31.8.06


Isso é que é vida...









País sem educação
é país sem salvação

O óbvio deixou de ser ululante nos nossos tristes tempos de cafajestagem explícita


Um amigo me liga e avisa para ligar a televisão, onde está indo ao ar um programa sobre educação. Pego o bonde andando ma non troppo: jovens de classe média alta, majoritariamente brancos, visitam uma escola de jovens pobres, majoritariamente negros, que, por sua vez, visitam a escola dos outros. As duas ficam na mesma cidade. Ambas pertencem ao sistema público de educação, mas a diferença entre elas é abissal. De um lado, piscina olímpica, equipamentos esportivos de academia de luxo, computadores estalando de novos, um departamento de música com banda e orquestra, laboratórios de vários tipos e toda a espécie de disciplinas alternativas. Do outro, carteiras quebradas, uma piscina que não vê água há anos, paredes infiltradas. A garotada rica fica perplexa, sem saber como se pode aprender alguma coisa naquele pardieiro; a garotada pobre mal acredita no que vê. No auditório, a mãe de um dos meninos negros cai no choro, e é difícil não chorar com ela.

Não fosse pela excelência da escola rica, e pela presença de detectores de metais na entrada da escola pobre, a cena poderia se passar no Brasil; mas o sistema escolar em questão era o dos Estados Unidos, hoje mais segregado do que nunca, com índices de repetência e evasão jamais registrados. O programa era o da Oprah, que agradecia a Deus ter ido à escola há trinta anos, quando o sistema de ensino público ainda funcionava razoavelmente bem para todos.

A comparação entre as escolas, além de cortar o coração, levava a uma conclusão: dêem a uma criança boas condições de ensino, e ela estudará com prazer, certo? Não. No próximo bloco se via uma escola caprichada numa cidade do interior, em Indiana, onde apenas uma parcela ínfima dos jovens, praticamente todos brancos e de classe média, chega a se formar. A imensa maioria cai fora aos 16 anos. Por que? Porque é o que todos fazem; porque estudar é uma chatice; porque a vida espera lá fora. Brancos e negros, ricos e pobres, todos estão mais ou menos igualados no tédio -- e logo se igualam na desesperança e no desemprego.

Bill e Melinda Gates eram entrevistados. Sua fundação está empenhada em acordar a sociedade norte-americana para o fracasso do ensino e a calamidade que se pode antever para breve. Na sociedade industrial para a qual as escolas foram criadas havia espaço para quem não estudava; na sociedade pós-industrial em que vivemos, este espaço acabou. Bill Gates acha que o sistema de ensino deveria ser reformulado para que todas as crianças tenham as mesmas oportunidades educacionais; para se adequar à vida real; e para despertar o interesse dos jovens. Nunca pensei que um dia eu fosse dizer isso a seu respeito, mas ele está coberto de razão.

* * *

Curiosamente, assisti a este programa no dia seguinte ao da sabatina do candidato Cristovam Buarque aqui no jornal. Além de gostar de Cristovam como pessoa, concordo inteiramente com a tecla em que vem batendo: ou o Brasil se salva pela educação, ou desiste de vez de ser um país decente e relevante. Por coincidência, a pergunta que lhe fiz tinha algo a ver com o ponto central do programa da Oprah: o que fazer para manter as crianças na escola?

Cristovam acha que se deve melhorar o ensino, naturalmente, e dar uma forcinha às famílias para que ajudem a manter os filhos na linha. Ele propõe uma poupança-escola que depositaria R$ 100 na conta de cada criança que passa de ano. É uma idéia; mas ando desiludida demais com os rumos do país, quiçá do mundo, para acreditar que possa dar certo.

Cada vez mais as famílias abdicam do seu papel na educação dos filhos -- seja por falta de tempo, falta de paciência ou pura falta de consciência. Quando se fala das camadas mais pobres, então, e de quem mais precisa de educação, sequer há famílias na equação; há mães adolescentes, cujas mães e avós as tiveram adolescentes, numa triste sucessão de vidas desperdiçadas.

A verdade é que há mais forças contra a escola, atualmente, do que a favor ? a começar pelo presidente, que ostenta a sua ignorância na lapela, como motivo de orgulho. Estudar envolve uma cota de disciplina e de perseverança que antigamente se justificava pela perspectiva de um bom emprego e de um lugar respeitável na sociedade; mas tudo isso saiu de moda.

No mundo da gratificação instantânea, disciplina e perseverança são para otários. Os ídolos da garotada são traficantes, Big Brothers, jogadores de futebol, celebridades em geral; ninguém precisa de diploma se tiver a manha, o corpo e os holofotes da mídia. Cérebro é opcional.

* * *

Como sair dessa? Honestamente, nem desconfio. É preciso mais do que um candidato solitário batendo, quixotescamente, na tecla da educação; é preciso um banho de cidadania no país inteiro, um banho de civilidade e, sobretudo, um banho de responsabilidade. Mas por onde se começa, quando a tônica dos tempos é a cafajestagem?


(O Globo, Segundo Caderno, 31.8.2006)





Help: emergência ridícula!

Povo, socorro! Preciso da ajuda de alguém versado em carrapatos.

Acontece que a minha barriga estava coçando horrivelmente há uns três dias; eu procurava qualquer sinal de mordida, qualquer coisa que justificasse a coceira, e nada.

Daí que hoje de manhã vi lá no fundo do umbigo uma coisinha preta. Pensei, "Caramba, será que cocei tanto que fiz uma ferida?" Peguei um cotonete e limpei aquilo.

Pois aquilo tinha pernas e andava.

E era um carrapato.

YIKES!!!!!!!!!!!!!!!

Bom. Sei que tinha que ter tirado com álcool ou ponta de cigarro aceso mas nem me passou pela cabeça que pudesse ser carrapato. Logo no umbigo?!

E o pior é que continua coçando demais.

Pergunto: agüento a coceira estoicamente ou preciso ir ao médico ver se o ferrão ficou lá? Ou basta pôr uma pomada ou umas plantas ou lá o que seja até passar a comichão? E, neste caso, o quê passar?

Encabulada e antecipadamente agradeço conselhos, dicas, sugestões, simpatias.





