31.3.06 ClassificadoPovo, estou com o seguinte problema: tenho uma ótima ajudante aqui em casa, a Sônia -- é simpática, inteligente, limpa, de uma honestidade a toda prova, adora os gatos (e vice-versa), faz tudo com boa-vontade e, enorme vantagem do meu ponto de vista, fala pouco e não é chegada a ficar com TV ligada direto na cozinha. Eu viveria feliz para sempre com ela, não fosse por um problema: com a morte do meu tio, a Clemilda, que está há 40 anos na família, me conhece desde pequena e é a "mãe-preta" da Bia, ficou desempregada.Durante toda a doença do tio, ficou implícito que, em acotecendo o pior, ela viria para cá. De modo que vou ter que abrir mão da Sônia, que está comigo há cerca de um ano, porque não tenho nem trabalho nem cacife para manter duas empregadas em casa. Acontece que gosto demais da Sônia, e não quero dispensá-la antes que ela encontre outro emprego. Será que alguém está precisando de uma pessoa realmente bacana e bom astral? Mensagens nos comentários, ou emails para cronai(arroba)well.com. Para Kidity: Clemilda e Bia; agora fico devendo fotos da Sônia e da sua (dela) linda filhota. 30.3.06 Um país em queda livreLivro sobre Afeganistão corta o coração da cronista,que percebe o quão perto estamos de Cabul "Existe apenas um pecado, um só. E esse pecado é roubar. Qualquer outro é simplesmente uma variação do roubo.(....) Quando você mata um homem, está roubando uma vida. (....) Está roubando da esposa o direito de ter um marido, roubando dos filhos o direito de ter um pai. Quando mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade. Quando trapaceia, está roubando o direito à justiça. (....) Não há ato mais infame do que roubar." Há alguns anos, eu teria recomendado "O caçador de pipas", de Khaled Hosseini, como leitura obrigatória para a canalha política, nem que fosse por estas palavras, dirigidas ao narrador por seu pai. Hoje não me dou mais ao trabalho, e não só porque livros não se usam em Brasília. É que não se usa mais vergonha na cara na política brasileira, não se usam mais valores como dignidade, honra, preocupação com o povo, amor à Pátria. Acho que a própria acepção que dou aqui a esta palavra, "valores", perdeu-se por completo nas esferas do poder. Há alguns anos, os ladrões nossos funcionários cultivavam, ainda, um mínimo de hipocrisia, e tentavam disfarçar a avidez, a ganância, o pouco caso para com a coisa pública, a falta de dedicação ao país e à sua gente. O objetivo final talvez fosse o mesmo, mas naqueles dias, pelo menos, fazia-se de conta que roubar era crime. A honestidade, bem como a educação e a cultura, ainda tinham seu valor para o público externo; alguns homens públicos, acredito, envergonhavam-se quando descobertos de posse de "fundos não contabilizados", este safado eufemismo para a grana alheia; outros poucos, verdadeiramente honestos, provavelmente envergonhavam-se da malta com que se viam obrigados a conviver. * * *Dizem os colegas que sabem mais dessas coisas que sou muito pessimista e que ainda há políticos honestos, além dos dois ou três em quem confio. Mas são uma espécie em extinção dentro de uma classe que perdeu de vez o pouco que tinha de decência e civismo com a dança grotesca da deputada Angela Guadagnin, musa do PT -- que, no mínimo, deveria cassada por quebra de decoro parlamentar, se os nossos parlamentares ainda se lembrassem do que quer dizer decoro.Os poucos políticos honestos e genuinamente interessados no bem do país que têm estômago para conviver com os seus pares nada podem fazer contra o fedor insuportável que emana dos palácios e das repartições públicas, contra a falta de caráter e a cafajestagem explícita que os cercam. Mesmo que queiram, eles nada podem fazer contra a desconstrução das instituições, contra o escárnio com que é tratado o povo, contra a voracidade da máquina que tritura a classe média, arrancando-lhe os olhos da cara em impostos que, quando não seguem sem escalas para paraísos fiscais, sustentam a bandalheira esculachada dos biltres que deveriam cuidar do país, dos estados, dos municípios. Ai de nós. * * *"O caçador de pipas", romance de estréia de Hosseini, que nasceu em Cabul, no Afeganistão, e hoje vive nos Estados Unidos, não chega a ser um grande livro, mas é uma excelente leitura, interssante, ágil, impossível de largar. Sua maior virtude é nos apresentar ao país onde, uma vez, cidades como Cabul, Kandahar ou Mazar-i-Sharif eram lugares cheios de vida, e não as pilhas de escombros que nos acostumamos a ver na televisão e nos jornais. Há um quê de paraíso perdido nessas memórias, mas compreende-se: quando nos lembramos do Rio de Janeiro dos anos 60, a nostalgia traz à tona a paz, a segurança, a cidade maravilhosa; a falta d´água ou as favelas que cresciam somem diante do que se perdeu.