, consciente do poder de atração do Razr (o mais fino dos aparelhos e, para mim, o mais lindo de todos), apresentou um sem número de variantes em torno do seu design, de um modelo CDMA -- para acabar com a inveja dos usuários Vivo -- a um modelo pink, desconcertante para quem está habituado aos discretos pretos e pratas do mercado. Os usuários Vivo, por sinal, terão boas surpresas. Depois de um ano de vacas magras, em que pouquíssimos telefones realmente interessantes foram lançados no mundo CDMA, há uma fartura de aparelhos poderosos e bem desenhados chegando às lojas do bonequinho transparente. O 6265, da Nokia, um slide de linhas limpas e elegantes, tem não só uma câmera de 2Megapixels como, ainda por cima, tela com 262 mil cores, o que oferece uma definição assustadora. Ele é um objeto de desejo até para os mais mimados usuários de celulares GSM, que sempre têm uma escolha maior à sua disposição. Ninguém quer falar em preços. A concorrência anda claramente cabreira com a Claro, que tem vendido celulares a preços de fato baratíssimos; é ela quem vai dar o tom das vendas do Natal que se aproxima. E, pelas esquinas, descobrem-se segredinhos úteis e interessantes: o limite de cem músicas do Razr, imposto pela Apple para evitar a concorrência com seu próprio iPod, não é nada que um hacker com um mínimo de know-how não resolva. Ah, essa garotada incorrigível...!!! (O Globo, Info etc, 31.10.2005) PS pro blog: as fotos vocês já viram todas. Ilustrei a matérias com as próprias fotos de celular que mandava de lá. Me pareceu mais interessante cobrir uma feira de telefonia com telefones do que usando as câmeras "comuns", né? Emergência geral!Pessoas, o CCZ está LOTADO de cães e gatos abandonados; a única esperança para eles é a adoção. Há bichos de todas as cores, sexo, idade e temperamento.Todos estão vacinados e bem cuidados, mas o CCZ, como vocês sabem, é o fim da linha para os bichinhos abandonados, como esses das fotos. Os melhores dias para adoção são as segundas, terças e sextas, quando os drs. George e Veronica estão no local. O CCZ fica no Largo do Bodegão 150, em Santa Cruz, RJ; os telefones são 3395-2142 e 3395-1595. 30.10.05 A vista do quartoEin-taum (com sotaque paulistano): antes de me mudar para este prédio, eu já morava aqui na Lagoa há um tempão, dois prédios mais para lá, na direção do Corte. O antigo, na ponta de um desses grupos de edifícios de pilotis, tinha quatro apartamentos por andar. Eu morava na melhor coluna, a que fazia esquina. Tinha vista de frente pra Lagoa na sala, e vista lateral pra dita cuja nos dois quartos. Eu vivia de olho neste prédio onde moro hoje, por ser então um dos poucos viáveis para mim; os vizinhos todos são um por andar, impraticáveis. Hoje este seria impraticável também; mas na época ainda não existiam os quiosques, a Lagoa era um lugar perigoso, havia mortandade de peixes, etc. etc. etc. E este tem dois apartamentos por andar e não tem garagem, só uma espécie de pátio comum de estacionamento. Foi um longo namoro. Quando aparecia um apartamento legal eu não tinha grana, quando eu achava que tinha grana não aparecia apartamento nenhum... enfim, ao cabo de uns dez anos, fez-se uma conjunção astrológica favorável e pude vir pra cá. A vista da pedra e do mato foi uma revelação, e uma novidade tão grande que passei muitos meses praticamente sem olhar pela janela da sala. Eu punha uma cadeira no quarto virada para a janela e ficava namorando o morro, que os gatos também adoram. Os três quartos -- o escritório, o quarto da Bia e o meu -- têm essa vista. De uns tempos para cá, uns pombos se estabeleceram numa das fendas da pedra, e ficam arrulhando. Os gatos estão convencidos de que é uma provocação. Se não houvesse a tela nas janelas, eles com certeza iam lá mostrar para aqueles bichos com quantos paus se faz uma canoa. Antes iam se esborrachar lá embaixo, coitadinhos, Deus me livre -- mas não digo isso a eles não. Digo apenas que é claro, que é lógico que ensinariam duas ou três coisas àqueles pombos safados. Para começar o domingo de bom humorPondo a leitura da semana em dia, topei com essa história maravilhosa do Ribondi nos seus tempos de funcionário da Embaixada de Trinidad e Tobago em Brasília.Fiquei aqui rindo sozinha, feito uma idiota. E os gatos olhando de banda, cabreiros, sem entender a piada. 29.10.05 Quantos somos?Pessoas, temos um novo contador instalado aí no cantinho. Visualmente é igual ao anterior, mas foi feito pelo Rafael Cotta, que jura de pés juntos que jamais porá nele popups ou anúncios insidiosos; tudo o que ele quer é um modesto link pra o seu ótimo site de música Cifradas na Web.Valeu, Rafael! 28.10.05 Precisa-se desesperadamente: quem saiba dar comprimidos a gatos e possa hospedar uma gatinha linda por duas semanasEscreve o querido Truda:"Tenho que ir a Angra dos Reis semana que vem para trabalhar na Festa Internacional de Teatro de Angra. Ocorre que a Preta contraiu uma rinite que a deixou com o nariz maior que o do Pinóquio e precisa tomar 1/4 de comprimido de Cetoconazol duas vezes por dia durante dois meses. Identificado o vilão dos popups!!!Escreve Eduardo Stuart:"Se lembra da queixa da Marcela sobre o surgimento de popups durante o acesso ao internETC? Naquela ocasião cheguei a imaginar que a máquina dela estava infectada com algum tipo de spyware e não dei muita atenção ao caso, exceto recomendar a instalação do Spybot Search and Destroy. Mas relendo alguns comentários antigos, ví que outra pessoa também se queixou e fui investigar para ver se realmente algum serviço agregado estava exibindo popups, mesmo que esporadicamente.De modo que sai o número de usuários online, um feature engraçadinho mas safado, que estava infernizando a vida de tanta gente. Então: não digo que o Eduardo é o máximo?! :-) Deu na BBCDeu na BBC Brasil. Se for verdade, é uma bela notícia! Amanhã, quando eu estiver mais descansada, vou procurar uma fonte confiável na imprensa italiana.Roma vai multar quem não levar cão para passearPor enquanto proponho o seguinte: vamos fazer um bolão? Quanto tempo levará o senhor Victor Fasano para arrancar da falida prefeitura carioca a verba para uma agradável temporada em Roma, estudando in loco a nova legislação? O senhor Fasano, talvez alguns ainda se lembrem, é aquele ator de "América" que, nas horas de folga, exerce o cargo de Secretário Municipal de Promoção e Defesa dos Animais. Enquanto isso, no Irã...Não é só o Estado de Israel que está na mira dos repulsivos dirigentes iranianos. Qualquer cidadão que ouse expor sua opinião paga caro por isso; entre eles, naturalmente, estão os blogueiros.O Emerson resumiu a situação: -- No Irã dos aiatolás os blogueiros continuam sendo presos. Presos, são torturados. Um deles foi condenado por um daqueles "tribunais" islâmicos e, entre outros mimos -- pois continua preso -- levou 30 chibatadas. 27.10.05 o jardim da leilado post sobre assombrações; foi a leila quem contou:"eu estava no meu apartamento novo. o ap tinha vista para a floresta, era em laranjeiras. Os moradores antigos jogavam lixo pela janela e fizeram um semi círculo de nojo na floresta. eu limpei tudo, deu um trabalho insano. Keaton abre a porta para mimA foto deixa muito a desejar, mas foi feita com o telefone e seu minúsculo flash; não deu tempo de pegar a máquina quando a vi de prontidão diante da porta... A saga dos quero-querosConstituir família entre humanos? Impossível...Há três ou quatro anos, um casal de quero-queros estabeleceu-se na minha vizinhança. Nos primeiros tempos, assim que avistavam alguém, davam gritos alarmados e voavam para longe, espantados com os estranhos; mas, aos poucos, foram se acostumando com pessoas, sobretudo com os habitués da casa. Mantiveram sua natural desconfiança dos cães, porém, e nunca foram com a cara da capivara. Sempre que ela aparecia, entravam em alerta máximo. Com isso, aliás, me proporcionaram diversos encontros com a popstar da Lagoa, que entre meia-noite e uma da manhã costumava aparecer para beber água em frente de casa. Eu ouvia a alaúza lá de cima, descia, e dito e feito -- lá estava ela, imponente, com seu olhar altivo, como se perguntasse o que diabos havia de errado com aquele casal barulhento. * * *Como todo casal, aliás, os meus quero-queridos também sonham constituir família -- mas não têm dado sorte. Da primeira vez que notei um ninho seu, há dois anos, ele estava perigosamente próximo da Lagoa, e foi levado pelas águas nas primeiras chuvas.O segundo ninho que vi teve o mesmo destino. Quando observei um terceiro ninho, achei que estavam progredindo: afinal, abandonaram a margem e foram para um cantinho mais alto, no campo de beisebol. Puseram três ovos e tudo ia muito bem, até que chegou o Natal e, com ele, a festa da árvore da Lagoa. Quando os operários começaram a erguer os palanques, ainda pedi a um dos responsáveis que tomasse cuidado com o ninho; mas, no dia seguinte, lá estava a construção, plantada sobre os restos do lar dos quero-queros. Em agosto passado, novo ninho. O campo de beisebol está, como o resto da cidade, completamente detonado; e eu achei que, com os jogadores impossibilitados de treinar e o Natal ainda longe, eles tinham, enfim, uma boa chance de procriar. Puseram dois ovinhos. A essa altura, já eram vigiados por vários vizinhos. Um dia, quando desci para ver se tudo ia bem, encontrei um dos passarinhos machucado, se arrastando pelo campo com o que parecia ser uma asa partida ou