13.10.01

Tecendo a rede


Achei esta msg da Mila Ramos no blog do Fábio Marchioro:

Eu também choro quando vejo essa imagem de gente como nós, de olhos fundos de fome, de ossos expostos e de barriga túmida! Mas eu preciso perguntar uma coisa: onde estão as fortunas dos orientais, do petróleo, das tâmaras e dos grãos mais caros do mundo? Onde está o dinheiro que eles multiplicam nos mercados ocidentais? O que fazem com os petrodólares? Será que não daria pra mudar um pouquinho que fosse, o quadro da indigência de seus irmãos, criar alguma forma de trabalho, mesmo as mais rudimentares, para que os mais pobres tivessem como sustentar seus filhos de olhos fundos e barrigas famintas, que tanto nos comovem? Será que a eles, aos donos das maiores fortunas do mundo, não comove? Será que a herança deixada pelo pai de bim Lader, tão potencializada nas bolsas dos países ricos, somada às doações dos magnatas escusos do terrorismo, não daria para mudar um pouco o cenário que nos está sendo exposto, buscando nossa piedade, provocando nosso ódio, como se os EE.UU e nós, ocidentais, fôssemos os únicos responsáveis por esse quadro..? E eles? O que fazem pelo seu próprio povo, segundo eles, em nome de Allah? Deus deve estar muito chateado por causa disso! A riqueza deles serve para derrubar torres. Matar a fome e salvar vidas é assunto nosso. (Mila Ramos)






Quesito emoção


No New York Times começa a aparecer, aos poucos, uma tocante colcha de retalhos sobre os mortos do 911. Ela está num site chamado Remembering the Victims, para o qual as pessoas podem mandar fotos e textos sobre os seus entes queridos. Lá estão os pequenos detalhes das vidas interrompidas, as pequens manias, gracinhas e gestos que fazem, de cada um de nós, um bípede especial. Pobres pessoas. Todas: as mortas e, sobretudo, as vivas.





Morituri te salutant


Há poucas coisas mais tristes no universo dos atentados do que ouvir os recados que as pessoas que estavam nos aviões ou no WTC deixaram nas secretárias eletrônicas de maridos, mulheres, pais, amigos. Com a cobertura asséptica que a mídia optou por dar aos ataques, eles são os raros vislumbres de humanidade que temos, mais ou menos como os patéticos cartazinhos espalhados por Nova Iorque com os retratos dos desaparecidos; mas os cartazinhos são vistos apenas en passant, como pano de fundo de matérias mais ou menos genéricas. Numa ânsia hipócrita de não chocar o público ("somos decentes, não estamos faturando em cima da miséria alheia"), as redes de televisão e mesmo os jornais furtaram-se de mostrar os resultados mais grotescos e pungentes do massacre, o sangue, os corpos despedaçados. Se a mídia popular sempre exagerou na vulgaridade, ao exibir detalhes mórbidos dos piores crimes e acidentes, desta vez a chamada grande imprensa exagerou na... elegância.

Foi uma decisão questionável, que deixou ao espectador ou leitor a difícil tarefa de chegar ao varejo através do atacado: tivemos que extrair da visão espetacular das torres moribundas os milhares de tragédias individuais que aconteciam naquele exato instante. Ficamos chocados com o horror e perplexos com as dimensões da grande tragédia, mas só nos sentimos genuinamente emocionados e tocados como seres humanos quando vimos ou ouvimos as pequenas tragédias, quando conseguimos identificar, em meio aos escombros, os nossos semelhantes, os nossos irmãos.

Esta foi, também, uma decisão que pode custar muito aos Estados Unidos em termos de apoio emotivo, digamos assim. Neste momento, pela primeira vez desde o dia 11 de setembro, o Taliban convida a imprensa estrangeira a entrar no Afganistão. O Guardian estima que 19 equipes de TV estejam a caminho de Karam, uma aldeia a 80 quilômetros de Kabul, onde o bombardeio americano teria matado cerca de 200 pessoas; nenhum representante da mídia impressa foi autorizado a entrar no país. Esta é, claramente, uma guerra de imagens e de relações públicas.

Não há nada sequer remotamente parecido com o WTC em Karam; o que as câmeras vão encontrar desta vez serão as ruínas de casas paupérrimas e, com certeza, pelo menos algumas criancinhas mortas ou mutiladas. Sem escolha, as emissoras serão obrigadas a nos mostrar cenas que vão cortar nossos corações, que vão nos ferir a alma de forma mais dolorosa do que um Boeing cinematográfico atingindo um dos edifícios mais altos do mundo.

E o que é que a CNN ou a NBC vão fazer quando o estrago estiver feito? Tirar do arquivo as imagens verdadeiramente chocantes do ataque? Esqueçam. Ou eu muito me engano, ou estamos a ponto de ver mais um gigantesco gol contra dos EUA nessa guerra suja, em que só há bandidos e perdedores.





Pronto, Bia!