30.8.06


Corra Cora Corra!










A turma da Copa










Lucinha e Luís Fernando










Xexéo










Conferindo










O candidato










Tereza Cruvinel










Miriam










Clic clic










Olha o sapato da Miriam!










Clic clic clic








Eu adoro o Manolo!






29.8.06


CoraCast



(Essa vai pro Tom Taborda)

Vocês já ouviram o grande Paco De Lucia tocar bolero?

Pois ouçam, hijos: o homem é o que há.






Telecomuting









28.8.06


Xexéo










Miriam e Moreno










Debate com Cristovam Buarque










Corra, Cora, Corra










Estou aqui desde as 9h...!










Renata e Diogo










Débora e Ney










Ney e Diogo: maravilhosos!









27.8.06


João Nuno e Olívia










Cauby: vocês precisam ver!










Ainda a exposição: com Mamãe (foto VanOr)










Isso que é vida...










Na estrada










Hora de voltar









26.8.06


O Bob e eu










Mandou bem

Escreve o Mario Kossatz, amigo da Laura:
Amigos,

Deve-se tomar enorme cuidado com as informações que voam por aqui na Internet. Outro dia recebi um email do avião presidencial do Lula, mostrando um absurdo de luxo -- só que qualquer olhada mais cuidadosa mostraria que o avião só poderia ser de algum miliardário ou sheik árabe.

Recebi também um email com um video de uma apresentação do Alexandre Garcia (muito boa por sinal, muito contundente, abordando a situação geral do país atualmente) alegando que esta apresentação teria sido a causa do seu desligamento da Globo -- só que o Alexandre Garcia não foi desligado da Globo.

Tenho sérias dúvidas se realmente o Cirque du Soleil recebeu alguma isenção de R$ 22 milhões, mas se recebeu, acho até que está certíssimo e parabéns para eles -- para fazer uma turnê pelo Brasil seria necessário pagar R$ 22 milhões de impostos??!!! Is

Ao invés de reclamar do que alguém deixou de pagar devíamos estar reclamando dos impostos que nós temos de pagar. O país vai mal e vai tão mal que fica difícil enxergar as raízes de tanta coisa errada.

O senador Marco Maciel escreveu um editorial muito bom nesta terça feira passada no JB. O Brasil precisa passar por uma reforma institucional.

Por onde começar? Eu acho que o grande vilão da história está no conjunto de nossas leis. As nossas leis são a grande fonte de tanta burocracia, de tantos órgãos de governo desnecessários ou inflados, de tanto desperdício e, finalmente, de tanta corrupção. O Brasil é movido a "criar dificuldade para vender facilidade", o que anda de mãos dadas com "aos amigos tudo, aos inimigos a lei".

Isto é que é o problema.

Enquanto não resolvermos isto, a temperatura só vai aumentando. Lembram-se do Ministro da Desburocratização, o Hélio Beltrão? No fundo, tratava-se disto, numa escala menor. Precisamos de um mutirão de desregulamentação, de desmonte (ou ao menos de neutralização) do aparato burocrático, de limpeza das nossas leis, a começar pela nossa constituição.

Precisamos de menos leis e de leis melhores. Menos estado e melhor estado.

Abraço a todos, conhecidos e desconhecidos,

Mario Kossatz

Quanto a mim, vou indo: estou tomando o rumo da roça, literalmente.

Bom fim-de-semana para todos!






Hoje à tarde

  Posted by Picasa





25.8.06


España para bixos-grilos





Mais música folk: desta vez, do outro lado da poça, na Espanha.

A cantora é Maria Salgado; a música, Solo por miedo, é de um CD com um título que é uma delícia, Siete Modos De Guisar Las Berenjenas.

Isso, apesar de eu detestar las berenjenas.





24.8.06


Ainda a exposição: foto Daniel De Plá






(Nelson Vasconcelos, a vossa blogueira e o pequeno Lucas)






Happy Hour









Ecos da semana

Os leitores se manifestam: ninguém agüenta mais

Escrever crônica é manter um diálogo constante com os leitores. Ainda que não se encontre tempo para responder a todas as mensagens recebidas -- e por isso, aliás, peço desculpas aos que tão gentilmente entram em contato comigo -- a leitura da crônica, de um lado, e a dos emails, do outro, não deixa de ser uma espécie de conversa. Através dessa troca de impressões, os leitores passam, com o tempo, a conhecer os cronistas e as suas maniass; ao passo que nós, cronistas, temos a possibilidade de saber para quem estamos falando, e até que ponto estamos correspondendo às expectativas dos que nos lêem. É comum, nessa correspondência, que as pessoas se refiram a nós como "formadores de opinião"; mas, a meu ver, a expressão se aplica apenas a uma pequena parcela do vasto universo que se encontra numa redação. No caso específico das crônicas, acho que "amplificadores de opinião" talvez seja uma definição mais acertada do ofício.

Digo isso porque, depois do desabafo que fiz semana passada, recebi uma quantidade consideravelmente maior de emails do que de hábito -- e a sua tônica era a coincidência de sentimentos entre o que foi publicado aqui e o que estava entalado no coração dos que me escreveram. Estamos todos igualmente amargurados, desiludidos, atordoados com a falência das instituições e a cara de pau dos políticos, que, a se acreditar no horário eleitoral, são santos que vivem em outro planeta. Estamos todos igualmente envergonhados do lamaçal ético no qual o país parece afundar cada vez mais, irreversivelmente:

"Sinto o mesmo que você", escreveu Francesca Santos. "Não consigo fazer de conta que nada está acontecendo... mas não encontro eco. Agora, que se tem liberdade para falar o que se quer, estão todos anestesiados. Saí irritadíssima do "Zuzu Angel". Tanto sacrifício em vão! A liberdade chegou, mas a sociedade está totalmente apática. Naquela época, tive que me amordaçar para não acabar sendo presa e, agora, estou vendo que vou ter que me desligar disso tudo para não adoecer. Sinto-me completamente impotente! Quem sofreu com a falta da liberdade de expressão devia saber o que é isso; no entanto, as pessoas "não estão nem aí". Tenho medo de um segundo governo Lula. No início deste mandato, ele tentou censurar a imprensa, lembra? Com a força da reeleição e a amizade com Chavez, Morales... não sei o que pode acontecer. Socorro! Também quero uma pílula azul."