uma perna quebrada. Fiquei horrorizada. Quem teria feito aquela maldade?! Um senhor que passava parou também e lá ficamos, tecendo considerações sobre a insensibilidade humana. Tirei várias fotos do meu quero-querido para enviá-las a um veterinário e pedir conselho. Ampliadas no computador, no entanto, as fotos não revelaram nada errado. Tudo estava no lugar. Intrigada com o mistério, peneirei a internet atrás de mais imagens de quero-queros -- para descobrir que era tudo fingimento! Os quero-queros desviam a atenção de possíveis predadores fazendo-se de feridos, e afastando-se cada vez mais do ninho, num desempenho digno de Oscar. Mas isso não salvou os ovinhos, que um dia apareceram quebrados no ninho, como se uma bola houvesse rolado por cima deles (foto pequena, acima). Foi uma tristeza enorme para todos nós que estávamos na torcida; mas eis que, em setembro, ainda no mesmo ninho, eles puseram mais dois ovos, lindos, todos pintados. Como os quero-querinhos levam cerca de 30 dias para se formarem, havia tempo de os filhotes nascerem antes da habitual confusão natalina. Enquanto eu estava na Europa, amigos me mandaram fotos e notícias do ninho: os pais finalmente estavam tomando tenência e, agora, reagiam com rasantes furiosos à aproximação de qualquer bicho ou pessoa. Assim que cheguei fui visitá-los. Encontrei-os em pleno choco. Gritaram comigo e me ameaçaram, abrindo as asas e mostrando o poderoso esporão que trazem escondido; depois me deram uns rasantes ferozes. Fiquei encantada: com essa atitude, talvez conseguissem chegar ao fim da missão. Os filhotes são nidífugos, isto é, nascem prontos e logo fogem do ninho, como pintos ou patos; assim, talvez estivessem até a salvo dos cachorros que passeiam por lá. Pelos meus cálculos, os passarinhos nasceriam esta semana; mas não tiveram esta chance. Foram assassinados no sábado à tarde. Quando fui conferir o ninho no domingo, encontrei-o vazio e cercado de pedras, como se alguém tivesse apedrejado os quero-queridos. De um dos ovos não havia sinal; o outro estava ali perto, quebrado, com um pedaço de pau ao lado. Dentro, o que restava de um miniquero-quero, com penas e tudo, prontinho para a vida. Só não estava pronto, o pobrezinho, para o ser humano. Não há notícias dos pais. (O Globo, Segundo Caderno, 27.10.2005) Emergência felina!Escreve a Aline:Há algumas semanas procurei dono para esta gatinha, de seis meses, que foi abandonada no lixo do Ceasa em São Gonçalo. Além de linda, ela é um doce, adora um colo e é muito carinhosa e tranqüila. Mas após duas adoções frustradas descobri que ela escolhe uma das pessoas da casa para dono e não deixa mais ninguém chegar perto. Passa a implicar com todos os outros integrantes da casa, sejam eles cães, gatos ou humanos.Aos solteiros da praça: pessoas, esta é uma autêntica sialata! Sialatas, como vocês sabem, estão entre os gatos mais bonzinhos (e ciumentos) do mundo; são carentes e ótima companhia -- no caso desta gatinha, pelo visto, excelente companhia, desde que a casa seja só dela e do seu bípede... Papo de hotelCá estou eu, de volta ao meu hotelzinho triste. Não é um mau hotel, mas jamais inspiraria um poema como "A um hotel em demolição", um dos meus Drummonds favoritos, que começa Vai, Hotel Avenida, vai convocar teus hóspedes no plano de uma outra vida.e mais não sei, porque cito de cor e não consegui achar o poema na rede; mas não, ninguém jamais escreverá um "Vai, Hotel Íbis, vai convocar teus hóspedes..." No way. Enfim, vocês ficaram naquele papo de hotel lá embaixo e acabei me lembrando de uma viagem que fiz à Inglaterra, há tanto tempo que equivale a outra encarnação, e de uma estalagem onde havia um quarto mal-assombrado. Quem conseguisse passar a noite lá dormia de graça. Ninguém do grupo se aventurou mas eu, naturalmente, que não acredito nessas coisas, topei a parada. Quarto mal-assombrado, ha... A estalagem era antiquíssima, uma das primeiras do país, e uma das mais bem conceituadas. Os quartos vinham sendo reformados com capricho desde a invasão normanda, ou coisa que o valha -- menos, naturalmente, o tal quarto que diziam mal-assombrado. Pelo menos, foi essa a impressão que tive quando o porteiro me levou até lá. -- Hmmm, tá, um trem-fantasma de época, -- pensei com meus botões, vendo os móveis pesados, a lâmpada de 25 velas, a pele de urso no chão. -- Nessa não caio. Estava cansadíssima e caí sim, mas na cama. Pelo sim pelo não deixei a luz acessa; pelo tanto que "iluminava", não fazia a mínima diferença. Li um pouco, virei pro lado e tentei dormir. Estava frio às pampas, mas o edredon era bom e eu estava bem agasalhada. Bom. Vocês acreditam que não consegui dormir?! Na verdade, sequer consegui ficar no quarto. Não havia barulho de correntes se arrastando nem golpes de ar encanado, gargalhadas sinistras ou luzes bruxoleantes -- nada, enfim, daquelas coisas que a gente associa a fantasmas. Mas o diabo daquele quarto tinha, sem sombra de dúvida, a pior vibração que já experimentei na vida. Brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr! No começo, fiquei com raiva de mim mesma, achando que estava me deixando influenciar pelo folclore da casa. Espantei os pensamentos malsãos da cabeça, li mais um pouco -- mas a angústia indefinida e secular que ocupava o espaço era muito mais forte do que o meu ceticismo. Não cheguei a sair correndo porque, ora, tenho o meu orgulho, mas, lá pelas tantas, catei meus teréns e, de orelhas murchas e rabo entre as pernas, fui para a recepção pedir outro quarto. O porteiro, que já contava com a minha desistência, tinha um prontinho me esperando. Não muito mais bem iluminado do que outro, não muito diferente em termos de decoração, mas... juro, normal. Dormi feito uma pedra envergonhada e, no dia seguinte, fui alvo da gozação dos meus colegas. Até hoje não sei o que havia de errado com o quarto, que revirei todo e que parecia perfeitamente comum. Pena que não me lembro mais do nome da estalagem. Eu achava que era The Feathers, em Ludlow, um dos hotéis mais antigos em que me hospedei, mas no seu website não há referências ao quarto mal-assombrado -- e não acredito que abrissem mão deste privilégio. Afinal, na Inglaterra, um quarto mal-assombrado vale mais do que uma boa recomendação do Michelin. Tudo bem, um dia eu lembro. Durmam bem! 26.10.05 A balada do hotel tristeEstou hospedada num Ibis. Esta rede de hotéis, que faz o gênero "pobre mas limpinho", é essencialmente funcional: a diária custa R$ 95 e há uma geladeira no quarto que, inteligentemente, abastecemos com itens que compramos no bar -- o indefectível Suflair, as castanhas de caju, sucos, refrigerantes.O restaurante é um buffet sem sofisticação, mas de comida fresca e farta. As paredes do quarto são amarelo claro e salmão, as cortinas verde claro. Há uma escrivaninha com várias tomadas bem colocadas, uma cadeira, um espelho, uma gravura que lembra uma aquarela européia mas não quer dizer nada, um armário minúsculo, uma TV de 20". O banheiro é pequeno, branco, limpo, com uma excelente ducha. O sabonete é minúsculo, o shampoo idem; há uma tentativa de torná-los mais atraentes com flores estampadas na embalagem. No hall do térreo, que é espaçoso e tem móveis claros mas pouco aconchegantes, há sempre grupinhos de hóspedes, geralmente homens, jogando conversa fora em torno de uns salgadinhos e umas cervejas. O Ibis está longe de ser um hotel ruim; mas é dos mais deprimentes que conheço. Nunca fiquei num deles sem me lembrar de Willy Loman, o inesquecível caixeiro viajante de Arthur Miller. Hotéis muito ruins às vezes me despertam a imaginação, e penso em tipos esquisitos, pessoas no fio da navalha; com sorte, alguns têm mais personalidade do que pulgas, e é até possível sonhar cenas diretamente saídas de Graham Greene em seus quartos e corredores. Mas essa coisa medianamente média do Íbis me sufoca. Enquanto escrevo vejo este mesmo quarto repetido ao infinito, sem nenhuma variação, cada qual com seu hóspede solitário que está aqui não por uma grande aventura ou por algo misterioso, mas para ir ali na Futurecom, ou onde seja, apresentar ou comprar um produto, e depois voltar para casa. Ao mesmo tempo, tenho pena do Íbis, que no fundo é muito correto na relação custo x benefício, e faz um grande esforço para ser simpático, seja através da cordialidade dos funcionários, seja através de uns cartazinhos feitos para comunicar aos hóspedes que podem se sentir aqui como se estivessem em casa. Não adianta. A grande aventura do mundo não passa por aqui; nem sinal "dos propósitos que nos acariciam nos grandes terraços dos hotéis cosmopolistas e que doem por sabermos que nunca os realizaremos". O único propósito que nos acaricia no Íbis é terminar logo o que temos a fazer na cidade e voltar para casa. 25.10.05 Péna estradaGraças ao 6681, estou teclando no avião: ele pode ser ligado sem que o telefone entre no ar. Perdi o vôo da Tam, e tive que correr feito uma doida para pegar outro avião: os vôos para Florianopolis estão LOTADOS... Antes da chuvaO quero-querinho morto não foi a única coisa triste que fotografei no domingo. Uma semana depois de ter sido estuprada pela governadora e por seus comparsas, a Lagoa continuava cheia de isopor.D. Luzia no Dedo de DeusO André Neves conseguiu descobrir uma foto da histórica escalada da D. Luzia Caracciolo ao Dedo de Deus, em 1933, e escreveu um ótimo artigo. Ela foi a primeira mulher a chegar lá.Mistério IIEmerson, Van, vets