Foi assim: num comente, a Bia perguntou se já havia foto do Tourist Guy em frente ao Corcovado.
Pois prontamente o João Marcos Turnbull fez com que houvesse.
Aí está o resultado.
Que eu saiba, é a primeira aparição do Tourist Guy em solo (virtual) brasileiro.
Valeu, João Marcos, ficou muito legal!







Um grupeto bizarro se diverte no Rio... e faz umas fotos ótimas!





Sonhar não custa nada


O Relatório Alfa chama a atenção para o lançamento, no próximo dia 26, de um carro movido a ar comprimido, super econômico e, melhor ainda, absolutamente não-poluente. Ele é um projeto da francesa Motor Development International, MDI, com sede em Luxemburgo e representação em toda a América Latina (baseada em Barcelona), que procura sócios no Brasil. Não, não é hoax; mas vocês acham que as empresas de petróleo vão deixar uma maravilha dessas dar certo? Ou que as montadoras de veículos tradicionais vão ficar quietinhas enquanto ele conquista o mercado, a 130km por hora? É ruim!






12.10.01

Imperdível!


Nós estávamos nos divertin... digo, trabalhando, aqui na redação, quando a Mariana descobriu uma galeria sensacional na Poynter.org, com as capas dos principais jornais do mundo nos dias 11 e 12 de setembro. É imperdível para qualquer jornalista, lógico, mas muito interessante também para qualquer um que goste de ver variações sobre um mesmo tema. Agora estou fechando o caderno de segunda e não tive tempo de ver metade delas, mas acho que vai ser difícil encontrar uma tão eloquente quanto a do San Francisco Examiner -- até aqui a minha favorita, disparado.





Dinheiro fácil, mas...


Se você fala árabe, farsi ou pashto, esta pode ser a sua grande chance! O FBI está procurando linguistas experientes nesses idiomas, pagando entre US$ 27 e US$ 38 por hora. Mucha plata! É claro que o Bureau tem lá as suas exigências: o elemento deve ser cidadão americano com residência permanente nos Estados Unidos; deve estar disposto a fazer um teste de polígrafo e permitir investigação completa da sua vida nos últimos dez anos. Que pena que para o cargo de presidente não se fazem tantas exigências!

PS -- Aproveite a ida até a página do FBI para ver quais são as características de uma correspondência suspeita. Eu fiquei impressionada, há detalhes que nunca teriam chamado a minha atenção. O problema é que, no fundo, somos todos muito inocentes.





Bia, olha só: não é que já fizeram até uma página?!





Então beleza não põe mesa, é? Tá, vai nessa.





Sonhos desfeitos


Estou odiando o noticiário. Qualquer noticiário de guerra me irrita ao extremo, por lembrar que animal idiota é o ser humano, que criatura primitiva e desprovida de compaixão e sensibilidade social. Mas o noticiário desta guerra, particularmente, está tendo um efeito deletério sobre uma parte fundamental dos meus sonhos: Islamabad, Kendahar, Kabul -- desde criança, esses sempre foram nomes mágicos para mim, cidades de mistério e intriga, onde aconteciam os melhores enredos do mundo. Passei muitas e muitas horas refugiada em romances de aventura onde cada uma delas era mais bonita e resplandescente do que a outra, todas cheias de metafísica, tapetes, tâmaras e objetos de cobre, numa sensação não muito diferente da que tomou Álvaro de Campos, aka Fernando Pessoa:

(....)
Uma folha de mim lança para o Norte,
Onde estão as cidades de Hoje que eu tanto amei;
Outra folha de mim lança para o Sul,
Onde estão os mares que os Navegadores abriram;
Outra folha minha atira ao Ocidente,
Onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o Futuro,
Que eu sem conhecer adoro;
E a outra, as outras, o resto de mim
Atira ao Oriente,
Ao Oriente donde vem tudo, o dia e a fé,
Ao Oriente pomposo e fanático e quente,
Ao Oriente excessivo que eu nunca verei,
Ao Oriente budista, bramânico, sintoísta,
Ao Oriente que tudo o que nós não temos,
Que tudo o que nós não somos,
Ao Oriente onde — quem sabe? — Cristo talvez ainda hoje viva,
Onde Deus talvez exista realmente e mandando tudo...
(....)

Ou ainda este outro eco do Oriente exótico e altamente refinado de Baudelaire:

(....)
Des meubles luisants,
Polis par les ans,
Décoreraient notre chambre ;
Les plus rares fleurs
Mêlant leurs odeurs
Aux vagues senteurs de l'ambre,
Les riches plafonds,
Les miroirs profonds,
La splendeur orientale,
Tout y parlerait
À l'âme en secret
Sa douce langue natale.

Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
(....)

Pois é. As minhas cidades mágicas nunca mais serão possíveis.

PS -- Aos não-francófonos, perdão pela citação, mas não achei nenhuma tradução do poema. E não, não se preocupem, este blog não tem a menor intenção de fazer citações em grego, latim ou farsi. Digamos que o Baudelaire foi uma extravagância ditada pela melancolia. Pronto. Já passou.







