30.10.09

Zorra total






Para a geração que hoje anda entre os 50 e 60, vale dizer a da blogueira que vos tecla (“Dentro de cada pessoa antiga há uma pessoa nova se perguntando o que diabos aconteceu”), Katmandu nunca foi exatamente uma localização geográfica, mas um estado de espírito.

Capital do Nepal escondida na cordilheira do Himalaia, ela era o destino dos sonhos de dez entre dez hippies, de boa parte dos fãs de Cat Stevens e até de uma parcela dos leitores de Lobsang Rampa, monge picareta que fez muito sucesso nos anos 70 descrevendo a vida no Tibete, que não é bem o Nepal, mas é logo ali, e a gente confundia mesmo.

Os relatos e fotos que chegavam daquele canto remoto eram a descrição perfeita do paraíso zen: uma pequena cidade cercada de campos de arroz e salpicada de templos e mosteiros antiqüíssimos, cheia de monges de cabeça raspada, onde a palavra pressa era desconhecida e o tempo permanecia imóvel desde sempre, perdido na contemplação das montanhas.

Sonhei muito com Katmandu.

Depois cresci, tive que cuidar da vida e Katmandu virou apenas uma música no player.

* * *

Na semana passada, pensando para onde ir a partir de Nova Delhi, Katmandu tornou a me chamar. A cidadezinha bucólica morreu há tempos, assassinada pela explosão demográfica, por décadas de conflito armado, pela poluição e pela ocupação descontrolada, mas ninguém é bixo grilo impunemente: impossível estar a duas horas de Katmandu e não aproveitar a oportunidade.

* * *

Há poucas coisas tão diferentes quanto a Katmandu idealizada e a cidade da vida real. A primeira impressão que se tem é péssima; as subseqüentes também. O país é paupérrimo, mas nem por isso as construções novas precisavam ser tão feias!

As lindas stupas antigas somem em meio às casas e prédios horríveis e, sobretudo, aos cartazes e anúncios que cobrem todas as superfícies disponíveis.

A Pepsi, pelo visto, comprou Katmandu; ou, pelo menos, o prefeito.

O trânsito faz com que o de Delhi pareça bom: é que lá, pelo menos, tem-se a impressão de que se está andando. As ruas e estradas são disputadas por carros, cabras, caminhões, bicicletas, pequenos ônibus, charretes, vacas sagradas e muitas, mas muitas motos, para não falar nos vendedores ambulantes, que se instalam tranqüilamente onde bem entendem.

O conceito de mão e contramão é desconhecido e os semáforos ainda não chegaram ao país, de modo que nada vai a lugar nenhum, nem mesmo as vacas, que aceitam com santa resignação a impossibilidade de exercer o seu direito de ir e vir.

Boa parte da população circula de máscara, sábia providência considerando-se que, por causa da poluição, os olhos ardem, a garganta seca, o nariz fica esturricado.

* * *

Mas porém, however, entretanto...

(Não, o sonho não acabou de todo: ainda existem pedacinhos da Katmandu com que eu sonhava aqui e ali, e eles são lindos!)


Não consigo esquecer o Irineu; choro sempre que penso nele.

Na Universidade de Varanasi



Este é o templo da Universidade, daí a grandiosidade; mas o campus é lindo, cheio de jardins, e os prédios são bem bonitos e acolhedores.

O amanhecer no rio

Encantador de najas

Artigos religiosos

Ganges

Eles sao loucos, esses indianos!

Varanasi

28.10.09

Viajar dá um trabalho... ;-)

Eu estava com a melhor das intenções: ia escrever um post grande sobre o Nepal e subir umas fotos pro Picasa -- mas assim que acabei de jantar bateu um cansaço enorme!

Kathmandu é uma cidade exaustiva, tem o pior trânsito do mundo e uma poluição igual à da cidade do México. Além disso, o dia foi comprido demais.

Infelizmente, não consegui pôr o celular pra funcionar aqui, o que me impediu de atualizar o blog em tempo real.