e povo que entende de bicho grande em geral: por que se mata o gado que está com febre aftosa? Li na internet que, embora a doença seja muito contagiosa, não é necessariamente mortal; também não consegui descobrir se é ou não perigosa para humanos, mas aparentemente não é.Não se poderia deixar os animais contaminados isolados até a doença passar, ou tratá-los com alguma coisa? Acho tão triste ver essa quantidade de bois e vacas sendo mortos! E me parece uma injustiça horrível, mais ou menos como se a gente pegasse, sei lá, uma gripe forte ou um herpes, e fosse imediatamente executado... MistérioTudo bem, a gente gosta de saber que os repórteres da televisão estão no centro da ação -- nunca entendi reportagens sobre terremotos no Afeganistão ou guerras no Oriente Médio cobertas a partir de Londres ou Nova York -- mas por que cargas d'água, literalmente, um repórter cobrindo um furacão em Miami tem que estar do lado de fora, debaixo de chuva e com tanto vento que a gente nem entende direito o que ele está dizendo?Agora mesmo o corrrespondente da Globo que está lá mostrou um colega de uma TV americana sendo arrastado pelo vento. Eu, hein. 24.10.05 Efeito dominóPequena explicação técnica para Amélie, leila (falsa), Betty, Clara e uns quantos nomes: quando alguém se conecta à rede, sua máquina se identifica através de um número, o IP (de Internet Protocol Address).Este é um número único, como, digamos, o número do seu telefone. O IP pode ser fixo ou variável, mas não vou entrar em detalhes a respeito disso para não sobrecarregar Tico e Teco. Então, repetindo: você se conecta, e a sua máquina passa a responder por, digamos, 200.200.200.200. Quando você escreve um comentário, o número fica marcado, como ficam marcados os números de telefone nas operadoras quando se fazem chamadas. Está me seguindo? Pois vamos em frente. Quando alguém tem um blog, como eu tenho este aqui, uma das funções de manutenção é prestar atenção à área de comentários. Se uma pessoa passa das medidas, bloqueio o tal IP. Trocando em miúdos, dou ordens ao sistema para que não aceite mais mensagens vindas daquele número. Veja bem: do número, não da pessoa. Com isso, TODAS as mensagens escritas a partir daquela máquina somem do ar. Não bloqueio só mal educados. Às vezes fico desconfiada quando há uma quantidade estranha de tolices muito parecidas assinadas por nomes diferentes. Nesses casos, bloqueio o IP por pura curiosidade. E, sabe de uma coisa? Não paga dez: agora, por exemplo, bloqueei a falsa leila -- que cometeu a bobagem de usar justamente o nome de uma amiga querida demais -- e, ora veja só, imediatamente sumiram do ar os comentários da Betty, da Clara e de quantos nomes a mesma pessoa usou. Entendeu como funciona? Bacana, né? Eu só não acredito que, a essa altura do campeonato, eu ainda tenha que explicar coisas tão simples a pessoas que já andam, falam e até postam em blogs... * enorme suspiro de cansaço * A vida continuaNo mesmo dia em que foi descoberto o quero-queridinho morto, a Monica flagrou, ali ao lado, um espetáculo formidável: dois frangos d'água em pé de guerra, disputando as atenções de uma fêmea.A série está ótima! Alô alô, Lisboa!Teresa, a Jussara não se conformou em não estar na foto de aniversário que fizemos para você e decidiu participar da festa, ainda que virtualmente...De modo que aí está a foto, agora "completa"... ;-) 23.10.05 Mais uma vez, os quero-queridos ficam órfãosAs pedrinhas em volta do passarinho morto foram postas pela nossa Monica, em sinal de luto e carinho. Comparei fotos que fiz há dois dias com as de hoje. Há muitas pedras grandes em torno do ninho, como se tivessem sido jogadas. Pedras não andam sozinhas. O coitadinho nasceria em um ou dois dias. Os pobres dos quero-queridos não conseguem emplacar uma ninhada... Quero meu jeton!Pois é. Em vez de sair para fotografar os quero-queridos, vou sair para fazer o trabalho que os congressistas deveriam ter feito, mas deixaram para nós, ao custo aproximado de R$ 300 milhões.Ódio, ódio. Raiva, raiva. GRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR!!!! O dinheiro gasto neste referendo teria sido muito mais bem empregado se o governo, que se diz tão preocupado com as mortes acidentais causadas por armas de fogo, deixasse a hipocrisia de lado e fizesse uma campanha educativa a respeito do seu uso. Isso evitaria muito mais mortes do que proibir o seu comércio legal. Se há campanhas que ensinam a fazer soro caseiro, usar camisinha e cinto de segurança e evitar a proliferação de mosquitos, e se de fato há armas em números preocupantes nas mãos dos cidadãos, pergunto: por que não ensiná-los a lidar corretamente com elas?! Há muitas formas de se fazer isso sem estimular o uso de armas, apenas EDUCANDO; mas o diabo é que falar nisso é reconhecer a falência do Estado na área da segurança. De modo que, podem apostar, vamos continuar a ouvir pérolas do marketing superfaturado, como a que proclama que "O melhor do Brasil é o brasileiro". Dããããããã. * * *Só para dar uma idéia da necessidade de uma campanha dessas. Li este trecho de notícia no Globo:"O acidente que quase matou Maria Vitória aconteceu há 17 anos. Durante um churrasco, a tia dela, que era major do Exército, chamou Anselmo para ver uma pistola nova. Achando que estava sem balas, Anselmo atirou em direção à mulher.Não sei onde o cidadão em questão fez o curso de tiro, mas NÃO, ele definitivamente não errou por ter confiado na palavra da tia; errou por desconhecer a primeiríssima regra de quem maneja arma de fogo. A menos que se queira dar cabo de alguém, JAMAIS, em circunstância alguma, aponta-se arma, descarregada ou não, para outra pessoa. Ponto. A ignorância é mais perigosa do que qualquer arma -- sobretudo quando há armas em jogo. E não se iludam, amigos do SIM: acabar com o comércio legal de armas não tiraria as armas de um sujeito desses, apenas o empuraria para a ilegalidade. O SIM é, aliás, um grande reforço para a ilegalidade -- que é, repito, onde está a grande violência. Se o comércio de drogas fosse legalizado e controlado como é hoje o comércio de armas, os traficantes não teriam um milésimo do poder que têm; vencendo o SIM, terão mais uma fonte de lucro. Enfim. A essa altura as coisas já devem estar quase decididas, e eu tenho mais é que correr pra pegar a minha ZE aberta. ARGHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! 22.10.05 Uma opinião bem explicadaAcabo de receber este email do Marcos Martins, lá no jornal:Pessoal, somente esta semana fiz minha cabeça sobre o referendo. Sou contra as armas. Nem mesmo quando penso em defesa pessoal ou de patrimônio, consigo ver as armas como definitivamente úteis, pois não consigo concluir se a posse de uma arma num momento crítico defende ou expõe mais ao risco a vida do "defendido".Se alguém acha que nada disso que ele descreveu vai acontecer, boa sorte! Além da questão ideológica, penso exatamente assim. Acho que a cada porta legal que o governo fecha, abrem-se milhares de janelas na ilegalidade -- que é, ao fim e ao cabo, a origem da grande violência, aquela que desafia o Estado e zomba da nossa cara. Crimes passionais e acidentes domésticos existem desde o começo dos tempos, e não deixarão de existir. Ao contrário do que pensa o meu cândido e bem-intencionado amigo Luis Garcia, um marido que quer matar a mulher (ou vice-versa) não precisa de revolver na gaveta da mesinha de cabeceira. 21.10.05 Desatenção ou malíciaCaetano Veloso, no Blog do Noblat, manda muito bem a respeito do jornalismo da Veja.O artigo é comprido (preciso dizer?) mas bem argumentado e escrito com a habitual elegância do autor. Gosto muito de quem usa a cabeça para pensar. Dez anos em dez diasUm dos museus mais simpáticos do Rio, o MIAN (Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil), acaba de completar dez anos e, para comemorar a data, programou diversas atividades entre os dias 19 e 29 deste mes.Como eu chego atrasada a tudo na minha vida, naturalmente só descobri o email do museu ontem de madrugada; mas ainda dá para vocês aproveitarem quase toda a programação: O MIAN fica na Rua Cosme Velho 561, e seus telefones são 2205.8612 e 2205.8547. Show!!!Acabei de ver a Bibi Ferreira no Jô.Sensacional! Amo, amo, amo Bibi Ferreira. E -- com licença, posso? -- vou dar uma de tiete, e postar uma foto com ela que eu adoro. É de 2001, mas não me lembro mais qual foi a ocasião. * * *Há muitos anos, quando a Bibi estava fazendo Piaf no Ginástico, eu andava meio em crise. E ia ao teatro todo dia. Às vezes (quase sempre) a casa estava lotada, então eu ficava lá quietinha, assistindo da coxia.A Bibi brincava, dizia que eu podia ser stand in de qualquer um, porque sabia a peça e as marcações de cor. Sabia mesmo. Volta e meia íamos jantar juntas depois do espetáculo. Ora, a Piaf tinha um casaco de peles portentoso, daqueles que me dão arrepios e vontade de pegar uma lata de spray; mas era parte do figurino, era uma relíquia de outros tempos e, sobretudo, era da Bibi. Não havia dinheiro de produção que pagasse um casaco daqueles. Assim, todos os dias, ela ia e voltava do teatro com seu casaco de vison -- às vezes, debaixo de um calor de 30 graus. Na época, eu estava tão acostumada com aquilo que nem reparava mais. Mas tempos depois, um dia, assim do nada, olhando pro teto e pensando na vida, me dei conta de que dupla esquisita a gente fazia -- eu com os meus jeans, camisetas e sandálias de sempre, e a Bibi de casaco de vison, calças compridas e... havaianas. Quando havaianas não estavam na moda. Muitas saudades daquele tempo, muitas. 