A Sabena, companhia aérea da Bélgica, está sendo o grande assunto econômico da BBC esta noite. Fico aqui ouvindo essas notícias sérias a respeito de uma pobre empresa moribunda, e tudo o que consigo pensar é no que significa Sabena: Such A Bloody Experience Never Again.





Não há de ser uma guerrinha lá na esquina que vai desviar a Amazon.com do seu poderoso mix de criatividade, serviço e maus negócios, certo? A nova novidade da melhor livraria online do (ainda) planeta é o livro folheável, ou seja: em vez de comprar um livro de arte ou figurinhas no escuro, apenas pela capa, o cliente pode agora ver também um certo número de páginas da obra em questão. Para quem tem banda larga e/ou está na captura de livros ilustrados, é uma grande pedida.







11.10.01

Anthrax ou Antraz?


Uma mensagem enviada pelo tradutor Guilherme Basílio esclarece um ponto importante. Escreve ele:

"ANTHRAX (inglês) não é ANTRAZ, e sim CARBÚNCULO em português; para complicar,

ANTRAZ (português) não é ANTHRAX. É, imagine, CARBUNCLE em inglês.Como disse o esquartejador, vamos por partes:

ANTRAZ é português (em inglês, a doença chama-se CARBUNCLE): uma furunculose, infecção cutânea normalmente por Stafilococus aureus caracterizada pela presença de vários furúnculos no mesmo ponto da pele. Como qualquer furúnculo, é incômodo mas de evolução benigna.

ANTHRAX é inglês (em português, a doença chama-se CARBÚNCULO): doença infecciosa bacteriana zoonótica causada pelo Bacillus anthracis ou seus esporos que, ocasionalmente, se transmite ao homem por contato acidental com a pele, por ingestão ou por inalação.

A infecção humana mais comum é o carbúnculo cutâneo (pele) que geralmente se cura de forma espontânea embora, raramente, possa progredir para um acomentimento sistêmico, comprometendo as meninges com alto índice de letalidade.

A forma gastrintestinal adquire-se pela ingestão de carne contaminada mal cozida, e também tem letalidade importante.

Por fim, a infecção pulmonar, adquirida pela inalação, que rapidamente evolui para uma infecção sistêmica que quase sempre é fatal.

O CARBÚNCULO, tradicionalmente, é doença ocupacional, posto que praticamente só é contraído por quem manipula carcaças, peles ou couros de animais contaminados. Em inglês, além de ANTHRAX, tem os nomes de WOOL SORTER ou RAG SORTER DISEASE - doença do separador de lã (wool) ou doença do separador de couros (rag).

É este último, o Bacillus anthracis, que vem sendo modificado em laboratório para fins de guerra bacteriológica, visando à disseminação pandêmica do CARBÚNCULO.

Lamentavelmente, até o Aurélio errou e define o verbete ANTRAZ como a infecção causada pelo Bacillus anthracis, o que é frontalmente desmentido pela literatura médica. A palavra ANTRAX não existe em português."

Fontes:
Dicionário Médico Dorland, Editora Manole (18a edição)
Dicionário Médico Stedman, Editora Koogan






Um Nobel para Sir Vidia


V(idiadhar) S(urajprasad) Naipaul, ou Sir Vidia para todo o establishment literário inglês, levou o Nobel de literatura deste ano. De família indiana, mas nascido em Trinidad (aquela ilhota do Caribe que fica ao lado de Tobago), ele é, disparado, um dos grandes escritores de livros de viagem deste século, digo, do século passado -- neste, acho que ainda não publicou nada do gênero -- talvez um dos maiores de todos os tempos. Por outro lado, dizem (mais especificamente: diz Paul Theroux, que escreveu um livro chamado Sir Vidia's Shadow, com o único propósito de esculhambá-lo -- e muita gente concorda com o dito livro) ele é um osso duro de roer, uma pessoa difícil, metida, cheia de não-me-toques. Pode se dar a esse luxo, porque escreve bem pra caramba -- mas, sobretudo agora, depois do Nobel e do seu nada desprezível milhão de dólares, pode fazer o que bem entender. Ele é um chato insuportável? Who cares? A gente não tem mesmo que conviver com ele...

Segundo Per Wastberg, o membro da Academia sueca que normalmente dá essas notícias à imprensa, Naipaul "considera a religião o flagelo da humanidade, que acaba com as nossas fantasias e o nosso desejo de pensar e experimentar". Tá certo. E taí o recado político deste ano da Academia. Bota político nisso: um dos livros de Naipaul disponíveis aqui no Brasil é "Entre os fiéis", lançado pela Companhia das Letras -- uma visão do islamismo a partir da Teerã dos aiatolás. Eu não li este livro, especificamente, mas li alguns outros, e inúmeros artigos e ensaios do Naipaul. Recomendo A Bend in the River, que descobri no início dos anos 80 e me causou, então, uma fortíssima impressão: nada acontece na história, mas o clima de tensão só é comparável, a meu ver, ao de "Under the Volcano", de Malcolm Lowry.





