30.9.05



Vibra cow

Me passaram como autêntica, mas é boa demais pra ser verdade: um jornal de Oman noticiou que uma vaca engoliu um celular. O dono da vaca e do celular descobriu o fato quando, tentando encontrá-lo (ao celular), ligou para o próprio número e, para seu espanto, ouviu a vaca tocar.

A notícia é incompleta: não informa marca de aparelho, operadora ou ringtone favorito do fazendeiro.

Pronto!




A obra: buracos no teto.




O lado romântico do jornal




Primavera urbana




Gatinhos!






Vinícius, sobre Portugal

Atendendo a pedidos:
"(....) Eu confesso que depois desta minha última viagem, e de um contato intermitente de três meses com sua gente, Portugal seria o único país da Europa onde eu poderia viver fora do Brasil: com eventuais incursões à Itália. Que adiantam o superdesenvolvimento e a kultura (assim mesmo com k) de um povo, como dois ou três que eu conheço, se neles a relação humana torna-se cada dia mais difícil e indesejável diante de um outro tipo de ignorância bem mais perigoso a longo prazo, como esse da reserva e falta de diálogo; da submissão a preconceitos econômicos falsos na verdadeira escala de valores; do aburguesamento progressivo e da mesmificação do mais pessoal dos meios de comunicação, que é a linguagem? Que qualidade é mais a prezar no ser humano, se não for a gentileza, o gosto de conviver, a boa vontade em cooperar, em socorrer, em dar-se um pouco em tudo o que se faz, desde trabalhar a amar, desde comer a cantar, desde criar no plano intelectual a fazer no plano industrial ou agrícola?

Obrigado, Portugal! No contato de tuas gentes, teus escritores e teus artistas, teus estudantes e teus simples -- teu povinho das brancas aldeias! -- eu senti que há ainda muito isso que cada dia mais falta ao mundo: carinho e sinceridade. Represados, talvez, mas latentes como o sangue sob a pele, e prontos a romper a crosta criada a duras penas, ao longo de um passado tão cheio de sacrifícios e infortúnios. Obrigado, Lisboa, terra tão boa, gente tão gente, casas tão casas, amigos tão como já não se encontra.(....)"
A íntegra da crônica, de 1969, pode ser lida aqui.


Filhos de Francisco

Finalmente assisti "Dois filhos de Francisco". Não é ruim -- mas juro que não consegui entender a onda que está sendo feita em torno do filme. Assisti com interesse, achei a história bem contada e gostei dos atores; mas faltou uma coisa qualquer, algo que de fato me emocionasse, tirando o dueto de Caetano e Bethânia em "Tristeza do Jeca", que é das músicas de que mais gosto.

Deve ser problema meu, claro, porque o que mais vi no cinema foi gente aos prantos, para quem eu olhava com espanto parecido àquele com que olhava para o povo que ria desbragadamente durante a peça "Cócegas", há uns dois anos, na qual eu não consegui achar a mínima graça.

Para mim, o grande filme sobre a música sertaneja continua sendo "Na Estrada da Vida". Foi feito há mais de 25 anos por Nelson Pereira dos Santos, conta a história da dupla Milionário e José Rico e, sabe-se lá por quê, teve pouquíssima repercussão no Brasil, embora fosse um sucesso imenso na China.

No filme de Nelson, um dos poucos musicais brasileiros -- no sentido em que a trama vai sendo contada através da própria música -- os astros são Milionário e José Rico em pessoa, revivendo seu passado de peões de obra. Se bem me lembro, a trilha sonora é 100% dos dois, ao contrário de "Dois Filhos de Francisco", em que brilham sobretudo clássicos sertanejos, o que, diga-se, só faz bem ao filme.

Na época, aliás, música sertaneja ainda não era "produto" e o seu ibope fora da roça -- que, por sinal, ouvia rádio mas não ia ao cinema -- era mais ou menos zero. Era preciso coragem para meter a cara e fazer um filme daqueles, não fosse Nelson Pereira dos Santos quem é.