* * *Amir, o personagem de Hosseini, passa 20 anos longe do seu desgraçado país, primeiro invadido pelos russos, depois vítima dos talibãs. Quando volta, só encontra miséria, ruínas e violência. Os talibãs, a escória da sociedade, percorrem as cidades em bondes, impondo a sua "lei", matando por gosto ou desfastio. A elite intelectual do país e a classe média estão mortas, exiladas ou mendigando nas ruas; os que se refugiaram nos Estados Unidos vendem quinquilharias em mercados de pulgas -- camelôs que, na sua terra, eram médicos, engenheiros, escritores, militares.Enquanto lia sobre este país torturado, não conseguia deixar de pensar no Brasil, e sobretudo no Rio, que regridem a passos tão largos. Tecidos sociais não se esgarçam de uma hora para outra; vão se desfazendo aos poucos, de violência em violência, de concessão em concessão, de bandalheira em bandalheira. Quando os talibãs do tráfico debocham do exército e os talibãs do MST contam com a complacência dos poderosos, porém, não há mais como disfarçar: estamos cobertos de andrajos morais. Cabul é aqui. (O GLOBO, Segundo Caderno, 30.3.2006) 29.3.06 As corujinhas de FloripaPostei uma coleção de corujas no Flickr. Para ver, é só clicar em qualquer foto dessas e sair navegando por lá. Não são lindas? Em tempo: estas não são fotos de celular. Foram todas feitas com a Panasonic Lumix FZ20. Coruja buraqueiraÀs vezes ainda uso câmeras digitais em vez de telefones. Lá no Costão do Santinho, por exemplo, encontrei dezenas dessas corujinhas simpáticas e irresistíveis. E fiz, claro, montes de fotos "de verdade" delas. Depois posto mais algumas para vocês verem. Fala, Mario AV!Grande comentário sobre a proteção do CD da Marisa Monte:No tempo das fitas cassete, pouquíssima gente chegou a saber que o preço de cada fita virgem incluía uma porcentagem destinada a compensar as gravadoras. Nos tempos atuais, o fato de a EMI brasileira estar sabotando os próprios CDs alegremente há vários anos me diz que, mais uma vez, existe uma massa de consumidores néscios que deixa os seus direitos serem usurpados sem tomar conhecimento de nada e sem reagir quando sabem. Não fosse assim, uma mobilização pública razoavelmente simples acabaria com a palhaçada.Alguns amigos que usam Mac me escreveram dizendo que conseguem ripar o CD pro iTunes sem problemas. Acontece que a imensa maioria dos usuários de iPod no Brasil usa PCs. A estes, e aos que não quiserem jogar dinheiro fora em CDs que não conseguirão passar para os seus players, recomendo que busquem no e-mule a solução para os seus problemas. É um pecado, porque os CDs da Marisa estão lindos e são uma gracinha como objetos, enfim, a gente gostaria der ter aqueles produtos bonitos na coleção -- mas não aleijados, e muito menos em troca de ser taxado de malfeitor pelos gênios da EMI. Quando uma empresa usa proteção contra cópia, ela está implicitamente chamando de ladrões todos os usuários otários o suficiente para comprarem os seus produtos. 28.3.06 Que papelão!"Lamentavelmente a imprensa não se interessou na cobertura do evento realizado pela ONG Viva Polícia, no auditório da Academia de Polícia Silvio Terra, ocasião em que prestamos merecida homenagem as MULHERES PIONEIRAS NA SEGURANÇA PÚBLICA. Eles têm toda a razão, e eu, como imprensa que sou, peço sinceras desculpas pelo papelão. Eu mesma tinha prometido à Fabiana postar uma notinha aqui no blog avisando a todos do evento, mas no corre-corre do encontro em Floripa praticamente só acessei o blog por telefone e não me lembrei de que tinha este dever para com uma amiga e uma ONG tão necessária e batalhadora. A vontade que tenho é me esconder embaixo do sofá e lá ficar escondida de vergonha pela falta. Mil perdões, amigos da Vipol! 27.3.06 Desculpem o atraso na publicação; é que lá em Floripa não me sobrou tempo para subir esta coluna, da quinta passada. O universo ao meu redorGatos, manias e um lindo CD que não pegou o espírito da coisaTaí: nada como confessar publicamente manias esquisitas para se sentir uma criatura perfeitamente normal! Depois da crônica da semana passada, em que listei cinco de meus hábitos esquisitos, recebi uma enxurrada de manifestações de solidariedade -- a maioria de donos de animais, me assegurando que falar com bichos não tem nada demais, muito antes pelo contrário. Esquisito -- como sempre achei e, pelo visto, acham também os leitores -- seria ter um animal de estimação e não dirigir-lhe a palavra. Essas manifestações não me surpreenderam. Afinal, quem convive com animais sabe como o diálogo com eles é importante. Claro que ninguém vai discutir Kant ou Joyce com o gato de estimação (até porque o gato, caso se dignasse a falar, daria um banho na conversa), mas não há dúvida de que nossos quadrúpedes gostam de ouvir a voz humana, e se não entendem o que dizemos no varejo, certamente entendem no atacado. Confesso, porém, que fiquei muito surpresa com a quantidade de leitoras que, como eu, cultivam o estranho hábito de comprar cremes e maquiagens que não usam jamais. Isso eu realmente acreditava que fosse maluquice exclusiva da minha cabeça, mas não: há inúmeras mulheres que não resistem à sedução das embalagens, das cores, dos potinhos lindos... e depois deixam tudo na gaveta! Uma amiga me confessou que, ainda outro dia, jogou fora quinze batons, porque perderam a validade. Todos virgens. Houve quem atribuísse o hábito a cobranças de família por um pouco mais de vaidade, mas não sei se é por aí; lá em casa, ao contrário, o que sempre se ressaltou foi o mal que cosméticos podem fazer à pele. Em suma: o mistério continua. Ouso dizer que aí está um bom desafio para psicólogos, antropólogos e estudiosos dos hábitos humanos em geral. * * *Tanto entre as cartas que chegaram ao jornal quanto nos comentários do blog, levei puxões de orelha por gostar da Lancôme, que pertence à L'Óreal, que testa seus produtos em animais. Peço sinceras desculpas por isso. Nada, absolutamente nada, justifica que se torturem seres vivos por conta da nossa