30.9.05


Vibra cow

Me passaram como autêntica, mas é boa demais pra ser verdade: um jornal de Oman noticiou que uma vaca engoliu um celular. O dono da vaca e do celular descobriu o fato quando, tentando encontrá-lo (ao celular), ligou para o próprio número e, para seu espanto, ouviu a vaca tocar.

A notícia é incompleta: não informa marca de aparelho, operadora ou ringtone favorito do fazendeiro.






Pronto!










A obra: buracos no teto.










O lado romântico do jornal










Primavera urbana










Gatinhos!










Vinícius, sobre Portugal

Atendendo a pedidos:
"(....) Eu confesso que depois desta minha última viagem, e de um contato intermitente de três meses com sua gente, Portugal seria o único país da Europa onde eu poderia viver fora do Brasil: com eventuais incursões à Itália. Que adiantam o superdesenvolvimento e a kultura (assim mesmo com k) de um povo, como dois ou três que eu conheço, se neles a relação humana torna-se cada dia mais difícil e indesejável diante de um outro tipo de ignorância bem mais perigoso a longo prazo, como esse da reserva e falta de diálogo; da submissão a preconceitos econômicos falsos na verdadeira escala de valores; do aburguesamento progressivo e da mesmificação do mais pessoal dos meios de comunicação, que é a linguagem? Que qualidade é mais a prezar no ser humano, se não for a gentileza, o gosto de conviver, a boa vontade em cooperar, em socorrer, em dar-se um pouco em tudo o que se faz, desde trabalhar a amar, desde comer a cantar, desde criar no plano intelectual a fazer no plano industrial ou agrícola?

Obrigado, Portugal! No contato de tuas gentes, teus escritores e teus artistas, teus estudantes e teus simples -- teu povinho das brancas aldeias! -- eu senti que há ainda muito isso que cada dia mais falta ao mundo: carinho e sinceridade. Represados, talvez, mas latentes como o sangue sob a pele, e prontos a romper a crosta criada a duras penas, ao longo de um passado tão cheio de sacrifícios e infortúnios. Obrigado, Lisboa, terra tão boa, gente tão gente, casas tão casas, amigos tão como já não se encontra.(....)"
A íntegra da crônica, de 1969, pode ser lida aqui.






Filhos de Francisco

Finalmente assisti "Dois filhos de Francisco". Não é ruim -- mas juro que não consegui entender a onda que está sendo feita em torno do filme. Assisti com interesse, achei a história bem contada e gostei dos atores; mas faltou uma coisa qualquer, algo que de fato me emocionasse, tirando o dueto de Caetano e Bethânia em "Tristeza do Jeca", que é das músicas de que mais gosto.

Deve ser problema meu, claro, porque o que mais vi no cinema foi gente aos prantos, para quem eu olhava com espanto parecido àquele com que olhava para o povo que ria desbragadamente durante a peça "Cócegas", há uns dois anos, na qual eu não consegui achar a mínima graça.

Para mim, o grande filme sobre a música sertaneja continua sendo "Na Estrada da Vida". Foi feito há mais de 25 anos por Nelson Pereira dos Santos, conta a história da dupla Milionário e José Rico e, sabe-se lá por quê, teve pouquíssima repercussão no Brasil, embora fosse um sucesso imenso na China.

No filme de Nelson, um dos poucos musicais brasileiros -- no sentido em que a trama vai sendo contada através da própria música -- os astros são Milionário e José Rico em pessoa, revivendo seu passado de peões de obra. Se bem me lembro, a trilha sonora é 100% dos dois, ao contrário de "Dois Filhos de Francisco", em que brilham sobretudo clássicos sertanejos, o que, diga-se, só faz bem ao filme.

Na época, aliás, música sertaneja ainda não era "produto" e o seu ibope fora da roça -- que, por sinal, ouvia rádio mas não ia ao cinema -- era mais ou menos zero. Era preciso coragem para meter a cara e fazer um filme daqueles, não fosse Nelson Pereira dos Santos quem é.

Gostaria muito de rever "Na Estrada da Vida" que, para mim, teve o impacto de uma revelação: bípede essencialmente urbano (embora já com uma quedinha para música nordestina), eu não tinha a menor idéia de que pudesse existir música sertaneja da qual eu pudesse gostar tanto.

Vocês assistiram "Dois Filhos de Francisco"? Gostaram? E, além do Ribondi, alguém ainda se lembra de "Na Estrada da Vida"?







Purgatório da beleza e do caos

Por que não vamos embora deste inferno?
Pelo muito de céu que ele preserva


Só para constar, mesmo: vocês já leram. Escrevi para cá no domingo, achei que poderia dar uma boa coluna e acabei publicando no jornal.

Durante as curtas férias que tirei com a Bia, consegui, pela primeira vez em muitos anos, me desligar completamente do mundo. Não vi televisão, não surfei pela internet e, por causa das línguas em que estávamos mergulhadas, mal e mal lia as manchetes dos jornais.

Tudo o que me interessava era o boletim meteorológico e o próximo passo que daríamos: para onde iríamos, como, em que condições? A grana seria suficiente? Mesmo quando viajo sem destino traçado, costumo fazer melhor o dever de casa do que fiz desta vez; mas fomos tão felizes que até os poucos contratempos que enfrentamos foram divertidos, como o achaque na Eslováquia e um hotel pavoroso em Praga, onde tomávamos café cercadas de armaduras, no aconchegante ambiente de uma prisão medieval.

* * *

O Brasil ficou muito longe, mesmo na primeira etapa da viagem, quando eu ainda estava trabalhando, mergulhada em telas de plasma e eletrodomésticos wi-fi. Às vezes recebia uma notícia ou outra através da área de comentários do blog ou de telefonemas para casa, mas consegui a proeza de passar duas semanas sem saber o que estava acontecendo fora das minhas redondezas geográficas. Era como se estivesse numa espécie de bolha inatingível, à prova de CPIs, mensalões, políticos corruptos, tragédias mundiais.

A bolha mágica foi estourada quase no fim da viagem, com a notícia da morte do Cesar, porteiro noturno de quem gostávamos muito. A tristeza nos trouxe a consciência do contraste, e nos jogou na cara, como um soco, a realidade que vivemos nesta terra de ninguém em que se transformou o Rio de Janeiro.

* * *

Muitas vezes, ao longo dos anos, assistindo a cenas de guerra pela televisão, me espantava com pessoas que insistiam em continuar vivendo no inferno. Não aquelas pobres pessoas destituídas, claro, que nascem e morrem sem qualquer poder de escolha; mas as de algumas posses, que em tese poderiam vender casa e carro, por exemplo, e recomeçar a vida em canto mais sossegado.

Enquanto eu me perguntava como alguém podia continuar a viver em Beirute ou em Jerusalém, minha própria cidade ia se encarregando da resposta. Salvo em guerras declaradas, o cerco da violência é sutil, gradual. Um dia é um assalto aqui, no outro uma morte ali. Mal reparamos quando começamos a evitar as linhas de ônibus mais perigosas, quando deixamos de sair a pé à noite, quando a uma da manhã já mal se vê gente em pontos onde, antigamente, esta era a hora em que a festa começava. O som dos tiroteios vai se integrando à cacofonia urbana, e passamos a achar normal o barulho dos fuzis e metralhadoras que vem dos morros.

Como é que alguém pode viver numa cidade odiada pelo presidente, abandonada pelos governadores e esquecida pelo prefeito? Como é que alguém pode viver numa cidade onde não existe mais segurança alguma, ou vestígios de qualquer coisa semelhante à ordem? Como é que se pode viver numa cidade tomada pela bandidagem e pelas ervas daninhas, suja e esburacada, cheia de mendigos, assaltantes e menores de rua que metem medo até na polícia? Como é que se pode viver numa cidade onde a polícia federal -- a polícia federal! -- é roubada diante de todos?!

Por que não vamos embora deste inferno para um lugar decente, onde se pode viver em paz, andar pelas ruas a qualquer hora do dia ou da noite e usar transporte coletivo sem risco de vida? Por que nos sujeitamos, de livre e espontânea vontade, ao descaso e ao cinismo das autoridades, à angústia, à violência?

* * *

Passei duas semanas na Europa vivendo como, em tese, deveriam viver todas as pessoas do planeta, andando pelas ruas sem medo ou desconfiança. Pude usar minhas câmeras e celulares, andei em bicicletas maravilhosas que jamais sonharia ter aqui, saí com meu relógio de estimação sem receio de que o levassem na primeira esquina.

Vivi duas semanas feito gente e, confesso, achei muito bom.

O problema é que não vivi na minha língua, não vivi na minha cultura, não vivi na minha querência. Ser turista é ótimo, mas ser estrangeiro não é.

* * *

O Rio nunca esteve tão mal, tão triste e tão desamparado; nunca estivemos tão por baixo, tão submissos e acabrunhados. Mas a geografia desta cidade está indelevelmente gravada no meu DNA, e a conversa das ruas é a trilha sonora da minha vida. Para não falar na familiaridade com a beleza, este raro privilégio que temos nós, cariocas, pelo simples fato de vivermos aqui.

Há gente que vem de todos os lugares para ver, por alto, o que nós conhecemos a fundo, o que é nosso e o que vemos e veremos todos os dias ? até que um pivete nos mate por uma bobagem, a polícia nos acerte por engano ou uma bala perdida nos encontre, só assim.

Hoje eu entendo quem morava em Beirute, quem vive em Jerusalém, quem insiste em não sair de Bagdá.


(O Globo, Segundo Caderno, 30.9.2005)






Socorro! Vou fugir antes da tormenta.










Obras na redacao









29.9.05




Oops... erro de revisao!










O papo ta bom la embaixo...

Para quem gosta das bizarras diferencas entre o portugues e o brasileiro, Recomendo o post do guarda-chuva. Aquele, tadinho, tao inocente.







Ferocidade máxima! :-)



Hoje os quero-queridos me botaram para correr, com vôos rasantes sobre a minha cabeça e uma gritaria que só vendo.

Fiquei muito feliz.

Finalmente estão aprendendo a proteger os ovinhos; nem consegui chegar perto do ninho para fotografar!



Reparem nos esporões cor-de-rosa em frente às asas: é com eles que defendem o lar. Estão bem equipads, né?

Amo quero-queros, em geral, mas este casal me conquistou para sempre. Como são destemidos e bonitinhos!





28.9.05


Lar doce lar










Adivinhem quem acaba de me dar um passa fora...










Tudibom

Gente, falando sério: vocês já viram o blog da Carolina Vigna-Marú? Se não viram, não sabem o que estão perdendo...






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O sistema de comentários deve estar passando por ajustes. Se vocês toparem com algo parecido com a algaravia do título, pois, não se espantem.






Aos meus pes










Mosca pensando na vida











Um post totalmente nerd

Graças aos blogs do Mario AV, em São Paulo, e da Mari Ceratti, em Brasília, aí estão os vários modelos do bolinho distribuído pela MS no dia do seu aniversário. Sei não, mas tenho a impressão de que o povo de Brasília (foto do meio) saiu no preju...






Adeus, amigos; olá, amigo!

Hoje passei parte do dia empacotando e devolvendo os meus companheiros de viagem para os respectivos fabricantes. Tive sorte com as maquininhas que levei na viagem: a Fuji Z1, em que eu punha pouca fé pelo design (a lente fica bem no caminho do dedo indicador da mão esquerda), acabou sendo uma grande revelação; a Kodak 550 fez os melhores filminhos que já vi uma digital fazer; e considero o Sony-Ericsson W800 o melhor celular atualmente disponível para quem quer ouvir música e tirar fotos, superior até ao meu querido Samsung D500.

No momento estou testando o Nokia 6681. Este não viajou comigo porque não descobri como pôr títulos nos MMS, isto é, nas imagenzinhas que mando pra cá. Continuo sem saber como fazer isso, mas em compensação descobri que é facílimo enviá-las por email. Não sei se isso sai mais caro ou barato; vamos precisar esperar a conta chegar para ver. Estou achando a qualidade das fotos muito boa.

Ele é um excelente smartphone, isto é, um telefone com alma de computador, capaz de ler qualquer arquivo do Office, acessar email, etc. Já carreguei nele toda a lista dos meus DVDs, por exemplo, o que evita compras duplicadas; também poderia carregar qualquer apresentação Power Point, caso precisasse.

Como todo Nokia, porém, ele é imbatível em dois quesitos fundamentais num celular: recepção de sinal e qualidade de som da voz. E tem uma frescurinha que estou adorando: quando está escuro, o teclado acende sozinho. Bonitinho!





27.9.05


Quem vai ao ar perde o lugar...










Vida literaria










Av. Presidente Vargas










Meu guarda-chuva... :-)










No trabalho










Chove, chove, chove










Emergência felina!!!

"Pessoal, acabamos de saber que o CCZ do Rio de janeiro recebeu 11 gatos, oriundos da Tv Record de Jacarepagua, capturados pela SEPDA e entregues ao CCZ.

Não temos lar temporários para todos, apenas para alguns. Alguém poderia receber algum gatinho de lá? Se algumas pessoas ajudarem, todos poderão ser resgatados. O CCZ é um lugar ruim para eles. São de facil adoção, merecem uma chance. A informação que eu tenho é que eles estão bem de saúde, eram acompanhados por protetores do local.

Todos nós sabemos como um gato fica rapidamente debilitado, com o estresse cai sua imunidade e logo adoece. Os gatos ficam deitados por cima de uma grade, pois tentam se esconder, pegam chuva, frio e escutam os cães latirem o tempo inteiro, quem tem gato sabe o quanto isso é estressante para eles.

Por favor, quem puder colaborar dando a um gatinho lar temporário, vai estar salvando a vida dele... Pq infelizmente só temos lugar até agora para os filhotes e três adultos.

Os que lá sobrarem ficarão em depressão e morrerão em breve....

Se alguém puder, por favor, entre em contato, pelo telefone [21] 9192-4824 ou pelo email bianca_lena@yahoo.com.br

Se não puder ajudar, pelo menos repasse essa mensagem, é muito importante. Grandes beijos,

Bianca de Lena"
Este é o "trabalho" que a SEPDA está fazendo: recolhendo animais para a morte certa no CCZ. Enquanto o secretário ganha seu rico dinheirinho e se diverte brincando de ator de novela, voluntários que realmente amam bichos, como a Bianca, vão à luta com os próprios recursos.

Acorda, prefeito! Larga o seu blog e dá uma olhada no que está acontecendo na sua secretaria, na sua cidade!!!






Cheques do Google

Alguém já descobriu como descontar? O que fazer com eles (não valem respostas de baixo calão!)?