Gostaria muito de rever "Na Estrada da Vida" que, para mim, teve o impacto de uma revelação: bípede essencialmente urbano (embora já com uma quedinha para música nordestina), eu não tinha a menor idéia de que pudesse existir música sertaneja da qual eu pudesse gostar tanto.

Vocês assistiram "Dois Filhos de Francisco"? Gostaram? E, além do Ribondi, alguém ainda se lembra de "Na Estrada da Vida"?



Purgatório da beleza e do caos

Por que não vamos embora deste inferno?
Pelo muito de céu que ele preserva


Só para constar, mesmo: vocês já leram. Escrevi para cá no domingo, achei que poderia dar uma boa coluna e acabei publicando no jornal.

Durante as curtas férias que tirei com a Bia, consegui, pela primeira vez em muitos anos, me desligar completamente do mundo. Não vi televisão, não surfei pela internet e, por causa das línguas em que estávamos mergulhadas, mal e mal lia as manchetes dos jornais.

Tudo o que me interessava era o boletim meteorológico e o próximo passo que daríamos: para onde iríamos, como, em que condições? A grana seria suficiente? Mesmo quando viajo sem destino traçado, costumo fazer melhor o dever de casa do que fiz desta vez; mas fomos tão felizes que até os poucos contratempos que enfrentamos foram divertidos, como o achaque na Eslováquia e um hotel pavoroso em Praga, onde tomávamos café cercadas de armaduras, no aconchegante ambiente de uma prisão medieval.

* * *

O Brasil ficou muito longe, mesmo na primeira etapa da viagem, quando eu ainda estava trabalhando, mergulhada em telas de plasma e eletrodomésticos wi-fi. Às vezes recebia uma notícia ou outra através da área de comentários do blog ou de telefonemas para casa, mas consegui a proeza de passar duas semanas sem saber o que estava acontecendo fora das minhas redondezas geográficas. Era como se estivesse numa espécie de bolha inatingível, à prova de CPIs, mensalões, políticos corruptos, tragédias mundiais.

A bolha mágica foi estourada quase no fim da viagem, com a notícia da morte do Cesar, porteiro noturno de quem gostávamos muito. A tristeza nos trouxe a consciência do contraste, e nos jogou na cara, como um soco, a realidade que vivemos nesta terra de ninguém em que se transformou o Rio de Janeiro.

* * *

Muitas vezes, ao longo dos anos, assistindo a cenas de guerra pela televisão, me espantava com pessoas que insistiam em continuar vivendo no inferno. Não aquelas pobres pessoas destituídas, claro, que nascem e morrem sem qualquer poder de escolha; mas as de algumas posses, que em tese poderiam vender casa e carro, por exemplo, e recomeçar a vida em canto mais sossegado.

Enquanto eu me perguntava como alguém podia continuar a viver em Beirute ou em Jerusalém, minha própria cidade ia se encarregando da resposta. Salvo em guerras declaradas, o cerco da violência é sutil, gradual. Um dia é um assalto aqui, no outro uma morte ali. Mal reparamos quando começamos a evitar as linhas de ônibus mais perigosas, quando deixamos de sair a pé à noite, quando a uma da manhã já mal se vê gente em pontos onde, antigamente, esta era a hora em que a festa começava. O som dos tiroteios vai se integrando à cacofonia urbana, e passamos a achar normal o barulho dos fuzis e metralhadoras que vem dos morros.

Como é que alguém pode viver numa cidade odiada pelo presidente, abandonada pelos governadores e esquecida pelo prefeito? Como é que alguém pode viver numa cidade onde não existe mais segurança alguma, ou vestígios de qualquer coisa semelhante à ordem? Como é que se pode viver numa cidade tomada pela bandidagem e pelas ervas daninhas, suja e esburacada, cheia de mendigos, assaltantes e menores de rua que metem medo até na polícia? Como é que se pode viver numa cidade onde a polícia federal -- a polícia federal! -- é roubada diante de todos?!