vaidade, sobretudo se levarmos em conta que há empresas de cosméticos que conseguem produzir produtos maravilhosos como MAC, Clinique ou O Boticário sem maltratar criaturas indefesas.Aliás, a venda da Body Shop para a L'Óreal podia ter sido acertada por Duda Mendonça, o especialista em tapear otários. A Body Shop, como vocês sabem, é aquela empresa inglesa ecologicamente correta, que sempre praticou o bom-mocismo ambiental e cultural, comprando matéria prima direto de produtores, de preferência tribos indígenas, e usando suas vitrines para manifestações políticas e sociais. Sempre foi a loja favorita de pessoas de cabeça feita, preocupadas com o meio-ambiente. Que a L'Óreal tenha tido vontade de comprá-la entende-se; mas que ela tenha se vendido justamente para a sua antítese é a prova de que seus "valores" não passavam de uma hipócrita jogada de marketing. Que gentinha. Millôr, que é um sábio, bem que vive avisando: "Desconfie sempre do idealista que lucra com o seu ideal." * * *E, dos lados da PUC, vem -- ufa! -- uma ótima notícia. Quem me contou foi Claudio Téllez, um dos protetores dos gatos do local, que semana passada participou, junto com Claudia Pinheiro, Claudio Alberto Téllez (seu pai e ex-professor da PUC) e Flavya Mendes-de-Almeida (especialista em populações felinas e coordenadora veterinária da WSPA Brasil) de uma reunião na prefeitura do campus com a supervisora de administração da divisão de serviços gerais, Silvia Murtinho, e Marcos Antunes, funcionário da mesma divisão.O assunto foi, como não podia deixar de ser, a população felina do campus. Na ocasião, foi devidamente escrito, assinado e carimbado um documento em que a PUC-Rio se compromete a "construir, em local apropriado, um abrigo para os gatos, colocar uma caixa de areia para dejetos e assumir a responsabilidade pela alimentação deles." Os protetores aceitaram a proposta, o que me leva a crer que este abrigo não será uma câmara de horrores como o famigerado "gatil" do Jockey. Flavya Mendes-de-Almeida sugeriu que as gatas fossem castradas, e a supervisora não só concordou com a medida como se propôs a procurar veterinários para ajudar a universidade nesse sentido. Civilizado, digno, humano. Assim é que se faz. * * *Sei que é chover no molhado, mas não posso deixar de elogiar "O universo ao meu redor", da Marisa Monte. É um CD delicado, delicioso, um encanto só -- que, entre outras maravilhas, revela um surpreendente lado sambista de Adriana Calcanhoto, artista que se supera a cada temporada.O CD é um primor de cuidados, da apresentação aos arranjos. Infelizmente, tem um defeito imperdoável: proteção contra cópia para iPods, incompreensível a essa altura do campeonato. Para que penalizar justamente os consumidores tementes a Deus que o compraram, quando é tão fácil baixá-lo da internet e passá-lo para o iPod sem qualquer perrengue? Grande, imenso gol contra, que o lindo trabalho de Marisa Monte não merecia. (O Globo, Segundo Caderno, 23.3.2006) 26.3.06 25.3.06 Logo ali, (mais) uma vergonha nacionalEstou hospedada no Costão do Santinho, um bonito resort em Santa Catarina. Não que desse para ver muita coisa à hora que chegamos, mas olhando assim por alto, do ônibus, e recordando uma visita anterior, a região parece um local calmo, pacífico, civilizado.Lamentavelmente, não é. Exmo. Sr. Luiz Henrique da Silveira,Devo dizer que me sinto horrorosamente angustiada de estar tão perto deste pobre animalzinho, que ignora o terrível destino que o espera, e não poder fazer nada. Cesar Valente, meu querido amigo manezinho, como se pode despertar o governador da sua (dele) letargia?! O que podemos fazer para evitar esta boçalidade medieval, este desvio de caráter, esta patologia inexplicável?! UPDATE:Cesar Valente escreveu sobre o assunto num fenomenal jornalzinho local chmada "Diarinho -- Diário do Litoral". É um tablóide que trata assuntos graves com a maior irreverência, não tem filiação política alguma e é o que eu já vi de mais parecido com o falecido Pasquim dos anos 70. As manchetes são o que a gente comentaria na mesa do boteco. Exemplos: "Tiroteio deixa os manezinhos cagados de medo". A notícia, apesar da linguagem, é tratada com uma seriedade de deixar muito jornal "sério" encabulado.Resultado: sucesso total. São tirados 10 mil exemplares que chegam às ruas às 7hs. Às 8hs estão esgotados. Já viu que se eu morasse aqui tava frita... As colunas do Cesar, que é o titular da página 3, no less (você abre o jornal e dá de cara com ele), estão todas num blog, vejam lá: De olho na capital. Cesar, Valente que é (taí um trocadilho que ele não deve mais agüentar ouvir, mas é tão bom que é inevitável) pegou o touro à unha -- ao contrários dos covardes que se "divertem" por aqui -- e abordou a questão de forma ampla e, embora muitos defensores de animais radicais possam discordar -- humana. Leiam, é talvez o que de mais equilibrado e sensato já se escreveu sobre a Farra do Boi e o papel no estado nessa história toda. 24.3.06 23.3.06 22.3.06 Fazendo horaPor causa da chuva, um avião derrapou na pista principal e se -- Blog: http://cronai.com 21.3.06 20.3.06 Então, como eu ia dizendo...Quando escrevi a crônica sobre Mamãe, no seu aniversário, ela ficou, como diria a Manoela, com um vago sentimento de bolação: "Você escreve essas coisas todas, aí todo mundo vai achar que eu sou sei lá o quê...Tranqüilizei-a; disse-lhe que ninguém, jamais, acharia