"Lendo a sua coluna despertei para a minha maior carência, que acredito seja também do povo brasileiro: ter um verdadeiro líder!" observou Patrícia Algranti. "Alguém a quem respeitar e em quem acreditar. Ciente de que só podemos mudar o país elegendo bons candidatos, estou muito triste pois não tenho candidato. Não acredito mais em nenhum político. Existem milhares de livros escritos sobre liderança, cursos caríssimos a respeito e, no entanto, só conseguimos líderes políticos despreparados, desonestos, arrogantes e sem nenhum preparo psicológico para enfrentar um cargo público. Se para conseguirmos um bom emprego temos que passar por dinâmicas de grupo, testes de conhecimento técnico e psicotécnicos, diversas entrevistas, exames de saúde e análise da nossa "ficha cidadã" (SPC, SERASA, criminal, etc.), por que não exigir o mesmo do candidato, que tem muito mais responsabilidades?"

Esta é uma ótima pergunta, Patrícia, que com certeza muitos cidadãos honestos já se fizeram -- mas que, pelo visto, passa ao largo das "idéias geniais" dos poderosos. Fiquei particularmente sentida, porém, com cartas que recebi de leitores petistas. Ao contrário da maioria dos partidos, o PT sempre teve eleitores fiéis e uma militância aguerrida. Nisso estavam, simultaneamente, o que sempre achei sua principal qualidade (a fisionomia bem definida) e o seu principal defeito (a fé perigosamente próxima do fanatismo religioso):


"Desta vez, seu artigo me tocou fundo pois sinto exatamente o mesmo", escreveu Eduardo Horcades. "Há décadas, pois sou militante, desde 1965. Entrei para a faculdade em 66 (PUC-RIO) justamente no "esquentar" das coisas, sou filho de um militar assassinado pela ditadura, sócio atleta do PT -- não deste que está aí, mas daquele que fundamos, amamentamos, moldamos e admirávamos. Não deste que faz acordos com "niutões" e crivellas da vida. Não deste que só tem como objetivo o poder pelo poder e, muitas vezes, por algo mais. Isto posto, acredito que você pode avaliar como me sinto. Escrevo somente para dizer que seu artigo (crônica?) foi de primeira linha e expressou exatamente o que sinto. Exceto, quando diz que "quer uma pílula azul". Não, não quero perder a vontade de gritar não só "não venham aqui" mas muito, muito, muito mais. Quero e vou continuar gritando o mais alto que minha voz permitir."

* * *

Vale, aliás, um esclarecimento. Houve gente achando que a pílula azul à qual me referi fosse Viagra; mas já passei, há tempos, da idade em que sexo é solução para todos os problemas. A pílula azul e seu oposto, a pílula vermelha, são ícones de "Matrix". Quando começa a perceber coisas estranhas acontecendo a seu redor, Neo, o hacker, pode escolher entre a pílula azul, para voltar à paz da ignorância, ou a pílula vermelha, para encarar o tranco da realidade. Não vou contar qual ele escolhe; aluguem o filme, que é ótimo.


(Globo, Segundo Caderno, 24.8.2006)






Pipoca










Tutu










Do ponto de vista do Lucas... *suspiro*










Olívia Hime e Ruy Guerra









23.8.06


As Rónai






(Foto Lucas)






Com Frederico Mendes






(Foto Lucas)






Com Mamãe






(Foto Lucas)






Tom






(Foto Lucas)






Dedicatória






(Foto Lucas)






Vista aérea






(Foto Lucas)






Lindo!






(Foto Lucas)






Fala Foto by Lucas










Silêncio, gravando!










Mercedes, pro RJ TV










Lagoa










Entrevista pra Globonews









22.8.06


Tá bacana... :-)










Na galeria










É a sério...!










Que frio!









21.8.06




Mercedes Viegas Arte Contemporânea
Rua João Borges 86, Gávea
2294-4305



Bom, nem preciso dizer que todos estão convidados, né?

Como não é lançamento de livro -- ainda que ele esteja disponível -- e só exposição, não vou ficar presa a uma mesa e vamos poder bater papo e tomar um vinho; acho que vai ser bem divertido, até porque quem acompanha este blog viu a maioria das fotos no exato instante em que nasceram.

Apareçam! Vou adorar ver vocês por lá, de verdade.





20.8.06


Os macaquinhos da Bia!







Minha alma latina





Adoro grupos folclóricos latino-americanos.

É um desvio de comportamento como outro qualquer, e talvez seja coisa de hippie velha, mas agora é tarde pra me curar disso.

Por esses dias ando escutando direto "Guitarra Transnochada", de Arsenio Aguirre -- acima com Los Fronterizos (o conjunto que fez, a meu ver, a melhor gravação da Missa Criolla, de Ariel Ramirez) e, abaixo, com Los Quilla Huasi.

Os dois grupos são argentinos e fazem "leituras" sutilmente distintas da canção.





Guitarra Transnochada
Zamba de Arsenio Aguirre

La noche me está envolviendo
con su lunita color de plata.
De lejos me trae el río
un rumor suave de agüita clara.

¡Qué noche, vieras qué noche!
La cordillera, toda nevada.
La luna se hace pedazos
sobre las cumbres de la montaña.

¡Ay!, guitarra trasnochada,
canta conmigo mis añoranzas.
Contale cuánto la quiero,
a la que espera, mi enamorada.

Semilla, te has hecho árbol;
flores y nidos fueron tus ramas.
El tiempo quiso traerte
hasta mis manos hecha guitarra.

Amiga, mi leal amiga,
que con mi alma lloras o cantas.
La noche se está volviendo
puro recuerdo, pura nostalgia.

¡Ay!, guitarra trasnochada,
canta conmigo mis añoranzas.
Contale cuánto la quiero,
a la que espera, mi enamorada.





19.8.06


Almoço de sábado










Ziraldo, Chico e Célia










Tin-tin!










Aniversário do Millôrzinho!










Parganismo










Com Maria Adelaide Amaral










Bárbara adorou... (parece)










Outra pose clássica










Rudi e Isabelita









18.8.06


Oops! Mlle.