20.10.05 Novo sistema de comunidadesO Opera inaugurou ontem, oficialmente, o seu site de comunidades, que já estava no ar, sem alarde, há alhum tempo. Essencialmente, é muito parecido com o Multiply e todos os que o seguiram: tem espaço para blog, fotos, agenda de amigos, grupos, forums.Gosto muito do Opera, a meu ver um browser cheio de qualidades (agora inclusive gratuito), mas injustamente depreciado na briga dos bilhões do M$ IE e do hype em torno do Firefox. Em aparelhos pequenos, como PDAs e celulares, ter um Opera ou não faz toda a diferença do mundo: com o Opera, o que você vê na telinha é internet, ponto. Com os outros, apenas uma tentativa de chegar lá. Mas o Opera também tem as suas esquisitices. Por exemplo: hoje à tarde abri lá um espaço para mim, para ver como andam as coisas. Eu estava usando IE, e tudo correu às mil maravilhas. Agora, quando tento fazer login pelo Opera, na minha própria conta, não consigo. Volto pro IE, e consigo. Já dei logout, fui pro Opera, tentei de novo -- nada. Não dá para entender o que está acontecendo, e eu estou com dor de garganta, o que tira muito da minha habitual paciência com sites teimosos. Ainda assim, recomendo a todos não só o Opera, como browser, como uma voltinha pela área de comunidades, que é muito fácil de usar e pode dar samba, com muitos features interessantes. Não se esqueçam que ela é novinha, acaba de nascer e ainda precisa de uns ajustes. Qualquer dúvida, é só perguntar pro meu amigo Aylons Hazzud, aqui nos comentários; pouca gente conhece o Opera feito este garoto. Cruzes! O que é que os bichos têm com isso?!Governadora demonstra completo descaso pela vidae pelo meio-ambiente em festinha do SIM Levei um susto quando abri a janela no domingo: a Lagoa estava um lixo, emporcalhada por algo que, do meu ponto de vista, parecia ser mortandade de peixes ou uma suspeita espuma branca, recolhida com uma rede. Desci para ver o que estava acontecendo: num primeiro momento, respirei aliviada. Não era nem mortandade nem espuma tóxica. Eram os restos daquele criativo evento da turma do SIM, que, com as bênçãos da governadora, jogou na Lagoa, como se esta fosse a lata de lixo do Palácio Guanabara, milhares de cruzes de isopor, representando, segundo os organizadores, "os mortos por armas de fogo". * * *O alívio durou pouco. O material estava se desfazendo, e a água, coitada, já de si bastante poluída, estava coalhada de pedaços de isopor, risco certo para os peixes, biguás, frangos d'água e tantos outros habitantes da área que nada têm a ver com a demagogia que cerca este referendo, e que agora pagarão com suas vidinhas verdadeiramente inocentes pela opção da governadora.Em vez de orar pelos mortos, ela faria melhor chamando às falas o senhor seu marido, que, como ex-governador e ex secretário de Segurança, nada fez para mudar o tenebroso quadro da violência no estado; também não lhe faria mal se, como governadora que é, se recolhesse ao palácio para meditar a respeito da quantidade de vidas, humanas e animais, que já se perderam devido à inércia do governo. * * *Na verdade, como moradora desta cidade, sinto-me pessoalmente ofendida cada vez que qualquer autoridade responsável pela "nossa segurança" vem a público deitar falação, como se isso -- a nossa segurança -- existisse.Será que acham que somos todos idiotas?! Acham que ignoramos que circulam, às nossas custas, em carros blindados, cercados de seguranças?! Acham que não vemos o que acontece à nossa volta, que engolimos as suas mentiras, que não nos damos conta da sua covardia?! Acham que não nos ressentimos de não podermos usar a nossa cidade, de não podermos ter uma bicicleta melhorzinha, de usar a corrente com o santinho ou um relógio mais bonito? Acham que gostamos de andar com os vidros dos automóveis permanentemente cerrados, ou de ver todos os bares e restaurantes fechados, e de ter que voltar para casa quando os argentinos (logo eles!) mal começam a se preparar para sair para a noite esplendorosa de Buenos Aires?! * * *Pois domingo, voltando ao começo desta crônica, a governadora -- como se governadora não fosse, e não tivesse nada a ver com a Beirute que se forma em cada esquina, com a Bagdá em que se transformaram as linhas Vermelha e Amarela -- lá se foi, toda de branco, compactuar com a poluição da Lagoa.Cuja despoluição, por sinal, deve à população desde que assumiu. Aparentemente achou lindo o horrendo monte de isopor, pegou um barco e, no meio das águas, abriu caixas onde, desde cedo, estavam fechadas pombas brancas, que por pouco não morreram de calor e falta de ar. As aves estavam tão enfraquecidas que caíram direto na água, e só não se afogaram graças ao socorro prestado por populares em barcos e pedalinhos. Algumas estavam com asas partidas; outras foram encontradas, de madrugada, conforme noticiou a coluna Gente Boa, abandonadas dentro de uma das caixas, com as asas cortadas. Pelo menos duas leis foram infringidas pela governadora e pela sua "turma do bem" no famigerado manifesto: o Decreto-Lei 24.645, que define maus-tratos contra animais, e que, entre outras coisas, diz, explicitamente, que é crime "abandonar animal doente, ferido, extenuado ou mutilado, bem como deixar de ministrar-lhe tudo o que humanitariamente se lhe possa prover, inclusive assistência veterinária"; e a Lei Federal 9.605, de Crimes Ambientais, que condena "provocar, pela emissão de efluentes ou carregamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras". Isso para não falar da lei estadual que proíbe a apresentação de animais em circos ou espetáculos no Rio de Janeiro, sancionada pela própria governadora há quatro meses e que, ainda que não diga nada a respeito da tortura de pombos com fins eleitoreiros, há de ter alguma cláusula que, interpretada por um bom advogado, condene esta barbaridade. * * *Ser a favor da vida é um pouco mais complicado do que botar uma camiseta branca e votar SIM. Ser a favor da vida é compreender que todos fazemos parte de um único mundo, neste momento mais ameaçado do que nunca. Permitir que uma área já tão fragilizada como a Lagoa seja alvo de uma agressão gratuita, e assistir impassível à agonia de dezenas de aves, é não ter a menor idéia do que seja a vida no seu sentido mais amplo.Na terça, as águas ainda estavam cheias de isopor, que era comido por biguás e frangos d'água(como este que fotografei), e que podem vir a morrer disso. Nada a estranhar. Tudo o que esses governadores fazem é vulgar, sinistro, malfadado. (O Globo, Segundo Caderno, 20.10.2005) Aconteceu uma coisa chata com esta coluna. Eu dou uma escrita geral, depois revejo, corto, conserto, arrumo. Pois não é que, desta vez, esqueci de salvar a versão mais recente -- que me mandei por email, e que aqui está -- na forma do jornal?! Não sei se foi cansaço de ir e vir de São Paulo ou pura distração, mas o fato é que a versão impressa está ligeiramente diferente -- e pior. Chato, isso. 19.10.05 Storms happenImaginem isso: Elis Monteiro, repórter do Info etc., embarcou no fim-de-semana para o México, mais especificamente para Playa del Carmen, onde a Motorola e a Apple estavam aproveitando o Video Music Awards, da MTV, para lançar o ultra, super, duper aguardado Rockr, celular produzido em parceria pelas duas.Pois depois de 20 horas de viagem ela desembarcou, foi pro hotel, pendurou suas roupitchas no armário... e recebeu ordem de empacotar tudo novamente e correr pro aeroporto! A cidade está sendo evacuada por causa do furacão Wilma, e todo mundo -- Video Music Awards, MTV, Apple, Motorola, Rockr, músicos, jornalistas e turistas em geral -- está voltando. O pior é que a Elis morre de medo de avião, e encarou a ida porque, afinal, um lançamento desses não acontece todo dia, ainda mais num lugar tão bacana. Tsk. Quanto ao Rockr: pelo que andei lendo, ele é muito parecido com o E398, só que branco e prata e, claro, com iTunes de nascença. YIKESLiguei a televisão:
SOCORRO!!!! Vou voltar pra cama. Causa & conseqüênciaNão sei se é do avião, do ar de São Paulo ou das duas coisas, mas toda vez que vou a São Paulo volto com a garganta em pandarecos. Hoje deitei ali no sofá, de tarde, para descansar um minutinho; acordei agora.* suspiro * 18.10.05 17.10.05 Demagogia barata dá nisso: a poluição do SIM da "governadora"Desculpem, mandei pelo telefone e não deu para explicar direito. Ontem, a nossa esclarecida governadora promoveu um manifesto a favor do SIM aqui na Lagoa. Foram jogadas mais de 30 mil cruzes de isopor dentro d'água, representando as "vítimas de armas de fogo". Meigo, né? Só que as bordas da água, na direção em que o vento sopra, estão assim; coalhadas de pedaços de isopor que os biguás, garças e frangos d'água comem por engano e que, eventualmente, podem levá-los à morte. Também foram soltas 25 pombas brancas. Não se sabe se os pássaros estavam drogados, fracos demais ou pura e simplesmente apavorados pelo barulho do helicóptero da segurança, mas a maioria caiu dentro d'água. Tiveram que ser resgatadas para não se afogarem. Algumas estavam com asas partidas. Tudo o que este casal nefasto faz é vulgar, sinistro, mal-fadado. Um senhor telefoneSemana passada, fiquei de falar mais sobre as minhas experiências com o 6681, novo "smartphone" da Nokia. "Smartphones" são celulares com algo mais, máquinas de trabalho que, em tese, podem praticamente substituir os PDAs. A Nokia classifica o 6681 como um "imaging smartphone", ou seja, um desses pequenos notáveis, mas especializado em fotografia.Embora faça fotos de "apenas" 1.3 megapixels (contra os 2Mp dos Sony-Ericsson K750i e W800), ele tem uma excelente qualidade de imagem e um pequeno editor fotográfico que realiza funções básicas, como clarear ou escurecer imagens, cortar, virar, acrescentar moldurinhas ou texto, etc. A câmera fica na parte de trás do aparelho, guardada por uma placa protetora que desliza para ativá-la, fazendo com que entre em ação imediatamente. Pode-se fotografar mesmo com o teclado travado. Aliás, por falar em teclado: ele "percebe" automaticamente quando está escuro e acende sozinho. Adorei isso! O 6681 é também uma poderosa máquina de som. Poderia ser um baita player se saísse da loja com um cartão de memória maior do que o RS MMC de 64Mb que traz; mas esta memória não é suficiente para armazenar fotos, programas e músicas. Felizmente, este é um problema que se pode resolver com alguma persistência. O diabo é que o cartão só pode ser um RS MMC bi-volt, ainda bem difícil de encontrar. O PC Suite, software que faz a conexão com o computador, funciona bem tanto com cabo quanto com Bluetooth; é através dele que se podem baixar para o celular documentos do Office (doc, pps e xls) e arquivos pdf. Como teste, passei para o bichinho a planilha que criei com os meus DVDs, com 237 entradas com título, título original e diretor, e ele a lê sem problemas. Melhor ainda: eu a leio sem problemas, porque a tela, que faz do 6681 um celular relativamente grande, também faz dele um belo celular para leitura, navegação na web e visualização de imagens. O browser com que vem de fábrica é bom (melhor do que os browsers da Nokia que usei até aqui) mas o ideal, a meu ver, é baixar o Opera Mobile. Com ele, não tive dificuldade em acessar site algum; no meu blog, posso abrir a caixa de comentários, ler o que os leitores comentaram e responder; o Google voa. O 6681 é um brinquedinho caro (cerca de R$ 2 mil) mas extremamente útil e versátil, sobretudo para quem depende de celular para trabalhar de verdade. (O Globo, Info etc., 17.10.2005) Utilidade públicaCircula pela rede um spam que diz o seguinte:Uma espécie de vingança para quando nos roubam o celularIsso é absolutamente verdadeiro. Através do número de série as operadoras podem, de fato, bloquear o aparelho todo -- e não apenas a linha. Mas ninguém precisa ficar desesperado se não tiver se dado ao trabalho de digitar a combinação cabalística. O número também está na caixa do celular e na nota fiscal. Alô alô, Lisboa!Na foto (feita pelo marido da Monica) Lucas, Monica L, Cora, Yas e Van Or, depois de uma sessão de "Feitiço do Tempo". 16.10.05 15.10.05 Nada de novo sob o sol"Se ainda houver historiadores daqui a 50 ou 100 anos e tiverem sido preservados filmes de uma semana de nossas três redes, eles encontrarão ali gravadas em preto e branco, ou cor, as provas da decadência, escapismo e alheiamento da realidade do mundo em que vivemos."Por incrível que pareça, isso não foi dito ontem, mas em 1958, por Ed Murrow, um dos mais importantes jornalistas de rádio e TV dos EUA, ao ser homenageado pela Associação dos Diretores de Rádio e Telejornalismo. Ainda há historiadores, e os filmes foram preservados, mas a lição, aparentemente, se perdeu. Pesquei estes dois parágrafos no blog do Pontual. Ele nos fez a gentileza de traduzir um bom trecho do discurso, que abre e fecha o filme Good Night, and Good Luck, de George Clooney, que estou louca para ver. 14.10.05 Fala, Barone!"Depois de muito esperar, mando meu alô aqui no seu blog. Sou seu leitor faz muito tempo. Baseado em fatos (quase) reaisO Jardineiro FielO filme começa, o espectador mal provou da pipoca e, zás!, Tessa Quayle (Rachel Weisz, magnífica) é brutalmente assassinada numa remota paisagem africana. O que é que ela estava fazendo naquele fim de mundo? E qual era a sua relação com o jovem médico africano que a acompanhava? Justin Quayle (Ralph Fiennes, igualmente perfeito para o papel), marido de Tessa, diplomata inglês ardorosamente dedicado à jardinagem, resolve esquecer regadores, ancinhos, conselhos de superiores e ameaças recebidas, e vai atrás das respostas às perguntas que o atormentam. O casal mal se conhecia. Apesar de completamente diferentes, Justin e Tessa apaixonaram-se à primeira vista. A busca do marido pela verdadeira identidade da mulher e pelos seus reais sentimentos o leva a trilhar, inexoravelmente, o caminho do desastre. Desde as primeiras cenas, o espectador percebe que nada no filme conduz a um final feliz -- exceto, é claro, para os fãs de John Le Carré, autor do romance homônimo, que têm a rara felicidade de ver que o livro de que tanto gostaram encontrou tradução cinematográfica à altura. Boa parte dos méritos cabe à direção dinâmica e criativa de Fernando Meirelles (sim, o nosso Fernando Meirelles, de "Cidade de Deus"), que mantém magistralmente a tensão da trama. Passo a passo com Justin, descobrimos que Tessa, ativista política, cometeu o erro básico de desconfiar da ação criminosa de uma companhia farmacêutica, testando drogas potencialmente letais na população carente de um país corrompido até a medula. Ficção antiglobalizante? Quem dera: mudem um nome aqui, um país acolá e não, não há nada de ficção nesses fatos. Paralelamente à tenebrosa questão política, vamos descobrindo, também, a extraordinária fibra de Tessa, a sua revolta contra a injustiça e, não menos importante, a sua devoção a Justin. Que desde o começo já se saiba que tudo isso se perdeu torna "O jardineiro fiel" ainda mais pungente -- e, desde já, um dos melhores filmes da temporada. (O Globo, Rio Show, 14.10.2005) 13.10.05 Às armas, cidadãos!Dizer sim ao SIM? Pois sim.No distante ano de 1980, empacotei meia dúzia de objetos essenciais -- a máquina de escrever, uns dicionários e alguns quadros, uns LPs e umas roupas -- pus tudo a bordo de um minúsculo Fiat 147 e peguei a estrada. Eu estava partindo para uma nova etapa da minha vida, deixando Brasília e voltando, finalmente!, para o meu Rio de Janeiro. Estava sozinha, e minha intenção era fazer a viagem de uma assentada só. Corajosa a mocinha, só agora percebo. Eu tinha 27 anos, 1,54m (não cresci muito, desde então) e 50 quilos (cresci, sim); mas também tinha uma Walther PPK 7,65mm, que muito me tranqüilizou nos 1.148 quilômetros da estrada esburacada e praticamente deserta. PPK esta que, discreta mas visivelmente enfiada na cintura da calça, desestimulou alguns engraçadinhos nos postos de gasolina em que parei ao longo do caminho. A Walther, uma pistola linda e admiravelmente segura, sempre foi minha arma favorita, embora eu tivesse convivido também com um pequeno Smith & Wesson 22, de cano curto, e vários rifles de diferentes marcas e calibres. Meu avô, antigo oficial do exército austro-húngaro, adorava armas, e me ensinou, desde cedo, a respeitá-las e a usá-las corretamente. Entre as melhores recordações que tenho da infância estão as tardes de tiro ao alvo com o Nonno. Aprendi a montar e desmontar todas as armas que tínhamos e, modéstia à parte, a atirar muito bem. Isso não fez de mim uma criatura perigosa ou beligerante, apenas me tornou uma pessoa mais segura, até por me dar a compreensão -- e a medida real -- de uma parte integrante do nosso mundo. Minha viagem de Brasília ao Rio durou cerca de vinte horas, e devo àquela velha e elegante Walther a tranqüilidade de ter feito o trajeto sem medo algum ? exceto, é claro, aqueles provocados pelas nossas indescritíveis estradas e pelos automóveis, combinação que faz, anualmente, muito mais vítimas do que todas as armas legais e ilegais do país. * * *O sítio idílico, onde as armas eram apenas uma diversão como outra qualquer, desapareceu. A casa continua lá, bonita como sempre foi; o jardim adquiriu aquela qualidade que só o tempo e o carinho dão às plantas. Mas a área em torno, antes praticamente deserta, com uma casa aqui, outra acolá, degradou-se irremediavelmente. Hoje a bandidagem corre solta em Nova Friburgo, como no resto do país (me contenho para não escrever "a partir do Planalto"). Há uns poucos anos, depois do nono (!) assalto à casa, Mamãe foi, como sempre em vão, à polícia. Desta vez, tinha algo novo: uma pista. Uma bala se alojara na lombada de um dos livros (ainda está lá, dormindo no Dostoievski), de onde poderia ser facilmente removida e periciada.