Por que não vamos embora deste inferno para um lugar decente, onde se pode viver em paz, andar pelas ruas a qualquer hora do dia ou da noite e usar transporte coletivo sem risco de vida? Por que nos sujeitamos, de livre e espontânea vontade, ao descaso e ao cinismo das autoridades, à angústia, à violência?

* * *

Passei duas semanas na Europa vivendo como, em tese, deveriam viver todas as pessoas do planeta, andando pelas ruas sem medo ou desconfiança. Pude usar minhas câmeras e celulares, andei em bicicletas maravilhosas que jamais sonharia ter aqui, saí com meu relógio de estimação sem receio de que o levassem na primeira esquina.

Vivi duas semanas feito gente e, confesso, achei muito bom.

O problema é que não vivi na minha língua, não vivi na minha cultura, não vivi na minha querência. Ser turista é ótimo, mas ser estrangeiro não é.

* * *

O Rio nunca esteve tão mal, tão triste e tão desamparado; nunca estivemos tão por baixo, tão submissos e acabrunhados. Mas a geografia desta cidade está indelevelmente gravada no meu DNA, e a conversa das ruas é a trilha sonora da minha vida. Para não falar na familiaridade com a beleza, este raro privilégio que temos nós, cariocas, pelo simples fato de vivermos aqui.

Há gente que vem de todos os lugares para ver, por alto, o que nós conhecemos a fundo, o que é nosso e o que vemos e veremos todos os dias ? até que um pivete nos mate por uma bobagem, a polícia nos acerte por engano ou uma bala perdida nos encontre, só assim.

Hoje eu entendo quem morava em Beirute, quem vive em Jerusalém, quem insiste em não sair de Bagdá.


(O Globo, Segundo Caderno, 30.9.2005)

Socorro! Vou fugir antes da tormenta.




Obras na redacao




29.9.05



Blog!

Oops... erro de revisao!




O papo ta bom la embaixo...

Para quem gosta das bizarras diferencas entre o portugues e o brasileiro, Recomendo o post do guarda-chuva. Aquele, tadinho, tao inocente.

Ferocidade máxima! :-)



Hoje os quero-queridos me botaram para correr, com vôos rasantes sobre a minha cabeça e uma gritaria que só vendo.

Fiquei muito feliz.

Finalmente estão aprendendo a proteger os ovinhos; nem consegui chegar perto do ninho para fotografar!



Reparem nos esporões cor-de-rosa em frente às asas: é com eles que defendem o lar. Estão bem equipads, né?

Amo quero-queros, em geral, mas este casal me conquistou para sempre. Como são destemidos e bonitinhos!

28.9.05

Lar doce lar




Adivinhem quem acaba de me dar um passa fora...






Tudibom

Gente, falando sério: vocês já viram o blog da Carolina Vigna-Marú? Se não viram, não sabem o que estão perdendo...


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O sistema de comentários deve estar passando por ajustes. Se vocês toparem com algo parecido com a algaravia do título, pois, não se espantem.

Aos meus pes




Mosca pensando na vida







Um post totalmente nerd

Graças aos blogs do Mario AV, em São Paulo, e da Mari Ceratti, em Brasília, aí estão os vários modelos do bolinho distribuído pela MS no dia do seu aniversário. Sei não, mas tenho a impressão de que o povo de Brasília (foto do meio) saiu no preju...


Adeus, amigos; olá, amigo!