Platéia










Bibi










Mme Chanel










No Centro










Na saída da TV E










Estúdio










Um novo grafite na Lagoa










Elas são lindas!










Sem Censura

Para vocês não reclamarem depois que não aviso essas coisas: hoje, logo mais, às 16hs, apareço no Sem Censura, tá?

Vou falar sobre o "Fala Foto" e sobre a exposição das fotinhas, que vai ao ar dia 23.





17.8.06

Socorro!!! Como é que se pode viver assim?!

Cronista pede, urgentemente, uma pílula azul, para fazer
de conta que nada está acontecendo



Há um momento em "Zuzu Angel" em que a protagonista explode:

-- É tão fácil andar por aí fazendo de conta que nada está acontecendo!

É, acho que era, sim. Não para quem tinha 20 anos e o sentimento do mundo, claro; mas sim, havia sim uma quantidade de pessoas que tocava a vida, pegava condução, ia ao cinema e bebia chope sem outra preocupação que não a vida imediata, real, palpável: o salário no fim do mês, a comida na mesa, a mulher, os filhos. Uma massa considerável de brasileiros não estava nem aí para a desconstrução do ensino básico, a falta de liberdade de expressão, a corrupção, as prisões, a tortura, o misterioso desaparecimento dos seus semelhantes.

Suponho que fosse fácil andar por aí fazendo de conta que nada estava acontecendo até porque, entre outras coisas, a imprensa, que tudo poderia denunciar, estava sob censura. Ingênuos, achávamos que, quando a liberdade enfim chegasse ao país, traria consigo uma sociedade mais consciente, mais indignada, mais disposta a lutar por sua cidadania. Uma sociedade mais justa. Naqueles tempos binários do "nós" e "eles", do "bem" e do "mal", da "esquerda" e da "direita", tudo era simples e óbvio.

Podíamos nos dar ao luxo de ter ilusões, e de achar que o país tinha jeito -- apenas estava, temporariamente, em mãos erradas.

* * *

A ditadura acabou, os militares recolheram-se aos quartéis, a imprensa não está mais sob censura. E o que descobrimos? Que não existe fundo no poço. Quando achamos que chegamos lá, abre-se um alçapão antes escondido e continuamos caindo. As denúncias cotidianas estampadas nos jornais não escandalizam mais ninguém; já sabemos que o Brasil sempre esteve, está e estará em mãos erradas, haja o que houver, eleja-se quem se eleger.

A essa altura, desfeitos os sonhos de juventude, bem que eu gostaria de andar por aí fazendo de conta que nada está acontecendo, mesmo porque ninguém agüenta tanta notícia desalentadora e vejo, na crônica, o espaço onde, às vezes, se pode refazer uma vaga sensação da normalidade perdida.

Mas, ao contrário do que diz Zuzu no filme, como é difícil andar por aí fazendo de conta que nada está acontecendo! Como é difícil ignorar a degradação do país e da cidade, como é difícil ignorar a degradação das pessoas!

Como é possível andar por aí fazendo de conta que nada está acontecendo?!

Pois a julgar pelos resultados das pesquisas eleitorais, que apontam uma ampla possibilidade de vitória de Lula, uma nova massa considerável de brasileiros desencavou, em algum lugar, a fórmula do anestésico usado na época da ditadura.

Como é possível andar por aí fazendo de conta que nada está acontecendo quando, em meio ao caos mais completo, o presidente fala que o Brasil está "todo ajeitadinho"? Quando o presidente propõe uma constituinte sem justa causa (e ainda encontra respaldo entre formadores de opinião para a sua "idéia genial")? Quando o presidente mente sem qualquer pudor sempre que abre a boca -- e fica tudo por isso mesmo, porque, afinal, todos já se conformaram com a farsa da traição sem traidores?

* * *

Como é possível fazer de conta que nada está acontecendo quando o supremo mandatário da Nação, o nosso principal funcionário, encontra apoio moral em José Sarney e Jader Barbalho, faz campanha para Newton Cardoso e para Marcelo Crivella -- e continua contando com o apoio de gente que antigamente era (ou se acreditava) de "esquerda"?!

* * *

Acho que estou sofrendo da mesma síndrome depressiva pós-Copa do João Ubaldo. Não consigo achar mais nada "normal", nem na rua nem no noticiário. Tudo fede, tudo está podre, tudo agride a quem ainda tem um mínimo de sensibilidade e de noção daquilo que, antigamente, chamávamos de "valores". Calçadas esburacadas e "gatos" em todos os postes da Zona Sul, em tese uma área "nobre"; indulto para presos numa data comercial sem qualquer relevância moral ou religiosa; São Paulo transformada em praça de guerra; o Rio na mesma situação lastimável a que já nos habituamos.

* * *

Já nos habituamos?

Não, sinto muito, eu não consigo me habituar. Eu também quero uma pílula azul para andar por aí fazendo de conta que nada está acontecendo, para esquecer a corja a que estamos entregues, para parar de chorar de raiva e de impotência pelo assassinato daquele pobre rapaz português que viajava tão contente com os pais.

Quero uma pílula azul para perder a vontade de escrever para todo mundo, AOS GRITOS: "Fujam daqui, não venham para cá, não ponham os pés neste país sem lei, sem justiça, sem vergonha na cara!"


(O Globo, Segundo Caderno, 17.08.2006)






Chegamos






(Deu a doida nesta foto e ela viajou sozinha, de madrugada. Agora está no seu devido lugar.)






A bordo










Pronto, já tou indo










Totalmente adiantada!










Cheguei... adiantada!!!










Hoje vou na asa...










A foto de sempre










Esperando o trem de asa










Lá vou eu










Estou torta de sono...









16.8.06


Outra raridade



Mais Jeanne Moreau, em diálogo com Marguerite Duras.

A música faz parte da trilha sonora do mesmo filme do castpost anterior, India Song, e se chama "Rumba des Iles".






Boa idéia

Taí, tou gostando da planilha online do Google...






Lembra, Ribondi?