Peço mil desculpas pela falha técnica; vamos ver se tenho um pouco de sossego amanhã.

De qualquer jeito, fica a promessa, que será cumprida.

Quero muito contar pra vocês o que vi no Himalaia.

Uma pista...

 
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Valeu, gente!

Muito obrigada pelas dicas e pelos votos de melhora.

A Coca-Cola foi um santo remédio. Passei o dia cheia de cautela, sem grandes aventuras gastronômicas, e me senti muito bem.

Fiz MONTES de fotos, que vou subir aos poucos; e vi tanta coisa interessante que, é lógico, já já escreverei novo post.

Agora estou saindo para jantar -- no máximo uma pizza, e olhe lá!

As novidades ficam pra logo mais.

27.10.09

Myself very sorry

Gente, hoje não tem nada, nem texto nem foto, porque não estou passando bem. A comida do avião me traiu e estou com o maior enjôo.

Consegui um remédio aqui no hotel, depois de assinar uma declaração em que afirmo que, de livre e espontânea vontade, solicitei um Alka-Seltzer, e que, se o mesmo me fizer mal, o hotel não tem culpa de nada, nem irei processá-lo.

* suspiro *

Estou bebendo bastante água e jantei uma maçã.

Fiquem bem.

Amanhã eu volto ao ar.

A musica de bordo e'... bossa nova!

On the road again

Sim, ele esta' por toda a parte

25.10.09

O bocal das lampadas: bem bolado!

Mariana e Afi Pande



Vocês devem estar querendo saber como é que eu vim parar num casamento indiano.

Pois então: sorte!

Estão vendo como funciona?

A noiva, uma gracinha chamada Mariana, antes Rangel e agora Pande, é prima do Ricardo, filho do Flávio Rangel e afilhado do Millôrzinho, que conheço desde menino. Ele vinha para o casamento, eu vinha porque vinha; acertamos as agendas e, quando vimos, estavamos ambos aqui.

Vá lá que a vida seja uma sucessão de acasos, mas alguns são mesmo mais ocasionais do que os outros, se é que vocês me permitem o momento de filosofia de botequim. Ontem à tarde, passeando pelo túmulo de Humayun, o meu sentimento predominante, além do encanto pelo lugar e por aquele pôr-do-sol deslumbrante, era uma profunda perplexidade:

-- Ricardo, você se deu conta de que nós estamos na Índia?!

Uma das qualidades que mais gosto no Ricardo é que ele entende perfeitamente o que significa uma pergunta dessas; aliás, ele entende qualquer tipo de pergunta, e tem uma quantidade respeitável de respostas, para não falar numa curiosidade malsã.

É uma companhia maravilhosa.

E, assim como ele pegou carona numas pontas da minha viagem, eu peguei carona no casamento da Mariana, que conheceu o quase-carioca Afi na Lapa. Afi é matemático, fala português muito bem e é um brasileiro perfeito: a gente só diz que é indiano pela roupa.

O casamento dos dois (que já se casaram no Brasil há alguns meses) começou na sexta-feira, num imenso jardim. Foi uma noite deliciosa, com muita música indiana e brasileira, muita dança, muita comida gostosa.

Foi nessa festa que as moças pintaram as mãos com henna. Além disso, havia lá um rapaz com um jeito incrível para misturar cores, que enfeitava os braços das convidadas com dezenas de pulseirinhas de vidro coloridas e brilhantes.

(Contei as minhas quando cheguei em casa: 48!)

Ontem houve um jantar formal, ao qual compareceu uma pequena multidão. Havia ministros e autoridades e, conseqüentemente, uma segurança que deixa a nossa no chinelo. O problema aqui não é assalto, é terrorismo, o que faz com que se redobrem os cuidados em quaisquer funções que contem com a presença de personalidades.

Hoje de manhã, na casa do noivo, aconteceu a cerimônia religiosa, para convidados próximos à família. O mundo de língua portuguesa fez um bonito e foi super bem representado. Além de uma quantidade de brasileiros amigos da noiva, vieram o Luis Filipe e a Margarida, e o Marco Antônio Diniz Brandão, nosso simpaticíssimo embaixador na Índia.