Caixas & caixas

Com o friozinho que está fazendo, as caixas de papelão estão em alta. Agora à noite a Net estava tão bonitinha dormindo dentro de uma delas que eu não resisti; e nem a Tutu, que é o gato mais curioso e ciumento do planeta, e que saiu da caixa dela só pra assuntar.





26.9.05


Eu posso com isso?!

"Boa Tarde,

Passando rapidamente por este blog percebi o ocorrido e gostaria de disponibilizar meu telefone de contato para o Sr. Marcelo, tendo em vista a difamação que sofreu por pessoas que não foram capazes de se identificar, mas que demonstram relação íntima com a proprietária do blog, demonstrando, desta forma, o comprometimento desta última com o caso.

Gostaria de comunicar que as mensagens difamatórias sobre o Sr. Marcelo e sua identificação neste blog deveriam ser retiradas em virtude da preservação de sua imagem e privacidade.


Maura de Oliveira - 88255069
OAB/RJ 129.378"
Quer dizer: vinha essa dotôra passeando displiscentemente pela internet, quando viu um blog solto no espaço e resolveu dar uma olhadinha rápida no seu conteúdo.

Passou por 21 posts, 17 fotos de gatos, netos & diversos, leu todos os 672 comentários pertinentes a esses posts, e eis que chegou à famigerada crônica que comete a terrível barbaridade de pôr a Eslováquia no primeiro mundo.

Apesar de estar passando rapidamente pelo blog, a dotôra deu-se ao trabalho de ler, além de tudo o que já mencionei, os 247 comentários do dito post -- para então chegar à conclusão de que deveria oferecer os seus préstimos ao intelectual que tão gentilmente se dispôs a acabar com a nossa burrice e oligofrenia.

Agora imaginem só o tempo que ela não gasta quando se demora nos sites...

Pois vá fundo, dotôra, mande bala, arraste-me às barras dos tribunais.

Vai ser divertido.

Gastando seu precioso tempo com a leitura desse monte de bobagem na internet, direito que é bom a senhora não estuda há tempos.






Emergência canina!

Pessoas, há uma quantidade de cãzinhos simpáticos abandonados no CCZ. Se não forem resgatados logo, serão exterminados.

Dêem uma olhada nas carinhas deles: quem sabe alguém não se anima a adotar um novo amigo?






Entre céu e inferno

Durante essas curtas férias que tirei com a Bia, consegui, pela primeira vez em muitos anos, me desligar completamente do mundo. Não vi televisão, não surfei pela internet.BR e, por causa das línguas em que estava mergulhada, mal e mal lia as manchetes dos jornais.

Tudo o que me interessava era o boletim meteorológico e o próximo passo que daríamos: para onde, como, em que condições. Em geral faço melhor o dever de casa, mas fomos tão felizes que até os poucos contratempos que enfrentamos foram divertidos, como o achaque na Eslováquia e o hotel pavoroso em Praga.

O Brasil ficou muito longe, mesmo na primeira etapa da viagem, quando ainda estava mergulhada nas telas de plasma e nos eletrodomésticos wi-fi da Philips. Às vezes vocês me davam uma notícia ou outra aqui nos comentários, mas consegui a proeza de passar duas semanas sem saber o que estava acontecendo por aqui. Era como se eu estivesse numa espécie de bolha inatingível, à prova de CPIs, mensalões, políticos corruptos.

A bolha mágica foi estourada com a notícia da morte do Cesar, o porteiro noturno de quem a Bia e eu gostávamos muito. A tristeza nos trouxe a consciência do contraste, e nos jogou na cara, como um soco, a realidade que vivemos nesta terra de ninguém em que se transformou o Rio de Janeiro.

Muitas vezes, ao longo dos anos, assistindo cenas de guerra pela televisão, eu me espantava com as pessoas que insistiam em continuar no inferno. Não aquelas pobres pessoas destituídas, claro, que nascem e morrem sem qualquer poder de escolha; mas as de algumas posses, que em tese poderiam vender casa e carro, por exemplo, e recomeçar a vida num canto mais sossegado.

Enquanto eu me perguntava como alguém podia continuar a viver em Beirute ou em Jerusalém, a minha própria cidade ia se encarregando da resposta. Salvo em guerras declaradas, o cerco da violência é sutil e gradual. Um dia é um assalto aqui, no outro uma morte ali. Mal reparamos quando começamos a evitar as linhas de ônibus mais perigosas, quando deixamos de sair a pé à noite, quando a uma da manhã já mal se vê gente em pontos onde, antigamente, esta era a hora em que a festa começava. O som dos tiroteios vai se integrando à cacofonia urbana, e passamos a achar normal o barulho dos fuzis e metralhadoras que vem dos morros.

Como é que alguém pode viver numa cidade odiada pelo presidente, abandonada pelos governadores e esquecida pelo prefeito? Como é que alguém pode viver numa cidade onde não existe mais segurança alguma, ou vestígios de qualquer coisa semelhante a ordem? Como é que se pode viver numa cidade tomada pela bandidagem e pelas ervas daninhas, suja e esburacada, cheia de mendigos, assaltantes e menores de rua que metem medo até na polícia? Como é que se pode viver numa cidade onde a polícia federal -- a polícia federal! -- é roubada diante de todos?!

Por que não vamos embora deste inferno para um lugar decente, onde se pode viver em paz, andar pelas ruas a qualquer hora e usar transporte coletivo sem risco de vida? Por que nos sujeitamos, de livre e espontânea vontade, ao descaso e ao cinismo das autoridades, à angústia, à violência?

Passei duas semanas na Europa vivendo como, em tese, deveriam viver todas as pessoas do planeta, andando pelas ruas sem medo ou desconfiança. Pude usar minhas câmeras e celulares, andei em bicicletas maravilhosas que jamais sonharia ter aqui, saí com meu relógio de estimação sem receio de que o levassem na primeira esquina.

Vivi duas semanas feito gente e achei muito bom.

O problema é que não vivi na minha língua, não vivi na minha cultura, não vivi na minha querência. Ser turista é ótimo, mas ser estrangeiro não é.

O Rio nunca esteve tão mal, tão triste e tão desamparado; nunca estivemos tão por baixo, tão submissos e acabrunhados. Mas a geografia desta cidade está indelevelmente gravada no meu DNA, e a conversa das ruas é a trilha sonora da minha vida. Para não falar na familiaridade com a beleza, este raro privilégio que tenho só pelo acaso de ter nascido aqui.

Há gente que vem de todos os lugares para ver, por alto, o que eu conheço a fundo, o que é meu e o que eu vejo e verei todos os dias -- até que um pivete me mate por uma bobagem, a polícia me acerte por engano ou uma bala perdida me encontre, só assim.

Hoje eu entendo quem morava em Beirute, quem mora em Jerusalém, quem não sai de Bagdá.





25.9.05


Blog!

Meio maluco, meio nostálgico, mas interessante.











Tutu e a caixa

Os gatos amam as caixas de papelão que aparecem aqui em casa. Um dia, durante uma faxina, a Antônia pôs esta caixa (uma das favoritas deles) em cima da cadeira de diretor que fica ao lado da escrivaninha -- e inventou uma novidade que todos adoraram.

Tutu é a principal freqüentadora da caixa empoleirada. Adora o cantinho alto e protegido, e o papelão no qual investiu tantas horas de trabalho artístico.






Mais um albinho






Consegui juntar mais um grupinho de fotos: um resumo da viagem. Para ver, é só clicar na imagem.






Nossos classificados

Vocês se lembram da Margarida, a minha ex-assessora doméstica que estava precisando de emprego há algum tempo? Bom, ela arranjou emprego e foi muito feliz enquanto durou; mas agora a moça que era patroa dela viajou para os Estados Unidos e ela está disponível novamente.

A Margarida é, sem trocadilho, uma florzinha de pessoa. É de total confiança, e se dá muito bem com bichos e crianças. Cozinha um trivial mais do que simples, lê e escreve muito bem. O telefone dela é 2513-5219; ela mora em Copacabana.








Kelyndra

A Monica L pediu para ver uma foto da Kelyndra, a minha nora americana e mãe dos bipinhos lindos da foto abaixo.

Prontinho, Monica!

E olha, ela não é só essa boniteza toda não; é também uma pessoa inteligente, engraçada, simpática e, disparado, a mãe mais paciente que eu já vi.





24.9.05




Ai, que inveja...!

A super querida Paula Foschia viajou para o Texas hoje à noite, e vai passar dez dias exatamente em Austin, onde vivem os meus bipes d'além mar.

Esta é a turminha que ela vai abraçar por mim: tem coisa mais linda?!






Gosto porque gosto

Prontinho: divirtam-se... :-D






Obras em Copa










Não gosto porque não gosto

Povo, rola aí, alguns posts abaixo, uma interessante discussão -- inciada pelo Rbondi -- sobre coisas que a gente não gosta porque não gosta, ponto. Birras sem explicação.

Tá ótimo! E é um maravilhoso tópico de fim de semana. Sugiro, portanto, continuar aqui: mandem ver.






Ele voltou!!! :-)))


Update: O Mario AV, a quem este post refere-se, tinha um dos melhores blogs do pedaço. O rapaz é uma fera em design, sabe tudo de tipografia e caligrafia, artes marciais e zen budismo, e se interessa pelos assuntos mais variados, do catalão ao Mac.

Pudera não: cresceu na banca de jornais do pai, onde devorava tudo assim que chegava. Mais tarde herdou a banca, com a qual, ao que eu saiba, continua até hoje, indo trabalhar de bicicleta (em SP!), acompanhado de um dos cachorros mais lindos que já vi (Ribondi, não leia este pedaço pro Negão).

Aí, um dia, o Mario AV apaixonou-se. Todos ficamos muito felizes, porque a Adri, além de linda e simpática, é inteligente que só, e tem uma curiosidade tão malsã quanto a dele. O único problema é que, apaixonados, os dois fundiram os ótimos blogs que faziam num único, em que talvez até tenham falado de outras coisas, mas onde tudo o que encontrei durante muito tempo foram gracinhas de apaixonados.

Todas muito fofas e meigas mas, como bem observou a Leila, um tanto incômodas, pois davam a sensação de invasão de privacidade.

Os dois continuam apaixonados; não sei se continuam fazendo o blog a quatro mãos (sim, continuam); mas a blogosfera ganha muito, com certeza, com a retomada do blog individual pelo Mario AV.

Em tempo: ele foi o querido amigo que fez o template do internETC., isto é, foi ele quem deu a este blog a cara que vocês vêem. Que, verdade se diga, era bem mais clean quando saiu das suas mãos -- mas aí eu fui juntando um Flickr aqui, um selinho ali...






Nao resisti...










Missao cumprida









23.9.05


Ainda no trabalho










Sampa, by Red Bull

"Os brasileiros são conhecidos por sua intensa "joie de vivre" e uma teoria para explicar isso é que viver no Brasil carrega um alto "risco de mourir". Quando o GP veio para São Paulo, bastava pisar fora do aeroporto para que se visse no pulmão de alguém que a pessoa tinha passado a vida toda numa mina de amianto.

Hoje, a poluição foi drasticamente reduzida, começando pelo lado pessoal, já que os maços de cigarro mostram os avisos mais preocupantes do mundo, com fotos de pulmões afetados, bebês prematuros em um pote e crianças usando inaladores. O fato de o sistema de tráfego da cidade ter melhorado trouxe um novo perigo, visto que os veículos iam a 1 km/h e agora eles podem andar. Isso significou que eles aprenderam a virar o volante e mudar de marcha com os joelhos, já que eles precisam das duas mãos para fazer gestos obscenos e falar ao celular. Todos os motoristas se consideram no nível de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Ayrton Senna, mas nenhum guia como eles.

Parte dessa cidade parece uma cena da Divina Comédia de Dante, mas os contos de ataques, assassinatos e destruição foram exagerados, pelo menos fora do paddock! Apesar de todos os perigos, há algo maravilhosamente infectado no lugar, e não é a água de torneira. Na teoria, eles recomendam não beber a água, evitar saladas e garantir que sua carne é cozinhada como se fosse a Joana D'Arc de manhã depois de um britânico ter oferecido um churrasco a ela. Na prática? Viva a vida, caia fora e se divirta.

Ser um vegetariano é contra a lei no Brasil e todos os cidadãos quase comem o peso de seu corpo em carne, porco, carneiro e frango toda semana em churrascarias em todo lugar. Vá a uma e assista como um exército de garçons carregando espetos lotados de carne chegam à sua mesa. Se tiver um sistema cardiovascular e estiver bom, vai estar no seu prato. Os garçons vivem nas periferias da cidade e eles têm permissão para levar os espetos para casa à noite para brigarem com os assaltantes.

Houve muito choro do pessoal da F-1 quando tiveram de deixar as belezas das praias do Rio para irem a São Paulo, mas os veteranos de corrida bebem tanta caipirinha que se esquecem disso -- eles se esquecem até do que estão bebendo. De fato, a caipirinha, um coquetel de pinga que é mais sedutor do que a Michelle Pfeifer deitada num piano ou a Cameron Diaz fazendo coisas com seu gel de cabelo, tem mais do que um chute do Bruce Lee, e o que deixa você numa enrascada nessa cidade louca: quanto mais você bebe, mais bonitos parecem os travestis e as mulheres da noite.

Mais seguro do que se misturar com essa gente é uma viagem a um clube de jazz onde você pode ouvir os famosos sons do samba e os trabalhos de Gilberto, Jobim e Baden Powell, embora o que o pai do escotismo estava fazendo quando se tornou um músico é um dos grandes mistérios do maior país da América do Sul."
A Deize achou aqui.

O que será que eles andaram bebendo, Flying Horse?






A MS fez anos e mandou um bolinho...






(A versão paulista do bolinho está no Mario AV.)






Ontem de tarde










Pipoca e' pop!









A garça foi desenhada pelo Dudi num Palm, pode isso?!

Alguém já tentou fazer um desenho delicadinho assim naquilo?!













Hoje à tarde fiz essas fotinhas, mas o telefonino está com um problema qualquer e não consegue mandar os MMS.





22.9.05




A lei e a ordem no Primeiro Mundo

Voltando um pouco no tempo e no espaço, um pequeno Ford Fiesta, dirigido por duas intrépidas brasileiras, chegou, tarde da noite, à minúscula localidade de Rajka, na fronteira da Hungria com a Eslováquia. O guarda louro, alto, de olhos azuis e impecavelmente trajado -- a própria imagem da autoridade -- pegou os passaportes e conferiu as fotos. Depois apontou para o carro:

-- Trstzvstz sticker?

-- I beg your pardon? -- disse a senhora ao volante.