-- Perícia em bala?! -- espantou-se o delegado. -- Só existe em filme americano, vovó. A senhora está vendo televisão demais. Compra uns cachorros e solta no quintal . Mamãe seguiu o conselho da polícia. Hoje tem dois tigres, disfarçados de pastores alemães, que a amam de paixão e jamais deixarão que nada de mal lhe aconteça. Mas, pelo sim, pelo não, tem também uma arma que, nas mãos do caseiro, já evitou pelo menos meia dúzia de novas invasões, com tiros para o alto. Ninguém morreu ou se feriu, mas os bandidos acharam melhor trabalhar em outra freguesia. * * *São só duas historinhas pessoais. Contei por contar. Não é por causa delas (ou só por causa delas) que vou votar NÃO no referendo sobre o "desarmamento". Por sinal, escrevo "desarmamento" assim, entre aspas, porque acho absoluta má-fé o uso desta palavra: quem dera que o governo, ou quem quer que fosse, pudesse, de fato, desarmar a todos!O problema é que não é o arsenal pesado dos traficantes que está em discussão, e sim o direito dos cidadãos de bem de comprar armas para sua própria defesa ocasional. Digo cidadãos de bem com conhecimento de causa, porque só gente muito temente a Deus e à ordem é que ainda se dá ao trabalho de enfrentar a burocracia e reunir toda a papelada exigida atualmente para a compra de uma arma. Pelo que se vê na propaganda, até parece que é só chegar na venda da esquina e pedir um trezoitão na promoção, parcelado em dez vezes no cartão. Pois não é não, acreditem. Aliás, não acreditem; vão lá e confiram. Tentem comprar uma arma legalmente, enquanto ainda podem. É tão difícil, que só pondo despachante, ou lobista, na parada. Entre outros motivos, vou votar NÃO porque, se o SIM for aprovado, mais uma parcela da população fatalmente será empurrada para a ilegalidade. Já estou vendo Mamãe, com sua cabeça branquinha, subindo o morro para conseguir munição -- naturalmente a preços inflacionados -- lá para o sítio. Comprado numa localidade pacífica e remota que os tempos transformaram em perímetro urbano. Urbano e perigoso. Como ela, este será o destino de alguns milhões de brasileiros de bem que, não recebendo do Estado a segurança a que teriam direito, foram forçados a ter armas em casa. Aliás, o Estado brasileiro é especialista em fazer do cidadão honesto um criminoso. Impostos extorsivos, leis de trânsito feitas sob medida para o achaque, taxas de importação inviáveis que nos atiram nos braços dos contrabandistas -- tudo é estímulo pra desviar o cidadão do caminho do bem, que ninguém do governo sabe mais onde é. Aprovado este SIM, estará automaticamente incentivada a compra ilegal de armas para ficarmos em pé de igualdade com parlamentares, juristas e artistas famosos que, cercados de segurança 24 horas por dia, aliviam a sua culpa social e moral dizendo SIM à cassação dos nossos direitos . (O Globo, Segundo Caderno, 13.10.2005) 12.10.05 Mudei de idéia: meu voto agora é SIM!Antes, eu tinha certeza de que ia votar no NÃO e ninguém ia me convencer do contrário. Mas o tempo foi passando, entrei nas comunidades do SIM e do NAO no orkut, ouvi propagandas no rádio e na TV e os argumentos do SIM me convenceram. Vou votar SIM.Recebi por email; não sei quem escreveu. Se alguém souber, por favor me avise, para que eu possa dar o devido crédito, OK? E agora vou lá fora curtir o restinho do feriado no quiosque... Eca!!!!Estou vendo um programa da National Geographic sobre insetos... como alimento!O repórter, realmente intrépido, comeu mais coisas esquisitas em meia hora do que eu numa vida inteira. É tudo muito nojeeeeeeento!!! Por outro lado, o programa dá o que pensar. Nós comemos caranguejos, lagostas e camarões com grande gosto, mas torcemos o nariz para escorpiões, que são parentes deles. Ficamos chocados com larvas fritas e viradinhos de ovos de mosca, mas adoramos mel -- que é, pura e simplesmente, o vômito de zilhões de abelhas. Estranho, muito estranho. 11.10.05 Sim ao NÃO(Puxei este post pra cá porque gostei muito do texto do Edk -- que, agora descobri, tem um ótimo blog. Seria uma pena ele sumir na rolagem tão rápido, né?)Agora que farreamos todos à vontade no fim-de-semana, que tal ligar o fio terra? Acabo de ler um comentário muito bom lá no Idelber, que está em Santiago, mas deixou um ótimo debate sobre o "desarmamento" no ar. Escrevo "desarmamento" entre aspas, porque acho de absoluta má-fé o uso desta palavra. Quem dera que o governo ou quem quer que seja pudesse, de fato, desarmar a bandidagem! Não é o arsenal pesado dos traficantes que está em discussão; o que está em discussão é se nós, cidadãos de bem, poderemos ter ou não o direito de comprar armas legalmente. Caso o SIM seja aprovado, mais uma parcela decente da população será empurrada para a ilegalidade. O governo brasileiro é especialista em fazer do cidadão honesto um criminoso a contra-gosto: estimula a sonegação através dos impostos mais altos e injustos do mundo, estimula o suborno da polícia através de leis de trânsito absurdas, estimula o contrabando através de taxas de importação extorsivas e, logo, estará estimulando a compra ilegal de armas por todos nós, que não somos nem parlamentares, nem juristas, nem artistas que andam com segurança 24 horas por dia. Voto NÃO, obviamente. Mas leiam o comentário do leitor do Idelber, que se assina EDK. O texto é comprido mas excelente: Tenho nível superior, sou policial civil, sou professor e já trabalhei em delegacia. Conheço e convivo hoje com muitas estatíticas, conheço um pouco a violência e sua face mais cruel.Bravo, EDK. Falou e disse. É isso mesmo?Repasso este texto exatamente como o recebi. Não tenho certeza se é isso mesmo -- vou ter que ler novamente aquele catatau, tendo isso em mente -- mas à turma que já estudou devidamente a questão, pergunto: é possível que seja isso?"Nessas últimas semanas estamos sendo bombardeados por informações a respeito do referendo que em breve será realizado no Brasil. Confesso que não havia entendido as reais intenções desse referendo. Nenhum argumento que realmente fizesse sentido (no sentido amplo, completo e irrestrito da palavra) tinha se encaixado em minha cabeça. Não porque minha cabeça não queria compreender os fatos, mas sim porque existia uma grande e enorme peça do quebra cabeça faltando. Achando essa peça que estava faltando, finalmente compreendí e tive que mandar esse email para vocês, porque as coisas são muito piores que todos estão imaginando. RIBONDI!Agora, aberto a comentários.Não percam, sério -- o moço é bom demais (recado para quem está chegando, porque quem é da casa já sabe disso.). 10.10.05 Vejam só quem fez anos!Ontem foi aniversário do Joseph;não é um gatinho lindo este meu pequeno bípede gringo?! 9.10.05 A peça, segunda parteO Macksen tinha, é claro, toda a razão. A Bia, a Van Or, o Lucas e eu estávamos todos no Sérgio Porto não por curiosidade malsã, mas porque o Ribondi me pediu que desse uma olhada no espetáculo.É que este é o grupo que está querendo levá-lo para o Irã para fazer uma peça lá. Tem coisas que a gente só faz por amor. Ir a uma peça iraniana é uma delas. Ir sozinha, porém, já é demais; de modo que consegui chantagear a Bia, a Van Or e o pobrezinho do Lucas, que tinha até festa rolando em casa, a ir até lá comigo. Depois de ver a peça, todos chegamos à conclusão de que o Ribondi TEM que ir para Teerã, dado que, pelo exemplo que nos foi mostrado, o povo lá ainda não descobriu que um pouco de ação em cena não faz mal a ninguém. Vai ver que a missão dele na vida é, justamente, fazer uma revolução na cultura iraniana! Alah escreve certo por linhas enroladas (às vezes conhecidas por arabescos). ::::: A peça é uma chatice, sem dúvida mas, com um pouco de boa vontade, pode ser compreendida -- ou quase. Eu a entendi assim: -- No escuro, a voz em off é a conversa do ator com um psiquiatra, pelo telefone. No fim da peça, a gente percebe que ela acontece depois da ação (se é que se pode chamá-la assim) que se vê. -- A conversa incompreensível entre o casal é a sua última conversa, o momento da separação. -- Ele não aceita esta separação, e mata a mulher (suponho). ::::: Não teria feito mal a ninguém se alguém tivesse explicado ao público que, no Irã, um homem e uma mulher só podem se tocar no palco se forem casados na vida real, e se a trama assim o exigir rigorosamente. A falta de ação e a tal mesa comprida entre o casal é, imagino, uma crítica a essa imposição da ditadura religiosa do país, mas fica difícil apreciar isso sem saber das restrições dos aiatolás. Os atores, verdade se diga, fizeram um bonito. Conseguiram se concentrar numa peça muito exigente do ponto de vista emocional apesar da frieza da platéia. É arrasador para um artista ter que lutar contra um fosso cultural, acentuado, ainda por cima, por problemas técnicos. ::::: Moral da história? Todos foram muito valentes: os atores por levarem o espetáculo até o fim com bravura, e a platéia, por tê-lo assistido com relativamente poucas demonstrações de impaciência. The play is the thingBom, a peça. Macksen Luiz, crítico do JB e amigo queridíssimo, me agarrou pelo braço, logo na entrada:-- O que é que você está fazendo AQUI?! Numa peça IRANIANA?! Aí tem coisa. Você tem algum propósito oculto. Gente que conhece a gente há mais de 20 anos não dá para tapear. Eu não podia dizer que estava lá, por exemplo, porque nada no mundo me fascina tanto quanto o teatro iraniano; ou porque a diversidade cultural do mundo me atrai como um ímã para festivais de teatro; ou, sequer, que já tinha ouvido falar muito da peça e estava morrendo de curiosidade. Confessei, então, que estava lá com segundas intenções. Macksen deu um suspiro de alívio -- nós temos um pacto: se algum dia um pegar o outro fazendo coisas malucas, ridículas além do limite ou absolutamente incompreensíveis, está plenamente autorizado a interná-lo -- as luzes se apagaram e... Continuaram apagadas. E permaneceram apagadas. E assim ficaram por um tempo indefinido, enquanto uma voz falava alguma coisa incompreensível a respeito de números. Em iraniano, claro. Havia legendas, projetadas na parede de um e de outro lado do teatro. Infelizmente estavam fora de foco e eram atravessadas pela luz dos spots, o que as tornava ilegíveis. Isso, é claro, dava um bom espaço para que a gente pudesse pensar e fazer descobertas. Por exemplo: eu me dei conta de que o fuso-horário iraniano é diferente do brasileiro. Um tempo que para nós equivale, digamos, a