Flagrante de uma tarde amena nas colinas do Afganistão, onde um membro do esquadrão técnico tenta, pacientemente, desmontar uma bomba americana não explodida.













Ich bin ein link!


O mundo é vasto e variado e coisas curiosas nele acontecem todos os dias. Por exemplo: este blog tem um leitor alemão -- que faz, aliás, um excelente blog, o Schockwellenreiter (pelo menos assim me parece: o meu alemão não dá nem para a saída, mas o Kantel salpica uns posts em inglês e fala de assuntos caros ao meu coração, tudo isso dentro de um layout clean e inteligente). E como é que eu sei que ele me lê? Ah, porque ele acaba de me linkar pela segunda vez! Aliás, recomendo fortemente essa lista de links: há maravilhas, e boa parte em inglês.

Agora eu pergunto: tem coisa mais chique do que a gente ser linkada numa língua que nem fala? Ha!





Oops, sorry...


Sabem aquele encontro secreto da RIAA com grupo de altos executivos da indústria e políticos americanos noticiado pelo The Register ontem, para o qual chamei a atenção de vocês aqui? Pois pasmem: não passou de um hoax! A turma espertíssima do Register caindo num... hoax?! Mas foi isso mesmo: hoje Tony Smith, que soltou a matéria acreditando no conteúdo de um e-mail que recebeu, reconhece, contrafeito, o tamanho da mosca que comeu, e pede desculpas aos leitores. Eu as repasso a vocês e, de quebra, acrescento as minhas.




Um dos meus sites favoritos é o Arts & Letters Daily, que traz um pequeno resumo dos principais artigos do dia no mundo anglófono. Mistura de clipping eletrônico com coleção de links, ele é muito bem feito, e é um dos meus pontos de parada diários.







10.10.01

RAWA

(Revolutionary Association of the Women of Afghanistan)

Sem comentários.






Tecendo a rede


Cito o Hernani, citando o Estraviz:

O Estraviz mandou muito bem no tipuri -- "não quero ser conivente nem cúmplice. não admito que um governo estabeleça a morte de forma institucional. não concordo, soycontra um governo assim. seria o mesmo que a espanha destruir o país vasco porque lá tem terrorista. ou a irlanda ser dizimada porque o ira fica lá. terrorismo é uma grande e fedida merda. mas são alguns loucos outsiders, chagas de um sistema estranho. uma dura realidade moderna, que mostra que admirávelmundonovo nem é novo nem é admirável. quando um governo declara guerra, estabelece um contrato onde a cláusula é: aceitamos a morte por vingança. quando uma sociedade é favorável, o ciclo vicioso se amplia, transformando a vida em migalha, a morte em piada. quando a mídia broadcast se posiciona, mostrando umas coisas e outras não, está incitando o circo, ampliando o vício do ciclo." e continua aqui.






Globalização


Esta foi o Marcelinho quem mandou:

"Globalização é uma princesa inglesa, que estava com um playboy egípcio, num carro alemão com motor holandês, dirigido por um motorista belga embriagado com uísque escocês, capotando num túnel francês, perseguida por paparazzi italianos, e socorrida por um médico americano com medicamentos portugueses. No que é que deu? Mó-rreu..."




Internauta que não lê o Pedro Doria diariamente não sabe das coisas. Literalmente.







O bom combate


A gente sempre pode confiar nos hackers alemães! Desde que o saudoso Wau Holland criou o ccc eles demonstram ter uma das mais saudáveis interações com máquinas do planeta. Agora fiquei sabendo, por exemplo, de um cara chamado Kim "Kimble" Schmitz que teve uma grande idéia: criar um über time de hackers para separar os terroristas do mundo todo (aí compreendidos IRA, ETA & Cia.) do seu rico dinheirinho, rastreando contas e fazendo o serviço do qual, provavelmente, darão cabo muito melhor do que o FBI. Taí: neste tipo de combate eu ponho fé. O Kimble é um pouco radical demais pro meu gosto, sobretudo quando prega apoio ao governo (embora esta seja uma defesa a priori que ele faz bem em usar), mas a missão e as regras que ele criou para a YIHAT (Young Intelligent Hackers Against Terror) estão corretas. Pode ser uma!





Make love, not war


Não sei se é má vontade da minha parte, mas tenho sentido, na imprensa americana em geral, um movimento constante e sutil para desmoralizar os movimentos pacifistas nativos. Que os estrangeiros (sobretudo muçulmanos) se manifestem contra os ataques ao Afganistão e à Doutrina Bush, ainda vá lá; mas que um americano faça isso, só sendo doido, socialista ou desajustado -- o que, pensando bem, sob a ótica lá deles, dá na mesma.