-- Sticker strvzstjic.

-- Hein?

-- No sticker.

Aparentemente, faltava um sticker, ou seja, um adesivo, em bom eslovaco. Mas que raios de sticker? E para quê? O guarda fez sinal para que estacionássemos na área apropriada e o acompanhássemos à salinha da alfândega. As duas brasileiras, nem preciso dizer, éramos a Bia e eu, já no caminho de volta. Estávamos no meio do nada, numa escuridão de breu, quebrada apenas pelas luzes do posto da alfândega. Na salinha acanhada, o guarda entregou nossos passaportes a um colega igualmente imponente, que se dirigiu a nós com grande cortesia e clareza:

-- Trstwzstri strwzjvçi sticker. Trsjvzci?

-- Sorry, we don't understand. Do you speak English?

-- Ne.

-- Italiano?

-- Ne.

-- Français?

-- Ne.

O guarda conferiu os passaportes sem pressa, olhando os carimbos. Tudo o que conseguíramos entender é que, ao que tudo indicava, estávamos numa fria por causa de um sticker. Depois de um diálogo de surdos travado em gestos e consoantes, apareceu um terceiro guarda, que produziu um papelucho xexelento e meio rasgado, onde se lia, em várias línguas identificáveis, que, para circular pelas estradas locais, era necessário um certo sticker colado no parabrisa. Este terceiro guarda era um poliglota.

-- You no sticker. Sticker good one year. No sticker ten sticker fine.

Ah: o sticker valia por um ano. Sem sticker, multa equivalente a dez stickers. Segundo a autoridade, o sticker custava uma quantia de coroas que, convertida, correspondia a quase 29 euros. O guarda desenhou um quadradinho num papel ainda mais seboso do que o outro e apontou com o lápis:

-- Sticker! Trsjvzci?

Sim, sim, isso havíamos entendido. Ele riscou o quadradinho.

-- No sticker. Trsjvzci? 286 euro.

-- O QUÊ???????????????????????!!!!!!!!!!!!!

-- No sticker, 286 euro.

-- I don't have money, no tiengo plata, pas d?argent, trsjvzci?

-- Ne sticker, 286 euro.

-- Do you accept credit cards? Visa, Mastercard, Diners?

-- No. Euro.

Nesse instante, a Bia, que vinha acompanhando o diálogo com o respeito devido às autoridades de um país sério, chegou à correta decisão de que aquele não era assunto para amadores.

-- Mãe! Você está doida?! Eu cuido disso.

Ato contínuo, fez cara de quem ia desatar em prantos e assumiu a liderança das negociações.

-- We Brazil. No money.

Tomou o lápis do guarda e o papel seboso, escreveu NO MONEY e desenhou uma carinha triste. Em seguida tirou um real horrível, todo amassado, de dentro da bolsa.

-- See? Brazilian money. No euro.

Os guardas se entreolharam, riscaram os 289 euros que tinham escrito no papel e escreveram 120.

-- 120 euro. We like Brazil good!

-- Brazil good sim, -- disse a Bia -- mas money que é bom nós num have. Ronaldinho!

Os guardas riram. Isso eles trsjvzci.

-- Pelé!

-- Pelé! -- exclamou a Bia, como se tivesse ouvido o Terceiro Segredo de Fátima. Um dos guardas riscou os 120 euros e escreveu 80. A Bia riscou, escreveu 40 e fez um gesto tipo ?fechamos em quarentinha e não se fala mais nisso?.

-- Roberto Carlos!

Eu não duvidava mais de nada, mas mesmo assim não me contive:

-- Bia, esses caras nunca ouviram o Rei!

-- É outro Roberto Carlos, mãe...

Isso com uma lágrima cinicamente escorrendo pelo rosto, junto com um sorriso cândido e ingênuo para os guardas. Que, imaginem só, toparam a parada. A Bia entregou uma das notas de 50 euros que tinha na bolsa.

-- Thank you -- disse o guarda.

-- Thank you nada, mané, falta o troco. Ten euro!

-- Trstzcvjic prstzcjv sprztjc euro -- disse um dos guardas para o outro, que tirou a carteira do bolso e, conforme o combinado, deu o troco. Nossos passaportes nos foram devolvidos, junto com a nota de um real.

-- No, no, you keep this! -- disse a Bia, devolvendo o real. -- Brazilian money. My gift. For luck. Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Robinho!

-- Pelé! Roberto Carlos!

Os guardas nos levaram até o carro, a cordialidade em pessoa. O poliglota nos recomendou vivamente que comprássemos o sticker tcheco, porque os tchecos, explicou, são conhecidos ladrões, e sem o sticker teríamos um big problem pela frente, trsjvzci?

-- Trsjvzci! -- exclamou a Bia, dando adeusinho. Tenho até medo de perguntar qual foi a praga que ela rogou naquela nota de real que deixou com os guardas; e nem ouso imaginar o que nos teria acontecido se eles soubessem que eu estava sem a carteira de motorista.


(O Globo, Segundo Caderno, 22.9.2005)









Novo álbum de fotos!

Aos poucos, espero conseguir arrumar todas as fotos da viagem; com sorte, até o Natal talvez eu já esteja com a metade do serviço pronto... ;-)

Acabei de subir um albinho com as fotos da visita ao Zoo lá pro Flickr.

Para ver a coleção, é só clicar no gostosão aí de cima.






Emergência Felina!!!

Recado da Leila:
Uma moça está doando um gato de um ano e meio, castrado, super mansinho, amarelo e branco. Ele era do avô dela, mas o senhor morreu e ela não tem como ficar com ele. A mãe queria levar pra SUIPA, ou então (!!!) soltar na rua...

O pobrezinho fica o dia inteiro no apartamento que foi do avô e que daqui a poucos dias, vai ser vendido. Vão lá dar comida e água pra ele, mas depois ele fica lá, sozinho...

Ela mora na Tijuca, no Rio. Quem souber de alguém que possa ficar com o gatinho, por favor escreva para sejane_rj@yahoo.com.br





21.9.05


Já vai tarde

Que figura patética, este Severino. Como é que uma criatura dessas chega à presidência do que quer que seja?!

"Empobrecimento ilícito", francamente...






Interessante!

Gostei da idéia, vejam só.

Em tempo: é tecnologia, e está em inglês. Só para a turma que não gosta do tema não se desapontar ao abrir o link...






Espaço da Bia

Queridos José Antônio, Lucas e Ribondi (os nomes estão em ordem alfabética):

Agora que o jet-leg já deu uma aliviada, passei todo o dia de ontem pensando e me aconselhando com o meu personal consultor sentimental.

À meia-noite fui dormir, feliz com a escolha a que tinha chegado: o meu par perfeito, a minha alma gêmea, a minha cara metade.

Foi uma noite linda, e eu só esperava acordar, às oito, para correr para o computador e dar a notícia ao meu eleito -? mas infelizmente o telefone tocou às sete trazendo notícias do mundo real.

O meu personal descobriu que ainda não estou divorciada legalmente; assim, por enquanto, não posso divulgar o nome que trago no coração, nem me casar com ninguém.

Devo dizer, contudo, que fiquei muito sensibilizada com todas as poesias que o Lucas compôs (Lucas, ninguém resiste a um bom brega!), com a comunidade criada pelo José Antônio (que também escreve muito bem) e com os textos geniais do Ribondi (que amo desde criancinha).

Vocês três são maravilhosos e, no fundo, devo confessar que não fiquei de todo infeliz com o detalhe do divórcio, porque, apesar de ter feito uma escolha excelente, eu viveria para sempre na dúvida do que poderia ter sido a minha vida caso tivesse sido outra a opção.

Perdi noites e noites de sono pensando nesta árdua escolha, mas em compensação ganhei uma baita massagem no ego.

Adoro vocês!

Bia





20.9.05


Lucas










Mosca e Tutu, sempre juntos










Arqueologia via Google

Recebi um ótimo email do Jayme Aranha, contando uma história sensacional: estudando a região onde mora no Google Earth, um italiano descobriu as ruínas de uma vila romana desconhecida até então.

O caso virou assunto da Nature, e foi, claro, descrito pelo próprio Luca Mori, autor do achado, no seu (dele) blog, Quelli dellla Bassa.

Como vocês vêem, o passado tem um magnífico futuro na internet...






Os danos da proibição de armas publicação apressada de artigos no blog

Postei isso aqui ainda agora:

A juíza Denise Frossard levanta pontos muito importantes aqui.

Vale a pena ler:
O bom senso, sob o fogo cerrado da proposta de proibição do comércio legal de armas, pode ser mais uma das vítimas da ingenuidade ou violência branca da demagogia.

O que se pretende com a proibição? Reduzir a criminalidade é a resposta, tão imediata quanto impensada, que nos vem à cabeça. Mas é uma resposta equivocada. A proibição do comércio legal de armas não fará recuar nem um milímetro a ousadia do crime (organizado), não baixará a taxa de delinqüência das ruas nem mesmo trará o conforto de diminuir a sensação de insegurança que, hoje, atinge em graus variados a sociedade brasileira.

A proibição do comércio legal de armas, como o simples aumento de penas, a mudança do fardamento da polícia, tantas outras medidas (anunciadas ou já implementadas), tem sobre a criminalidade o mesmo efeito de um arco-íris no céu: uma ilusão bonita aos nossos olhos.

No caso da proibição do comércio de armas, a falsa sensação produzirá, no entanto, um efeito danoso: retirará do Estado a possibilidade de controle (ainda que frágil, como agora) e dificultará ainda mais a investigação de crimes praticados com esse recurso.

Proibida a comercialização, o Estado não terá mais instrumentos para o controle da circulação de armas. Como a sensação de insegurança persistirá, porque as verdadeiras causas da criminalidade (corrupção e impunidade) não são resolvidas em razão das deficiências do Estado, o mercado inteiro de armas de fogo irá para a clandestinidade.

As provas desse argumento são muitas. Uma delas está no documento "Fiscalização de Armas de Fogo e Produtos Correlatos", publicado pela imprensa, elaborado pelo coronel de infantaria Diógenes Dantas Filho, que em conjunto com o Ministério Público Militar Federal, articulou uma ação policial militar para apreensão de armas clandestinas no Rio de Janeiro. O trabalho mapeia as rotas utilizadas pelo tráfico de armas e confirma a existência, em circulação, no Brasil, de 20 milhões de armamentos sem registro, em contraposição a 2 milhões de armas registradas.

É uma absurda ingenuidade de uns (e razões suspeitas de outros) imaginar que, diante da proibição do comércio legal, ninguém mais comprará ou deixará de portar armas. O mercado não vai estancar simplesmente porque o Estado proibiu a comercialização. Historicamente não tem sido assim.

Quem não se lembra da Lei Seca, nos EUA, ou da reserva de mercado de informática, no Brasil? Nos dois casos, e em muitos outros que a experiência de proibições comerciais mundo afora construiu, cresceu o mercado clandestino e o contrabando. Esse é o terreno fértil para aumentar a corrupção.

A medida certa está no controle da fabricação e do porte de armas de fogo, e não na proibição da comercialização. Nesse ponto, é bom retirar do debate a idéia equivocada de que os que são contra a mera proibição estão no pólo oposto da argumentação, propondo "às armas, cidadãos". Não é assim. Acredito na eficiência da regulamentação e no controle rigoroso da fabricação, do porte e da importação de armas. Acredito na responsabilização direta e penal de todo aquele que, mesmo não portando armas, estimule o porte ilegal. Venho defendendo publicamente esses pontos de vista desde o começo dos anos 90.

O caminho do controle foi tomado em fevereiro de 1997, com a edição da lei 9.437, que estabeleceu condições para o registro e o porte de armas de fogo e, mais relevante, configurou como crime possuir, deter, portar, fabricar, adquirir, vender, alugar, expor à venda ou fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder (mesmo que gratuitamente), emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda e ocultar arma de fogo, de uso permitido, sem a autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar.

Até 1997, o porte ilegal de armas era uma simples contravenção penal. A partir de então, com a lei 9.437, passou a ser crime, com pena de prisão. Recentemente, o Senado melhorou ainda mais a lei, aprovando um projeto que, entre outras medidas, torna o porte ilegal de armas um crime inafiançável. A proposta do Senado será submetida à Câmara, onde terá o meu apoio.

Apesar de não produzir resultados efetivos para o esforço de redução da criminalidade, que, comprovadamente, tem causas mais graves, a proposta para proibição do comércio legal de armas acabará sendo apresentada à população como um milagroso remédio. E nisto está o segundo, e talvez mais importante, equívoco. Sendo aprovada a proposta e em nada resultando no que concerne à necessidade de redução da criminalidade, veremos aumentar a incredulidade da população com as medidas que venham do Estado. Com isso, continuaremos perdendo um importante aliado na luta contra o crime: a confiança do cidadão no Estado.

Mas, oops, o artigo é antigo, de 2003. A juíza mudou de opinião:
Porque vou votar sim para o desarmamento

No início de 2003, quando tomava corpo o debate sobre o desarmamento, duas posições radicais e antagônicas estavam presentes. Uma defendia a pura, simples e integral proibição do comércio de armas, porque isso provocaria redução substancial da criminalidade, e a outra patrocinava o comércio completamente livre, sem amarras legais, porque andar armado seria um direito do cidadão sobre o qual o Estado não deveria intervir e, em defesa dessa sua tese, apontava-se um absurdo argumento da possibilidade de aumento da criminalidade no caso da proibição.

Chamada ao debate, em maio daquele ano (2003), preparei um artigo que ganhou o título ?Os danos da proibição?, no qual defendi a regulamentação do porte de armas e falei do risco de se proibir sua comercialização de maneira integral e completa. Elogiei a legislação que melhorava o controle e limitava o porte de armas de fogo e alertei a população para a necessidade de cobrar a adoção de medidas complementares, porque a simples proibição ou regulamentação, sem outras medidas, não produziria os reflexos esperados sobre os números da criminalidade.

Depois de apresentar dados do mercado clandestino de armas e falar das experiências da Lei Seca e da reserva de mercado de informática, que estimularam o mercado negro de bebidas e computadores, afirmei: ?(...) é bom retirar do debate a idéia equivocada de que os que são contra a mera proibição estão no pólo oposto da argumentação, propondo ?às armas, cidadãos?. Não é assim. Acredito na eficiência da regulamentação e no controle rigoroso da fabricação, do porte e da importação de armas. Acredito na responsabilização direta e penal de todo aquele que, mesmo não portando armas, estimule o porte ilegal. Venho defendendo publicamente esses pontos de vista desde o começo dos anos 90. O caminho do controle foi tomado em fevereiro de 1997, com a edição da lei 9.437(...). Recentemente o Senado melhorou ainda mais a lei, aprovando um projeto que, entre outras medidas, torna o porte ilegal de armas um crime inafiançável. A proposta do Senado será submetida à Câmara, onde terá o meu apoio.?