dez minutos, para eles equivale a um. Assim, quando a gente tem a sensação de que meia-hora se passou, se olhar para o relógio verá que, na verdade, apenas três minutos transcorreram. Enfim, ao fim de um tempo incalculável, as luzes se acendem. Há uma mesa comprida em cena. Copos e uma atriz numa ponta, sapatos e um ator na outra. A atriz dança sobre os copos. É aflitivamente magra. O homem calça os sapatos. Jogam um jogo de números. Ele vai dizendo um monte de números e ela vai dizendo "passo". Isso eu sei porque, nesse trecho, consegui ler as legendas. Continuam falando, falando, falando. Sentados, cada qual na sua cadeira. Ela chora. Ele fica de pé. As luzes se apagam. A voz em off fala mais um tanto. A essa altura, transcorridas quatro horas, passaram-se 70 minutos. A peça acaba. O público aplaude. De pé, porque está louco para fugir do teatro. The end. (Já já eu explico tudo, inclusive o que a gente estava fazendo lá) Nova tentativaOs quero-queridos estão chocando DOIS novos ovinhos! Vamos ver se dessa vez conseguem ser mais felizes e levar seus planos de constituir família adiante...8.10.05 Cliquem aqui!Uma coisa que nunca entendi direito foi competição entre sites, do tipo "Clique aqui para nos ajudar a chegar ao topo da lista". Ganha quem conseguir mais cliques? Mas qual é a vantagem disso?De qualquer forma, ainda que não tenha noção de qual seja a vantagem deste tipo de competição, venho, descaradamente, pedir a quem estiver sem assunto nas horas vagas para CLICAR AQUI. Este link leva à escola da minha bipinha Emília, lá no Texas, que participa de uma competição de escolas de primeiro grau. A que obtiver mais votos, ganha um laboratório de informática de presente da DELL. A gente pode votar quantas vezes quiser, puder ou tiver paciência para desvendar as letrinhas que provam que não somos robôs... Esta avó agradece antecipadamente a participação dos amigos. Alguém ajuda o meu amigo?Pelamordedeus, alguém conhece algum ônibus, ou alguma forma de chegar em Barra do Piraí, Volta Redonda, Resende ou qualquer outra cidade da rodovia 393 ou da Dutra no sul fluminense, essa manhã? 7.10.05 Nisso é que dá ter o olho maior que a barrigaEsta foi o Tom quem achou: uma espécie de jibóia de quase quatro metros tentou comer um jacaré de dois metros e se deu mal.Explodiu. Os dois bichos morreram no embate, e os pesquisadores estão discutindo o caso até agora. A cobra era uma espécie nativa de Burma, vendida às vezes como animal de estimação; quando os donos se cansam do adorável pet, costumam soltá-lo nos pântanos da Flórida. Não conhecendo a área, as cobras não sabem que os jacarés estão no topo da cadeia alimentar. Até agora, foram registrados quatro casos de combates entre os dois predadores, sendo que este é o primeiro de que se tem notícia com tão catastróficos resultados. O ovo da serpenteÉ, eu sei, o que vem de baixo não deve, em tese, me atingir -- desde que eu não esteja, naturalmente, sentada num formigueiro -- mas, por mais que a gente vá aperfeiçoando, ao longo dos anos, a capacidade de ignorar os ignorantes, às vezes fica difícil manter o devido distanciamento da própria mailbox.Hoje recebi uma mensagem lá no jornal que me perturbou. Não pelo que a moça disse, mas pela inacreditável ignorância histórica e pelo sentimento que revelou -- e vejam que esta é uma pessoa que está convencida de que não tem preconceitos, e que acha que "não é anti nada". Agora imaginem o que não é a cabeça de skinheads como os que fotografei em Berlim! Li sua coluna. Posso entender seu sentimento, ou a falta dele.Peço desculpas a vocês. Sei que estou fazendo exatamente o contrário do que deveria fazer -- ampliando a voz dos idiotas -- mas, às vezes, a gente sente necessidade de socializar o estresse. 6.10.05 Uma historinha de lobo: adorei!Mas não tem permalink; tem que rolar até um post chamado Fabularium. Ótimo blog... :-)Por que é que eu não tenho uma idéia dessas?!Pegue-se uma página, divida-se em um milhão de pixels, cobre-se um dólar por pixel e pronto, comece-se a contar o dinheiro.Parece absurdo? Pois já conseguiram vender 276.500 pixels. Enquanto isso, aqui estou eu com um novo cheque do Google no valor de US$ 102,30 sem ter idéia de como fazer para descontá-lo sem perder um grande naco da grana. Vai fazer companhia ao outro, de US$ 103, que está na gaveta desde janeiro... Na estrada da vida, as grandes emoçõesEu conheci a Mulher Maravilha: Luzia Caracciolo, que adormeceu para sempre dia 27, aos 91 anosFui finalmente assistir a "Dois filhos de Francisco". Vi com interesse, achei a história bem contada e gostei dos atores, em especial das crianças; mas, sinceramente, não consigo entender a onda feita em torno do filme, sobretudo do ponto de vista sentimental. Tirando o dueto de Caetano Veloso e Maria Bethânia em "Tristeza do Jeca", nada, mas realmente nada, me emocionou na produção, a anos-luz de "Casa de areia" -- este sim um filme de arrepiar. Obviamente é problema meu, porque na saída vi várias pessoas de olhos vermelhos, visivelmente comovidas. Fiquei com vontade de segurá-las pelo braço e pedir: "Me explica, me diz o que há aí que eu não vi, que eu não consegui perceber, que me escapou" -- mas essas coisas, é claro, não se explicam. Para mim, o grande filme sobre música sertaneja continua sendo "Na estrada da vida". Foi feito há mais de 25 anos por Nelson Pereira dos Santos, conta a história da dupla Milionário e José Rico e, sabe-se lá por quê, teve pouquíssima repercussão no Brasil, embora fosse um sucesso imenso na China. Neste, que é um dos poucos musicais brasileiros -- no sentido em que a trama vai sendo contada através da própria música -- os astros são Milionário e José Rico em pessoa, revivendo o passado de peões de obra. Se bem me lembro, a trilha sonora é 100% dos dois, ao contrário de "Dois filhos de Francisco", em que brilham sobretudo clássicos sertanejos. O que, diga-se, só faz bem ao filme. Naquela época de Bossa Nova, música de protesto e Jovem Guarda, música sertaneja estava longe de ser um "produto" universal. Seu ibope fora da roça (que ouvia rádio mas não ia ao cinema) andava perto de zero. Era preciso ter muita coragem para meter a cara e fazer um filme daqueles, não fosse Nelson Pereira dos Santos quem é. Não sei se "Na estrada da vida" conseguiu resistir ao tempo. Só o vi quando foi lançado, mas tê-lo visto então causou uma mudança radical na minha vida -- para melhor. Bípede essencialmente urbana, violinista recém-saída de uma orquestra, eu não tinha idéia de que, no interior, existia música da qual eu pudesse gostar tanto. A partir dali, corri atrás do tempo e de um repertório que preencheu, no meu coração, as lacunas da terra. Até hoje gosto de garimpar música fora das paradas, e às vezes encontro maravilhas. Esta semana mesmo achei "Tropa de osso", do gaúcho Luiz Carlos Borges, que mexeu mais comigo, em quatro minutos, do que "Dois filhos de Francisco" em duas horas. * * *Talvez eu tenha até conhecido dona Luzia Caracciolo um pouco antes, mas só descobri que criatura extraordinária era a amiga da Mamãe quando, em 1994, aluguei um carro nos EUA e fui, junto com meu filho Paulinho, assistir ao Campeonato Mundial de Natação Masters em Montréal. Na época Mamãe estava com 70 anos e dona Luzia, com 80 -- mas tinham, ambas, muito mais energia do que o Paulinho e eu juntos. Depois de participar das várias provas em que estavam inscritas, ainda rodavam pela cidade, curtiam o festival de jazz, aproveitavam a noite.O hotel em que estávamos, reservado através de uma agência de viagens bem-intencionada mas mal informada, ficava em plena zona. Paulinho e eu vivíamos de pé atrás com a vizinhança de junkies e tipos esquisitos; Mamãe e dona Luzia apenas achavam que o Canadá era mesmo um país estranho, muito diferente do Brasil. Nossa última noite na cidade foi típica. Depois de fazer as malas, elas descobriram que ainda precisavam comprar presentes para algumas amigas. Eram três da manhã e, na esquina, havia um misto de drogaria e supermercado 24 horas. Pois lá ficaram as duas, em seus uniformes esportivos, examinando cuidadosamente os vários tons de rosa dos batons e esmaltes que queriam, para completo espanto dos habitués da casa, cobertos de tatuagens, piercings e correntes. Mal sabiam eles quem eram aquelas velhinhas inocentes, de aparência frágil... Entre outras glórias, dona Luzia foi a primeira mulher a escalar o Dedo de Deus, nos idos de 1933, quando senhoras não faziam essas coisas. A energia que a moveu naquela escalada ainda estava muito presente no ano passado, quando, aproveitando uma brecha no Campeonato de Natação Masters em Riccione, Itália, fomos a San Marino, que é uma subida só. Como de hábito, ela e Mamãe dispararam na frente, enquanto eu seguia atrás, esbaforida; e como em Montréal, dez anos antes, a colheita esportiva foi farta. Dona Luzia voltou ao Brasil com cinco medalhas de ouro. Na terça passada, dia 27, feliz e cheia de idéias em relação à nova casa que construía, dona Luzia foi dormir -- e não acordou mais. Estava com 91 anos. Vai fazer muita falta no próximo Mundial de Masters, no ano que vem, em São Francisco, para o qual já estava fazendo planos com as amigas, as maravilhosas sereias vintage da nossa natação masters. Viveu como pouca gente, e sabia disso: -- Fiz o que eu queria. Prestei atenção na vida e fui recompensada. (O Globo, Segundo Caderno, 6.10.2005) 5.10.05 Tou indo...Alguém sugeriu, num