Desabafo de um amigo querido

No sábado Fred d'Orey, dono da Totem, uma criativa e bem-sucedida empresa de roupas jovens e esportivas, passou pelo que já está se tornando rotina na cidade. No domingo mandou esta circular para os amigos:
"Ontem à noite meu carro foi interceptado na Linha Vermelha por outro veículo, com dois caras armados com fuzis. Sem resistir, enquanto os motoristas atrás de mim davam ré, apavorados, entreguei o carro com tudo dentro -- pranchas de surf no rack, bagagem, $, câmeras, documentos e muitos etcs.

É que eu acabava de chegar de uma viagem de duas semanas na Libéria, África. Vinha do Galeão. 20h30. O moleque não tinha mais do que 15 anos e parecia ligado, tremendo. Minha vida podia ter terminado ali. Muitas terminam, a gente lê isso todo dia nos jornais e acha que nunca vai acontecer conosco. Só que o cerco tá se fechando.

Quando cheguei na patrulha, na verdade um Gol caindo aos pedaços, estacionada a uns 300 metros do incidente, os dois policiais foram da maior educação. E educadamente me explicaram que viram o carro descendo o viaduto mas que não poderiam sair do local.

Disseram que não passam de fantoches (foi essa a palavra que usaram). Explicaram que os equipamentos não funcionam. E que suas armas são infinitamente inferiores às dos bandidos. Enquanto esperava uma patrulha que deveria me levar à delegacia pra dar queixa, e que nunca chegou, ouvi pelo rádio o anúncio de mais três outros roubos de carros na mesma Linha Vermelha. Os dois acabaram confessando que são mais de 80 veículos roubados todos os dias naquela área.

Oitenta. Todos os dias.

Não tenho raiva daquele adolescente. Nem fico indignado com os policiais. São todos vítimas dessa grande tragédia chamada Brasil. Um país rico e que poderia ser tudo, mas que caminha a passos largos pro abismo. Tenho é muito nojo desses políticos safados que há décadas saqueiam o meu Brasil. Que roubam merenda, que roubam ambulância, que roubam sangue, que roubam educação, que roubam saúde, e que roubam segurança. Esses caras estão acabando com o Brasil. Canalhas!

E nós, que trabalhamos e produzimos riqueza e pagamos impostos, estamos condenados a sustentar esses cretinos nas suas contínuas e ridículas reeleições para que continuem a nos roubar ainda mais. Como fazer pra acabar com esse ciclo vicioso de destruição de uma nação? Eu não sei, só sei que tem que acabar.

O Brasil não precisa de fome zero, essa campanha populista de um presidente ignorante e mal intencionado como Lula. O Brasil precisa é de CORRUPÇÃO ZERO. Essa é a única saída. Se os americanos tinham na guerra do Vietnã algo porque lutar, os brasileiros têm a luta contra a corrupção. Nós brasileiros tínhamos que deixar de ser frouxos e partir pra cima desses canalhas ladrões -- todos eles, do município, do estado, de Brasília -- e exigir que trabalhem, que sejam competentes e transparentes. A sociedade tinha que se unir. Os empresários tinham que se unir. E se não funcionar a pressão, iniciar uma outra campanha, IMPOSTO ZERO.

Chega de pagar suados tributos pro dinheiro sumir no ralo da corrupção e da incompetência! Chega de pagar suados tributos pra pagar salário de funcionário público incompetente e parasita!

Mas eu não sei como organizar nada disso. Enquanto batalho 12 horas por dia pra pagar as contas e fazer meu negócio crescer honestamente, esses vermes montam esquemas pra me roubar sem parar. Eles são um câncer.

Tenho medo do que vem por aí. Vocês não?" Fred d'Orey






Jantar de confraternização da Copa









15.8.06


Continua...










Na redação










No táxi









14.8.06

Excelências

O site, da Transparência Brasil, pede que não se vote em corruptos, mensaleiros e sanguessugas. Traz nome e biografia de todos os políticos envolvidos em roubo do dinheiro público e é de enorme utilidade para o eleitor.

Mas é bom correr logo lá e dar um print ba lista dos malfeitores do seu estado que concorrem à reeleição, antes que o governo o tire do ar.

O site não cita partidos (exceto ao dar os prontuários das Excelências), não traz comentários outros a não ser a constatação de que reeleger esta corja é coisa de lemingues mas,ciente do tamanho do seu rabo preso, o PT entrou com uma queixa-crime contra a Transparência Brasil.

Nem vou comentar.






Adeus, Coruja

Escreve o Lucas:
"Amigos,

Como disse uma amiga, esse texto não vai ser escrito do jeito que eu queria, mas é o que eu consigo fazer.

Minha gata de seis anos, Coruja, de repente emagreceu e bebia e comia muito pouco. Com a ajuda da Heliana, liguei para o veterinário e marcamos uma visita na sexta passada.

Ao examinar a Corujinha, o veterinário disse que ela estava com infecção urinária e em seguida foi tirar sangue. Foi difícil achar a veia pois estava desidratada e quando pegava a veia o sangue não vinha por estar grosso, sem líquido. Mas coletou o sangue.

O veterinário levou o sangue para o laboratório e na sexta de noite mesmo ele me ligou para dar o resultado. Corujinha estava com PIF (peritonite infecciosa felina), uma doença sem cura nem tratamento que se passa de gato pra gato pela saliva. Segundo o veterinário, o rim da Corujinha estava parando de funcionar e os outros órgãos também parariam, ocasionando a falência múltipla dos órgãos. E além disso a Corujinha, que já estava magra, ia continuar ficando magrinha até ficar pele e osso.

Foi um susto e naquele momento todo um filminho veio à minha cabeça. Não que eu já tivesse visto aquela cena, mas por começar a imaginar o que seria da minha gata/companheira a partir daquele dia.

Não contei a ninguém. Fui dormir com aquilo na cabeça, tentando digerir um pouco dessa história toda. Existiam duas soluções para o caso da Corujinha, a primeira seria deixar ela como está e morrer sofrendo e a outra solução seria a eutanásia.

Não queria ver minha gata sofrendo na minha frente, pedir carinho com as perinhas bambas de tão fracas. Além do sofrimento dela, eu também ia sofrer muito - já estávamos sofrendo. Então decidi pela eutanásia. Alguns são contras, acham que eu deveria ficar com ela até o fim, outros acham que eu sou assassino por resolver pela eutanásia. Mas para mim foi muito claro. A eutanásia seria a melhor solução para a questão.