Devo dizer que, vendo esses três juntos, senti um enorme orgulho do meu país e das nossas origens portuguesas. Duvido que qualquer outro bloco linguístico possa apresentar, num mesmo país, embaixadores ao mesmo tempo tão bem preparados e tão humanos, tão gentis e admiráveis por suas qualidades pessoais.

Os indianos, sempre muito formais, tratavam ao Luis Filipe e ao Marco Antônio de "Excelência", sem saber o quanto estavam certos.

* * *

Para quem perguntou se a realidade se parece com a novela: com certeza! Vestida numa roupa preta e dourada, me senti em pleno set de "Caminho das Índias". O que havia de saris coloridos... Os homens usavam túnicas, algumas simples, outras bordadas, mas todas muito elegantes.

Acho a roupa indiana chique demais.

Finalmente, mais uma vez se comprova que o mundo não é apenas um ovo, mas um ovo de codorna. Não é que a Mariana é muito amiga de uma das filhas do Luis Filipe e da Margarida, e freqüentou a casa deles quando eram consules no Rio? E não é que aquela bonita mão pintada de henna que fotografei é da irmã da minha querida colega Raquel Bertol? E não é que o marido dela foi aluno e é amicíssimo da Luiza Novaes, minha amiga de infância, vizinha do Bairro Peixoto, colega de turma da Laura no Brasileiro de Almeida e irmã da Claudia Novaes, que por sua vez foi minha colega de turma e é amiga da vida inteira?

A teoria dos seis graus de separação está inteiramente furada: ninguém precisa disso tudo!

Casamento indiano

O jardim da embaixada brasileira

24.10.09

Estao aqui dormindo ao meu lado... :-)

Fotos!

Pessoas, o resumo do dia de hoje fica mesmo aí embaixo, nas legendas da livraria e da Fashion Week: estou cansada demais para escrever. Em compensação, subi dois álbuns de fotos, um do comércio em Chandni Chowk, e outro de comidinhas de rua.

Sobre o túmulo de Humayun, construção deslumbrante em meio a um vasto jardim, não há nada que eu possa dizer que acrescente ao que diz qualquer bom guia de viagem -- exceto que, mais uma vez, os pássaros de Delhi me deixaram de queixo caído.

Cheguei no fim da tarde, quando todos estavam se despedindo do dia, e assisti a revoadas incríveis de maritacas e, acho, andorinhões. Muitos falcões deslizando majestosos, pavões, pegas, pombos... é uma festa!

Graças a eles vi o pôr-do-sol mais bonito da minha vida, com árvores e torres em primeiro plano e um sol fantástico recortado contra a belíssima névoa de poluição que paira sobre a cidade.

E com isso me retiro, que madrugada vai alta.

Tumulo de Humayun

Uma livraria extraordinaria



Imaginem o seguinte: este espaço exíguo, e pilhas e pilhas e pilhas de livros, a maioria fora do alcance dos nossos olhos e das nossas mãos. Chegamos então para qualquer um dos vendedores, e perguntamos:

-- Vocês têm por acaso aquele romance em que o rapaz é filho de um caixeiro viajante que passa um dia por Goa...

-- Você quer dizer aquele em que o protagonista é filho de um engenheiro hindu que é designado para a estação ferroviária de Calicute.

-- Isso, isso mesmo.

-- Temos sim. É um ótimo livro.

Ato contínuo, o vendedor pega uma escada, sobe até o último degrau, cavuca atrás de uma pilha e volta com dois livros:

-- Trouxe este outro também, talvez interesse. É do mesmo autor mas, pessoalmente, acho muito melhor.

Não estou exagerando. Vi isso acontecer ao meu lado, com o Luis Filipe, que se lembrava vagamente de um livro.

Pedi recomendações sobre assuntos totalmente diversos (pássaros e plantas da Índia, dicionários de provérbios, romances variados) e a respeito de tudo o vendedor estava extremamente bem informado e tinha uma opinião interessante.