que ela é sei lá o quê. Na verdade, ela muito mais do que sei lá o quê. Ontem, por exemplo, bateu os recordes brasileiro e sul-americano de 100 metros peito. O recorde anterior era da Maria Lenk. Não é a primeira vez que isso acontece, mas é a primeira vez que acontece quando Mamãe está no meio da faixa etária. Funciona assim: em Masters, as faixas são classificadas a intervalos de cinco anos, 50-55, 55-60, etc. Naturalmente, há quanto menos tempo você está naquela faixa, maiores são as suas chances: entre uma nadadora de 50 e uma de 55 anos, em iguais condições físicas e técnicas, a de 50 tem, claro, mais chances de se sair melhor do que a de 55. Mamãe está na faixa 80-85, mas está com 82. Quer dizer: ela mais em forma HOJE do que estava há dois anos! Pode, isso?! Mas não pensem que ela apenas bateu o recorde sul-americano; ela também fez o melhor índice técnico de toda a competição. Isso eu explico depois para quem não sabe o que é, mas para os nadadores da casa informo: nos 100 metros borboleta, seu índice foi 108; nos 50 peito, 108,40; nos 100 peito (este em que ela bateu os recordes brasileiro e sul-americano), 118,11; e fez mais um 108, mas não consegui descobrir na papelada em quê. Agora, o mais bonitinho da história: este foi o Décimo Campeonato Masters Mais Mais, em comemoração aos cem anos do Iate Clube Brasileiro -- e o nome do troféu feminino era, adivinhem, Nora Tausz Rónai! O troféu masculino homenageava o Helio de Oliveira Silva, o Paluka. Cada participante ganhou uma medalha redondinha; a medalha retangular é uma das medalhas que a Mamãe abiscoitou, e que veio mostrar para a gente com uma alegria meio safada na voz: -- Infelizmente, desta vez, não tenho nenhuma de prata ou bronze para vocês verem como eram... Huahuahuahuahuahuahuhauhauhauha!!! É big, é big, é hora é hora é hora, ha-tchim-bum!!! A caixa dá seus últimos suspiros...A caixa aparentemente indestrutível que a Monica R. mandou (sem saber) de presente para a Keaton está, pelo visto, nas últimas; mas quem diz que a Keaton liga? De qualquer forma, há que se reconhecer a excelência da indústria germânica. Caixa alguma foi tão usada, ou durou tanto tempo, quanto a que trouxe as minhas lindas sandálias da Alemanha. Mais uma vez, Monica querida, muito obrigada: cada vez que olho para os meus pés ou para a minha gatinha curtindo tão feliz esta caixa, meu coração se aquece. 19.3.06 Meu brinquedo novoHá tempos penso em voltar a fazer música. Meu sonho era um violoncelo, não só porque é dos meus instrumentos favoritos, mas também porque, tendo tocado violino, acho mais fácil recomeçar em cordas do que em outro naipe. Este é um violoncelo barroco: um pouco menor do que os modernos, e sem espigão, aquela ponta comprida em que se apóiam seus primos mais recentes. Quem nos apresentou um ao outro foi a Laura, naturalmente, que acha que nenhuma casa está bem equipada enquanto não tiver pelo menos meia dúzia de instrumentos diferentes. E a minha posição está provavelmente a léguas do correto, mas ainda não comecei as aulas e estava tocando de orelhada. Se é que se pode chamar o barulho que eu fiz de tocar. 18.3.06 Tsk, tsk, tskPessoas, minha querida amiga Magaly fez 79 anos no último dia 7... e me esqueci!Magaly tem o ótimo blog Eu pensando e merece um abraço bem apertado de todos nós: vamos lá? Morram de inveja... :-DAlém da minha famosa xará capivara, tenho algumas lindas xarás quadrúpedes espalhadas por aí. Outras pessoas dividem esta honra comigo e são xarás de cães e gatos.Agora, pergunto: vocês conhecem alguém que seja xará de uma jaguatirica linda dessas?! Pois eu sou, tá? A Luciana Pordeus, que acolhe os animais mais interessantes, está cuidando desta florzinha, cuja mãe foi caçada e comida, e que estava sendo engordada para acabar na panela. Salvou-a, e chamou-a de Cora. Resultado: tou que tou, a própria Rainha da Cocada Preta. Se eu não der bom-dia ou andar uns dias de nariz pro alto, reparem não -- é que ser xará de jaguatirica vai me subir à cabeça. 17.3.06 16.3.06 Cada doido com sua maniaA internet é cheia de maluquices, algumas mais malucas do que as outras, algumas até divertidas. Volta e meia pipocam entre os blogs, por exemplo, e-mails pedindo aos destinatários que revelem algo a seu respeito, e que encaminhem as perguntas a outras cinco ou seis vítimas. São quase correntes, mas sem as chantagens irritantes do gênero, e com um jeito simpático de jogo. Ao longo desses anos todos, já falei de livros e filmes favoritos, de objetos ou pessoas que levaria para uma ilha deserta, de coisas de que gosto porque gosto, de coisas que não faria por nada no mundo. Comparar as listas é sempre interessante, e dá pano para as mangas nos comentários.A mais recente dessas brincadeiras nasceu em Portugal, e pede aos bloguistas, que é como se chamam os blogueiros de lá, que enunciem cinco manias suas, "hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais." Achei engraçado, topei, mas confesso que tive certa dificuldade em diferenciar mania do que me parece comportamento perfeitamente normal -- como, por exemplo, conversar com os gatos. Eis o que respondi: 1. Tenho mania de telefone celular; não é apenas deformação profissional, é mania mesmo. Apesar de só ter dois ouvidos, como todo mundo, tenho uma meia dúzia deles: não tenho coragem de pôr fora os antigos. Nunca saio de casa sem carregar pelo menos dois. Um dia desses saí correndo, esqueci de pegá-los, e quase parei numa operadora no meio do caminho para comprar outro deste artigo de primeira necessidade sem o qual me sinto completamente desconectada. Felizmente, um raro lampejo de lucidez, aliado a um rombo glorioso no banco, me fez ver o absurdo da coisa. 