Eu já tinha tomado essa decisão no sábado. Tenho chorado muito desde sexta. Meus amigos estão sendo essenciais nesse momento. Cada um com seu jeito de me confortar, cada um com belas palavras e belas ações.

Marquei com o veterinário para ele vir aqui em casa hoje, segunda feira dia 14 de agosto, às 16h "aplicar" a eutanásia. Acho que isso me fez sofrer mais, por saber o dia a hora e como minha gata ia morrer. Eu pensava, que essa seria a última vez em que ela se esfregava em mim, a última fez que ela me pedia carinho e o último ronron que eu ouvia dela.

O veterinário veio aqui em casa e duas amigas, Heliana e Ju, também vieram para dar força. Foi rápido. Anestesia para ela dormir e um remédio para o coração parar de funcionar na veia. Na hora não consegui pensar em nada, não acreditei no que via era tudo um pesadelo e eu queria acordar e ver minha gata do meu lado.

Corujinha dormiu um sono profundo. Esse sono não teve dor nem sofrimento. Mas para quem fica é doído demais. Uma amiga disse que o coração fica cheio cicatrizes que às vezes dão fisgadas, e a minha cicatriz está aberta dando fisgadas contínuas.

Agora a ficha está começando a cair e eu estou percebendo a realidade da história. Não vou ver minha gata pela casa, não vou mais olhar pro chão pra não machucá-la ao mexer com a cadeira, não vou mais acordar e ver aquela bolinha de pêlos no sofá, não vou mais fazer carinho nela dormindo na cama e não vou mais fazer um bando de coisas, que me davam tanto prazer, ao lado dela.

Eu tenho a consciência que esse último ano (que se completaria no dia 2 de setembro) que a Corujinha passou comigo foi o melhor ano da vida dela. O papel que ela tinha que cumprir comigo ela cumpriu e o meu com ela eu cumpri. Dei um ano de muito amor, carinho, comida e segurança, coisa que a Corujinha nunca teve.

Coruja está, agora, no céu dos gatinhos numa nuvem branquinha me abençoando. E eu estou aqui escrevendo e chorando ao mesmo tempo, com uma dor que parece ser infinita.

Agradeço aos e-mail com palavras confortáveis e a preocupação permanente. Sem amigos, mesmo aqueles que eu nem conheço pessoalmente, eu não estaria aqui tão forte."

Lucas Landau






Descalabro

Estou tão triste com o assassinato do rapaz português que viajava com os pais! Dá vontade de escrever para todo mundo dizendo Não venham para cá, não ponham os pés neste país sem lei, sem justiça, sem vergonha na cara!






Net II










Net










Alguém passou por aqui...









13.8.06


Zé e Pipoca










Outra foto do Daniel










Foto Daniel De Plá






Aí estamos, a Mercedes e eu, decidindo as molduras. A escolha das fotos foi dela, e a ampliação, surpreendente, do Daniel De Plá: até eu me espantei como as figurinhas ficaram boas em tamanho grande.






Preparando a exposição






Ainda é meio cedo pra fazer o convite, mas quem já quiser anotar na agenda, pode marcar: dia 23 é o vernissage da minha exposição de fotos de celular.

A exposição vai ao ar na Mercedes Viegas Arte Contemporânea, o que estou achando um luxo supremo: a Mercedes só trabalha com pesos pesados das artes, e nem em sonhos eu podia imaginar que as minhas fotinhas iriam um dia desfilar por lá...

Dizer que estou toda prosa é um understatement.






Emergência felina!



Essas quatro gracinhas estão precisando urgentemente de lares amorosos. A Ju conta a história deles aqui.





12.8.06


Peço votos!

Aos coleguinhas que lêem este blog e leitores cadastrados no Comunique-se: tanto a Elis Monteiro quanto eu fomos indicadas para a categoria de jornalista de informática do Prêmio Comunique-se.

Este é o prêmio que eu tive a honra e o prazer de ganhar há dois anos.

Por isso, peço aos que estão habilitados a votar que corram lá e, por favor, votem na Elis, que, além de ser aquela gracinha, é, na minha opinião, uma das maiores especialistas em telecomunicações, uma área delicada e difícil de cobrir.

Ela merece, acreditem.

Valeu!






Cut & Paste




O novo formato do Globo online foi adotado para evitar o cut&paste que vinha acontecendo direto não por blogueiros e demais "paisanos" da rede, porque isso naturalmente até favorece o jornal, mas por parte de jornais do interior.

Claro que quem quer copiar sempre dá um jeito de copiar, mas parece que entregando de bandeja, como vinha acontecendo, as vendas da Agência Globo estavam sendo muito prejudicadas; e essas vendas ajudam a sustentar o jornal e seus empregados, entre os quais esta blogueira modesta mas orgulhosamente se inclui.

Assim a nível de pessoa, enquanto gente, gostei e não gostei do novo formato. Gostei porque é possível ver as páginas exatamente como saíram, e todas as fotos e ilustrações; mas não gostei porque odeio popups (embora no Firefox se possam abrir exceções para cada caso) e porque, óbvio, acho fundamental poder dar um cut&paste no que me chama a atenção.

A melhor solução que descobri até agora para contornar este problema é a que vocês estão vendo aí: capturar a página, recortar o que se quer, subir para o Flickr e blogar para cá. Está longe do ideal, mas quebra um galho.

Esta captura, por sinal, saiu um pouco pequena; da próxima vez, vou tentar fazer em tamanho maior para facilitar a leitura.





11.8.06


Os vizinhos da Bia na casa nova







Nós também vamos dormir










Durmam bem!









10.8.06


Ponto para o terrorismo

Estava assistindo na CNN à confusão armada nos aeroportos de Londres com a suposta descoberta de um plano terrorista para mandar pelos ares (no mau sentido) alguns aviões . E cheguei à conclusão de que, nessa guerra, se é que guerra é a palavra certa, os terroristas sempre ganham.

A questão é que o ato terrista levado a cabo é sempre mais "espetacular" e indiscutível do que a sua prevenção. A Scotland Yard realizou mais de 20 prisões, está tornando a vida dos passageiros dos vôos londrinos um inferno e é possível que, com isso, tenha evitado um mal maior.

