15.8.05



Fatos & fotos

A Photo Image Brazil é a nossa maior feira de fotografia. É muito simpática e genuinamente nacional, apesar do nome agringalhado, e um excelente termômetro do mercado de equipamento fotográfico brasileiro.

Pois a julgar pela última edição, encerrada na sexta passada em São Paulo, não faltam motivos para comemoração: este ano, segundo pesquisa da GFK, serão vendidos dois milhões de câmeras digitais num Brasil que, apesar da crise política, parece que não abre mão de registrar os bons momentos da vida.

Os números, revelados pelo primeiro estudo sobre o setor no país, são de fato muito interessantes. Apenas em maio, e apenas nas lojas e canais de distribuição rigorosamente oficiais e legalizados, 52.471 câmeras digitais foram vendidas no Brasil; para os especialistas, quantidade pelo menos igual deve circular por baixo do pano, seja entre as maquininhas que turistas trazem legalmente na bagagem mas não precisam declarar por causa do custo inferior a US$ 500, seja através do contrabando puro e simples.

O aumento da vendas em relação a abril foi de 46,8%, o que, mesmo levando em consideração o Dia das Mães, é uma grandeza. O único mes melhor foi, compreensivelmente, dezembro do ano passado, quando nada menos de 56.258 câmeras voaram das prateleiras para baixo da árvores de Natal dos consumidores. Estima-se que só o mercado legal feche 2005 com um milhão de unidades vendidas.

É importante observar que esses números referem-se, única e exclusivamente, a câmeras digitais, e não levam em consideração outros objetos capazes de gravar imagens, como celulares, players multifunção ou PDAs.

Segundo a GFK, cerca de 40 milhões de celulares serão comercializados no país ao longo de 2005; em maio passado, 13% dos telefoninhos tinham câmera embutida, mas este percentual deve crescer com a queda de preços.

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Para o instituto de pesquisa, celulares com câmera e câmeras propriamente ditas convivem bem e sem disputa de market share. Para o consumidor brasileiro, aparentemente, está claro que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.

Faz sentido. Uma coisa é a fotinha simples de celular, curtição extra permitida por aparelhos cuja função essencial é falar; outra é a foto "de verdade". Além disso, a resolução da maioria dos celulares topo-de-linha ainda está em 1.3 megapixels -- e as câmeras com menos de 3 megapixels já estão em baixa. As rainhas da parada são, no momento, as que vão de 3 a 4 megapixels, responsáveis por 50% das vendas; as câmeras entre 4 e 5 megapixels tiveram o maior crescimento relativo (13%) e detém, hoje, 30% do mercado.

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A Photo Image, porém, não é só uma coleção de números; é, sobretudo, uma amostra do que se vai encontrar no mercado em breve. Isso porque seus principais expositores são fabricantes e distribuidores, e o público é formado basicamente por fotógrafos e comerciantes de produtos fotográficos.

Algumas coisas com jeito de coqueluche me chamaram a atenção: câmeras muito fininhas e estilosas, que não são apenas máquinas de colher imagens mas belos objetos de desejo; muito material para scrapbooks, ou seja, aqueles álbuns de recortes e lembranças, que começam a pegar firme entre crianças e adolescentes; e terminais de fotografia auto-atendimento, com entradas para todo tipo de mídia, em que o usuário pode editar suas fotos à vontade em sistemas de toque na tela.

Todos os grandes fabricantes têm quiosques assim; a maioria aceita inclusive transferência por Bluetooth, que está virando item essencial para câmeras e, sobretudo, celulares com câmera e PDAs.

O sucesso dos quiosques está diretamente vinculado à gratificação instantânea da cultura da imagem digital: para que esperar que um laboratorista cuide da cópia se com meia dúzia de toques (e cerca de um ou dois reais) pode-se manipular a própria foto?

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A preocupação com o look dos equipamentos é evidente, mesmo nos mais baratinhos; as velhas câmeras de poucos megapixels e mau acabamento são coisa do passado, definitivamente. É tão sério isso, aliás, que quase todos os fabricantes apresentaram linhas de câmeras em cores diversas, e um deles -- a Mitsuca -- chegou a convocar Ana Hickmann para ser madrinha de duas câmeras, uma fotográfica e uma filmadora.

Outra preocupação é manter os preços dentro de níveis razoáveis, para evitar a concorrência avassaladora do contrabando. Isso se nota em todo o espectro do mercado, de híbridos de webcam de 2,1 megapixels por menos de R$ 300 a semi-profissionais como a P880 da Kodak, de 8 megapixels e lente Schneider-Kreuznach Variogon 24 -140mm por R$ 3 mil.

A Kodak, aliás, está altamente competitiva. Sua linda Z740, de 5 Mp e zoom óptico 10x tem preço sugerido de R$ 1,3 mil.

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Num sinal dos tempos, a Nokia participou pela primeira vez da Photo Image -- e o fez em grande estilo, trazendo os fotógrafos JR Duran e Ricardo De Vicq para clicar as atrizes Samara Felipo, Ana de Biasi e Daniele Suzuky com o N90, celular com display basculante e lente Zeiss, capaz de produzir fotos de até 2 megapixels.

As moças, gentis, posaram também para fotos com o público; o estande bombou.


(O Globo, Info etc., 15.8.2005)

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