2. Tenho mania de livros e DVDs. Tenho mais de uns e de outros do que jamais conseguirei ler e/ou ver, mas não resisto e acabo gastando horrores nisso. Minha desculpa: é que acho que quando me aposentar não vou ter dinheiro para tais extravagâncias, e estou garantindo o meu futuro. 3. Tenho mania de me deitar no chão da sala para ouvir música e conversar com os gatos. Horas a fio. 4. Tenho mania de sabonetes e shampoozinhos de hotel. Tenho montes. Aí, quando vou tomar banho, olho para os potinhos enfileirados e penso: "Para onde é que eu vou hoje?" Fecho os olhos, e o potinho e o cheiro me levam de volta aos lugares por onde andei. 5. Tenho mania de maquiagem chique e estou convencida de que, dentro de mim, vive uma perua ensandecida louca para se manifestar. Gasto pequenas fortunas em produtos de beleza. Às vezes esvazio as gavetas em cima da cama e passo horas entretida com meus ricos tesourinhos, arrumando-os ou por tipo (lápis, blush, batom) ou por marca (Guerlain, Lancôme e Mac, minhas favoritas). O único problema é que... não uso maquiagem! * * *Este último item me deu o que pensar. Usar maquiagem não é uma imposição da moda ou da publicidade, embora elas ajudem -- e muito -- no processo. Mas as egípcias já se pintavam há seis mil anos, bem antes da sociedade de consumo e, ao que eu saiba, não há registro de uma única cultura ou civilização em que não se pintasse corpo e rosto. Portanto, algo mais profundo do que os outdoors me leva a isso; agora só me falta descobrir por que praticamente não uso essas coisinhas tão tentadoras, cheirosas e bem embaladas.* * *Enquanto a gente fica inocentemente brincando de manias bobas na internet, coisas perversas acontecem no mundo real. Não bastasse a perseguição implacável que o Jockey Club vem movendo aos pobres gatos que lá são abandonados, agora foi a vez da PUC mostrar que não é lá muito católica.Como praticamente todas as colônias de gatos de rua, a da PUC também tinha seus protetores, que os alimentavam, vacinavam e conheciam um por um. Sabe-se lá por quê a direção da universidade -- que é uma instituição de ensino, e como tal deveria dar exemplo de respeito à vida -- cismou com os bichinhos. Ameaçou envenená-los mas, provavelmente com medo da repercussão negativa que teria um morticínio de tal monta, simplesmente recolheu os coitadinhos e despejou-os, sem mais nem menos, no Parque da Cidade. Ora, estamos falando aqui de seres vivos que nasceram e cresceram naquele ambiente, onde recebiam afeto e cuidado, e onde conheciam cada centímetro quadrado. Uma das gatinhas despejadas tinha 18 anos, o que, em termos humanos, equivaleria a jogar um ancião centenário no olho da rua. Pelo menos cinco gatos morreram durante a ação truculenta desta "escola" que se quer cristã (!); os protetores, aflitos, temem, com razão, pelo destino dos demais. É assustador como, cada vez mais, quem devia dar exemplo neste país faz exatamente o contrário do que se espera. Da PUC, supostamente civilizada e humana, eu esperava generosidade, tolerância e compaixão. Afinal, educar não é só cobrar a mensalidade dos alunos; é, entre outras coisas, demonstrar, na prática, como devemos proteger os mais fracos e como fica mais rica a nossa vida em harmonia com a natureza e com os animais. (O Globo, Segundo Caderno, 16.3.2006) 15.3.06 Telexpo 2006A Telexpo costumava ser a feira mais quente das telecomunicações; era "o" lugar para encontrar todo mundo, e para fazer aquilo que, em bom português, continua se chamando de "networking", isto é, estreitar relações, ouvir uns boatos, espalhar outros, essas coisas. Algo estranho, porém, aconteceu este ano: com exceção da Nextel, que é uma espécie de universo paralelo no mundo da comunicação móvel, nenhuma operadora compareceu.Resultado: uma feira morna, sem grandes emoções -- exceto aquelas provocadas por novos lançamentos em quem gosta de estar em dia com as novas novidades. Apesar da ausência das operadoras, pode-se dizer que, de certa forma, Marco Aurélio Rodrigues, presidente da Qualcomm no Brasil, falou pela Vivo: é que a Qualcomm é a empresa que está por trás da tecnologia CDMA, adotada pela operadora -- que enfrenta problemas que a concorrência GSM não tem. O mais sério deles é a falta de cobertura digital nacional. Em Minas e no Nordeste, por exemplo, a cobertura da Vivo ainda é analógica, o que, além de impedir a oferta de uma série de serviços interessantes, permite a clonagem dos celulares: -- Isso, basicamente, é questão de interesse público -- diz Marco Aurélio. -- Estamos falando de 30 milhões de usuários! A Anatel deveria garantir tratamento isonômico para a única operadora CDMA do país: já foram feitas até agora oito ofertas de freqüências GSM, de 1,8GHz, e nenhuma para CDMA, em 1,9GHZ. Veja o paradoxo: a operadora com o maior número de assinantes é, ao mesmo tempo, a que possui a menor quantidade de espectro. É um argumento eloqüente, difícil de contestar. A opção preferencial do país pelo GSM é boa, mas melhor ainda é ter um "ecossistema" diversificado, com tratamento igual para todas as empresas por parte do governo e as