Hoje passei parte do dia empacotando e devolvendo os meus companheiros de viagem para os respectivos fabricantes. Tive sorte com as maquininhas que levei na viagem: a Fuji Z1, em que eu punha pouca fé pelo design (a lente fica bem no caminho do dedo indicador da mão esquerda), acabou sendo uma grande revelação; a Kodak 550 fez os melhores filminhos que já vi uma digital fazer; e considero o Sony-Ericsson W800 o melhor celular atualmente disponível para quem quer ouvir música e tirar fotos, superior até ao meu querido Samsung D500.

No momento estou testando o Nokia 6681. Este não viajou comigo porque não descobri como pôr títulos nos MMS, isto é, nas imagenzinhas que mando pra cá. Continuo sem saber como fazer isso, mas em compensação descobri que é facílimo enviá-las por email. Não sei se isso sai mais caro ou barato; vamos precisar esperar a conta chegar para ver. Estou achando a qualidade das fotos muito boa.

Ele é um excelente smartphone, isto é, um telefone com alma de computador, capaz de ler qualquer arquivo do Office, acessar email, etc. Já carreguei nele toda a lista dos meus DVDs, por exemplo, o que evita compras duplicadas; também poderia carregar qualquer apresentação Power Point, caso precisasse.

Como todo Nokia, porém, ele é imbatível em dois quesitos fundamentais num celular: recepção de sinal e qualidade de som da voz. E tem uma frescurinha que estou adorando: quando está escuro, o teclado acende sozinho. Bonitinho!

27.9.05

Quem vai ao ar perde o lugar...




Vida literaria




Av. Presidente Vargas




Meu guarda-chuva... :-)




No trabalho




Chove, chove, chove






Emergência felina!!!

"Pessoal, acabamos de saber que o CCZ do Rio de janeiro recebeu 11 gatos, oriundos da Tv Record de Jacarepagua, capturados pela SEPDA e entregues ao CCZ.

Não temos lar temporários para todos, apenas para alguns. Alguém poderia receber algum gatinho de lá? Se algumas pessoas ajudarem, todos poderão ser resgatados. O CCZ é um lugar ruim para eles. São de facil adoção, merecem uma chance. A informação que eu tenho é que eles estão bem de saúde, eram acompanhados por protetores do local.

Todos nós sabemos como um gato fica rapidamente debilitado, com o estresse cai sua imunidade e logo adoece. Os gatos ficam deitados por cima de uma grade, pois tentam se esconder, pegam chuva, frio e escutam os cães latirem o tempo inteiro, quem tem gato sabe o quanto isso é estressante para eles.

Por favor, quem puder colaborar dando a um gatinho lar temporário, vai estar salvando a vida dele... Pq infelizmente só temos lugar até agora para os filhotes e três adultos.

Os que lá sobrarem ficarão em depressão e morrerão em breve....

Se alguém puder, por favor, entre em contato, pelo telefone [21] 9192-4824 ou pelo email bianca_lena@yahoo.com.br

Se não puder ajudar, pelo menos repasse essa mensagem, é muito importante. Grandes beijos,

Bianca de Lena"
Este é o "trabalho" que a SEPDA está fazendo: recolhendo animais para a morte certa no CCZ. Enquanto o secretário ganha seu rico dinheirinho e se diverte brincando de ator de novela, voluntários que realmente amam bichos, como a Bianca, vão à luta com os próprios recursos.

Acorda, prefeito! Larga o seu blog e dá uma olhada no que está acontecendo na sua secretaria, na sua cidade!!!


Cheques do Google

Alguém já descobriu como descontar? O que fazer com eles (não valem respostas de baixo calão!)?










Caixas & caixas

Com o friozinho que está fazendo, as caixas de papelão estão em alta. Agora à noite a Net estava tão bonitinha dormindo dentro de uma delas que eu não resisti; e nem a Tutu, que é o gato mais curioso e ciumento do planeta, e que saiu da caixa dela só pra assuntar.

26.9.05



Eu posso com isso?!