Sempre fui cliente dos melhores livreiros do mundo, que são os meus amigos cariocas de tantas e tão boas livrarias, mas nunca vi nada semelhante em lugar nenhum. Também nunca vi livros tão baratos.

A livraria funciona no mesmo lugar desde os anos 50, e é tocada por uma mesma família, que exerce todas as funções, inclusive o meticuloso preenchimento manual das notas fiscais.

Resultado: gastei o equivalente a uns 300 reais e comprei uma pequena biblioteca de excelentes livros indianos, que vou despachar para casa pelo correio.

Viver é muito perigoso!

Incendio, anyone?

Linda modelo, lindo desfile



Millôrzinho costuma dar um conselho às pessoas que trato de seguir ao pé da letra:

-- Tenham sorte!

Assim é que, hoje, fui parar na Fashion Week de Delhi, que eu nem sabia que existia, porque um estilista de Goa, amigo da Margarida, fazia um desfile. O lugar especialíssimo na primeira fila descolei na cara de pau, escolada que estou em Fashion Weeks: sei que sempre falta alguém.

Sentei na pontinha do banco, fiz cara de paisagem e, claro, tratei de ter sorte.

E não é que tive?

Pois.

* * *

A FW é menor do que a nossa mas muito movimentada e com uma fauna não muito diferente. No salão (lotado) realizaram-se dois desfiles seguidos, e achei lindas as roupas de ambos, especialmente as do estilista de Goa, limpas e leves.

O segundo desfile, de roupas estruturadas demais para o meu gosto, mas ainda assim muito elegantes, sofreu por excesso de criatividade -- aconteceu todo num silêncio sepulcral, com as manequins andando em câmara lenta. Para piorar, as coitadas estavam de salto, coisa que não se usa aqui, e davam a maior aflição: a todo instante parecia que iam cair.

As roupas e as moças mereciam um tratamento melhor.

* * *

Fiquei horrorizada com o comportamento dos fotógrafos, que gritavam para as modelos, assobiavam e falavam grosserias (a moça sentada ao meu lado me traduziu algumas delas). Muita vergonha alheia, e muita vergonha da minha profissão que, em geral, sempre foi, para mim, motivo do máximo orgulho.

* * *

Numa área parecida com o nosso Fashion Business, vi algumas roupas e acessórios sensacionais. Gostei sobretudo das de caráter nitidamente indiano, até porque já existe gente demais no Ocidente fazendo roupas ocidentais.

Ah: tenho os nomes dos estilistas, é claro, e dos criadores das bolsas e dos acessórios de que mais gostei, mas esqueci a papelada toda no carro.

Fico devendo.

Delhi Fashion Week!

23.10.09

Caos: a vista do engarrafamento

 
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Fiz um bocado de fotos, mas preciso separar e já é muito tarde, amanhã um dia inteiro me espera. Prometo que dou um jeito logo mais nessa situação.

Por enquanto, subi algumas que fiz de dentro do carro, no engarrafamento.

Nada especial, mas dão uma idéia do trânsito peculiar da cidade quando a gente vai chegando a Chandni Chowk.

O link está AQUI.

Velha Delhi

Os planos de me deitar para ler à sombra do pipal do jardim ficam cada vez mais distantes. Hoje foi um dia movimentadíssimo, que começou numa loja de roupas onde eu queria comprar absolutamente tudo, e terminou numa festa de casamento animada por sucessos de Bollywood e música brasileira; entre uma ponta e outra, passei por Old Delhi, pelo Chandni Chowk e pelo Forte Vermelho, uma das grandes atrações turísticas da cidade.

Roupas

Todos os guias e sites de dicas de viagem que li foram enfáticos: não traga roupa para a Índia, porque o que há de coisa bonita para se comprar por aqui não está escrito. Não tive coragem para ser tão radical, mas é a mais pura verdade.

Quando vocês vierem à Índia, não tragam roupa.

Mesmo.