conseqüentes concorrência e possibilidades de escolha para os usuários. Apesar da estonteante quantidade de celulares GSM apresentados na Telexpo, um dos lançamentos mais interessantes rolou, justamente, na praia do CDMA: o Kyocera KR1 Mobile Router, ou seja -- um roteador EV-DO para aquelas fenomenais plaquinhas PCMCIA que, habitualmente, a gente usa no notebook. Bom, imaginem: espeta-se a plaquinha neste roteador, e a ele conectam-se todos os computadores da casa. Em dois tempos, está no ar uma autêntica rede banda larga. A idéia é ótima, e o funcionamento, nas áreas já cobertas pelo EV-DO, muito bom. Eu sei porque, por sorte, moro numa dessas áreas e tenho uma dessas plaquinhas: a velocidade de acesso do meu notebook, com ela, deixa a do desktop no chinelo. No mais, guardem um nome: Pantech. Alguns dos telefones mais criativos em exibição são crias desta empresa relativamente pouco conhecida no Brasil, mas segunda fabricante da Coréia. Show! (O Globo, Info etc., 13.3.2006) Cobertura completa!Mais rápida do que o raio, mais veloz do que o trovão, a Ju já postou no Flickr uma ótima coleção de fotos do lançamento!Corram lá pra ver... :-) PS: Muito obrigada a todos os amigos que foram! Eu fiquei no meu cantinho assinando livros, que era a minha função, e nem tive tempo de sacar do telefone para fazer umas fotos, mas me parece que a festa foi simpática e que o astral estava muito legal. Update: O Lucas criou um blog geral, para onde todos podem subir as suas fotos da noite, dos encontros dos amigos, etc. Fica AQUI. 14.3.06 Lembrete: é hoje!O lançamento é no 00, na Rua Padre Leonel Franca 240, Gávea, ali ao lado do Planetário, a partir das 20h30. O livrinho e eu esperamos por vocês lá! Barulhinho bomUm dos novos CDs de Marisa Monte, "Universo ao meu redor", é uma jóia: lindo em tudo, do visual aos sons que vêm lá dentro.Há um samba, particularmente, que é daqueles que fica rodando na cabeça e não sai mais, de tão bonito: "O bonde do dom", de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e da própria Marisa. Diz assim: Novo diaEu sei que só a letra não dá idéia da música, mas ouçam, ouçam: já está espalhado por toda a rede. Outra (grande) surpresa é um samba de primeiríssima da Adriana Calcanhoto, que nunca fez samba na vida: "Vai saber?". Pois é, vai saber... O segundo CD, "Infinito particular", irmão deste aqui, ainda não ouvi -- e, pelo andar da carruagem, não vou ouvir tão cedo. Sou daquele tipo que quando cisma com um CD ou uma música fica ouvindo o dito CD ou música dias a fio. Agora, no meu hit parade, só dá "Universo ao meu redor". 13.3.06 Ao vivo e em cores!Povo, daqui a pouco, mais exatamente às 16hs, estarei no programa Sem Censura, da Leda Nagle, falando do "Caiu na Rede".O que vocês NÃO vão ler no Globo...Eis que amanhã, terça-feira, a vossa blogueira lança, no 00, uma pequena antologia de apócrifos que circulam pela internet, ou seja: aqueles textos atribuídos a autores que jamais os escreveram, mas que provavelmente jamais se livrarão deles.Enfim: um livro com textos 100% falsos! A minha colega Suzana Velasco escreveu uma matéria para o Segundo Caderno que sairia amanhã; no entanto, descobriu-se que a capa do Megazine de terça é, justamente, o livrinho. Seria badalação demais, ainda por cima para alguém da casa. De modo que a matéria da Suzana caiu. Para que o trabalho e o texto dela não se percam de todo, porém, eu os trouxe para cá: "Quem nunca recebeu pela internet um novo ou inédito texto e Luis Fernando Verissimo e o repassou para um amigo? De e-mail em e-mail, o texto se tornou famoso, mas Verissimo nunca escreveu nada parecido. A espécie de pegadinha, que já foi feita com nomes como Carlos Drummond de Andrade, João Ubaldo Ribeiro e Gabriel García Márquez, tornou-se tão popular que motivou a jornalista Cora Rónai, colunista do GLOBO e editora do caderno Informáticaetc, a organizar o livro "Caiu na rede", uma antologia desses "clássicos" que circulam na internet. O livro, que será lançado pela Agir (Ediouro) amanhã, às 20h30m, no 00, chega acompanhado de um blog (www.livrocaiunarede.com.br), disposto a receber novos textos e esclarecimentos sobre sua autoria.De modo que vocês já ficam sabendo, e estão todos convidados: a partir das 20h30, no 00, simpático restaurante da Gávea, na Rua Pe Leonel Franca 240, extamente ao lado do Planetário. Vou ficar feliz mesmo com a presença de vocês. Ah, e hoje, logo mais, às 16h00, falarei um pouco sobre o livro no Sem Censura, da Leda Nagle. 12.3.06 Esqueça a lógicaA DAMA DE HONRAO romance original é de Ruth Rendell, a direção é de Claude Chabrol e o personagem principal, Philippe, é feito por Benoît Magimel, um ator de primeiríssima linha. Em suma, "La demoiselle d'honneur" (no original) tinha tudo para ser uma obra-prima. Mas, infelizmente, acaba ficando pelo meio do caminho. A ação gira em torno da paixão avassaladora de Philippe, rapaz sério e trabalhador, e Senta (Laura Smet), candidata a atriz que vive no mundo da lua, entre bicos, pequenos papéis e declarações que tanto podem ser verdade quanto mentira. O problema é que, se já é difícil entender a paixão desvairada de Philippe por Senta, entender a paixão delirante dela por ele é francamente impossível. Sim, a gente sabe que os opostos se atraem, mas até para que este chavão funcione é preciso um certo je ne sais quoi que falta a essa história. Ainda assim, "A dama de