Eu por acaso participei de uma passeata pela paz em Los Angeles, há cerca de dez dias. Esta passeata, em que havia gente de todas as idades, credos e nacionalidades unida em torno do mesmo ideal, com o mesmo entusiasmo, foi um dos momentos emocionantes da minha vida. De certa maneira ela fez, no meu coração, as pazes com um país que sempre olhei com ambivalência e, desde as últimas "eleições", com francas reservas.

Pois este movimento bonito e gentil, no qual encontrei tantas pessoas do bem, foi descrito, nos jornais do dia seguinte, como uma marcha de radicais, malucos e hippies velhos, que nunca saíram dos anos 70. OK, eu talvez me enquadre nessas três categorias, mas ainda assim, juro que o que presenciei não tinha nada, mas rigorosamente nada, a ver com o que disse a imprensa. Fiquei me sentindo traída como participante da passeata, e envergonhada como jornalista.

Estou falando nisso agora porque, remexendo nos papéis que trouxe da viagem, encontrei uma filipeta conclamando as pessoas a um novo encontro, no próximo sábado, dia 13, na praia de Santa Mônica, quando será formado um grande símbolo da paz humano. Pelo que vi e pelas conversas que tive, vai ter muita gente e vai ser muito legal, mas nós possivelmente nem vamos ficar sabendo. Se você está lendo esta nota em Los Angeles (na internet, tudo é possível) não deixe de ir: a manifestação está marcada para as 13hs, no Ocean Park Blvd. Para maiores informações, ligue para (310) 392-8558, e fale com a Marsha Straubing.


PS -- Ah, sim: eu subi as fotos que fiz do protesto para o Photo Island. Para vê-las, entre com o username cronai e a password antiwar.

PPS -- O Eduardo, arquiteto lá em Porto Alegre, mandou uma ótima coleção de links de sites pacifistas. Todos merecem pelo menos uma visita; e, se você quiser se manter bem informado(a), várias visitas.

Flora.org
Ruckus
Human Rights Watch
War Resisters
AntiWar
Non-Violence






Apenas uma fotografia na parede...


Desde que a fotografia digital se popularizou, a Polaroid se viu em maus lençóis. Seu grande apelo de consumo nunca foi a qualidade das fotos, na melhor das hipóteses medíocre, mas o fato de elas serem instantâneas, dando a fotógrafos e fotografados satisfação imediata. Isso, porém, as digitais de hoje fazem melhor e, no final das contas, mais barato. Há dois anos, a velha pioneira do clic miojo ainda tentou sair pela tangente, lançando uma câmera digital; mas nunca chegou a ser firmar neste campo, onde a concorrência é assustadora (para eles) e deslumbrante (para nós). Pois o inevitável, pelo visto, está para acontecer. Segundo o Wall Street Journal de hoje, a Polaroid deve entrar com um pedido de concordata (Chapter Eleven) para se proteger da falência: está no vermelho em mais de US$ 900 milhões. Analistas consultados pelo jornal acreditam que a empresa não terá grandes dificuldades em ser vendida.







Torres de Luz


Um ótimo artigo de Robert Knafo na Slate comenta as várias alternativas para o espaço do WTC, inclusive a idéia, inteiramente descabida a meu (e dele, e de mais um monte de gente, com exceção dos 63% de nova-iorquinos consultados pela Quinnipiac) ver, de reconstrução das torres, tais como eram. Já existem inúmeras propostas, naturalmente, mas o que veremos mais cedo no local, possivelmente, é o belo projeto Towers of Light, dos artistas Julian LaVerdiere e Paul Myoda, e dos arquitetos John Bennett e Gustavo Bonevardi: substituindo as torres falecidas, dois fachos de luz intensa, apontando para o alto como espectros. A idéia do projeto, que já tem o apoio da Sociedade de Arte Municipal e da Creative Time, uma espécie de ONG artística local, é funcionar como uma ponte entre o presente de ruínas e o futuro espaço, seja ele qual for.




Programaço!


Estou assistindo na RAI ao documentário (agora percebo, antiquíssimo: Réveillon de 2000!) gravado por um casal de turistas de meia-idade descobrindo a China. Eles são muito engraçados, gente! Chegando a Shangai, ele fica besta diante da quantidade de néons, lâmpadas, lampiões e lamparinas: "Meu Deus! Nunca vi tantas luzes na vida! Esses caras passaram direto do culto ao Grande Timoneiro pro culto ao Grande Eletricista!"

A RAI é um acontecimento. É caseira e gostosa como uma excelente macarronada, e igualmente enganadora na sua aparente simplicidade. Alguns dos melhores comentários sobre a atual conjuntura, digamos assim, ouvi aqui desses italianos, que tanto falam, tanto gesticulam e... tanto sabem. Auguri!




Novidade do dia: a pedidos, este blog agora tem um comente: depois de cada nota. Chique, não? Aliás: comentem!






9.10.01

Lar, doce lar









Mamãe me disse que toda obra acaba um dia. Não sei por que, estou com certa dificuldade em acreditar nisso, sobretudo quando tomo coragem de ir até o lugar onde antigamente ficava a sala.





