30.5.05





Bons velhos tempos

Um jantar de confraternização marca amanhã à noite, em São Paulo, os dez anos de criação do Comitê Gestor da internet BR. Não sei detalhes do cardápio, mas um ingrediente é certo: grandes doses de nostalgia. A internet evoluiu de forma extraordinária, a uma velocidade que nem o mais sonhador dos usuários de então poderia ter imaginado; mas, a despeito das conexões lentas e complicadíssimas, aqueles foram tempos aventurosos, que deixaram saudades.

Não sei mais como vivíamos sem o Google, por exemplo, ou sem o Internet Movie Database (imdb) funcionando com a rapidez de hoje -- mas me lembro do Altavista e do Northern Light, e me lembro de contribuir para o imdb quando ele ainda atendia por Cardiff Movie Database; antes disso, a mesma turma que o levou para a universidade do mesmo nome tocava um ótimo grupo de discussão na Usenet em rec.arts. movies, que eu lia de vez em quando (o meu grupo do coração era outro, rec.pets.cats).

Ainda me lembro da primeira vez em que vi um endereço web, e da noite que passei acordada tentando descobrir como se chegava lá: com gopher? Com veronica? Como tudo era lento, mas lento meeeeeesmo, acabei jogando a toalha, frustrada, ao amanhecer. Tempos depois, vivi surpresa parecida ao ver o primeiro www.algumacoisa.com num anúncio "comum", vale dizer não-tecnológico, numa revista semanal americana: quem diria que a internet ficaria tão popular!

É quase impossível comparar a rede atual a daqueles tempos; são animais radicalmente diferentes. Tenho saudades daquela em que praticamente todo mundo era confiável, porque "todo mundo" era um grupo relativamente pequeno de geeks; tenho saudades do espírito pioneiro e da sensação de estar vivendo uma grande aventura tecnológica. Mas a saudade que mais aperta o coração, aquela que às vezes me dá a impressão (errada) de que as coisas mudaram para pior, é a de abrir a mailbox, cheia de expectativa, ansiosa para ver de quem seriam os dez ou vinte emails que me esperavam.

Sim, crianças: naquela época, a gente só recebia emails de conhecidos ou, no máximo, de conhecidos de conhecidos. Não havia vírus nem spams oferecendo relógios falsos ou métodos infalíveis para emagrecer; havia correntes, é verdade, e alguns trotes, mas nada que tirasse o sono de ninguém. Era tão bom receber emails que havia até uma página dos aniversários, onde a gente avisava quando fazia anos, para que os outros internautas pudessem nos mandar felicitações. Fiz amigos assim.

Hoje tenho horror das minhas caixas de correio. Apesar de todos os filtros, a quantidade de porcaria que chega é tão grande que nela se perdem as mensagens de verdade. Até os inocentes cartões virtuais, de que tanto gostava, viraram perigo mortal. Tenho a impressão de que o email, justamente uma das ferramentas mais poderosas da rede, está morto. Não sei o que se pode fazer para salvá-lo; quem descobrir isso vai, aliás, ficar milionário.

O fino da bossa

A foto comprida e esquisita aí do lado é o Razr V3 da Motorola, de perfil -- o telefone celular mais bonito que já vi. Não é novidade, já que chegou ao mercado em fins do ano passado, mas agora posso dizer que é, também, um dos melhores celulares que já usei.

Pelos padrões atuais, o V3 tem ?poucos recursos?: não tem cartão para armazenagem de imagens, não funciona como player de MP3 (embora permita que se baixem músicas para uso como ringtone; tem ótimo som), não pega rádio FM, não dança nem sapateia.

Em compensação, mesmo fechado, cabe perfeitamente no bolso da calça; tem um tamanho excelente para ser usado como telefone, tela grande e nítida (ótima para acessar internet), uma linda luz azul no teclado (mão na roda no escuro), viva-voz, bluetooth e uma boa câmera, ainda que próxima demais de onde se põe o indicador, que às vezes acaba saindo nas fotos.

É o celular ideal para quem quer um bom telefone, gosta de objetos bonitos e cuida direitinho deles: a superfície fica arranhada se a gente o carrega dentro da bolsa, sem capa, jogado entre chaves e cacarecos variados. É caro, sim, mas vale o investimento.

Progresso é isso aí

Foi aprovado o padrão wi-fi USB (WUSB): dezenas de empresas aderiram ao protocolo. Isso significa que, até o fim do ano, começam a chegar ao mercado periféricos que dispensarão cabos para se comunicar com os computadores, em velocidade igual ou superior à do USB 2: câmeras, impressoras, teclados, scanners...

A mágica se dá graças a uma peça semelhante aos "chaveirinhos" USB ou adaptadores Bluetooth que conhecemos. Em suma: a macarronada de fios está com os dias contados. Viva!!!

(O Globo, Info etc., 30.5.2005)

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