honra" não é um filme de todo ruim. Deixando a lógica em casa, é possível passar duas horas no cinema sem tédio, o que, hoje em dia, não é dizer pouco. (O Globo, Rio Show, 10.3.2006) 11.3.06 VIVA, BIPE!!!Hoje é o dia do aniversário da Bia, mas podem me dar os parabéns: eu não fiz um bom serviço?;-) Parabéns, Bia minha queridinha: que esta época particularmente feliz da tua vida se repita por muitos e muitos anos. Todos nós aqui em casa, bípedes e quadrúpedes, adoramos você. A corrente das maniasA Bia Badaud me mandou uma corrente que, como ela bem observou no seu (dela) blog, pelo sotaque deve vir lá da terrinha:"Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue." Hmmmm, vejamos: Passei a corrente pra Van, pro Nelsinho, pro Ribondi, pra Paula e pro Lucas, mas quem quiser participar da brincadeira aí nos comentários é muito bem-vindo. Parabéns, Nelsinho!!!Gente, a Diretoria Social aqui do botequim anda vacilando: ontem foi aniversário do nosso querido Nelsinho, e só descobri agora, lá na Van Or, onde fui ver as fotos que ela fez na Travessa com a Mamãe, a Laura e a Ju.Pode isso?! Ô Diretoria Social, toma jeito! (Por falar nisso: quem é a Diretoria Social?) De qualquer forma, ainda que com atraso, este blog deseja ao Nelsinho todas as felicidades do mundo. OT: Procês verem como é o mundo moderno: a Van me ligou dizendo que por acaso havia se encontrado com a Mami, a Laura e a Ju na livraria, jantando. Eu estava saindo do jornal, entrei no taxi e liguei pra Laura -- quem sabe elas ainda não estavam lá? Pois estavam; tinham acabado de pagar a conta. Pedi que me esperassem um pouquinho, mandei o taxi tocar pra Travessa e ainda comi uma coisinha em companhia da família. Depois ainda tem gente que não gosta de celular... 10.3.06 9.3.06 As grandes fotos não mentem jamaisMelhor que um disso, só dois disso:o fino olhar de Flávio Damm em duas exposições seguidas Reparem: o mundo está cheio de fotos. Agora mesmo, neste exato momento, onde quer que vocês estejam lendo isso, há inúmeras, incontáveis fotos ao seu redor. Elas estão soltas, dispersas no ar, apenas esperando que um olho atento as perceba e traga até nós, como minúsculas frações de tempo eternizadas. O mais interessante é que, até num mesmo momento e lugar, jamais haverá dois olhares iguais; de modo que as fotos nunca se repetem, ainda que, às vezes, possam ser parecidas. É nas sutis diferenças que guardam entre si, no entanto, que se esconde a Grande Arte -- um jeito de ver, um ângulo, uma história que se conta. Para quem tem um mínimo de sensibilidade visual -- e é razoável supor que quem vem a uma mostra de fotografia tenha bem mais do que isso -- as fotos revelam tanto da alma por trás do olho quanto das imagens para além da lente. Há 60 anos, Flávio Damm se dedica a nos mostrar o que viu, de acontecimentos históricos a pequenos momentos da vida cotidiana. Há 60 anos ele nos mostra, quadro a quadro, porque é um dos maiores fotógrafos deste nosso país de grandes fotógrafos. Seria difícil fazer um retrato seu mais fiel do que o que contam essas imagens, colhidas entre os milhares de negativos dos seus arquivos meticulosamente rganizados. Em todas há o traço comum do olhar generoso e inteligente, a cultura da composição, a elegância. Há também um senso de humor que não se contém diante de nada, do ditador prosaico tomando cafezinho ao presidente alado, da morte que atravessa a rua, mal disfarçada, às velhinhas que fazem pendant com seus gatos, no jardim. Há uma mente extremamente alerta se mostrando nessas fotos, uma curiosidade quase malsã. Há reflexos de caçador por trás dos sorrisos, dos pássaros, das simetrias. Há, também, um olhar profundamente brasileiro. Não me perguntem como se identifica este olhar, porque não sei; só sei que, sendo eu mesma brasileira, amante da minha terra, me dá gosto me reconhecer nesse jeito de ver o Brasil e o mundo, nessa forma familiar e íntima de lidar com tudo e todos. Durante décadas um dos nossos principais fotojornalistas, Flávio Damm se dedica, hoje, a fotografar exclusivamente o que quer, para expor e para aumentar a sua série de onze livros já publicados. Escreve sobre fotografia e acompanha, com atenção, o trabalho dos colegas. Como todos os verdadeiramente grandes, tem sempre uma palavra de estímulo para os que começam, e um entusiasmo genuíno pelo que vê de bom. É este entusiasmo sem fim que orienta seu trabalho. Conhecedor profundo da arte e da técnica, adora conversar sobre fotografia -- a paixão de uma vida inteira. Nunca se sentiu atraído pela foto a cores, e não quer saber de câmeras digitais; mas não por vagos motivos fundamentalistas, e sim por gostar mais do P&B e estar inteiramente à vontade com suas queridas Leicas. Atenção, porque este detalhe é importante e revelador: o que em tantos fotógrafos da sua geração é rejeição rancorosa, nele é escolha amorosa. Simples assim. É muito bom ver o que Flávio Damm viu e vê, não só pelo encanto e pela surpresa de cada foto, mas também porque se intui, a partir das imagens, a finíssima qualidade do ser humano que as registrou. Acreditem nos seus olhos. É tudo verdade. * * *Escrevi este texto para uma exposição de Flávio Damm em São Paulo, há mais de um ano. Agora nós, cariocas, podemos ver parte da sua produção em dois tempos: até o dia 16, a Galeria Soraia Cals, na Gávea, apresenta "Pelos Brasis afora -- Bahia anos 50", uma seleção de 64 