Quem reler o artigo ?Os danos da proibição?, comparando-o com o Estatuto do Desarmamento, que nasceu sete meses depois, encontrará coincidências evidentes, porque, em maio, eu pedia a regulamentação e a limitação do porte de armas de fogo, o que aconteceu, em dezembro, com o Estatuto do Desarmamento.

O Estatuto do Desarmamento, o referendo, a lei 10.867, de 12 de maio de 2004, e o decreto 5.123, de 1 de julho do mesmo ano, surgiram na direção do bom senso que sempre defendi, um sentimento que percebi quando escrevi, no término do artigo ?Os danos da proibição?: ?A proposta do Senado será submetida à Câmara, onde terá o meu apoio.?

Sinto-me obrigada a retornar ao assunto, porque, na internet, claramente com o objetivo de confundir, numa atitude de baixa política e de leviano comportamento, circula o artigo publicado em maio de 2003, que está disponível em minha página na internet. Circula com um tom que não lhe dei e com um sentido que não tinha e não tem, para atribuir a mim, a partir do título, ?Os danos da proibição?, a preferência pelo ?não?, na resposta ao referendo. Com as mesmas intenções, um jornal do Rio de Janeiro, sem previamente me ouvir, resolveu, há poucos dias, republicar o artigo. Sei quem o fez, porque mandei apurar.

Perdem tempo com este jogo bobo, porque a minha opção pelo desarmamento é clara, indiscutível, e está demonstrada até pela minha decisão pessoal de nunca andar armada, mesmo tendo porte legal e passado por momentos na vida em que muitos aconselhavam o contrário.

De maneira definitiva: votarei ?sim? no referendo, e com o meu voto estarei confirmando a minha opção pelos dispositivos do Estatuto do Desarmamento e das leis que limitam e regulamentam o porte de armas de fogo.
Fica, pois, o (meu) dito ("estou com ela e não abro") pelo não dito.

Não concordo com a juíza; aliás, discordo frontalmente.

Por acaso gosto de armas, me diverti muito quando era criança e adolescente fazendo tiro ao alvo com o meu avô, e acho que esta medida imbecil terá um único efeito prático: tornar as armas inacessíveis aos cidadãos de bem, justamente aqueles nas mãos dos quais elas pouco ou nenhum mal causam.

Sou radicalmente contra a proibição do comércio legal de armas, entre outras coisas porque, como todos sabem, não é nele que as quadrilhas e os traficantes se abastecem.






Lucas e a cadeira estranha









19.9.05


Mosca, Tutu e o pacote grande










Ninguém é bom por nada...

O Ribondi escreveu um texto tão bonito e delicado nos comentários que eu não quis correr o risco de que passasse despercebido de vocês.
"Aquele negócio que aquele moço disse lá no outro post sobre pretos e problemas sociais -- que bobagem. Cair na farra, brincar com gatos e cães, beijar na boca, gozar até revirar os olhos, comer comida boa (eu disse boa e não necessariamente cara), viajar pro fim do mundo ou até ali na casa da avó da gente são das boas coisas da vida. Ficar satisfeito não aliena ninguém.

E eu disse ficar satisfeito porque, sim, acho que a felicidade é coisa mais complicada. Ser feliz sozinho é matematicamente impossível porque a felicidade é conta de somar sem nove fora: ou vai todo mundo ou não vai ninguém.

Por que? Quem explica isso de maneira irrevogavelmente brilhante é o poeta Newton Braga, irmão de Rubem Braga -- sendo que o Rubem, que foi pro Rio, ficou famoso e o irmão, que nunca saiu de Cachoeiro de Itapemirim, só era conhecido da gente lá mesmo. Na praça de Cachoeiro tem o busto dele e, na placa de mármore ao lado, um poema que eu lia todo dia a caminho da escola, com palavras que ficaram pra sempre impressas em mim, e que era assim:

"A sensibilidade,
esta antena delicadíssima,
me ligando a todas as dores do mundo,
e que me fará morrer
de dores que não são minhas."

Pela oportunidade de todo dia passar em frente ao busto do Newton Braga e ler esse poema aí, e só por isso, eu acho que tive uma baita de uma sorte de ter crescido lá em Cachoeiro."






A velha e boa TV

(Ai, não é que ia me esquecendo da coluna?)
Às vezes, a impressão que se tem é de que as copas do mundo existem única e exclusivamente para dar uma força à indústria de televisores. Na IFA 2005, pelo menos, era impossível fugir desta sensação. Apesar da profusão de gadgets e objetos diversos em exposição, as telas planas de grande formato dominaram o ambiente. As letras que movem este mundo são HDTV, a sigla para TV de alta definição.

É que a Copa de 2006 promete entrar para a História como a primeira em que os jogos serão transmitidos, em sua totalidade, em alta definição. Para nós, brasileiros, que sequer chegamos a uma decisão em relação ao padrão que será adotado no país, o sonho pode parecer distante; na Europa, a realidade é concreta.

Não há um único fabricante que já não tenha uma linha de aparelhos HD-ready, ou seja, prontos a captar as transmissões em alta definição. Até que as emissoras abertas estejam transmitindo em HD, em 2010, o consumidor já pode assistir filmes que praticamente não deixam a dever ao que se vê no cinema; e podem gravar e exibir seus próprios vídeos em altíssima definição.

Emissoras a cabo -- como Sky, Astra, Premiere e Canal+ -- já estão fazendo transmissões experimentais.

A diferença para os padrões a que estamos acostumados é abissal, mais ou menos como a que se vê entre uma fotinha singela de telefone celular e uma foto caprichada feita numa câmera de muitos megapixels.

Mas os aparelhos mais sofisticados em exibição não fazem só transmitir. Eles também permitem a gravação de programas, como Sky Plus brasileiro, embora reproduzir a gravação ainda seja tabu por causa do berreiro que vem sobretudo de Hollywood, da MPAA -- a esclarecida associação dos produtores de cinema que, um dia, já quis proibir a fabricação de aparelhos de videocassete, porque, nas palavras de Jack Valenti, seu presidente, eles "arruinariam a indústria do cinema".

Estava tão enganado o senhor Valenti (como de hábito) que, ao contrário, o videocassete acabou provando ser a salvação da lavoura cinematográfica, com a proliferação das locadoras e de usuários interessados em manter suas próprias videotecas.

O cipoal em que se transformou a questão dos direitos autorais está afetando diretamente o desenvolvimento da tecnologia -- e não só a dos aparelhos de TV. Como este é um continente onde a leitura é hábito geral, há muita grita por parte das editoras. A União Européia lida com 25 diferentes sistemas de direito autoral, boa parte dos quais funciona através de associações como o nosso Ecad, isto é: um escritório central recolhe o que supõe que os usuários estão consumindo, e distribui de acordo com o que imagina ser justo.

A falta de transparência é absoluta. Na Alemanha, o suposto valor das cópias a serem feitas pelo consumidor, já embutido nos equipamentos, pode adicionar cerca de 75 euros a um conjunto de PC e impressora dos mais simples; na Espanha, por causa do mesmo raciocínio, copiadoras, que poderiam custar menos de 80 euros, não saem por menos de 130.

Neste momento, a grande briga da EICTA, a associação de fabricantes de sistemas de informação, tecnologia da comunicação e eletroeletrônicos é a criação de um sistema único, baseado em DRM (Digital Rights Management), que permita ao usuário fazer cópias de acordo com os termos das licenças do que quer copiar.


(O Globo, Info etc., 19.9.2005)






As tendências da IFA


WI-FI: Palavra-chave, quase sempre associada a Bluetooth. Um aparelho sem capacidade de comunicação com outros aparelhos é uma criatura aleijada.

TELAS de plasma de 65 polegadas em diante. Lindos sonhos, ainda inviáveis para a maioria dos bol$o$.

MÚSICA e entretenimento móvel, sempre, o tempo todo. Leia-se players de MP3, consoles de games, celulares capazes de transmitir programação de TV.

BLU-RAY, os sucessores dos CDs e DVDs, com capacidade para 25Gb e 50Gb. Ninguém precisa entrar em pânico: praticamente todos os fabricantes propõem backwards compatibility, isto é, a leitura dos CDs e DVDs existentes pelos aparelhos de leitura e gravação de discos Blu-Ray.

TVS INTERATIVAS: Um velho sonho da indústria, desta vez em versões acasaladas com celulares.

NOTEBOOKS que funcionam também como receptores de TV. Já não era sem tempo!

CELULARES em pé de igualdade com players de MP3, com mais de 4Gb de espaço de armazenagem.

CELULARES COM CÂMERAS que já podem ser chamadas de câmeras, com boas lentes e mais de 2 megapixels de resolução.

(O Globo, Info etc., 19.9.2005)






Pára de complicar!

Na sua edição de 3 de setembro, a revista "The Economist" deu uma descascada no conceito de "casas inteligentes", ou "casas do futuro", como volta e meia são apresentadas. Observava, com razão, que tudo o que se tem feito nesse sentido no Vale do Silício é a busca de alternativas para o mercado corporativo, que já está consolidado, e onde não existem mais lucros astronômicos a conquistar a curto prazo.

O problema, porém, é que o usuário final está muito bem como está, e não quer mais tecnologia. Quer menos.

A "casa do futuro" é mesmo uma obsessão de todos os laboratórios de tecnologia que conheço. Todos, sem exceção, têm espaços que simulam o que seria a vida num espaço "inteligente" e conectado, onde tudo converge para uma estação de controle e onde todos os problemas se resolvem, magicamente, a um estalar de dedos. É tudo muito interessante e acho até que, em casos excepcionais, pode funcionar.

Dizem que na casa de Bill Gates sensores reconhecem as visitas pelo crachá e automaticamente tocam suas músicas favoritas; mas sinto arrepios só de pensar nessa espécie de Neverland hi-tech onde visitas têm que usar crachá.

Na vida real, onde nove em cada dez pessoas têm problemas para programar o videocassete, o conceito esbarra naquele pequeno detalhe que tanto atrapalha o desenvolvimento da alta tecnologia: o ser humano, este bípede tonto que prefere acender e apagar a luz através de interruptores antiquados a usar o controle remoto de uma estação central, em que há um programa sofisticadíssimo especialmente desenvolvido para isso.

Na época em que esta "Economist" chegou às bancas, eu estava, coincidentemente, visitando mais uma "casa do futuro", onde, por acaso, vi duas ou três coisas que me pareceram, mais do que viáveis, até cobiçáveis. Eu estava em Eindhoven, Holanda, num dos laboratórios da Philips -- e isso é que fez a diferença.

É que, ao contrário dos outros laboratórios que já visitei, orientados para um mundo que gira em torno de computadores, este desenvolve, tradicionalmente, eletrodomésticos. E descobri que a visão de quem faz computadores e a de quem faz aparelhos para o lar é muito diferente.

A "casa do futuro" da Philips não impressiona como ficção científica, mas tem um fio-terra que mexe naquele ponto do cérebro que leva direto ao talão de cheques. A primeira coisa que vem à cabeça de qualquer um que vê uma imensa tela de plasma de alta definição é: "Eu quero!".

Outra pequena maravilha da casa era um espelho de banheiro onde uma tela inobstrusiva num dos cantos pode apresentar o telejornal, conectar-se diretamente ao canal do tempo na web ou, horror dos horrores, mostrar o peso da criatura que o contempla. A mágica se faz através de um sensor posto no tapete, combinado a um leitor de altura que, à primeira vista, parece apenas um minúsculo e inocente facho de luz azul.

Esta inconveniente propriedade do espelho, nem preciso dizer, pode ser desligada a um simples toque de tela. Na verdade, toque de margem de tela, para evitar que os dedos a manchem. Bacana, né?

* * *

No seu discurso de abertura da IFA, uma das maiores feiras mundiais de eletroeletrônicos, que se realiza anualmente em Berlim, Rudy Provoost, CEO da Philips, voltou a bater na tecla da usabilidade:

-- Já vimos muitas novidades tecnológicas em que a tecnologia é um fim em si mesma; quando, na verdade, a simplicidade é que deve estar no centro da experiência do consumidor. Os resultados das nossas pesquisas e o nosso conhecimento do que os consumidores desejam indicam que o público está cansado. Cansado de não saber gravar um programa de televisão, cansado de gastar horas lendo um manual de instruções, cansado de complicações desnecessárias. A verdade é que as nossas vidas já são complexas demais. Queremos simplicidade no nosso relacionamento com a tecnologia, uma tecnologia que dá conta do serviço em vez de chamar a atenção para si mesma, que dá conta do recado sem que a gente sequer perceba que está lá.

Convenhamos: não há como discordar disso.

* * *

Na verdade, esta simplicidade é o Santo Graal de todo mundo da área, mesmo dos alpha geeks do Vale do Silício. Conceitos como "computação ubíqua" ou "computação pervasiva" vêm sendo debatidos há décadas; no legendário Parc, da Xerox, a "computação invisível" é objeto de estudos desde princípios dos anos 80.

A idéia por trás de tudo isso é sempre a mesma: uma tecnologia tão integrada à vida humana que "desapareça" no ambiente -- mais ou menos como os interruptores de luz, ou mesmo os aparelhos de TV.

Os domínios do tempo, que é o senhor da razão, também se estendem ao mundo da alta tecnologia. Um dia, ela estará tão desenvolvida que sequer será tida como alta tecnologia, mas sim como um fato corriqueiro da vida. Assim foi com a água corrente, com a luz elétrica e mesmo com as canetas esferográficas -- todas, em seu tempo, objeto de maravilha e deslumbramento.

Por enquanto, sempre encantada com a tecnologia que me cerca, continuo achando feitiçaria tirar fotos do celular e mandá-las direto para o blog, de onde quer que esteja, ou parar num caixa eletrônico no Centro de Budapeste, inserir um cartãozinho vagabundo, apertar três botões e ver dinheiro jorrar aos borbotões na minha mão -- esquecida da mágica de verdade que vou ter que fazer quando voltar para casa e tiver que cobrir o rombo no banco...

(O Globo, Info etc., 19.9.2005)






As férias, em animação!

Não percam, é um lindo filminho feito pelo Eduardo Stuart: muito obrigada, querido!

Aliás, assim que eu tiver um tempinho, vou fazer um scrapbook com tudo o que esta viagem rendeu nos comentários: músicas, blog pra Bia, fotos dos quero-queros, receitas diversas, poemas...