"Boa Tarde,

Passando rapidamente por este blog percebi o ocorrido e gostaria de disponibilizar meu telefone de contato para o Sr. Marcelo, tendo em vista a difamação que sofreu por pessoas que não foram capazes de se identificar, mas que demonstram relação íntima com a proprietária do blog, demonstrando, desta forma, o comprometimento desta última com o caso.

Gostaria de comunicar que as mensagens difamatórias sobre o Sr. Marcelo e sua identificação neste blog deveriam ser retiradas em virtude da preservação de sua imagem e privacidade.


Maura de Oliveira - 88255069
OAB/RJ 129.378"
Quer dizer: vinha essa dotôra passeando displiscentemente pela internet, quando viu um blog solto no espaço e resolveu dar uma olhadinha rápida no seu conteúdo.

Passou por 21 posts, 17 fotos de gatos, netos & diversos, leu todos os 672 comentários pertinentes a esses posts, e eis que chegou à famigerada crônica que comete a terrível barbaridade de pôr a Eslováquia no primeiro mundo.

Apesar de estar passando rapidamente pelo blog, a dotôra deu-se ao trabalho de ler, além de tudo o que já mencionei, os 247 comentários do dito post -- para então chegar à conclusão de que deveria oferecer os seus préstimos ao intelectual que tão gentilmente se dispôs a acabar com a nossa burrice e oligofrenia.

Agora imaginem só o tempo que ela não gasta quando se demora nos sites...

Pois vá fundo, dotôra, mande bala, arraste-me às barras dos tribunais.

Vai ser divertido.

Gastando seu precioso tempo com a leitura desse monte de bobagem na internet, direito que é bom a senhora não estuda há tempos.


Emergência canina!

Pessoas, há uma quantidade de cãzinhos simpáticos abandonados no CCZ. Se não forem resgatados logo, serão exterminados.

Dêem uma olhada nas carinhas deles: quem sabe alguém não se anima a adotar um novo amigo?


Entre céu e inferno

Durante essas curtas férias que tirei com a Bia, consegui, pela primeira vez em muitos anos, me desligar completamente do mundo. Não vi televisão, não surfei pela internet.BR e, por causa das línguas em que estava mergulhada, mal e mal lia as manchetes dos jornais.

Tudo o que me interessava era o boletim meteorológico e o próximo passo que daríamos: para onde, como, em que condições. Em geral faço melhor o dever de casa, mas fomos tão felizes que até os poucos contratempos que enfrentamos foram divertidos, como o achaque na Eslováquia e o hotel pavoroso em Praga.

O Brasil ficou muito longe, mesmo na primeira etapa da viagem, quando ainda estava mergulhada nas telas de plasma e nos eletrodomésticos wi-fi da Philips. Às vezes vocês me davam uma notícia ou outra aqui nos comentários, mas consegui a proeza de passar duas semanas sem saber o que estava acontecendo por aqui. Era como se eu estivesse numa espécie de bolha inatingível, à prova de CPIs, mensalões, políticos corruptos.

A bolha mágica foi estourada com a notícia da morte do Cesar, o porteiro noturno de quem a Bia e eu gostávamos muito. A tristeza nos trouxe a consciência do contraste, e nos jogou na cara, como um soco, a realidade que vivemos nesta terra de ninguém em que se transformou o Rio de Janeiro.

Muitas vezes, ao longo dos anos, assistindo cenas de guerra pela televisão, eu me espantava com as pessoas que insistiam em continuar no inferno. Não aquelas pobres pessoas destituídas, claro, que nascem e morrem sem qualquer poder de escolha; mas as de algumas posses, que em tese poderiam vender casa e carro, por exemplo, e recomeçar a vida num canto mais sossegado.

