31.8.05



Diário de bordo

Há muito tempo eu não vivia a experiência de ficar desconectada e não ler jornais; em Eindhoven não tivemos tempo para praticamente nada além da visita aos laboratórios da Philips, e as pontas de tempo que sobraram usei para ir para a rua, passear e fotografar.

Sem internet, e cercada de jornais em holandês, fiquei completamente fora do mundo. Sequer soube do furacão nos Estados Unidos.

É verdade que podia ter ligado a televisão; mas isso é questão de hábito. Já me acostumei tanto a me informar pela internet que nem abro aquele armário onde os hotéis escondem os aparelhos. Passo o meu (pouco) tempo livre editando as fotos, lendo o material de trabalho e, antes de dormir, algum livro que tenha algo a ver com o lugar que estou visitando.

Agora, que estou aqui com a BBC buzinando no meu ouvido as últimas novidades, acho que preferia o estado de ignorância anterior. E olhem que eles não mencionam o Brasil nem de passagem...

* * *

Eindhoven estala de limpa, é super organizada, todo mundo anda de bicicleta, os insetos pedem licença antes de picar as pessoas mas, sinceramente, se eu tivesse que morar lá cortava os pulsos.

É quieta DEMAIS, limpa DEMAIS, educada DEMAIS.

Pelo menos para quem visita, falta à cidade aquele elemento de caos tão necessário ao cotidiano. Acredito que, para quem mora lá, o caos se faz nas relações, nos atritos do dia-a-dia, em algo que não se vê assim de passagem.

As pessoas são muito simpáticas. Vêem que você é de fora e vêm conversar, saber de onde você é, dar dicas.

Um senhor me aconselhou em relação ao angulo ideal para fotografar a igreja e falou dos anos que passou na Austrália; outro, bem velhinho, contou que a melhor parte da sua vida foram os cinco anos em que morou na Bolívia. Ele sabia que Bolívia é uma coisa e Brasil é outra, mas é o mesmo canto do mundo; conversamos em espanhol.

Esses dois amáveis holandeses, tão carregados de nostalgia dos tempos em que eram jovens e aventureiros, me deixaram comovida. Fiquei com pena deles, de mim, do mundo inteiro -- porque a vida não tem remédio, porque o tempo não volta e porque, quando a gente finalmente entende isso, já é muito tarde.

É, quando viajo fico filosófica.

* * *

A estrada entre Eindhoven e Dusseldorf é, como disse a Sheila (perdão, meninas!) Stella nos comentários, um espetáculo: exatamente o que a gente espera do campo holandês, muito verde, cheio de vaquinhas malhadas lindas, campos de girassóis, moinhos de vento aqui e ali.

* * *

Agora estou em Berlim, contemplando a escrivaninha cheia de cabos, conectores e gadgets diversos -- toda a parafernália que trouxe para me divertir e me perturbar.

Amanhã começa a pauleira da IFA, uma das maiores feiras de eletro-eletrônicos, uma espécie de equivalente européia da CES. Estive olhando o mapa. Como a Feira de Frankfurt, ela se divide em pavilhões diversos, em vez de ficar num só pavilhão grandão. Vai dar trabalho.

Além de mim, só aqui no hotel há seis outros jornalistas brasileiros, vários mexicanos, chilenos, argentinos. Deve haver outros tantos de outros cantos do mundo, apenas eu não os conheço.

* * *

Comprei um simcard alemão para usar no telefonino: acho que sai mais barato para mandar as fotinhas, 39 centavos de euro cada. Queria instalá-lo no Sony Ericsson W800, mas este telefone ainda não chegou à Alemanha; aliás, quando o rapaz da loja viu a pequena maravilha, quase teve um filho verde.

Chamou os colegas e ficaram babando no telefone. Senti uma certa alegria perversa por ter trazido do Brasil um telefone GSM que os alemães ainda não viram... ;-)

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