Agora, para me mostrar que o que é bom dura pouco, a agenda se abriu aqui na máquina e berrou:

DENTISTA!!!

* suspiro *

Pronto, voltamos mesmo à realidade.

Para completar o choque, só falta chegarem as contas dos cartões de crédito.

Fui!






Reina a paz...










Volta ao lar
















:-)))))

Estou completamente jetlagada; já brinquei com os gatos, dormi, acordei, brinquei com os gatos, arrumei coisa, brinquei com os gatos, jantei com Mamãe e Laura, brinquei com os gatos -- sem saber direito quem sou, de onde vim, para onde vou e qual é a companhia aérea que vai me levar.

Mas, no meio da tarde, vejam que delícia de surpresa!!!

Com este gatinho lindo, veio a única coisa da qual tenho certeza absoluta neste momento: adoro vocês!

Muito obrigada, de verdade.

Não há nada como voltar para casa e receber o carinho dos amigos.

E agora vou dormir de novo, que mal agüento ficar de olho aberto.

Bom dia, gente; tenham todos uma ótima semana!





18.9.05


Lar, doce lar!

Depois de um vôo muito tranqüilo, chegamos sãs e salvas, ainda que muito cansadas. As nossas malas, que vieram no avião de ontem -- tinham sido embarcadas em Berlim, estavam no fundo do conteiner e seria impossível retirá-las de bordo -- TAMBÉM chegaram, e nos aguardavam fielmente numa salinha do aeroporto.

Aqui em casa, passamos um tempão conversando com a Família Gato, tentando explicar a eles que a viagem não foi um ato de mesquinharia covarde em relação a eles, e que sim, que continuam, como sempre estiveram, no centro das nossas atenções.

Fizeram charme, Mosca conseguiu nos ignorar durante mais de dez minutos e a Netcat positivamente não quer saber da gente, mas os outros já esqueceram a desfeita e estão cheirando as malas que começamos a desfazer com muito interesse.

Agora vamos ao verdadeiro luxo da vida: dormir nas nossas próprias camas depois de uma viagem maravilhosa, em que tudo correu incrivelmente bem e durante a qual nos divertimos, comemos super bem , vimos coisas interessantes, estivemos com amigos queridos, fizemos ótimas fotos e até, graças ao overbooking, umas comprinhas básicas.

Boa noite a todos; até logo mais.

Beijos!!!





17.9.05


Sim, amigos, e' verdade: conseguimos!!!










Iuhuuu!!! La vamos nos. Ufa!










Ainda sem previsao (foto Bia)










2h15 de atraso (foto Bia)










Nao ha previsao para a saida. Juro.










Acho que me precipitei: o voo atrasou...










Olha quem fala...










Mamãe se conecta até no aeroporto!










Até logo!

Parece que, desta vez, vamos.

Já passamos para a sala de espera, onde estou me conectando através de um hotspot da T-Mobile. Boa conexão, aliás.

Beijos para todos, e muito obrigada pela companhia maravilhosa que nos fizeram durante a viagem: Bia e eu nos conectávamos correndo quando chegavamos aos hotéis para ler os comentários, e rimos muito com todos os papos.

Espaço da Bia

Mamãe, viciada em internet, vai ficar "limpa" por 12 horas. Mas não se preocupem! Estarei do lado com Lexotan, tentando tranquilizá-la.

Já eu aproveitarei as 12 horas para pensar nas minhas duas propostas de casamento, pois isso é assunto sério.

Beijos!






Que trem e' esse?










Foi um dia de compras apetitosas










Tomamos cafe e conversamos










Do alto










Hmmmm...










Demos sorte com o tempo!










TUDO nos lembra ELES










Um passageiro (foto Bia)










Esperando o trem pro Zentrum










A sopa de tomate do hotel










Cariocas, atenção:
Música! Maravilhosa! Grátis!

Recadinho da Laura, que alguns de vocês podem não ter lido lá embaixo, nos comentários:
Ah, aviso aos gentis leitores: domingo agora, dia 18, às 11 horas, vou tocar com a Orquestra da UNIRIO no Teatro Municipal. É um concerto de Bach, com oboé, fagote e violino (Luis Carlos Justi, Elione Medeiros e Mariana Salles). Apareçam!
Não é porque ela é minha irmã não, mas a moça é boa às pampas...






E... temos ate' uma sala!










Bom dia! Esta e' a vista da nossa janela









16.9.05


Nosso novo (e inesperado) hotel: bem bom










...










Overbookadas! A aventura continua...










No tunel do tempo, em Frankfurt










Rumo a Frankfurt










Ate logo, Berlim!










Do Aquarium, para a Marcela










O representante da cidade nos da' adeus










Hm... este celular eu ainda nao conheco










Ate eles estao com frio, hoje...










Ultimas horas em Berlim: no Zoo, claro!










Ah, chove, é? Então vamos voltar, pronto!










Rumo a Budapeste: impressões de viagem

No meio do caminho, a violência do Rio manda notícias
e quebra o encanto das férias



Como a Europa é um continente civilizado onde tudo funciona feito relógio suiço, Bia e eu resolvemos alugar um carro para ir até Budapeste. Sairíamos de Berlim, passaríamos a noite em Praga, daríamos um giro pela cidade e seguiríamos adiante. De acordo com o mapinha fornecido pelo utilíssimo site da Michelin, a viagem duraria precisamente 4h28min, e custaria exatos 23 euros e 51 centavos em gasolina.

Infelizmente, não se fazem mais relógios suíços como antigamente: a viagem durou mais de seis horas, e isso porque aproveitamos o tapete das estradas e metemos o pé. Já as 5h25min prometidas entre Praga e Budapeste estenderam-se por bem umas sete, que nos custariam, em tese, 31 euros e 84 centavos.

Ainda não conseguimos fechar as contas da gasolina, porque passamos por três moedas diferentes do começo ao fim da viagem; mas se o guia está tão certo em relação ao dinheiro quanto ao tempo, prefiro continuar não sabendo...

Ainda assim, alugar o carro e enfrentar os 900 quilometros que separam Berlim de Budapeste foi uma grande idéia. Há formas mais rápidas, baratas e cômodas de se chegar a um destino, mas nenhuma nos daria a mesma sensação de estar entrando Europa adentro. As estradas são impecáveis, a paisagem é linda e tudo é muito familiar para mim, da comida á linguagem corporal das pessoas. Tudo é muito como lá em casa, gostos, jeitos, hábitos.

* * *

Por falar nisso, um dos hábitos europeus que mais me reconforta é o cuidado com o desperdício, evitado na medida do possível. Em quase duas semanas de viagem não vi um só prato de papel; talheres de plástico só mesmo as pazinhas de sorvete.

Na Alemanha, campeã de hábitos ecológicos saudáveis, a maioria das bebidas ainda vem em cascos de vidro. Mesmo nos parques onde bebidas são servidas em copos de plástico, este plástico é como o do tupperware, lavável e reutilizavel. Paga-se até depósito pelo copo, para se garantir que voltará ao quiosque de origem, em vez de emporcalhar o ambiente..

O reverso disso -- o desperdício desenfreado e absurdamente poluidor -- é das coisas que mais me perturba quando vou aos Estados Unidos. Não há planeta que aguente tanto lixo, nem sensibilidade que não se choque com tanta riqueza sendo posta fora quando há tamanha necessidade no mundo.

* * *

Outras coisas boas que observamos por aqui:

-- Não há uma farmácia em cada esquina;

-- Também não há uma loja de comida a cada dois passos, a menos que se esteja numa área de barzinhos;

-- As porções de comida e bebida têm o tamanho da fome ou da sede de um bípede normal. Não se vêem baldes de pipoca, sorvetes em dez camadas e copos monstruosos de refrigerante. Já os canecos de cerveja são descomunais, mas isso, garantem os especialistas, é outra coisa;

-- Há mais escadas do que elevadores;

-- As pessoas levam sacolas consigo quando vão às compras. Em toda parte há gente com sacolinhas das mais diversas levando o jantar para casa. Podem-se pedir sacos plásticos nas lojas, naturalmente, mas para quê poluir o mundo desnecessariamente?

* * *

O meu húngaro, milagre dos milagres, ainda funciona -- mas é esquisito. Em geral, quando se chega a uma cidade estrangeira, o problema não é fazer as perguntas, mas entender as respostas. Pois o meu caso é o contrario: esqueci como se fazem as perguntas, embora entenda as respostas perfeitamente. Comprar um simcard húngaro e configurar os dois celulares para enviarem torpedos e fotos foi uma autêntica conquista lingüística.

* * *

No domingo, aproveitando as ruas vazias, arriscamos sair com o carro. Demos uma volta grande, e estacionamos perto do Parlamento. De lá, fomos ao número 10 da Alkotmany Utca, onde ficava a livraria do meu avô, onde meu Pai passou toda a sua infância e juventude. A loja era no térreo; a casa da família no último andar.

O edifício, construído na virada do século passado, tem um pátio interno, para onde dão as portas e algumas janelas dos apartamentos, e lindas grandes de ferro. Para entrar, usei o mesmo expediente de vinte e tantos anos: assim que alguém abriu a porta para sair, aproveitei o embalo e entrei, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

E é.

Bia e eu exploramos todos os cantinhos, tiramos várias fotos e ficamos, nem preciso dizer, muito emocionadas, imaginando o cotidiano do meu Pai, dos meus avós e dos meus tios subindo e descendo as escadas, entre a livraria e o apartamento.

Pensamos nisso, e pensamos também em como deve ter sido terrível para todos abandonarem tudo de um momento para o outro, indo cada qual para um canto, sem saber se algum dia iriam se ver novamente.

Meu Pai nunca mais viu seus avós, que moravam ali perto, seu Pai e seus dois irmãos; e só reviu o velho edifício quase um quarto de século depois, ao voltar à Europa pela primeira vez depois da guerra.

Para mim, não há Memorial do Holocausto que se compare a este prédio aparentemente comum, onde um dia viveram um casal de livreiros e os seus seis filhos.

* * *

Algumas notícias nos chegaram do Brasil, mas a única que conseguiu atravessar a bolha mágica das férias foi a da morte do porteiro da noite, o César, que tantas e tantas vezes nos abriu a porta, sempre gentil, a despeito dos nossos horários bizarros. Ele foi assassinado só assim, à toa, como costuma acontecer no Rio.

Depois disso, a viagem perdeu o encanto. Passou a ser impossível andar por essas ruas tranqüilas, que ainda pertencem aos cidadãos, sem sentir raiva das nossas autoridades, pena da nossa gente e saudades do rapaz humilde e trabalhador, que mandava dinheiro para a mãe em Pernambuco e só queria tocar a sua vidinha em paz.


(O Globo, Segundo Caderno, 15.6.2005)





15.9.05


O Incrível Caso dos Salteadores de Estrada II

Desculpem a interrupção; tive que telefonar mais uma vez para a Varig para reconfirmar as reservas.

Bom, lá estavam, então, as nossas brasileiras mal paradas em plena Eslováquia (e não Eslovênia; mas esta vossa escriba é mesmo uma anta topo-geográfica!).

Depois de um diálogo de surdos travado em gestos e consoantes, apareceu um terceiro guarda, que produziu um papelucho xexelento e meio rasgado, onde se lia, em várias línguas identificáveis, que para circular pelas estradas locais era necessário um sticker colado no parabrisa.

Este terceiro guarda era um poliglota.

-- You no sticker. Sticker good one year. No sticker ten sticker fine.

Ah: o sticker vale por um ano. Sem sticker, multa equivalente a dez stickers. Segundo a autoridade, o sticker custava uma quantia de coroas que, convertida, correspondia a quase 29 euros.

O poliglota era muito solícito. Desenhou um quadradinho num papel seboso e apontou com o lápis:

-- Sticker! Trsjvzci?

Sim, sim, isso havíamos entendido.

Ele riscou o quadradinho.

-- No sticker. Trsjvzci? 286 euro.

-- O QUÊ???????????????????????!!!!!!!!!!!!!

-- No sticker, 286 euro.

-- But I don't have that money, no tiengo plata, pas d'argent, trsjvzci?

-- Sorry, no sticker, 286 euro.

-- Do you accept credit cards? Visa, Mastercard, Diners?

-- Euros.

-- Hungarian forints?

-- No. Euros.

Nesse instante, a Bia, que vinha acompanhando o diálogo com o respeito devido às autoridades de um país sério, chegou à correta decisão de que aquele não era assunto para amadores.

-- Mãe! Você está maluca?! Deixa eu cuidar disso.

Ato contínuo, fez cara de quem ia desatar em prantos e assumiu a liderança das negociações.

-- We Brazil. No money.

Tomou o lápis do guarda e o papel seboso, escreveu NO MONEY e desenhou uma carinha triste.

-- We can wash your dishes for a week, but we have no money.

Eu estava com uma pequena fortuna em dinheiro húngaro, que saquei sem querer de uma ATM: sou tão ruim com conversão de moedas quanto com mapas. Além disso, tinha 5 euros, 20 coroas tchecas e uns 120 reais.

A Bia tirou um real horrível, todo amassado, de dentro da bolsa.

-- See? Brazilian money. No euro.

Os guardas se entreolharam, riscaram os 289 euros que tinham escrito no papel e escreveram 120.

-- 120 euro. We like Brazil good!

-- Brazil good sim, -- disse a Bia -- mas money que é bom nós num have. Ronaldinho...

Os guardas riram. Isso eles trsjvzci.

-- Pelé!

-- Pelé! -- exclamou a Bia, como se tivesse ouvido o Terceiro Segredo de Fátima.

Um dos guardas riscou os 120 euros e escreveu 80. A Bia riscou, escreveu 40 e fez um gesto tipo "fechamos em quarentinha e não se fala mais nisso".

-- Roberto Carlos!

Eu não duvidava mais de nada, mas mesmo assim não me contive:

-- Bia, esses caras nunca ouviram Roberto Carlos.

-- É outro Roberto Carlos, mãe...

Isso com uma lágrima cínicamente escorrendo pelo rosto, junto com um sorriso cândido e ingênuo para os guardas. Que, imaginem só, toparam a parada.

A Bia entregou uma das notas de 50 euros que tinha na bolsa.

-- Thank you, -- disse o guarda.

-- Thank you nada, mané, falta o troco. Ten euro me...

-- Trstzcvjic prstzcjv sprztjc euro -- disse um dos guardas para o outro, que tirou a carteira do bolso e, conforme o combinado, deu o troco.

Nossos passaportes nos foram devolvidos, junto com a nota de um real.

-- No, no, you keep this! -- disse a Bia. -- Brazilian money. My gift to you. For good luck. Ronaldinho Gaúcho, Cacá, Robinho!