Fui ao mercado da esquina com a Margarida e, pelo equivalente a 150 reais, comprei meia dúzia de túnicas de algodão, uma mais bonita e confortável do que a outra. E isso, vejam bem, que fomos a uma loja relativamente cara, a Anokhi, que tem uns designs transados e umas estampas exclusivas, e é, junto com a Fabindia, a favorita de dez entre dez estrangeiras descoladas.

Old Delhi

A velha Delhi, uma espécie de Saara elevada ao cubo com dez vezes mais gente e cem vezes mais confusão, é dos lugares mais interessantes e divertidos que já vi.

As ruas são caóticas, o trânsito é enlouquecedor, o barulho das buzinas é incessante.

Para onde quer que se olhe há gente, gente e mais gente – e quase toda essa gente encontra-se empenhada em comerciar. Compra-se e vende-se de tudo, do paan arrumado em bandejinhas no chão a jóias trabalhadíssimas, não raro no mesmo metro quadrado.

Muitas lojas (sobretudo, ao que observei, alfaiatarias) são o espaço exato de um colchão grande, onde vendedores e fregueses se largam no chão. Os sapatos, claro, ficam na porta.

Na época dos imperadores mogóis, esta era uma área residencial rica e sofisticada, povoada por havelis, mansões palacianas que, com freqüência, ocupavam quarteirões inteiros.

Bastante castigada na época do motim de 1857, a velha Delhi acabou de vez com a Partição, em 1947, já que seus habitantes, muçulmanos refinados, foram para o Paquistão, enquanto os hindus do Punjab, expulsos das suas terras, se ajeitavam como podiam na capital.

As havelis foram divididas e subdivididas, cortadas e recortadas.

É difícil perceber, na confusão de lojinhas acanhadas, os restos do passado grandioso; mas eles estão lá, num portão de mármore rendilhado, no acabamento de um antigo terraço, num detalhe inesperado que pega o olho e dá um aperto no coração.

Não há mais como imaginar o que teria sido aquilo.

Multidão

Há menos gente circulando por Chandni Chowk, a principal rua da velha Delhi, do que em alguns lugares que visitei na China, onde há mão e contramão de pedestres. A multidão indiana, porém, é bem mais confusa.

Os chineses, Pequeno Gafanhoto, são como um rio que flui; os indianos são como uma onda que quebra.

Ainda assim, é estranho: andando distraída como ando, fotografando pra cá e pra lá, não levei esbarrões.

A onda, Pequeno Gafanhoto, é fluida, e contorna os caramujos da areia.

Pobreza

Engana-se quem vê pobreza na sujeira e na desorganização de Chandni Chowk. A área não é rica, claro está, no sentido Rodeo Drive da palavra; mas é rica num sentido de abundância e de vida, como é rica a nossa Saara.

Dinheiro e mercadorias mudam de mãos sem parar, vende-se comida muito tentadora por todos os cantos e, por todos os cantos, há gente comendo: fatias de abacaxi, pedaços de pepino cru com um molho que não tive coragem de investigar, bolinhos de batata parecidos com acarajés, milho, castanhas do Pará, castanhas de caju (pálidas, mas muito saborosas), bolinhos fritos recheados com água, tamarindo, pimenta e batata (gol gappa: gostosos!), goiabas brancas e vermelhas, pasta de berinjela (vermelha de tanta pimenta), carambolas, batatas doces assadas, picolés de leite, amendoim, doces diversos, coco em pedaços, rotis (um tipo de pão árabe), paan, tomates e umas tantas outras coisas que não consegui identificar. Bebem-se sucos de várias frutas, chai (chá com leite e muito açúcar) e limonada.

Se pobreza fosse o que se vê na velha Delhi, o mundo não teria problemas; infelizmente, a gente sabe que o buraco é mais embaixo.

Bichos

Na velha Delhi encontrei cabras, muitos cachorros de rua (magrinhos, mas bem tratados pelas pessoas – vi dois sendo alimentados), um burrico aparentemente desacompanhado no meio trânsito, cavalos.

E os pássaros, sempre.

