22.3.04



Poderosas maquininhas

A CeBit é, hoje, o que era a Comdex há alguns anos: aquele evento para o qual todos os olhares se voltam, cheios de curiosidade, para descobrir o que há de novo. Da mesma forma, tenho a impressão de que, hoje, os celulares ocupam o nicho que, naquela época era ocupado pelos micros. Neles é que se concentram atualmente as atenções do público e as principais -- ou, pelo menos, as mais atraentes -- novidades da tecnologia.

A julgar pelos lançamentos apresentados, começa a existir uma espécie de, digamos, divisão de "especialidade secundária" dos aparelhinhos. Todos são, lógico, telefones; mas alguns são games (como o nGage, da Nokia), outros (como os novos Motorolas) são máquinas de música; outros, ainda, são câmeras digitais. O topo de linha já adotou a marca do megapixel, o que significa fotos bastante razoáveis.

Nem preciso dizer quais são os meus favoritos, né? Mas, sem sectarismo, apesar do altíssimo coeficiente de diversão dos celulares musicais, é nos que têm câmera que está mesmo a grande revolução -- não só da indústria, mas da forma como nos comunicamos. Cada vez mais a imagem é a mensagem, a informação; e, quanto melhor a imagem, tanto melhor poderá ser a qualidade da informação. Fiquem de olho!

* * *

Na semana passada, eu disse que ia me encontrar com um celular com televisão. Pois me encontrei mesmo, e estou encantada! O celular é um Nokia 3650 normal: vocês sabem, aquele arredondado na parte debaixo, com os números dispostos em disco? Então. O serviço é que é especial: é da TIM, e ainda está em fase de experiência. Streaming vídeo de verdade, sem muita nitidez mas perfeitamente assistível, com um delay mínimo e som perfeito. Domenico Puntillo, diretor da empresa, garantiu que em dois ou três meses o brinquedinho chega às lojas, a custos razoáveis.

Euclides da Cunha online

"Dizem os mais antigos habitantes da Bahia que nunca ela se revestiu da feição assumida nestes últimos dias. Velha cidade tradicional, conservando melhor do que qualquer outra os mais remotos costumes, a sua quietude imperturbável desapareceu de todo. Modificaram-se hábitos arraigados, e, violentamente sacudida na onda guerreira que irrompe do sul, transfigurou-se".

Assim começa um artigo publicado no "Estadão" em 18 de agosto de 1897. Foi o primeiro de uma série de 25, escritos por um jovem jornalista chamado Euclides da Cunha. Transformada em livro em 1902, com o título de "Os sertões", a série garantiu ao autor um lugar permanente na História do Brasil -- e, de quebra, presença de destaque na internet.BR, onde dois sites magníficos celebram obra e autor.

O primeiro, criado pelo próprio "Estadão" em www.estadao.com.br/sertoes, foi ao ar no ano passado, durante as comemorações do centenário da primeira edição do épico de Canudos; o mais novo acaba de ser inaugurado pela Academia Brasileira de Letras, em euclidesdacunha.org.br.

Ambos são ricos em bibliografias, textos de e sobre Euclides e material iconográfico. No site da ABL destaca-se, naturalmente, o lado acadêmico do autor, minuciosamente estudado e apresentado.

O site do "Estadão" é pop, e mais gostoso de navegar; o da ABL é clássico, mais denso e proveitoso para pesquisadores em geral. Os dois merecem demoradas visitas, ou seja: merecem visitas. A demora é simplesmente inevitável, diante da quantidade e da qualidade do material online.

Diversão garantida, grátis, no conforto do próprio micro: dá para pedir mais?!

(O Globo, Info etc., 22.3.2004)

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