Enquanto eu me perguntava como alguém podia continuar a viver em Beirute ou em Jerusalém, a minha própria cidade ia se encarregando da resposta. Salvo em guerras declaradas, o cerco da violência é sutil e gradual. Um dia é um assalto aqui, no outro uma morte ali. Mal reparamos quando começamos a evitar as linhas de ônibus mais perigosas, quando deixamos de sair a pé à noite, quando a uma da manhã já mal se vê gente em pontos onde, antigamente, esta era a hora em que a festa começava. O som dos tiroteios vai se integrando à cacofonia urbana, e passamos a achar normal o barulho dos fuzis e metralhadoras que vem dos morros.

Como é que alguém pode viver numa cidade odiada pelo presidente, abandonada pelos governadores e esquecida pelo prefeito? Como é que alguém pode viver numa cidade onde não existe mais segurança alguma, ou vestígios de qualquer coisa semelhante a ordem? Como é que se pode viver numa cidade tomada pela bandidagem e pelas ervas daninhas, suja e esburacada, cheia de mendigos, assaltantes e menores de rua que metem medo até na polícia? Como é que se pode viver numa cidade onde a polícia federal -- a polícia federal! -- é roubada diante de todos?!

Por que não vamos embora deste inferno para um lugar decente, onde se pode viver em paz, andar pelas ruas a qualquer hora e usar transporte coletivo sem risco de vida? Por que nos sujeitamos, de livre e espontânea vontade, ao descaso e ao cinismo das autoridades, à angústia, à violência?

Passei duas semanas na Europa vivendo como, em tese, deveriam viver todas as pessoas do planeta, andando pelas ruas sem medo ou desconfiança. Pude usar minhas câmeras e celulares, andei em bicicletas maravilhosas que jamais sonharia ter aqui, saí com meu relógio de estimação sem receio de que o levassem na primeira esquina.

Vivi duas semanas feito gente e achei muito bom.

O problema é que não vivi na minha língua, não vivi na minha cultura, não vivi na minha querência. Ser turista é ótimo, mas ser estrangeiro não é.

O Rio nunca esteve tão mal, tão triste e tão desamparado; nunca estivemos tão por baixo, tão submissos e acabrunhados. Mas a geografia desta cidade está indelevelmente gravada no meu DNA, e a conversa das ruas é a trilha sonora da minha vida. Para não falar na familiaridade com a beleza, este raro privilégio que tenho só pelo acaso de ter nascido aqui.

Há gente que vem de todos os lugares para ver, por alto, o que eu conheço a fundo, o que é meu e o que eu vejo e verei todos os dias -- até que um pivete me mate por uma bobagem, a polícia me acerte por engano ou uma bala perdida me encontre, só assim.

Hoje eu entendo quem morava em Beirute, quem mora em Jerusalém, quem não sai de Bagdá.

25.9.05



Blog!

Meio maluco, meio nostálgico, mas interessante.







Tutu e a caixa

Os gatos amam as caixas de papelão que aparecem aqui em casa. Um dia, durante uma faxina, a Antônia pôs esta caixa (uma das favoritas deles) em cima da cadeira de diretor que fica ao lado da escrivaninha -- e inventou uma novidade que todos adoraram.

Tutu é a principal freqüentadora da caixa empoleirada. Adora o cantinho alto e protegido, e o papelão no qual investiu tantas horas de trabalho artístico.

Mais um albinho






Consegui juntar mais um grupinho de fotos: um resumo da viagem. Para ver, é só clicar na imagem.


Nossos classificados

Vocês se lembram da Margarida, a minha ex-assessora doméstica que estava precisando de emprego há algum tempo? Bom, ela arranjou emprego e foi muito feliz enquanto durou; mas agora a moça que era patroa dela viajou para os Estados Unidos e ela está disponível novamente.

A Margarida é, sem trocadilho, uma florzinha de pessoa. É de total confiança, e se dá muito bem com bichos e crianças. Cozinha um trivial mais do que simples, lê e escreve muito bem. O telefone dela é 2513-5219; ela mora em Copacabana.




Kelyndra

A Monica L pediu para ver uma foto da Kelyndra, a minha nora americana e mãe dos bipinhos lindos da foto abaixo.