-- Pelé! Roberto Carlos!

Os guardas nos levaram até o carro, a cordialidade em pessoa.

O poliglota nos recomendou vivamente que comprassemos o sticker tcheco, porque os tchecos, explicou, são conhecidos ladrões, e sem o sticker teríamos um big problem pela frente, trsjvzci?

-- Trsjvzci! -- exclamou a Bia que, pelo sim pelo não, comprou logo ali adiante um adesivo de cinco euros que jamais nos foi pedido.

Tenho até medo de perguntar qual foi a praga que ela rogou naquela nota de real que deixou com os guardas; e nem ouso imaginar o que nos teria acontecido se eles soubessem que eu estava sem a carteira de motorista.






O Incrível Caso dos Salteadores de Estrada

Voltando um pouco no tempo e no espaço, um pequeno Ford Fiesta dirigido por duas brasileiras ligeiramente desnorteadas chegou, tarde da noite, à minúscula localidade de Rajka, na fronteira da Hungria com a Eslovênia Eslováquia.

O guarda louro, alto, de olhos azuis e impecavelmente trajado, a própria imagem da autoridade, pegou os passaportes e conferiu as fotos. Depois apontou para o carro:

-- Trstzvstz sticker?

-- I beg your pardon? -- disse a senhora ao volante.

-- Sticker strvzstjic.

-- Uh?

-- No sticker.

Aparentemente, faltava um sticker.

Mas que raios de sticker?

O guarda fez sinal para que estacionassem o carro na área apropriada e o acompanhassem à salinha da alfândega. Lá, entregou os dois passaportes a um segundo guarda, igualmente imponente, que se dirigiu a elas com grande cortesia e clareza:

-- Trstwzstri strwzjvçi sticker rstrszjnic. Trsjvzci?

-- Sorry, we don't understand. Do you speak English?

-- No English. Deutsch?

-- Nein, Ich spreche kein Deutsch. Italiano?

-- Nein.

-- Français?

-- Nein.

O guarda conferia os passaportes sem pressa, olhando os carimbos. Tudo o que as duas haviam conseguido entender é que, ao que tudo indicava, estavam numa fria por causa de um sticker.

Mas que sticker?!

(Continua daqui a pouco)






Minha outra compra! So' falta um Trabant










Minhas compras










Hotel Palace: simpatico!










Wilkomen nach Berlin!










A caminho










Bia ao volante (pro Tom)










Segundos antes da chuva










Brinquedinhos










Igreja de Nossa Senhora










Para a Mami










Bom dia! Eis nossa vista...









14.9.05


Dresden, 3h30: ZZZZZZZZZZ










O carro tambem precisa jantar...










A comida, felizmente, veio em italiano!










Paramos pra jantar - em tcheco...










DSC00614










Ja' estamos aqui...










Ate que a danada dirige bem!










Mamae ao volante, medo constante...










Ultima parada na Hungria. Snif...










Estamos aqui: falta muuuito chao!










Ja cheias de saudades...










Recadinho da Monica

Temos duas Monicas assíduas nos comentários. Uma é a vizinha na Lagoa que manda notícias dos quero-queridos, dos frangos d'água e de quem mais apareça por aquelas bandas; a outra mora na Alemanha.

Pois vejam que lindo o que ela escreveu para vocês:
Querida Cora,

eu elogiei a turminha que te visita lá embaixo, num outro post antigo, mas tenho a necessidade de repetir tal feito.Quero agradecer esses dias lindos que você nos proporcionou.

Embora morando na Alemanha há vários anos,nunca me diverti e me emocionei com a Europa como através dos seus posts. ENTRETANTO, esses momentos não teriam sido tão gostosos se teus leitores não os comentassem. Eu me diverti MUITO. Eu AMEI!!!!Eu ri várias xs e aprendi tantas coisas... Estou aprendendo até português novamente!!!!

MUITO OBRIGADA a vocês todos da tchurma. Aprendi a amar vocês com esse carinho que ainda acho muio estranho,o virtual. Esse carinho é meio estranho mesmo.Fica aqui então,esse meu comment pra vocês todos.

Vocês SÃO DEZ!!

Usando essa frase linda da Meg para a Anna Barbara, vocês equilibram o meu dia!!!

Um abraço!

Monica, do outro lado do Atlântico.





13.9.05


A volta para casa










No mapa do metro, achamos uma rua Ronai










Ih, faltou o titulo anterior...










DSC00101










A praca e' point das bikes










Um Heroi










A Praca dos Herois










Erramos a estacao...










Underground










Viagem ao centro da Terra










Este parque e' nosso vizinho










Oops...

Nossa intrépida repórter acaba de voltar da rua.

Não subiu nenhuma fotinha porque se esqueceu de me perguntar o PIN do telefonino.

Pano rápido.








Nova programação

Durante as próximas horas, a blogueira que vos tecla ficará presa ao computador, escrava do dever, escrevendo sobre tecnologia.

Escreve, escrava, escreve!

Enquanto isso, a Bia, que está de férias mesmo e não arrastou nem um fiapinho de trabalho consigo, vai dar uma volta por aí.

Está levando o telefonino e vai se incumbir das fotos. Quaisquer perguntas, elogios ou reclamações devem, pois, ser-lhe dirigidos.

O blog agradece a preferência de todos e reafirma:

"Servimos melhor para servir sempre"





12.9.05




Para Meg, com carinho

Ontem nós jantamos com a Anna Barbara, uma intrépida brasileirinha que se mandou para Budapeste há alguns meses para, imaginem só, aprender húngaro e a história do país.

Naturalmente ela também é amiga da Meg, de modo que passamos um tempo conversando sobre a nossa querida fada madrinha -- para quem esta foto foi feita especialmente.

Muitos beijos de Budapeste procê, Meg!






Metropolis










Dentro do Templo










Uma experiencia mistica!










Territorio Sagrado: a Gerbeaud!










Fazendo amigos










Um lugar ao sol










La vamos nos para mais uma aventura










O dia la fora









11.9.05


Notas de viagem

Hoje arriscamos pegar o carro. Fomos ao aeroporto mudar as passagens, para ficar mais dois dias -- e ficamos em estado de graca quando descobrimos que o prato do dia no fast food era galinha com páprica, nosso grande favorito.

Estava ótimo.

Aqui, em cada esquina, pode-se comer galinha com páprica. É sempre ótimo -- embora nunca seja tão bom quanto o que a Mamãe faz.

Na volta paramos perto do Parlamento, passeamos pelas redondezas e fomos ao número 10 da Alkotmany Utca, onde ficava a livraria do meu avô, e onde meu Pai passou toda a infância. O edifício, construído na virada do século passado, tem um pátio interno, para onde dão as portas e algumas janelas dos apartamentos, e lindas grandes de ferro.

Para entrar, usei o mesmo golpe de vinte e tantos anos: assim que alguém abriu a porta para sair, aproveitei o embalo e entrei, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

E é.

Bia e eu exploramos todos os cantinhos, tiramos várias fotos e ficamos, nem preciso dizer, muito emocionadas, imaginando o cotidiano do meu Pai, dos meus avós e dos meus tios subindo e descendo as escadas, entre a livraria e o apartamento.

Pensamos nisso, e pensamos também em como deve ter sido terrível para todos abandonarem tudo de um momento para o outro, indo cada qual para um canto, sem saber se algum dia iriam se ver novamente.

Meu Pai nunca mais viu seus avós, que moravam ali perto, seu Pai e seus dois irmãos; e só reviu o velho edifício quase um quarto de século depois, ao voltar a Europa pela primeira vez depois da guerra.

Para mim, não há Memorial do Holocausto que se compare a este prédio aparentemente comum, onde um dia viveram um casal de livreiros e os seus seis filhos.






O Brasil manda notícias

Bia e eu passamos um dia melancólico, tristíssimas com o assassinato do Cesar, o porteiro da noite que tantas e tantas vezes abriu a porta para nós, sempre gentil, apesar dos nossos horários bizarros.

Uma vez ele passou pela capivara, atirou-lhe uma pedra e teve a (péssima) idéia de comentar comigo o acontecido. Perguntei por que tinha feito aquilo. Ora, porque ela estava lá.

Não fez por mal, claro; fez porque assim foi criado, porque nunca ninguém lhe explicou que a finalidade dos bichos sobre a terra não é ser alvo de pedradas.

Tratei de corrigir esta falha na sua educacão.

Alguns meses depois, vendo a capivara passear perigosamente próxima a avenida, reuniu outros porteiros e vigias e foram todos enxotá-la para perto d'água, para que ficasse segura.

Depois do Zé, era o maior amigo da Pipoca, sua companheira de madrugadas.

Era um rapaz bom, humilde e trabalhador.

Vamos sentir falta dele.






A tipica area interna










A familia morava no ultimo andar










Do lado de dentro










Alkotmany ut. 10










A rua onde morava meu Pai










Tomara que nao chova










Fotos!!!





Pronto, pronto: para quem estava reclamando da falta de fotos minhas no blog...

Acima, na Alexander Platz, em Berlim, numa das bicicletas alugadas.





Com Bia, diante do que resta do Muro.

Sei que aqui ficava melhor uma foto com ar circunspecto de locutor dando notícia triste, mas se alguém achar ruim, a resposta é: Estamos sorridentes porque o muro não existe mais... :-)





Felicidade! =^..^=

Com a pequena, simpática e arisca família gato que frequenta os jardins da casa.





10.9.05


Outros hungaros










Momento kitsch










Uns hungaros antigos










Catedral de Santo Estevao










Um casorio!










Paprika!










Bia e seu souvenir muito pratico










Ufa! Acabei o vinho...










Festival do vinho










Nem da' vontade de sair de casa










O bosque da nossa rua









9.9.05


Impressões de viagem

Alugar o carro e enfrentar os quase 900 quilometros que separam Berlim de Budapeste foi uma grande idéia. Há formas mais rápidas e cômodas de se chegar a um destino, mas nenhuma nos daria a mesma sensacão de estar entrando Europa adentro.

Para mim, mesmo em Berlim, tudo é impressionantemente familiar, da comida á linguagem corporal das pessoas.

Tudo é muito como lá em casa, gostos, jeitos, hábitos.

* * *

Um dos hábitos europeus que mais me reconforta, por falar nisso, é o cuidado com o desperdício, evitado na medida do possível. Em quase duas semanas de viagem não vi um só prato de papel; talheres de plástico só mesmo as pazinhas de sorvete.

Na Alemanha, campeã de hábitos ecológicos saudáveis, a maioria das bebidas ainda vem em cascos de vidro. E mesmo nos parques onde bebidas são servidas em copos de plástico, o plástico é como o do tupperware, lavável e reutilizavel. Paga-se até um depósito.

O reverso disso -- o desperdício desenfreado e absurdamente poluidor -- é das coisas que mais me perturba quando vou aos Estados Unidos. Não há planeta que aguente tanto lixo, nem sensibilidade que não se choque com tanta riqueza sendo posta fora quando há tamanha necessidade no mundo.

* * *

Outras coisas boas que observamos por aqui:

  • Não há uma farmácia em cada esquina;

  • Também não há uma loja de comida a cada dois passos que se dê, a menos que se esteja numa área turística de barzinhos, ou coisa assim;

  • As porcões de comida e bebida têm o tamanho da fome ou da sede de um bípede normal. Não vi baldes de pipoca, sorvetes em dez camadas e copos monstruosos de refrigerante. Já canecos de cerveja... mas isso, garantem os especialistas, é outra coisa.

    * * *

    Fizemos um rápido tour por Praga.

    O guia conseguiu transformar uma história riquíssima e fascinante em algo tão atraente e dinâmico quanto um discurso do Suplicy.

    -- O rei Venceslau foi assassinado pelo seu irmão Boroslau em 935 e está enterrado na bela igreja que se vê do lado direito, parcialmente demolida durante a guerra...

    935!!! Assassinado brutalmente pelo próprio irmão!!! E tudo o que o raio do guia faz é dizer isso só assim, como um daqueles meninos de Olinda?!

    Mil anos de história não mereciam ser tratados assim, não mesmo.

    * * *

    Despreparadas para a viagem de carro, nos esquecemos de algo fundamental: CDs. No meio do caminho, a beira de um ataque de nervos com o repertório incompreensível das rádios tchecas e eslovenas, conseguimos comprar um CD num posto de gasolina.

    É uma ótima coletânea de músicas americanas de verão.

    Só que, quando chegamos a Budapeste, já estávamos ouvindo California Dreamin' pela décima vez; e Sunny Afternoon não me sai da cabeca há 48 horas.
    Help me, help me, help me sail away
    Or give me two good reasons why I oughta stay
    'Cause I love to live so pleasantly
    Live this life of luxury
    Lazin' on a sunny afternoon
    In the summertime

    Amanhã vamos a cata de discos virgens para que eu possa queimar um pouco do repertório do notebook para o caminho de volta.

    * * *

    Meu húngaro, milagre dos milagres, ainda funciona! Mas é esquisito. Em geral, quando a gente chega numa cidade estrangeira, o problema não é fazer as perguntas, mas entender as respostas; pois o meu caso aqui é o contrario: me esqueci de como se fazem as perguntas, mas entendo as respostas numa boa.

    Ainda assim consegui comprar um simcard húngaro e configurar os dois telefoninos.

    * * *

    Passamos por uma lojinha de flores, e a Bia se atirou nos bracos da proprietária, uma amiga dela de Minas chamada Neide.

    E eu pensando que isso só acontecia no Rio...






  • Alugando bicicletas em Berlim

    Da janela do hotel eu via as bicicletas bonitas, de alumínio, dipostas num cantinho em frente à estação de metrô de Potsdamer Platz. Também via Berlim até onde a vista alcança, e era longe nesses lindos dias de outono, sem uma nuvem no céu. Nenhum morro ou colina, sequer montanha à distância, apenas as avenidas largas, os edifícios e monumentos. Olhava para as bicicletas e para essa planura toda, pensava "Feitas umas para a outra!"... e seguia para o ônibus que nos levava, diariamente, ao centro de convenções.

    Pelas janelas do ônibus, aliás, eu via outras, semelhantes, soltas pelas esquinas. Era claro que eram bicicletas de aluguel -- todas iguais, com destaques em laranja -- mas, estranhamente, nunca via ninguém por perto para cuidar da transação.

    Quando os dias de trabalho chegaram ao fim, e a Bia chegou do Brasil para passarmos juntas uma semana de férias, decidi esclarecer o mistério. Ainda agora, três dias depois, de malas feitas para prosseguir viagem, continuo me sentindo uma criatura poderosa e cheia de marra por ter conseguido realizar a complexa operação do aluguel de duas bicicletas pelo celular. A intuição me veio quando fui vê-las de perto e descobri que, além de ter um número do lado, elas se chamam Call-a-Bike.