No Forte Vermelho, onde chegamos ao pôr-do-sol, mais pássaros: maritacas, pombos, gaviões, pegas, andorinhas, urubus... Todos falando ao mesmo tempo, e fazendo o barulho mais bonito de se ouvir.

Nunca vi tantos pássaros numa cidade grande e, sobretudo, nunca vi pássaros tão mansos. Os bichos todos que encontrei, por sinal, não demonstraram ter qualquer medo de gente.

Vaca só vi uma, já ao anoitecer, e numa área pouco movimentada, andando entre os carros; achei lindo demais.

Pintura de henna

Um casamento indiano

22.10.09

Nova Delhi: primeiras impressões

 

(Mais fotos AQUI)


Acho que, finalmente, posso me considerar "chegada": já tenho um simcard que funciona no celular, já dei uma volta pela cidade, já saquei rúpias numa ATM e, claro, já comprei meia dúzia de filmes e um livro (Nine Lives, de William Dalrymple) -- como vocês perceberam, há poucos livros aqui na casa...

Ontem à noite, crente que tinha energia de sobra depois de tanto dormir em avião, fiz planos mirabolantes para acordar cedinho e passar a manhã lendo no jardim, antes de decidir que rumo tomar na vida.

Nem preciso dizer que o jetlag me deu uma rasteira bacana: acordei ao meio-dia sem saber se estava com fome ou não, e sem ter idéia de que espécie de fome era. Café da manhã? Almoço? Jantar?

É uma sensação esquisita, mas passa rápido. Tenho certeza que, amanhã, a minha fome está de volta intacta, e bem segura do que quer.

* * *

Estou no setor de embaixadas, que é, naturalmente, uma área especialíssima, e não fui muito longe -- Embaixada do Brasil, Connaught Place, India Gate, o lindo palácio presidencial. Mas em toda esta área, que não é pequena, duas coisas me chamaram a atenção acima de todas as outras: a quantidade de árvores e as vozes contínuas dos pássaros.

Certamente terei muitas outras lembranças de Delhi, uma diferente da outra, mas esta primeira impressão, a de uma cidade cheia de pássaros, vai ficar comigo para sempre.

* * *

Estou gostando muito de tudo, e mesmo aquilo de que não gosto me é, de certa forma, familiar.

As lojas pequenas, os monumentos espetaculares, os mercados caidinhos, as avenidas largas do planejamento urbano britânico, as calçadas feito as nossas, os simpáticos vira-latas dormindo pelos cantos, sem serem incomodados por ninguém.

No meu ponto de vista -- extremamente prematuro -- há uma dimensão humana nessa mistura, uma espécie de aceitação do fato de que somos assim mesmo, imperfeitos e cheios de contrastes. O contrário do que me repele e me desagrada na Suíça ou em Mônaco, que detesto de todo coração, é o que me atrai em Nova Delhi.

* * *

Ninguém me pareceu ter muita pressa para nada; e todos me pareceram no mínimo gentis.

O famoso trânsito é mesmo uma doideira, mas menos por ansiedade do que por falta de regras. Fiquei com a impressão de que não há mão ou contramão, ou, se há, não chegam a ser respeitadas; tiram-se muitos finos e buzina-se direto, mas acho que o buzinaço é abre-alas e aviso aos demais.

* * *

A burocracia, da qual estou sendo misericordiosamente poupada, é feroz. Dizem que foi inventada aqui. Para tudo é necessário um formulário em três vias com estampilha, carimbos, assinaturas e fotos, muitas fotos. Comprar um apartamento no Rio é transação mais simples e rápida do que comprar um simcard na Índia.

A idéia é combater o terrorismo, mas a gente conhece este filme da época em que comprar celular no Brasil era um perrengue para qualquer pessoa de bem.

Se eu estivesse entregue à minha própria sorte, continuaria fazendo roaming até o fim da viagem, entre outras coisas porque só residentes podem comprar simcards. Aí, quando tudo dá certo e a operação é, digamos, agilizada, leva-se cerca de uma semana para se conseguir um simples pré-pago.