Prontinho, Monica!

E olha, ela não é só essa boniteza toda não; é também uma pessoa inteligente, engraçada, simpática e, disparado, a mãe mais paciente que eu já vi.

24.9.05





Ai, que inveja...!

A super querida Paula Foschia viajou para o Texas hoje à noite, e vai passar dez dias exatamente em Austin, onde vivem os meus bipes d'além mar.

Esta é a turminha que ela vai abraçar por mim: tem coisa mais linda?!


Gosto porque gosto

Prontinho: divirtam-se... :-D

Obras em Copa






Não gosto porque não gosto

Povo, rola aí, alguns posts abaixo, uma interessante discussão -- inciada pelo Rbondi -- sobre coisas que a gente não gosta porque não gosta, ponto. Birras sem explicação.

Tá ótimo! E é um maravilhoso tópico de fim de semana. Sugiro, portanto, continuar aqui: mandem ver.


Ele voltou!!! :-)))


Update: O Mario AV, a quem este post refere-se, tinha um dos melhores blogs do pedaço. O rapaz é uma fera em design, sabe tudo de tipografia e caligrafia, artes marciais e zen budismo, e se interessa pelos assuntos mais variados, do catalão ao Mac.

Pudera não: cresceu na banca de jornais do pai, onde devorava tudo assim que chegava. Mais tarde herdou a banca, com a qual, ao que eu saiba, continua até hoje, indo trabalhar de bicicleta (em SP!), acompanhado de um dos cachorros mais lindos que já vi (Ribondi, não leia este pedaço pro Negão).

Aí, um dia, o Mario AV apaixonou-se. Todos ficamos muito felizes, porque a Adri, além de linda e simpática, é inteligente que só, e tem uma curiosidade tão malsã quanto a dele. O único problema é que, apaixonados, os dois fundiram os ótimos blogs que faziam num único, em que talvez até tenham falado de outras coisas, mas onde tudo o que encontrei durante muito tempo foram gracinhas de apaixonados.

Todas muito fofas e meigas mas, como bem observou a Leila, um tanto incômodas, pois davam a sensação de invasão de privacidade.

Os dois continuam apaixonados; não sei se continuam fazendo o blog a quatro mãos (sim, continuam); mas a blogosfera ganha muito, com certeza, com a retomada do blog individual pelo Mario AV.

Em tempo: ele foi o querido amigo que fez o template do internETC., isto é, foi ele quem deu a este blog a cara que vocês vêem. Que, verdade se diga, era bem mais clean quando saiu das suas mãos -- mas aí eu fui juntando um Flickr aqui, um selinho ali...

Nao resisti...




Missao cumprida




23.9.05

Ainda no trabalho






Sampa, by Red Bull

"Os brasileiros são conhecidos por sua intensa "joie de vivre" e uma teoria para explicar isso é que viver no Brasil carrega um alto "risco de mourir". Quando o GP veio para São Paulo, bastava pisar fora do aeroporto para que se visse no pulmão de alguém que a pessoa tinha passado a vida toda numa mina de amianto.

Hoje, a poluição foi drasticamente reduzida, começando pelo lado pessoal, já que os maços de cigarro mostram os avisos mais preocupantes do mundo, com fotos de pulmões afetados, bebês prematuros em um pote e crianças usando inaladores. O fato de o sistema de tráfego da cidade ter melhorado trouxe um novo perigo, visto que os veículos iam a 1 km/h e agora eles podem andar. Isso significou que eles aprenderam a virar o volante e mudar de marcha com os joelhos, já que eles precisam das duas mãos para fazer gestos obscenos e falar ao celular. Todos os motoristas se consideram no nível de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Ayrton Senna, mas nenhum guia como eles.

