9.1.02




Mordendo a maçã

S. FCO -- O iMac é, para variar, o novo pomo da discórdia da Apple. Há gente odiando o seu look de Luxo Jr. (vide o CAT, nas Parabólicas) e gente que, como esta vossa amiga, está completamente deslumbrada com a sua elegância e simplicidade. Eu até entendo a posição de quem reclama do iMac sem tê-lo visto em pessoa. Por incrível que pareça, ele não é uma máquina fotogênica, como eram os iMacs d'antanho, e suas melhores qualidades não podem ser apreciadas à distância. Ele é uma máquina que a gente precisa ver de perto, precisa pegar e usar para apreciar verdadeiramente.

O que há de tão diferente nele? Para começo de conversa, o óbvio: a forma. Sim, ele se parece mais com uma lâmpada de mesa do que com o computador tal como o conhecemos -- mas quem disse que as lâmpadas de mesa têm copyright de formato? Ou que um computador precisa, necessariamente, se parecer com outro computador? A forma é bonita e funcional em si mesma, como objeto; e funciona que é uma beleza para um computador.

Steve Jobs destacou uma frase durante o keynote: Each element has to be true to itself, ou seja, cada elemento deve ser autêntico, deve ser sincero consigo mesmo. Este é um princípio básico do bom design, que pode ser aplicado a tudo. O caso do iMac é exemplar. Nada sobra, nem tenta ser o que não é, ou não precisa ser.

Reparem que, na base, aquela meia esfera mais ou menos do tamanho de meia bola de futebol, está todo o computador. Não há mais nada além daquilo, nada. E não é qualquer computador. É um computador com uma performance inacreditável, absurda; um sonho para quem mexe com arquivos pesados. Baseado num PowerPC de 700MHz ou 800MHz, o iMac pode ter até 1Gb de RAM (o default é 128Mb para o modelo mais barato e 256Mb para o mais caro) e até 60Gb de disco rígido; ele tem uma placa gráfica espertíssima (a nVidia GeForce2 MX com 32Mb de memória DDR) e, em seu modelo mais avançado, um drive que não só lê como queima DVDs. Detalhe: tudo isso trabalha em silêncio. Não há um só rosnado de disco, um só zumbido de ventilador, para nos lembrar que a máquina está ligada, e funcionando. Chega a ser estranho. Muito estranho!

Indo adiante: o pescoço, aquela haste em aço inoxidável que une o monitor à esfera da base -- eis outro exemplo de operação macia, perfeita. A gente puxa, empurra, vira para um lado e para o outro, e tudo é muito fácil, muito leve, muito... silencioso. Não sei quanto tempo esta maravilha se conserva, mas todos os técnicos com quem conversei me garantiram que a maciez e a estabilidade da operação podem sobreviver à vida útil do computador em si mesmo. Isso, porém, acho que só o tempo vai dizer. E eu, honestamente, estou disposta a pagar para ver.

Por fim chegamos ao monitor, ponto alto, em todos os sentidos, do iMac. Dois destaques: um para a nitidez, que é espetacular, outro para aquela sutil moldura de acrílico transparente que parece frescura mas, na verdade, é a "alça" perfeita para o manuseio. Como ela parece ser uma extensão da tela, a idéia de "intimidade" com o computador é curiosamente forte: a gente não está puxando ou empurrando uma coisa qualquer, mas sim aquele ponto luminoso em que se concentra a nossa atenção.

E não, meninos, não pensem que eu agora dei para fazer tecnologia conceitual. É que, como todo mundo que trabalha com arquivos gráficos, eu também enfrento o velho problema de ter de virar e desvirar monitores que não foram feitos para isso para que os companheiros ao lado possam ver melhor o que estou querendo mostrar. Além do quê, há vantagens insuspeitas em se poder virar um monitor no angulo exato que se quer. Rolem esta página aí para baixo e confiram a foto que fiz de um iMac exibindo este blog. As condições de luz eram porcas (muita luminosidade, e excessivamente difusa) mas ficou legal, não ficou? Pois, olhem: nunca fotografei uma tela com mais facilidade.

Em suma: desta vez, depois de mais de quinze anos de PC, a Apple finalmente me ganhou. Pela primeira vez encontro, num Mac, qualidades operacionais e funcionais que vão além de uma carinha bonita e de uma cor da moda.

Nos próximos capítulos, o iPhoto, que a meu ver será a killer app do novo iMac, e as minhas dúvidas filosóficas em relação a um sistema tão fechado.

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