Consumidor é pra consumir. Bem caladinho.


Tony Smith, do The Register, escreve que, na semana passada, a RIAA (Recording Industry Association of America) organizou um encontro secreto em Washington para estudar leis mais severas contra os sistemas de troca de arquivos digitais, provedores de acesso, usuários e quaisquer outros elementos inconvenientes que estejam no seu caminho para a distribuição de música enlatada. Teriam estado presentes a este encontro os pesos-pesados Andy Grove (Intel), Lou Gerstner (IBM), Michael Eisner (Disney), Jack Valenti (MPAA), Edgar Bronfman (Vivendi Universal), Gerald Levin (AOL Time-Warner), Ken Berry (EMI), Steve Heckler (Sony) e Strauss Zelnick (Bertelsmann), mais os CEOs da Toshiba e da Matsushita e os senadores Fritz Hollings e Ted Stevens. Liderando os trabalhos, a indefectível Hillary Rosen, da RIAA.

E qual era o seu objetivo ao reunir toda essa gente? Simples: convencer a indústria a instalar em todas as máquinas mecanismos que impeçam os usuários de transpor o conteúdo de CDs, ainda que legitimamente comprados, para seus discos rígidos (ou tocadores de MP3), os provedores a impedir o livre tráfego de arquivos pela rede, os legisladores a criar dispositivos legais que não só penalizem de forma mais severa os usuários porventura acusados de pirataria, mas também os provedores que os servem y otras cositas más. Há algumas semanas, esta seria uma batalha dura de encarar; agora, com os Estados Unidos paranóicos e distraídos pela guerra, pode ser uma moleza.

Duas frases da reportagem do Register são particularmente sinistras. Uma, de Michael Eisner, que reclama do desagradável fato de, entre a indústria e o contrôle total do que os consumidores poderão ou não fazer com suas músicas, estar o problema da privacidade; e outra do CEO da Sony, que diz que, uma vez que não possam mais obter música de graça, os usuários terão de comprá-la "nos formatos que nós decidirmos".

Ei, você -- páre de reclamar e vá passando a grana.







Numa ótima Parabólica do Cat (ei, cara, não era procês estarem em lua-de-mel? ou hoje em dia isso não se usa mais?) o site do departamento de engenharia civil da Universidade de Sydney, onde a galera destrincha, em pormenores, a queda das torres do WTC.





As pessoas inventam cada coisa... Aqui há fotos dos dez finalistas para o concurso de sofá mais feio dos Estados Unidos. Só posso dizer que o páreo é duro, muito duro. (Achei esta dica no blog da Nancy.)




8.10.01

Angloparlantes, atenção: não deixem de ler o que o Dan Gillmor escreveu hoje! É da maior importância.





Um país chamado Samsung


Quando alguém nos pergunta se o Brasil não é aquele país da América Central cuja capital é Buenos Aires, ficamos indignados e, sobretudo, estarrecidos com o nível da ignorância alheia. Mas como é que alguém pode desconhecer fatos tão elementares?!

A nossa própria cultura geográfica, no entanto, quando posta à prova, não se revela lá muito superior. Até vir para Seul, capital da Coréia do Sul, eu não sabia muita coisa sobre o país. Continuo não sabendo, mas pelo menos já consigo avaliar as dimensões abissais da minha ignorância. E consegui, até, perceber algumas coisas muito interessantes.

A mais inesperada, para mim, foi constatar que os coreanos são, guardadas as devidas proporções, os latinos do Extremo Oriente. Eles são simpáticos, afáveis e tranqüilos, e lidam com o tempo de uma forma elástica, quase baiana. Quando marcam alguma coisa para as nove, por exemplo, isso não quer dizer que, necessariamente, vamos nos encontrar no exato momento em que os relógios estiverem marcando a hora, mas apenas que esta talvez seja uma boa base inicial de trabalho.

Não cheguei a discutir a teoria a fundo com nenhum dos meus novos amigos coreanos, mas suponho que o encontro real dos corpos não seja tão importante, dado que, em espírito, estaremos mesmo juntos quando constatarmos que horas são. E, afinal, somos todos espírito — exceto, naturalmente, quando somos todos eletrônica. O que, lá, acontece com razoável freqüência.

Como seus vizinhos japoneses (com quem, por sinal, pouco têm a ver) os coreanos são fascinados por gadgets de todos os tipos. Se um aparelho tem pilha ou tomada, pisca, canta ou se movimenta, fará sucesso certo. E embora os cartazes comerciais das fachadas de Seul ainda sejam, em sua maioria, simples ideogramas pintados, sem os exageros de luz e movimento dos néons de Hong Kong, o cenário quase constante da vida coreana é um monitor — ou, de preferência, uma coleção de monitores — em permanente ação. Isso vale do taxi, passando pelo ônibus e pelas lojas de roupas íntimas, aos bons hotéis, onde, me parece, uma TV de 20” daquelas que consideramos normais é tão inaceitável quanto um travesseiro de espuma.