Mas, sobretudo depois do assassinato do inocente Jean-Charles -- que aliás já completa um ano -- a credibilidade dos órgãos de segurança sempre pode (e deve) ser posta em questão.

Quando a polícia acerta -- supondo que a Scotland Yard tenha de fato frustrado um atentado de proporções épicas -- toda a evidência vem acompanhada de subjuntivos e pontos de interrogação.

Ao mesmo tempo, o próprio transtorno causado pela prevenção do atentado e a sua repercussão na mídia não deixam de ser uma vitória do terror: imaginem o sentimento de poder de um Osama Bin Laden assistindo pela televisão àquele caos!

Que tempos, os nossos.






Bom dia!









Não deixem de ver "Zuzu": é grande cinema

Eu sei, eu sei -- ainda outro dia eu disse que voltava no dia 17, e eis-me aqui em pleno dia 10, interrompendo o descanso de vocês e deixando a Nani Rubin, que fecha este caderno, doidinha da silva. Mas acontece que fui ao cinema assistir a "Zuzu Angel" -- e gostei tanto, mas tanto, que não dava para esperar até a semana que vem.

Sabem quando a gente sai do cinema e precisa falar sobre o filme? Pois é.

* * *

O ideal seria que todos sempre fôssemos ao cinema completamente desarmados, despidos de julgamentos, idéias formadas, preconceitos. "Zuzu", porém, fala de uma história que, para a minha geração, aconteceu ainda ontem -- e que, de modo geral, tem sido muito mal contada, assim como toda e qualquer história recente.

É quase impossível lidar com a História, de forma objetiva, enquanto as pessoas que a fizeram, ou pelas quais passou, ainda estão vivas. Há paixões demais, dores demais, feridas que nunca cicatrizaram; há também uma cacofonia impenetrável de opiniões dissonantes e de interpretações diametralmente opostas dos mesmos fatos -- e nem falo das divergências naturais entre opressores e oprimidos, militares e civis, "eles" e "nós". Falo apenas da verdade de cada um, sem me subtrair da questão.

É que ando ressabiada com muita coisa que leio e assisto sobre o que vi, sobre o que acontecia enquanto eu crescia no meio da confusão. Às vezes tenho a impressão de que, nos últimos anos, houve uma proliferação de heróis, uma inflação de defensores da liberdade. Sobretudo tenho a impressão de que, bem debaixo do nosso nariz, construiu-se uma gigantesca tinturaria de biografias.

* * *

Isso não tem nada a ver com Zuzu Angel em si, naturalmente, mas com o estado de espírito com que venho recebendo a maioria dos livros e filmes que tratam de tempos que vivi. Assim, não digo que tenha ido ao cinema com um pé atrás, mas confesso que fui, sim, com uma boa dose de apreensão.

Pois não precisava. "Zuzu Angel" é, disparado, o melhor dos filmes que vi sobre os anos da ditadura. Até porque evita, na medida do possível, a questão ideológica, atendo-se a um sentimento mais profundo, universal e inquestionável: o desejo de justiça. Paradoxalmente, isso faz dele o mais político dos filmes políticos. A revolta de Zuzu, como a de Antígona, pode ser compreendida por qualquer pessoa, em qualquer quadrante e em qualquer época; a sua ação é política em estado puro, limpa da contaminação nojenta que hoje nos agride por todos os lados.

É surpreendente como a história, que todos conhecemos tão bem, ganha tons de suspense nas mãos do diretor Sergio Rezende, também roteirista (com Marcos Bernstein); sabemos, bem ou mal, como os fatos aconteceram, e sabemos como tudo acabou -- mas, ainda assim, a tensão é aflitiva, constante.

A Zuzu que vemos não é uma guerrilheira, não tem ilusões ideológicas nem acredita que o filho e seus companheiros possam mudar o país. Como típica personagem das grandes tragédias, é uma inocente, arrastada para o torvelinho da História contra a vontade.

A forma como o desenrolar desta tragédia acontece diante dos nossos olhos é perturbadora, especialmente pelo que tem de plausível e de inevitável. Poucas pessoas agiram com a tenacidade e a bravura de Zuzu, mas é mérito do filme, e sobretudo de Patrícia Pillar, fazer crer que para aquela mulher, que sequer se sentia particularmente corajosa, aquela era a única atitude possível.

* * *

Patrícia Pillar, diga-se, está simplesmente extraordinária. Já esperava um bom desempenho dela, que está entre as melhores atrizes de sua geração, mas o tour de force que vi vai muito além do que poderia imaginar. Ela consegue fazer com que o espectador se esqueça completamente da sua presença, ou seja, em nenhum momento se pensa "Ah, lá está a Patrícia Pillar fazendo a Zuzu Angel". A personagem está tão solidamente construída que a atriz desaparece à sua sombra, como deve ser -- mas raramente é.

Há inúmeras cenas memoráveis no filme. Numa, Zuzu procura o pai de Lamarca. Em seu último papel, Nelson Dantas transmite toda a perplexidade do sapateiro humilde sem pronunciar uma única palavra. Infelizmente, ele não viveu para ver o comovente resultado do seu trabalho.

Noutra, encerrando um desfile em Nova York, Zuzu apresenta-se de luto, com o retrato do filho nas mãos, a quintessência da tragédia. Imaginem o impacto daquele desfile, subitamente transformado em manifestação política!

* * *

Luana Piovani como Elke Maravilha é um achado, assim como a cena em que a própria Elke, em pessoa, canta numa boate na presença da Elke-personagem. O elenco todo, por sinal, está muito bem e, sobretudo, muito bem escolhido, de Leandra Leal, como Sônia, mulher de Stuart Angel, a Othon Bastos, como um dos generais.

A trilha sonora de Cristóvão Bastos é, previsivelmente, da melhor qualidade. Vale, porém, destacar um detalhe importante: "Angélica", a canção de Chico Buarque que há 30 anos lembra Zuzu, entra apenas no fim, quando rolam os créditos. Com isso, o que seria abertura óbvia vira final lancinante -- e como dói.