Parte dessa cidade parece uma cena da Divina Comédia de Dante, mas os contos de ataques, assassinatos e destruição foram exagerados, pelo menos fora do paddock! Apesar de todos os perigos, há algo maravilhosamente infectado no lugar, e não é a água de torneira. Na teoria, eles recomendam não beber a água, evitar saladas e garantir que sua carne é cozinhada como se fosse a Joana D'Arc de manhã depois de um britânico ter oferecido um churrasco a ela. Na prática? Viva a vida, caia fora e se divirta.

Ser um vegetariano é contra a lei no Brasil e todos os cidadãos quase comem o peso de seu corpo em carne, porco, carneiro e frango toda semana em churrascarias em todo lugar. Vá a uma e assista como um exército de garçons carregando espetos lotados de carne chegam à sua mesa. Se tiver um sistema cardiovascular e estiver bom, vai estar no seu prato. Os garçons vivem nas periferias da cidade e eles têm permissão para levar os espetos para casa à noite para brigarem com os assaltantes.

Houve muito choro do pessoal da F-1 quando tiveram de deixar as belezas das praias do Rio para irem a São Paulo, mas os veteranos de corrida bebem tanta caipirinha que se esquecem disso -- eles se esquecem até do que estão bebendo. De fato, a caipirinha, um coquetel de pinga que é mais sedutor do que a Michelle Pfeifer deitada num piano ou a Cameron Diaz fazendo coisas com seu gel de cabelo, tem mais do que um chute do Bruce Lee, e o que deixa você numa enrascada nessa cidade louca: quanto mais você bebe, mais bonitos parecem os travestis e as mulheres da noite.

Mais seguro do que se misturar com essa gente é uma viagem a um clube de jazz onde você pode ouvir os famosos sons do samba e os trabalhos de Gilberto, Jobim e Baden Powell, embora o que o pai do escotismo estava fazendo quando se tornou um músico é um dos grandes mistérios do maior país da América do Sul."
A Deize achou aqui.

O que será que eles andaram bebendo, Flying Horse?

A MS fez anos e mandou um bolinho...






(A versão paulista do bolinho está no Mario AV.)

Ontem de tarde




Pipoca e' pop!





A garça foi desenhada pelo Dudi num Palm, pode isso?!

Alguém já tentou fazer um desenho delicadinho assim naquilo?!









Hoje à tarde fiz essas fotinhas, mas o telefonino está com um problema qualquer e não consegue mandar os MMS.

22.9.05





A lei e a ordem no Primeiro Mundo

Voltando um pouco no tempo e no espaço, um pequeno Ford Fiesta, dirigido por duas intrépidas brasileiras, chegou, tarde da noite, à minúscula localidade de Rajka, na fronteira da Hungria com a Eslováquia. O guarda louro, alto, de olhos azuis e impecavelmente trajado -- a própria imagem da autoridade -- pegou os passaportes e conferiu as fotos. Depois apontou para o carro:

-- Trstzvstz sticker?

-- I beg your pardon? -- disse a senhora ao volante.

-- Sticker strvzstjic.

-- Hein?

-- No sticker.

Aparentemente, faltava um sticker, ou seja, um adesivo, em bom eslovaco. Mas que raios de sticker? E para quê? O guarda fez sinal para que estacionássemos na área apropriada e o acompanhássemos à salinha da alfândega. As duas brasileiras, nem preciso dizer, éramos a Bia e eu, já no caminho de volta. Estávamos no meio do nada, numa escuridão de breu, quebrada apenas pelas luzes do posto da alfândega. Na salinha acanhada, o guarda entregou nossos passaportes a um colega igualmente imponente, que se dirigiu a nós com grande cortesia e clareza:

-- Trstwzstri strwzjvçi sticker. Trsjvzci?

-- Sorry, we don't understand. Do you speak English?

-- Ne.

-- Italiano?

-- Ne.

-- Français?

-- Ne.

O guarda conferiu os passaportes sem pressa, olhando os carimbos. