5.11.01





Blog-se!

Os blogs são, aparentemente, o assunto da moda na internet. É fácil saber por que: no dia 11 de setembro, quando todos os grandes portais entravam em colapso, as notícias corriam livres e soltas pelos blogs, num movimento que foi a melhor expressão concreta do até então vago conceito de “sociedade da informação”.

Cada blogueiro nova-iorquino, americano ou não, passava adiante, à sua maneira, o que via ou ouvia. Fotos, filmes e textos, em todas as línguas, comunicavam ao mundo, instantâneamente, o que estava acontecendo. No dia seguinte, na cobertura dos atentados, praticamente todos os grandes jornais destacaram o papel dos blogs no episódio.

Ainda assim, há uma surpreendente ignorância geral em relação ao poder efetivo dos blogs como ferramentas de comunicação. A maioria das pessoas — físicas e jurídicas — confunde o meio com a mensagem, e descarta os blogs como diários de adolescentes ou, na melhor das hipóteses, como puro modismo. Para todos os efeitos, o show de comunicação blogueiro dos atentados foi um fenômeno passageiro, um estranho “desvio de rota” do blá-blá-blá habitual.

Sim, é verdade que a maioria dos blogs não tem o que o que dizer. Mas entrem numa banca de jornal, dêem uma boa olhada em torno e depois me respondam: quantas revistas têm realmente o que dizer? Ou liguem o rádio ou a televisão: são assim tão freqüentes os sinais de vida inteligente no ar? Os blogs, como todos os veículos de comunicação, refletem a humanidade que os faz. É simples assim.

Me perguntam por que, tendo esta coluna e o meu espaço nas Parabólicas do GloboNews.com, eu ainda cismei em fazer um blog. Ora, porque o blog é um instrumento completamente diferente de uma coluna de jornal ou de um espaço num grande portal. Ele atinge um número infinitamente menor de pessoas, mas dá uma agilidade à comunicação que simplesmente não se pode ter em nenhum outro veículo. Ao mesmo tempo, o blog é muito maleável: numa nota, por exemplo, posso dar a minha opinião sincera sobre a RIAA (que os leitores desta coluna já conhecem bem) e, na nota seguinte, posso publicar uma foto do Joseph, meu novo netinho (privilégio exclusivo dos leitores do internETC., o meu blog). Isso pode parecer brincadeira de avó coruja, mas tem, no fundo, um sentido sério: no blog a distância entre escritores e leitores é aquela que se quer dar — nem mais, nem menos. O blog é a conversa, a comunicação em estado puro, de pessoa a pessoa, sem intermediários.

(O Globo, 5.11.01)

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