(O Globo, Segundo Caderno, 10.8.2006)






Keaton não pode ver isso...

O Tom (quem mais?) encontrou um filme de gato sensacional!





9.8.06


Esta também










Esta ficou entalada no Flickr










Missão cumprida










Mudança radical de paisagem










...










Para comparação: SE W800










Samsung 915










...










Um bom lugar pra passear










Sampa










Sampa









8.8.06


Photo Magazine










Sonhos de consumo










* suspiro *










PhotoBrazil










Chegando a São Paulo










Uma das suas fotos










John Isaac, fotógrafo










(Essa ficou melhor)










Olha a minha casa lá!










:-)










No ar










Um lindo dia para voar










Próximas fotos de Sampa. Fui!










A caminho










Céu azul, leste oeste norte sul...









7.8.06


De volta à rotina










A caminho do trabalho








Mais um mistério...






6.8.06


Bia veio buscar umas coisas










Anoitece










Mosaico










Domingo em Ipanema









5.8.06


Daqui a pouco começa o segundo turno...










Outro almoço










Hoje sim...










Amigos










Amigos










Isso que é vida...










Bom dia!










Boa noite!









4.8.06


Salve, lindo pendão










O tempo ainda não está como eu gosto










Tem coisa mais linda?










Já de Tutu não se espera outra coisa










Keaton às vezes se porta como um gato...










Eta calorzinho bom!










Não sobrou nada para mim nessa mesa?










Bom dia!










Auto-retrato com Tati









3.8.06


Não se pode nem tomar banho em paz?!










Cena de inverno 2










Cena de inverno










Keaton e Tutu ajudando no trabalho










Mundo Animal

A Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais (SEPDA) promove hoje, dia 3 de agosto, a VI Campanha Educativa de Adoção de Animais. A ação será realizada de 10hs às 16hs, na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema.

Cerca de 30 animais, entre gatos e cachorros, foram selecionados pelos veterinários da SEPDA. Eles estão em perfeito estado de saúde, sendo os adultos já castrados. Pessoas que vierem adotar filhotes terão de firmar um compromisso para, posteriormente, marcarem os procedimentos de esterilização.

Os interessados deverão responder a um questionário visando o acompanhamento das adoções e a criação de um banco de dados por parte da Secretaria, que permitirá a avaliação dos resultados destes trabalhos. Para a adoção serão exigidos comprovante de residência e carteira de identidade.



Enquanto isso, este simpático filhotinho espera, aqui na Zona Sul, alguém que possa adotá-lo com urgência: está temporariamente alojado na casa de uma família gato onde não foi bem recebido pelos titulares.

É muito mansinho, está castrado, vermifugado e sem pulgas, pronto para ir para um lar onde seja bem acolhido. Quem se habilita? A bípede que lhe deu guarida, e que está afltíssima com a situação, foi a Claudia: 2299-2657, no trabalho, e 9401-2326, celular.





2.8.06

Eu sei que fiquei mais velha anteontem, mas...

...a memória já foi brejo há tempos!

Não é que me esqueci do aniversário da Alicia, a bipinha mais nova e temperamental da família?!

Minha ruivinha faz três anos hoje.

Agora olhem para esta foto, e digam se existe avó mais desnaturada...

Tsk, tsk, tsk.




PARABÉNS, ALICIA LINDA!



Aqui vão outras fotinhas dos meninos:
basta clicar para vê-las ampliadas no Flickr.











Trilha sonora do dia

Estou gozando o privilégio absoluto de ficar em casa, sem obrigações, lendo (O livreiro de Cabul, O incêndio, B92 e, quando canso de tanta desgraça, The Big Book of Cats, presente de aniversário da Heliana que, por autêntico milagre de Bastet, eu ainda não tinha), embrulhada em cobertores e gatos.

A trilha sonora é música das Ilhas Canárias, que descobri há coisa de uns 20 anos, quando o Paulinho, depois de ganhar um concurso de redação, participou, com outros 200 garotos e garotas de 14/17 anos, da reconstituição de uma das viagens de Cristóvão Colombo.

Na época, ele voltou da epópeia com diversas fitas cassetes de dois grupos maravilhosos, Los Gofiones e Los Sabandeños. Ouvimos muito essas fitas juntos. Depois os cassetes caíram em desuso e, até o Napster aparecer em cena, nunca mais ouvi "Palmero sube a la palma".

Pois por esses dias apareceu no entreposto que freqüento um tipo canário, ou pelo menos muito aficcionado pela música local. Graças a ele, estou me deliciando com a discografia completa dos dois excelentes conjuntos, que recomendo a todos que curtem um passodoble suave, um bolero ensolarado, uma salsa com sotaque.

Vale!






Zuzu Angel

Notinha rápida, que tenho que ir dormir: não deixem de ir assistir a Zuzu Angel, filme de Sergio Rezende com Patrícia Pillar no papel título.

É, disparado, o melhor filme que vi até agora sobre os anos da ditadura -- até porque evita a questão ideológica, para se prender a um sentimento mais profundo e universal: o desejo de justiça.

É incrível como a história, que todos conhecemos tão bem, ganha tons de suspense nas mãos de Sergio, também roteirista (com Marcos Bernstein); sabemos como os fatos aconteceram, sabemos como tudo acabou e, ainda assim, a tensão é constante.

O elenco é ótimo -- Luana Piovani como Elke Maravilha é um achado, assim como é a cena em que a própria Elke canta numa boate na sua presença.

Patrícia, porém, está simplesmente espetacular. Eu já esperava um bom desempenho dela, que é das minhas atrizes favoritas, mas o tour de force que vi na tela vai além do que se poderia imaginar. Ela consegue fazer com que a gente se esqueça completamente da sua presença, ou seja, em nenhum momento se pensa, "Ah, lá está a Patrícia Pillar fazendo a Zuzu Angel". A personagem está tão sólida e bem construída que a atriz desaparece na sua sombra, como deve ser -- mas raramente é.

O filme estréia nesta sexta. Ainda vou escrever mais a respeito, mas por enquanto fica a recomendação: não percam. É grande cinema.





1.8.06


Ipanema










A melhor churrascaria do mundo










Na Barra










O presente de que o Mosca mais gostou...










As maracaias