Quando se fala em monitores, em qualquer parte do mundo, o nome Samsung vem imediatamente à cabeça. Mas imaginem na Coréia! Sendo que, lá, tudo é Samsung, de monitores e eletrodomésticos dos mais variados a automóveis — hoje fabricados pela Renault, mas sempre conservando a marca que é sinônimo do país.

A Samsung é uma presença tão constante na vida coreana quanto a Nokia na Finlândia. As duas são as principais empresas de seus respectivos países, e motivos de orgulho nacional. Curiosamente, ambas disputam, neste momento, corações, mentes e fundos dos países latino-americanos, cujas operadoras de telefonia celular terão de optar, em breve, pelos equipamentos que as conduzirão à 3G, famosa terceira geração de telefonia móvel que, até aqui, tem sido mais papo do que realidade.

Outro paralelo curioso é que tanto a Coréia quanto a Finlândia são países modelo para a apresentação de sistemas desta nova etapa; mas enquanto na Finlândia defende-se o GSM, utilizado principalmente nos países europeus, na Coréia prega-se a cartilha do CDMA, campeão na Ásia e nos EUA. Os dois lados têm vantagens, e ambos levam, essencialmente, ao mesmo lugar — um ponto qualquer do futuro em que estaremos todos nos conectando à internet, em banda larga, através dos nossos celulares.

Se depender da Samsung, porém, eles serão bem mais do que simples telefones. Park Sang Jin, vice-presidente da empresa e seu diretor geral de marketing, lembra que, hoje, o relacionamento entre o usuário e o celular é extremamente pessoal, e vai bem além do gesto utilitário de se pegar o aparelho para falar com alguém. Seu papel não é inteiramente diferente daquele dos relógios, que há muito deixaram de ser reles marcadores de horas.

— Quando a gente acorda, toma banho, se veste, bota o relógio no pulso e pega o celular, — diz Park Sang Jin. — Este é um aparelho que vai nos fazer companhia durante o dia inteiro, está integrado à nossa rotina e faz parte de toda uma imagem que criamos.

Verdade. Os celulares são brinquedinhos com que nos divertimos, objetos que gostamos de olhar e de tocar. E isso quando somos adultos! No mundo infantil e adolescente, eles têm papel ainda mais relevante.

Esta percepção orienta o design dos Samsungs mais avançados que, na Coréia, são mesmo de dar água na boca: há telefones que tocam MP3, funcionam como PDAs, tiram fotos digitais (e podem enviá-las imediatamente), captam sinais de emissoras de TV e exibem programas em telinhas supreendentemente claras. Perfeitos objetos de desejo, simplesmente irresistíveis.

Mesmo para os mais radicais, que acham que telefone é apenas um instrumento de comunicação, há uma margem incrível de escolha, de aparelhos tão leves e pequenos que podem ser carregados no pescoço, como jóias eletrônicas, a outros tão fininhos que podem ser guardados na carteira sem fazer muito volume.

Mas também em Seul, como no resto do mundo, é difícil manter uma conversa sem cair no assunto do momento. Para a indústria de celulares, como um todo, o ataque terrorista aos EUA teve um efeito positivo nos negócios. As vendas dispararam depois do papel dramático desempenhado pelos aparelhinhos, cuja imagem como elo de ligação familiar e dispositivo de segurança foi consideravelmente reforçada.

Nem preciso dizer, claro, que este não é assunto fácil de se discutir por aqui: o tema é extremamente delicado, e qualquer palavra mal traduzida pode gerar grande constrangimento. Park Sang Jin confessa, quase consternado, que as vendas de celulares deram, de fato, um grande salto. Mas ele não gosta de falar em números e, de qualquer forma, acha o quadro todo ainda muito confuso para que se possa chegar a qualquer conclusão definitiva.

O Globo, 8.10.01


As fotos que fiz durante a viagem estão no Photo Island. Se vocês quiserem dar uma olhada, é só clicar aqui e entrar com a senha samsung.





Não percam o Millôr de hoje.





Enfim, uma grande notícia!


Ontem, os amigos do Cat e da Laiz comemoraram o casamento deles, realizado na última sexta-feira pela incansável juíza Maria Vitória. A unidade de carbono responsável por este blog não pode, infelizmente, comparecer -- mas isso não significa que não esteja festejando, do fundo do coração.

Acontece que o Cat (Carlos Alberto Teixeira, para os íntimos) é uma das pessoas de quem mais gosto no mundo. Ele é engraçado, curioso e surpreendentemente criativo, um dos raríssimos originais verdadeiros que jamais encontrei; mas, acima de tudo, é uma criatura cem por cento do bem.

Já a Laiz, que conheço há pouco tempo, tem, obviamente, as duas qualidades essenciais para fazer a felicidade do Cat: é uma doçura, com um espírito de aventura à toda prova.

Olhem para a cara deles: não é óbvio que vão ser super felizes juntos?