Minha vida conectada foi salva deste beco sem saída pelo Eric Sogocio, da seção consular da nossa embaixada, que, como anjo-da-guarda plantado no lugar certo na hora certa, me emprestou um cartão sobressalente.

* * *

Até aqui, tirando o jet-lag, a maior complicação da minha existência indiana têm sido as tomadas, um híbrido entre as européias e aqueles monstrengos ingleses, que desafiam os meus adaptadores e, sobretudo, a minha crença arraigada de que, com eletrônicos e trecos que dão choque em geral, não se usa a força bruta.

* * *

Perto do Índia Gate fiquei um tempo olhando um vendedor de paan, acocorado no chão, com a mercadoria exposta em cima de uma bandeja: folhas, potes de temperos, faquinha, tudo iluminado por uma pequena lanterna. Cada folha leva a mistura de temperos escolhida pelo freguês, e é dobrada num pequeno quadrado, que se mastiga e mastiga até se cuspir fora; uma espécie de chiclete orgânico.

A certa altura veio de lá um varredor de rua levantando poeira (sim, há muita poeira em Delhi), passando a vassoura rente à bandeja.

Pensei que estava diante do fim do expediente para o vendedor de paan, mas que nada. Ele puxou a bandeja pro lado e continuou trabalhando, imperturbável.

* * *

Não me lembro mais de quem se queixou da falta de gatos na Índia, mas informo: não procede. Logo no primeiro mercado que pisei em busca de uma Vodafone para recarregar o celular encontrei uma corujinha entretida diante de um buraco na parede; e, na hora do jantar, uma tricolorzinha esperta atravessou o jardim, com a tranqüilidade de quem é dona do pedaço.

* * *

É possível que, daqui a uma semana, eu escreva o contrário exato do que escrevi hoje; mas quis muito registrar essas primeiras impressões, porque adorei a cidade e estou feliz.

E o barulho dos passaros...!

Teste

Ah, sim

Há dois anos, atravessando a Av. Presidente Vargas para tirar uma foto da Candelária... etc. etc. etc.

Lar doce lar

 
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Não há nada como chegar do outro lado do mundo e ser recebida por amigos queridos -- Luis Filipe e Margarida, lindos, elegantíssimos, uma visão em pleno aeroporto: imaginem, entre montes de viajantes detonados e motoristas segurando plaquinhas com os nomes dos passageiros, um casal vindo direto de uma festa, ela no salto quinze que usa como eu uso havaianas.

Só faltaram taças de champagne para completar a cena mas, posto que não bebo, não faltou nada.

A viagem foi ótima; depois de uma noite de sono e de um bom papo com os amigos, já me sinto totalmente em casa. Estou cercada por milhares de livros e tenho um jardim onde reina um pipal magnífico e onde se ouvem as vozes de diversos pássaros.

Há umas fotinhas AQUI.

Agora vou cuidar de arranjar um simcard local, que roaming na India é sui$$ídio, e de me situar geograficamente. Cheguei à noite e, tirando o fato de que estou em Nova Delhi, não sei de mais nada.

Teremos muito assunto para os próximos dias!

20.10.09

Londres, ensolarada como sempre




Em terra firme

O atraso do aviao mudou muito os meus planos: eu ia dar um pulo ate a cidade e vou ficar por aqui mesmo. O hotel e otimo e daqui a pouco vou ao terminal comer uma coisinha.

Outra mudanca: eu estava tao cansada que nem esperei a comida do aviao! Dormi do Rio a Londres, nonstop...

O voo atrasou muito

Por causa da chuva, só vamos sair às 2h30. Já tuitei, já cochilei,
já comi um monte de besteira... e o tempo não passa!

Por falar em tempo, ignorando solenemente o fato de que os voos saem a
todas as horas, a Receita Federal decidiu que só trabalha ate às
22hs, de modo que nao pude registrar uma das câmeras e três lentes,
que viajam, assim, como clandestinas.

Pode, isso?!


Do celular