dos comentários, discutir a greve de fome de D. Luiz Flávio Cappio, que protesta contra a transposição do rio São Francisco. Não tenho tempo para escrever com calma sobre isso agora, a questão é complexa demais, mas adianto que acho o que ele está fazendo chantagem emocional -- embora eu seja, em princípio, contra qualquer interferência em grande escala na natureza. "Sou contra a transposição, vou me matar se vocês fizerem isso e a culpa da minha morte será de vocês". O gesto dele é radical e ousado, e ele tem, claro, todo direito de fazê-lo; mas não é assim que se discute, caramba. Fui! Eu, hein...Hoje deu a louca no blog: o template sumiu, sem mais nem menos. Fui ver o que havia, abri a página do dito template e estava tudo lá, direitinho, sem alteração. Mandei ele se publicar todo novamente, e agora parece que tomou tenência.Vá entender. Mundo animalNem só de gatos vive este blog: aí estão o gambá que o Paulo Afonso salvou, e a tamanduazinha recolhida pela Luciana Pordeus -- que, pelo visto, vive cercada dos bichos mais lindos e diferentes.Já a quero-quero com os três ovinhos foi matéria da Zero Hora (obrigada, Celso!): "Cena rara de ser vista tão de perto: a fêmea de quero-quero se deixa fotografar chocando ovos em pleno Parque Marinha do Brasil. Essa espécie não mede esforços para proteger sua cria, mas uma quero-quero fugiu à regra e encontrou um local nada tranqüilo para chocar seus três ovos: no canteiro central do Green Park - parque de diversões do Marinha do Brasil, na Capital - em meio à correria das crianças.Confesso que fiquei com muita inveja dos gaúchos, que têm autoridades interessadas nos passarinhos e cuidando de preservá-los. As daqui, se nem da capivara cuidaram, imagina dos quero-queridos... 4.10.05 Algumas leis da ciênciaNão é novo, mas acho engraçado...Teorema da Propensão Adesiva dos Materiais: O revórve do tropeiroSeu Delegado vim trazer meu revorvinho,Está rolando na rede; o Tom me mandou e logo em seguida o Cat. Alguém sabe onde encontrar a música? Cobertura completa!O Lucas fez fotos da cerimônia da WSPA, e postou no seu (dele) blog, AQUI; e com várias fotos!E, com vocês... Caetano!Caetano, para quem não está acompanhando o bate-papo dos comentários, é o quadrupinho da Teresa Amorim, de Portugal.Nos últimos dias, a Teresa viveu a angústia existencial de tosar ou não o bichinho, que estava com o pelo da barriga todo embaraçado. Depois de ouvir os mais diversos palpites, acabou levando o pobre Caetano ao salão de beleza -- de onde, como todo gato que se preza, ele voltou humilhado e ofendido. E, ainda por cima, com um lacinho vermelho! Teresa, por favor, tranqüilize o Caetano: diga a ele que, tosado ou não, ele é, definitivamente, um gato. Em todos os sentidos! "Quando todas as armas forem propriedade do governo, este decidirá de quem serão as outras propriedades." Atribuído a Benjamin Franklin, mas não consegui comprovar a autoria. Bearlim!Mais um albinho: a coleção de fotos dos Buddy Bears, uma espécie de "Cow Parade" berlinense feita com ursos em vez de vacas. Cada um é pintado por um artista diferente, e eles são espalhados pela cidade. Pode-se comprar ursos em branco para pintar a gosto e pôr em frente de casa ou da loja, ou reproduções dos ursos "oficiais" em esculturinhas pequenas. É claro que eu não resisti e comprei uma miniatura do urso com o mapa da cidade... (O título eu roubei de um comentário da leila lá no Flickr...) 3.10.05 Algumas imagensAs fotos desta coluna estão divididas, vocês notaram, em três blocos: à esquerda as da Kodak V550, aqui em cima as do Sony-Ericsson W800 e, à direita, as incríveis noturnas da Fuji Finepix Z1.O W800, como todo celular, é ideal para “roubar” fotos: duvido que os três tipos faceiros que encontrei no metrô em Berlim se deixassem fotografar prazeirosamente. Mas com o W800 no colo, olhando para o outro lado, cliquei à vontade enquanto permaneceram a bordo; quando saíram, eu tinha dez fotos imprestáveis e umas quatro boazinhas. Impressionante também foi a macro da joaninha que, garanto, era mesmo pequetitinha. Em relação às fotos feitas com a Fuji, vale ressaltar um detalhe: todas foram feitas à mão livre, digamos assim, sem qualquer ponto de apoio; a da ponte sobre o Danúbio, aliás, foi feita de dentro de um barco, que balançava razoavelmente. Sinceramente? Eu mesma fiquei admirada. Êta maquininha valente! (O Globo, Info etc., 3.10.2005) Update: Prontinho, povo, aí estão as imagens. Esta madrugada o Blogger estava fora do ar. Consegui subir os textos pelo w.bloggar, mas quem diz que conseguia fazer qualquer outra coisa? Às cinco e tanto joguei a toalha. Agora voltou tudo à normalidade. Uf! Boa semana para todos! Companheiros de viagemO notebook, as duas câmeras de hábito (Sony P200 e Panasonic Lumix FZ20), o telefone (Samsung D500) e três aparelhos para testar: um celular Sony-Ericsson W800, e as câmeras Fuji Finepix Z1 e Kodak V550. Mais, naturalmente, os cabos e conectores para todos. Este foi, basicamente, o conteúdo da minha bagagem de mão durante as férias.Depois de fazer a foto acima, empacotei todos os meus companheiros de viagem para devolvê-los aos fabricantes --- e só aí me lembrei de como teria sido interessante fazer a foto de todo mundo junto, isto é, eles e respectiva cabaiada. Abrir as caixas novamente, porém, estava além da minha paciência, de modo que vocês vão ter que se contentar com a descrição por escrito: era muita tralha! Imaginem: um conector e um cabo de força para cada aparelho, com a agravante de que tanto a Kodak quanto a Fuji precisam de bases de apoio, como os Palms; o headphone do W800; mais os cabos do notebook, das minhas duas câmeras e suas baterias e cartões extra, mais adaptadores para tomadas européias e, pelo sim pelo não, cabos para rede e telefone. Em cada máquina de Raio-X nos aeroportos o povo olhava para mim com espanto; nos EUA, provavelmente, eu estaria presa até agora, dando explicações sobre o equipamento. O "sacrifício", porém, vale a pena: há poucas circunstâncias melhores para testar equipamento do que viagem. O Sony-Ericsson, por ser a minha principal fonte de comunicação com o mundo, foi o mais malhado. Portou-se às mil maravilhas, e me convenceu de que é um dos melhores celulares atualmente disponíveis, sobretudo para quem quer fotografar (são dois megapixels!) e ouvir música (tem um player ótimo, cartão de 512Mb, som de primeira e os melhores headphones que já usei. Nem só de megapixels, porém, vive o W800 -- que, como seu irmão mais velho K750i, tem a melhor câmera digital de todos os celulares do momento, uma autofocus de verdade, que faz closes incríveis, paisagens e tudo o mais que se quer de uma câmera digital, em alguns casos com resultados francamente surpreendentes. Há concorrência séria no horizonte com o Nokia N90, mas este ainda não está disponível. O preço do W800 varia de acordo com planos e operadoras. A grande surpresa ficou com a Fuji. Quando peguei a Finepix Z1 e deslizei a tampa para tirar a primeira foto, pensei: "Isso não vai dar certo". A câmera é linda, mas a lente fica no canto superior esquerdo do aparelho, exatamente onde apoio o indicador — que, dito e feito, saiu na primeira meia dúzia de imagens. Mas, em pouco tempo, eu já estava acostumada com o detalhe, e nos demos muito bem. A Finepix Z1 é leve, pequena e discreta: cabe no bolso de um jeans, característica não desprezível no Rio, onde não convém dar bandeira com equipamento. A bateria é excelente, o visor maravilhoso vocês já viram na capa e ela é uma câmera ligeirinha, que não perde tempo "pensando"; assim, está sempre a postos. À primeira vista, estranhei também a falta de uma rosca para tripé; porém, ela provou funcionar tão bem à noite que, na verdade, dá até para esquecer o clássico tripezinho de mesa que todo usuário de câmera digital deveria levar consigo. As fotos diurnas são boas, mas não chegam a chamar a atenção; se você é da noite, no entanto, e não dispensa um acessório estiloso, esta é a câmera dos seus sonhos. Ela tem 5.1Mp, zoom óptico 3x e sai a R$ 1.600. Já a Kodak V550, outra pretinha básica incrivelmente bonita, mais ou menos do mesmo tamanho da Finepix (nenhuma ultrapassa as dimensões de um baralho) também me surpreendeu, mas por outro aspecto: a qualidade dos filminhos que faz. Pela primeira vez na vida gostei de flmar com uma câmera digital. Os filmes são feitos em 640 x 480, em MPEG4, e saem de fato muito bons, com um detalhe extra: as imagens podem ser isoladas em stop-motion, funcionando bem como fotos em still. Muito interessante! Como câmera fotógrafica, a V550 tem, como as Kodak em geral, um acabamento de grande qualidade. Vem com as famosas lentes Schneider-Kreuznach com que a Kodak equipa seu topo de linha, é gostosa na mão, tem um display claro e de ótima visibilidade e resposta rápida, melhorando muito este ponto fraco da marca. Ela tem bons recursos para quem gosta de ter controle sobre a imagem, mas para quem quer apenas se divertir, sem se preocupar com comandos, é um parque de diversões: basta clicar o indicador de cenas, no alto da câmera, e escolher entre as 18 possibilidades apresentadas, das clássicas “esporte” e “macro” a minúcias como “texto”, “festas”... Se nada servir, use a opção “personalizar”, e crie a configuração que bem entender. Esta câmera de 5Mp e zoom 3x é uma pequena paixão, que tem tudo para agradar a todos. Custa cerca de R$ 1.800. (O Globo, Info etc., 3.10.2005) 2.10.05 1.10.05 |