imagens inéditas daquela Bahia que vive até hoje nos romances de Jorge Amado; a partir do dia 17, entra em cartaz "Brasil, um país e seu tempo", com 54 fotos que vêm de 1944 até hoje.A proposta da galeria, inaugurada com as exposições de Flávio, é interessante. O espaço é dedicado à fotografia, com um detalhe muito simpático e importante: em vez dos catálogos mais ou menos descartáveis com que estamos acostumados, um livro é editado em função de cada exposição. Um livro de verdade, caprichadíssimo, daqueles que dá gosto ter na estante. Confiram! (O Globo, Segundo Caderno, 89.3.2006) 8.3.06 7.3.06 Um dia na vida (aliás, três)Esta não está sendo uma semana feliz em termos de sono para a coruja que vos tecla.Ontem, conforme vocês viram nas fotinhas, madruguei para pegar uma ponte aérea que não se materializou por falta de teto; hoje madruguei para assistir à cabine de um filme que -- só descobri na hora -- eu já tinha assistido no festival (e que sequer é lá aquelas maravilhas); amanhã, super-madrugo para, enfim, ir a Telexpo, em São Paulo -- caso, claro, as condições metereológicas assim o permitam. Muito sofre quem padece! Por outro lado, ontem à noite assisti a um dos filmes mais deliciosos da temporada: "A senhora Henderson apresenta". Digo apenas duas coisas: direção de Stephen Frears e Judi Dench no papel principal. Esta Bonequinha aplaudiu de pé, e só não deu vivas e urros pelo mau humor crônico causado pela seqüência de noites insones. 6.3.06 Estante virtual, livros reaisA assinatura deste recibo pouco convencional (dá pra ler?) encerrou as atividades da Júlia, minha sobrinha do coração, como vendedora do Sebo Imperial. É que ela descolou emprego melhor, e agora está no Estante Virtual, que define assim:"O site se propõe a ser um site de livros usados. O usuário busca o livro que está procurando e recebe uma lista com todos os sebos que possuem o referido livro cadastrado no site. Atualmente temos 100 mil livros online e quase dois milhoes off line -- ou seja, livros que os sebos cadastrados possuem em seu acervo fisico, mas que não estão no cadastro do site. Isso acontece primeiro porque os planos têm limites para cadastro, e segundo porque, muitas vezes, o pessoal simplesmente tem preguiça de cadastrar tudo. Mas funciona muito bem, garanto."Qualquer pessoa que tenha um sebo e queira cadastrá-lo no site deve entrar em contato com a Ju, em julia@estantevirtual.com.br. E quem quiser comprar livros a bom preço, é so dar uma clicada aqui. 5.3.06 Recadinho da Filha do MaestroLaercio & Thalma de Freitas, Pai e Filha, piano e voz. No palco, as músicas preferidas de ambos, som de primeiríssima qualidade e diversão garantida! 4.3.06 Olhaí, Paulo Afonso!Finalmente!!!Pela primeira vez eu vi o anúncio do Alma Carioca lá em cima. Viva!!! Quem está acompanhando a saga pelos comentários sabe que vitória é esta; aos demais, apenas recomendo que cliquem no link e curtam o site mais bonito sobre o Rio de Janeiro. Relembrando Carlos PenaO nosso Raimundo Vasto Mundo, que é uma delicadeza de pessoa, anda notando muitos azuis e sandálias nas minhas fotos -- e lembrou-se deste lindo soneto de Carlos Pena Filho, jornalista e extraordinário poeta pernambucano, prematura e tragicamente morto num acidente automobilístico:
Obrigada, querido amigo: você não tinha como saber, mas acertou em cheio -- eu gosto demais dos poemas do Carlos Pena. Dá-lhes, dr. Wanderley!Não há pior injustiça do que uma "justiça" que se finge de morta, que enrola, que não funciona porque simplesmente não tem vontade ou porque um dos lados é fraco e o outro, poderoso. Assim é o caso do processo movido por Ana Yates contra o Jockey, cobrando daquele clube supostamente elegante um tratamento digno para os gatos que lá vêm sendo mortos em escala industrial. Escreve a Ana, nossa Cidadã Exemplar:"Dando uma olhada "nos caminhos" do inquérito/processo Jockey, contei que dos 39 meses em que ele tramita, 21 meses foram passados na DPMA (Delegacia do Meio Ambiente). Observei também, que nunca os prazos dados pelo MP/Juizado foram cumpridos, sempre havendo prorrogação solicitada (ou não) dos prazos dados para as diligências na DP. Agora (em 25 de outubro de 2005 foi pra lá), por exemplo, pelo que entendi, foram pedidos mais 30 dias para que não consegui entender, e já se passaram 4 meses ou 120 dias!"Felizmente, ela e os gatinhos têm agora um aliado cheio de disposição. É o advogado Wanderley Rebello Filho, que resolveu perguntar ao MP o que diabos está acontecendo nessa história mal contada. Isso, em juridiquês, se faz assim: Ref.: Processo nº2005.800.069982-3.Honestamente? Acho que não vai acontecer nada. Nada acontece com ninguém neste país onde até os crimes hediondos já foram liberados, e em que as únicas pessoas penalizadas por alguma coisa são os assalariados que perdem, na fonte, o maior naco de impostos arrancado a trabalhadores em qualquer canto do mundo. Apesar disso, apesar de não acreditar mais no governo e/ou nas instituições do país, acho que pior do que a inércia da lei é o conformismo dos cidadãos; ainda que não aconteça nada contra o Jockey, ainda que os gatos venham a morrer todos e que os ratos tomem conta de vez de todas as dependências (além da diretoria), não terá sido por falta de aviso das pessoas de bem, por falta de atenção, por falta de indignação. 3.3.06 2.3.06 Confissões sobre a Cronista revira o passado e toma notas |