Chamando todos os Compaq


Se você é o feliz proprietário de um notebook Compaq, atenção: está em curso um gigantesco recall para substituição de 1.400.000 adaptadores AC (aquelas caixinhas pretas com um fio de cada lado, que conectam o computador à corrente elétrica). A iniciativa foi tomada depois do superaquecimento de cinco desses adaptadores; a Compaq, sabiamente, tomou a decisão certa, e está cuidando do problema antes que atinja maiores proporções.

O recall envolve adaptadores para os notebooks Armada M300, 110, M700, E500s, E500, V300, 100s e 3500, e Prosignia 170 e 190. Nem todos eles, porém, estão defeituosos. Os que devem ser trocados podem ser identificados pelo número de série e modelo que está na etiqueta, abaixo do nome Compaq Computer Corporation: PPP003SD, PPP003 e PP2012 (apenas para o Armada 3500). A troca será feita, é claro, sem nenhum ônus para os proprietários.

Na nota distribuída ontem à imprensa, a Compaq recomenda aos clientes que suspendam o uso dos adaptadores AC sujeitos ao recall, e que solicitem sua pronta substituição. Para maiores informações, ligue para a Compaq nos telefones 11 3046-7400 (Grande São Paulo) ou 0800-55-6404 (outras localidades), ou consulte o website especialmente criado para o caso.







7.10.01

Sacudindo o esqueleto


Na última quarta-feira, John Perry Barlow, um dos ciber-cidadãos mais ativos do planeta, comemorou 54 anos com uma das suas famosas Barlowfests, desta vez no Granite Room, clube de jazz em pleno Ground Zero, em Nova York. Convencido de que não se pode negar a vida aos que (ainda) estão vivos, e de que os comerciantes da área estão mais do que precisados de uma força, ele conseguiu reunir 200 almas roqueiras e destemidas que comemoraram até altas horas. Várias coisas curiosas aconteceram, inclusive a presença de meia dúzia de bombeiros, loucos para dar um tempo no funesto trabalho que vêm fazendo, sem parar, há quase um mês. Foram recebidos como heróis e, garante Barlow, se deram bem.

Mas, diz ele, é impossível esquecer o horror -- até porque, no Ground Zero e em suas imediações, não se pode fugir do cheiro:

"Depois de alguns dias de calor e de excavações intensas nos escombros, aquele cheiro enorme e triste se tornou tão pungente que, às vezes, fica difícil respirar até no meu apartamento, na esquina de Grand e Mott, três vezes mais longe do Ground Zero do que o lugar da festa. Lá, é tudo. A imprensa não consegue transmitir este odor, porisso fala tão pouco nele, embora -- tirando o luto em Nova York, a histeria no resto do país e uma alteração de paisagem que, em Manhattan, é como se os Tetons desaparecessem de Jackson Hole -- o cheiro seja a lembrança mais constante e emocionalmente penetrante do massacre. Eu também não vou conseguir descrevê-lo.

Ele é uma mistura, em partes iguais, do pior com que a química e a biologia podem atingir o seu nariz. Do lado químico, podem-se detectar os gases que os plásticos liberam quando queimam, vapor de mercúrio, poeira de asbestos e, provavelmente, a maior variedade de moléculas inorgânicas jamais reunida. E o componente biológico é, bem... a bio-massa aquecida e morta há vinte dias de uns seis mil dos nossos semelhantes".

Ugh.

A íntegra da carta de John Perry Barlow (em inglês) está aqui.





Quanto pior, melhor


Em poucos ramos da atividade humana o velho axioma "quanto pior melhor" funciona tão bem quanto no tele-jornalismo. O ser humano é uma espécie esquisita que, aparentemente, não gosta de boas notícias; quando o mundo está relativamente calmo, os telejornais têm que disputar a audiência ponto a ponto com qualquer filmeco ou novela em cartaz. Em tempos agitados como os que estamos vivendo, porém, não há notícia que baste -- e nem a gente quer outra coisa. Desde o ataque aos Estados Unidos, a humanidade (ou, pelo menos, aquela parcela da humanidade que tem televisão) não consegue se afastar das notícias. Ninguém agüenta mais ouvir falar sobre o assunto mas, paradoxalmente, ninguém consegue mais falar sobre outra coisa.

Para a CNN, que andava mal das pernas e chegou a apelar para o redesenho do seu visual e a contratação de uma modelo como âncora, o 911 foi uma injeção de ânimo: de repente, o mundo inteiro estava novamente interessado em notícias, apenas notícias. Mas, entre as emissoras estrangeiras, a grande vitoriosa na América Latina está sendo a BBC que, com correspondentes permanentes espalhados pelo mundo inteiro (são 58 sucursais internacionais, com um total de 250 jornalistas), está dando um show de bola na cobertura. Do dia 11 para cá, a emissora estima que novos 300 mil espectadores latino-americanos passaram a assistir regularmente ao BBC World, seu noticiário 24 horas, e principal concorrente dos noticiários da CNN.