    -- Ahá! -- exclamei para a Bia. -- Aqui está uma missão sob medida para o chip alemão do telefone.

    -- Tem certeza que não é melhor a gente ir numa loja de aluguel de bicicletas? Têm umas cinco recomendadas no guia.

    -- Claro que não! A tecnologia foi feita para isso, para facilitar a vida das pessoas, o que você está pensando?!

    Convencida dos poderes do meu telefonino com simcard local, chamei o tal número... e me deparei com a voz mecânica e maviosa de um atendimento automático em alemão. Fiquei pendurada até aparecer um humano do outro lado. Perguntei se ele falava inglês.

    -- A little bit, yes.

    Esta é uma expressão de rotina. Todos os berlinenses que falam inglês falam "a little bit".

    Lancei um olhar vitorioso para a minha filha e perguntei como era o lance. Simplíssimo: a gente fornece nome, número do cartão de crédito e alguns dados básicos, e recebe um código para destrancar o cadeado eletrônico. Quando enjoa de andar, larga a bicicleta numa esquina ou numa estação de metrô, tranca direitinho e telefona para lá novamente dizendo onde a deixou.

    O preço era razoável: sete centavos de euro por minuto, num máximo de 15 euros por dia.

    Apesar do barulho da esquina em que estávamos e de umas falhas na linha, a negociação foi bem tranqüila, até o rapaz pedir o meu endereço. Não, não o do hotel em Berlim; o do Rio, mesmo. Pergunto: vocês já tentaram soletrar E-P-I-T-A-C-I-O P-E-S-S-O-A em inglês para um alemão?

    Quando eu disse "Avenida" no telefone, a Bia sentou no chão e, pronta para uma longa espera, teve um ataque de riso.

    -- "Avenida", just like "Avenue" but ending with ái-di-êi...

    Mãe de um filho que gosta de pilotar aviões, consegui me lembrar de algumas letras do que eu achava que era o código da aviação, mas que o Tom Taborda explicou depois, lá no blog, que é o Código da NATO: Indian, Tango, Alfa, Charlie, Oscar... mas esqueci completamente que D é Delta e P é Papa, e de E e S já não fazia a menor idéia. A Bia se lembrou do Papa por linhas tortas, mas isso não adiantou muito:

    -- Pope!

    -- Hope?

    -- No, no. P, as in Paul.

    -- Bowl?

    -- Nein! P as in... panzer!

    -- Ah, gutt. P, as in Pablo.

    -- Yes!

    Nem imagino como terá sido escrito o meu endereço no registro do Call-a-Bike, mas o fato é que, apenas 45 minutos depois, lá estávamos nós, felizes da vida, pedalando naquelas maravilhas, verdadeiras Mercedes sobre duas rodas.

    * * *

    Berlim é uma cidade perfeita para andar de bicicleta. As ciclovias são bem demarcadas e acompanham as ruas e, muito importante, os carros respeitam os ciclistas. Outra vantagem é que o clima é seco, de modo que, mesmo com o maior calor, é possível rodar direito, sem suar em bicas.

    Antes de nos pormos a caminho, Bia e eu estudamos o mapa com muita atenção, traçamos uma rota meticulosa.... e erramos tudo. Somos péssimas de mapa, e nenhuma faz a menor idéia da posição dos pontos cardeais. De acordo com o mapa, precisávamos seguir para o Norte. Mas onde seria o Norte?!

    Paramos um grupo de três jovens alemães para fazer esta pergunta meio ridícula. Eles viram o pin no meu colete.

    -- Ah, vocês são do Brasil?! Que coincidência, nós também!

    Eram catarinenses. Estão aqui há quase um ano, falam um alemão perfeito -- mas também não sabem onde fica o Norte. Em suma: como nós duas, um bando de desnorteados.

    Mas foi, ainda assim, um lindo passeio.

    Passamos cinco vezes pelo Checkpoint Charlie depois descemos pelas margens do rio Spree, demos num canto sem saída, subimos umas pontes e, finalmente, acabamos o dia na Alexander Platz, onde vimos uma extraordinária revoada de pássaros ao anoitecer.

    Deixamos as bicicletas na estação de metrô, telefonamos para o Call-a-Bike, ficamos sabendo que a nossa conta era de dez euros e uns quebrados por cada uma e, cansadas mas contentes, pegamos um táxi de volta para o hotel.

    Nenhuma estava disposta a arriscar o mapa do metrô.

    (O Globo, Segundo Caderno)

    Não estranhem a repeticão: voces leram aqui antes... ;-)






    De onde vos teclo










    Love is in the air










    Uma turista brasileira em Budapeste










    O Danubio, nem tao azul, visto da ponte










    O Parlamento visto do bonde










    A nossa nova vista










    Praga, do alto










    Acertar os telefoninos demooora...









    8.9.05


    Diario de bordo

    Desculpem o longo sumico, mas, como adivinhou o Tom, naquele horripilante hotel que nao faria feio em Las Vegas nao havia banda larga. Tampouco havia banda estreita. Na verdade, apesar de uma placa prometendo wi-fi gratis, nao havia conexao nem discada.

    Para completar, o simcard do telefonino e' alemao e, em roaming, devorou rapidamente os creditos que me restavam.

    Amanha de manha vou comprar um novo simcard e resolver a parada; aguardem novas fotos em breve. Tambem tenho que organizar mais um albinho com as fotos "de verdade", que estao se acumulando a uma velocidade vertiginosa na maquina, ja' que tudo e' bonito por aqui, e ha' uma foto espreitando em cada esquina...

    Mas, neste momento, tudo o que eu quero (preciso!) fazer e' tomar um banho bem caprichado, cair na cama e dormir muuuuuuuuito.

    Estou cansadissima, foi um dia e tanto.

    Ah, sim: digito essas mal tecladas linhas de um belo Mac na casa do Luis Felipe e da Margarida, meus queridissimos amigos portugueses em Budapeste.

    Chegamos, afinal... :-)






    "A Catedral de Praga"










    "No aconchego do cafe da manha"









    7.9.05


    "Achamos um restaurante aberto!"










    "Nosso hotel em Praga - YIKES!!!"










    "Republica Tcheca!"










    "Beira de estrada"










    So' nos perdemos duas vezes até agora!










    "Na estrada"










    "Pausa para almoco"










    "Quase em Dresden"










    "Energia pura"










    "Ate aqui tudo bem"










    Próxima parada: Praga









    6.9.05


    "Saudades de casa..."










    "Tudo de tudo"










    KaDeWe










    Paraiso!










    "O Reischtag"










    "A Ostra Gravida"










    "Portao de Brandemburgo"










    Bicicletando










    "Memorial do Holocausto"










    "Tour..."










    "Tour de bicicleta"









    5.9.05


    Alugando bicicletas em Berlim

    Estamos de volta ao hotel depois de uma tarde inteira zanzando de bicicleta por Berlim; e eu estou me sentindo uma criatura poderosa e cheia de marra por ter conseguido realizar a complexa operação do aluguel pelo celular.

    Desde que cheguei, vejo umas bicicletas muito bonitas espalhadas pelos cantos, mas nunca vi ninguém por perto para fazer o negócio. Como têm um número de telefone escrito do lado e se chamam Call-a-bike intui que a operação se faz pelo telefone.

    Sou ou não sou um gênio?!

    Pois assim que saimos do hotel vimos duas bicicletas juntinhas nos chamando. Telefonei para o tal número (sim, comprei um simcard aqui) e me deparei com o que mais temia: atendimento automático em alemão. Fiquei pendurada até aparecer um humano do outro lado. Perguntei se ele falava inglês.

    -- A little bit, yes.

    Esta é uma expressão de rotina. Todos os berlinenses que falam inglês falam "a little bit".

    Perguntei como era o lance. Simples: a gente dá o nome, o número do cartão de crédito, alguns dados e logo recebe um código para destrancar o cadeado eletrônico. Quando a gente enjoa de andar, larga a bicicleta numa esquina ou numa estação de metrô, tranca direitinho e telefona para lá novamente dizendo onde a deixou.

    O preço é razoável: 7 centavos de euro por minuto, num máximo de 15 euros por dia.

    A negociação foi bem tranqüila até o rapaz pedir o meu endereço. Vocês já tentaram soletrar E-P-I-T-A-C-I-O P-E-S-S-O-A em inglês para um alemão? Com a Bia rindo do lado?!

    Não, crianças, não é fácil!

    Ainda me lembrei de algumas letras no código da aviação (é o código da aviação, pois não?) como Indian, Tango, Alfa, Charlie, Oscar.. mas esqueci completamente que P é Papa, e de E e S não faço mais a menor idéia. Não sei como terá sido escrito o meu endereço no registro do Call-a-Bike, mas depois de meia hora lá estávamos nós felizes da vida, pedalando.

    Berlim é uma cidade maravilhosa para andar de bicicleta. Quase não tem elevações, há ciclovias bem demarcadas acompanhando as ruas e os carros respeitam os ciclistas. Outra vantagem é que o clima é seco, de modo que mesmo com o calor que fazia hoje dá para rodar direito sem se ficar suada.

    Bia e eu estudamos o mapa com muita atenção, traçamos uma rota meticulosa... e depois erramos tudo. Acontece que somos péssimas de mapa, e nenhuma faz a mais mínima idéia de onde ficam os pontos cardeais; somos, literalmente, duas desnorteadas.

    Mas foi, ainda assim, um lindo passeio.

    Passamos cinco vezes pelo Checkpoint Charlie (a Bia repetindo "Parlament, Big Ben" de cada vez), depois descemos pelas margens do rio, demos num canto sem saída, subimos umas pontes e, finalmente, acabamos o dia na Alexander Platz, onde vimos uma extraordinária revoada de pássaros ao anoitecer.

    Deixamos as bicicletas na estação, telefonamos para o Call-a-Bike, ficamos sabendo que a nossa conta era de dez euros e uns quebrados por cada uma e, cansadas mas contentes, pegamos um taxi de volta para o hotel.

    Nenhuma estava disposta a arriscar o mapa do metrô.






    "Bikers in Berlin!"










    "Checkpoint Charlie"










    "Bia na venda da esquina"










    "Nosso novo hotel"









    4.9.05




    Bia em Berlim

    Eu ia fazer uma surpresa, mas como neste blog tudo se sabe, informo apenas que a Bia chegou sã e salva, ainda que exausta da viagem (e logo censurou a fotinha de telefone que mandei que mostrava isso...).

    No avião havia um bebê a bordo que chorou a noite inteira e, naturalmente, ela não conseguiu pregar o olho.

    Eu só estava esperando ela chegar para decidir que rumo tomar na vida:

  • Ficar mais um ou dois dias em Berlim?

  • Ficar neste hotel mesmo, torrando euros à velocidade da luz, ou cair na real (e no real) e buscar acomodações mais baratinhas?

  • Alugar um carro, pegar um trem, ir pro aeroporto?

    A Bia, que é um bípede com mais fio-terra que a mãe, cortou imediatamente meu delírio hoteleiro, lembrando da quantidade de contas que temos em casa para pagar. Fomos, pois, caçar um hotel mais em conta; e encontramos um simpático estabelecimento chamado Relexa, para o qual nos mudamos amanhã, deixando para trás os mármores, as plumas e o pessoal fora de série do Ritz-Carlton -- onde até o porteiro já sabe o meu nome.

    I could live with that.

    Em outras palavras, eu não teria a menor dificuldade em me adaptar à dura vida de rico.

    Na volta para cá, paramos para jantar e nos perdemos lá pelos lados da antiga Berlim Oriental, numa parte bem detonada e escura da cidade -- mas, em sendo cariocas, nada nos mete medo, nem mesmo uma cidade desconhecida à meia noite.

    * * *

    Berlim é um gigantesco canteiro de obras. Aqui há mais terrenos baldios e prédios em reconstrução do que em qualquer outra grande cidade que eu conheça.

    Mas essa atividade toda é, no fundo, um monumento à estupidez humana. Mais do que ruas e edifícios, o que se tenta fazer com tanto trabalho é fechar as feridas abertas por uma guerra devastadora e por tudo o que se seguiu a ela.

    Praticamente não há nada que se veja que não tenha sido destruído, ou pelos bombardeios, ou pela falta de sensibilidade dos burocratas do regime comunista.

    Seguir a linha do muro que durante quase 30 anos dividiu a cidade foi, para mim, uma experiência muito perturbadora. Por mais que eu tenha lido sobre o assunto, por melhor que conheça a História, estar aqui deu, à tragédia, uma dimensão humana inigualável.

    * * *

    Tragédias à parte, Berlim tem recantos adoráveis e parques deslumbrantes. Aproveitando o tempo espetacular que tem feito, a programação de hoje é alugar duas bicicletas e sair por aí.

    Mas, desta vez, de mapa na mão...

    P.S. -- Bia me trouxe a foto acima de presente. O pessoal da Livraria da Travessa recortou a crônica em que eu falava dos livros húngaros e fez um cantinho especial só para eles. Não é a coisa mais delicada?!






  • "Tai um passeio legal!"










    "Sony Center"










    Metro










    "Adeus, Lenin..."










    Turistando










    "Iuhuuuuu! Primeiro dia livre!!!"










    Enfim, férias!!!

    Hoje é o meu primeiro dia livre. Faz um sol LINDO lá fora, há bicicletas para alugar em frente ao hotel -- e lá vou eu pedalar em Berlim.

    O trabalho foi bom e proveitoso.

    A visita aos laboratórios da Philips em Eindhoven foi ótima e a feira aqui também, com coisas interessantíssimas de se ver. Mas, como sempre, o centro de convenções é do outro lado da cidade, e nós passavamos os dias lá, longe de Berlim (e do mundo).

    Agora o sol me chama, há muitas fotos bonitas esperando lá fora.

    As fotinhas do telefonino seguirão como de hábito ao longo do dia; mais tarde escrevo direito, contando as minhas aventuras e impressões daqui.

    Fiquem bem; bom domingo para todo mundo!






    "Bom dia!"










    "Multipla escolha"









    3.9.05


    "Um pouco de rua, enfim"










    "O novo D600 e TUDO! Faz 15 mosaicos..."










    "Na Sharp"










    Enquanto isso, na mailbox do ministro...


    Exmo Sr. Dr. Márcio Thomaz Bastos,
    Ministro da Justiça,

    Ontem, após ler as 150 mensagens que recebo por dia em meu computador, escrevi a V. Exa. mais um de meus textos de protesto, lembrando que o cínico ex-marqueteiro da SECOM da Presidência da República que havia declarado à CPI do "Mensalão", como aliás a maioria dos envolvidos, que não se lembrava de nada, que não sabia quem havia aberto a conta na offshore Dusseldorf, que isso quem sabia eram seus advogados, que não movimentava a conta porque não era bahamense nem norte-americano, pois bem, esse mesmo cara-de-pau estava, sim, fazendo "movimentações atípicas" na offshore, segundo informações da Unidade de Inteligência das Bahamas.

    Antes que eu conseguisse enviar cópia da mensagem a jornalistas selecionados, que já entenderam não estar eu falando apenas da proteção de "bichinhos", mas de algo muito mais sério, a membros do MP, a companheiros de luta ambientalista, a membros dos tribunais superiores, a membros do Congresso Nacional, pois bem, antes que meu provedor desse conta de distribuir as mensagens, vejo que não só até o momento o marqueteiro da Petrobrás e do Ministério da Saúde, duas contas obesas, conseguiu escapar das garras da justiça, como me chega a notícia de que o Dr. Antonio Carlos Rayol e o agente Federal Fábio, que goza de imunidade sindical, foram indiciados pela cúpola da Polícia Federal. Os policiais foram acusados de "concorrer para escândalo público" e "arranhar publicamente a reputação da PF".

    Senhor Ministro, com este indiciamento, que considero de todos os protetores de animais e dos brasileiros que execram a impunidade e as carteiradas, vejo-me obrigada a abandonar minhas costumeiras brincadeiras e subir o tom de minhas críticas. V. Exa. e o Dr. Paulo Lacerda me levaram a isto.

    Estou aterrorizada ao presenciar a certeza de poder ilimitado com que conta o Governo "deste país", como diz o Presidente Lula, nas patéticas e alienadas falas a que tem se dedicado ultimamente, nas inaugurações de supermercados, açudes e barracas de quermesses, desde que seu governo foi invadido pela lama, como uma espécie de New Orleans ideológica, após a passagem do Katrina do vale-tudo-pelo-ou-no-poder. Como já disse a V. Exa., uma das poucas e sábias decisões do Presidente Lula foi ter escolhido um advogado criminalista para Ministro da Justiça.

    Provavelmente V. Exa. e seu ex-escritório nunca tiveram de dar tantas orientações! São as ironias do destino! Garanto que seus ex-sócios nunca viram uma coleção tão grande a variada de delitos cometidos por um único grupo de pessoas, de crimes contra o sistema financeiro, evasão de divisas, agressões as mais diversas ao Direito Administrativo, fora as incursões nos crimes contra a pessoa em ao menos duas cidades, como Santo André e Campinas.

    Certamente os ex-sócios de V. Exa. devem estar estressados! Não estarão até constrangidos? Até sobre a cena dantesca descrita no O Estado de São Paulo de 29/8/2005, referente à postura desse ícone contra a tortura, Deputado Luís Eduardo Greenhalgh, tendo pitis na sala de necropsia, tentando impedir o correto exame do corpo do desditoso prefeito Celso Daniel, que havia sido torturado! Terá o Deputado Greenhalgh surtado? Já sei: o advogado nunca tinha visto um morto com expressão tão sofrida, tão retorcido de dor, daí o chilique... Mas nesse caso, se a ele sempre indignou a tortura, como aliás a todos nós, comuns mortais, não teria sido mais sábio se, ao invés de ter faniquitos, o advogado não tivesse denunciado a prática aos quatro ventos? Ao menos assim não teria torturado sua biografia!

    Exa., acho que nunca em minha vida escolhi tão bem um nome para um texto. "Operação Holocausto" soa-me agora como uma profecia, de que o PT partiu como um panzer de Hitler por cima de todas as normas, códigos, a começar pelo de ética, sem falar da Constituição Federal, à conquista não do governo mas do poder duradouro a qualquer custo. Para esse fim todos os meios foram e são aceitáveis. A perseguição ao Dr. Antonio Carlos Rayol e sua equipe são um dos aspectos dessa truculência hitlerista, que bem poderia ter sido praticada por Josef Stalin, pois os extremos da tara pelo poder sempre se encontram. Aceitará seu partido uma derrota nas próximas eleições? A truculência demonstrada nesses desdobramentos da prisão do marqueteiro agressor do Código Penal permitem que eu aceite apostas: sairá o partido de V. Exa. do poder "numa boa" ou não? Eu sou pela segunda hipótese.

    Pois que então Dr. Rayol e sua equipe foram indiciados por "concorrer para escândalo público"! Exa., eu lhe digo quem concorreu para escândalo internacional, expondo o povo brasileiro, tirando-lhe a paz, afligindo-o com as conseqüências políticas, ideológicas e econômicas que ainda poderão ainda advir: o PT, este partido que se revelou um santinho do pau oco. Se os membros deste governo fossem policiais federais, aí sim, concordo que deveriam estar a ferros, jogados numa masmorra.

    É o que merece um partido que matou com requintes de crueldade as esperanças de termos um Brasil próspero e decente, um partido que cuspiu na cara dos habitantes "deste país", um governo que ainda continua certo de que vai conseguir tudo abafar, rindo da nossa cara. Até a Medalha Rio Branco parece ter virado moeda de barganha para dois presidentes: o da República e o da Câmara dos Deputados.

    A falta de aplausos na cerimônia de outorga, ontem, foi sintomática de que a sociedade não permitirá que se transforme o Governo Federal em algum curral da terra do xique-xique. O povo "deste país" foi tão torturado quanto Celso Daniel.

    Até quando V. Exa. acha que basta fazer uma negação de uma acusação e tudo está resolvido? Não não recebi propina. Pronto. Não, não paguei propina. Pronto. Não, não tenho caixa 2. Pronto. Conta nas Bahamas? Não, não me lembro. Pronto. V. Exa. bem sabe que se fosse simples assim, os advogados seriam dispensáveis, principalmente os criminalistas.

    O Delegado Rayol e sua equipe foram também indiciados por arranhar "publicamente a reputação da PF". Pois eu digo a V. Exa. quem arranhou a reputação da PF: foram a Dr. Paulo Lacerda e outros chefetes, que, por ordens superiores, decidiram punir quem, cumprindo seu dever, não hesitou em pisar nos calos dos poderosos. Isto, sim, é um escândalo público! Mas Dr. Lacerda et allii tenham uma certeza: ele e outros passam.

    A Polícia Federal é bem maior que isto. A instituição não é representada por cartolas, mas sim por seus agentes, aqueles que agem para manter a ordem arriscando a própria vida, contando com a admiração do povo brasileiro. Esses homens passarão por cima das mesquinharias dos feitores burocratas como uma jamanta, impondo o nome da PF como grande instituição. Aqueles que se prestarem a pequenezas serão esmagados como CDs piratas e varridos para a cova do esquecimento.

    Ana Maria Pinheiro
    Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal






    "O assunto? HDTV..."










    "Hoje comecou cedo..."










    Meio atrasado...

    ...porque só esta madrugada consegui ler um pouco de Brasil e saber do que vcs estavam falando aqui quando se referiram ao embate Gabeira x Severino.

    Taí. Eu não pensava mais que um político -- um político! -- pudesse me fazer sentir qualquer orgulho por ser brasileira (e muito menos carioca) mas o Gabeira conseguiu.

    Agora vou muito feliz para a feira, pensando na Coruja, no Lucas e na satisfação que dá ver que ainda há gente decente na política do meu país.






    Lucas e Coruja finalmente juntos!!!

    Notícia maravilhosa para começar o fim-de-semana: o Lucas adotou a Coruja e, pelo visto, a Coruja, que é sábia, adotou a Mãe do Lucas!

    Estou felicíssima pelos três. Como escrevi lá no blog do Lucas, acho que a Coruja está em ótimas mãos, e ele e a mãe em ótimas patas.

    Iuhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!

    Sejam muito felizes, queridos!





    2.9.05








    Segredos

    Aos angloparlantes: não deixem de ver isso aqui.

    É emocionante: uma coleção de postais em que pessoas anônimas contam os seus segredos.

    Virou livro, de tão bom.

    Um segredo: estava editando fotos, levantei a vista do computador para descansar um pouco e descobri a tomada da parede em frente me olhando espantada.

    A vida tem umas esquisitices totalmente inesperadas: neste quarto de hotel em Berlim, com a Postdamer Platz lá fora, o iTunes toca música panamenha e uma tomada me olha abobalhada.

    A música não é ruim não, pelo contrário. E eu não bebi nada; não bebo nunca -- ninguém é perfeito.

    Bem que aquele curry wurst me pareceu meio alucinógeno.






    "No onibus para o hotel"










    "O lounge da Philips"










    "Caixas de som wi-fi, lindas!"










    "102 polegadas!!!"














    Duas fotinhas que os telefones não mandaram

    Às vezes eles têm disso: fazem fotos maiores do que conseguem enviar, e eu tenho que usar o cabo chupa-cabra do computador...

    O dia começa, vou lá.

    É cedo demais pro meu gosto, mas não posso me queixar: esquecer a política brasileira por uns dias não tem preço... :-)))





    1.9.05




    Exclusão digital já!

    Taí: nunca pensei que a questão dos fingers no Santos Dumont fosse tão polêmica. Perdi a conta dos emails de adesão à campanha pela exclusão digital do Santos Dumont: todos os leitores que me escreveram queriam saber onde assinar, para quem mandar emails, de qual autoridade cobrar este crime de lesa-aeroporto.

    Infelizmente, não tenho resposta para essa pergunta: ainda há autoridades no Rio de Janeiro?!

    A boa notícia é que o deputado Fernando Gabeira também aderiu ao movimento, e já fez um requerimento de audiência pública para debater este famigerado projeto de ampliação.

    Maria Beatriz Setubal de Rezende Silva, arquiteta do Iphan, resumiu bem o sentimento de todos: "Acho difícil haver aeroporto mais bonito, não apenas pela arquitetura, cuja simplicidade e transparência orientam rapidamente o viajante mais inexperiente, mas pelo conjunto de aspectos que fazem desse aeroporto um exemplar único. (....) A paisagem que se pode desfrutar da pista é deslumbrante e a sensação de deixar a terra para ganhar os ares não poderia ser mais contundente. Caminhar pela pista, com os aviões tão próximos, passar por debaixo da asa para subir a escada posterior da aeronave, coberta ou descoberta em função do clima, faz qualquer um resgatar o fascínio dos transportes (....) e perceber o quanto eles revolucionaram nosso modo de estar no mundo. Não há tubos, não há esteiras, o aeroporto não tem jeito de shopping, ao contrário nos lembra o tempo todo que se trata de uma base para os homens levantarem vôo. Se estamos ali é para voar. Não vamos deixar morrer o Santos Dumont!"

    A única voz dissonante em relação aos fingers foi a da Jerusa Araújo -- mas a observação que ela fez foi de extrema importância: "Tudo bem que você ache lindo descer a escadinha do avião vendo o Pão de Açúcar. Concordo que é um belo cenário. Mas dá para imaginar que a ausência de fingers é um transtorno para o deficiente físico? Adoro viajar, mas sem finger, não dá. Evito a Ponte Aérea, porque só de pensar que tenho que ser carregada escada acima e abaixo, tenho calafrios. Os fingers deveriam ser obrigatórios em todos os aeroportos do mundo!"

    * * *

    Enquanto isso, o spotter Gustavo Kaufmann comentou como anda difícil exercer o seu hobby ultimamente: "Somos aqueles doidos que vão ao aeroporto não para receber parentes ou viajar, mas simplesmente para ver os aviões.

    "Armados" de câmeras fotográficas, rádios para saber quem é quem nos céus, binóculos para captar os mínimos detalhes, somos constantemente "assediados" pela Infraero das mais diversas formas. Nossos terraços panorâmicos foram extintos, as grades nos aeroportos são cada vez mais altas e opacas e a segurança aeroportuária feita por empresas terceirizadas (que são muito mais cômicas do que efetivas, pois parecem nem saber o que fazem lá) constantemente nos aborda nos aeroportos: "Não pode tirar foto não"... claro que pode, mas a Infraero parece se sentir "invadida" por nosso interesse em saber o que se passa em um aeroporto.

    Caso fôssemos terroristas ou "muleques" fazendo algazarra nos aeroportos a segurança se justificaria, mas não, somos pilotos, comissários, engenheiros, advogados, médicos, todos infectados pelas infalíveis bactérias do "aerococus", que nos unem com os olhos voltados para os céus; "Qual a matrícula nova da Varig?", "Já chegou o novo 737 da Gol?", "Viram só a nova pintura da Tam?". As fotos para marcar cada momento, são postadas em sites especializados -- onde nós, brasileiros, fazemos muito sucesso, modéstia à parte."

    Outro spotter, o Carlos Henrique. complementou: "O nosso trabalho pode ser visto em . Entre no "search engine" e procure por "Netherlands Antilles -- St. Maartten -- Princess Juliana Airport" por exemplo, e veja que fotos fantásticas. Ou Funchal na Ilha da Madeira, ou Santos Dumont no Rio. Milhares de fotos, vale a pena."

    Por acaso, conheço o aeroporto de Saint Martin, onde já estive algumas vezes -- e onde, claro, fiz muitas fotos de aviões. É irresistível: imaginem uma pista tão curta que começa literalmente na praia; e agora imaginem o pouso de Boeings 747, os velhos Jumbos, criando verdadeiros tornados em que se misturam, em partes mais ou menos iguais, um barulho ensurdecedor, areia, vento, o calor escaldante das turbinas e um cheiro horrível de querosene. A experiência não é agradável, mas é muito divertida. A tal ponto que, numa ilha paradisíaca, cheia de praias quase desertas, a do aeroporto vive lotada.

    * * *

    Quando vocês lerem esta crônica, eu estarei em Berlim, onde se realiza uma das maiores feiras de eletro-eletrônicos do mundo. Já terei voado um bocado, mas outros vôos estarão à minha espera: assim que a feira terminar, tiro uma semana de férias. Mando notícias de lá. E prometo que só volto ao assunto dos fingers no Santos Dumont depois de me encontrar com o arquiteto Sérgio Jardim, que gentilmente se ofereceu para me explicar o projeto que fez para a expansão do aeroporto.


    (O Globo, Segundo Caderno, 1.9.2005)






    "O estande da Philips"










    "O mundo dos carros"










    "O que rola"










    "Outra coletiva"










    "Novos lancamentos"










    "Esperando uma coletiva"










    "O muro!"










    Fotos!






    Subi um albinho de fotos de Eindhoven; para ver é só clicar AQUI.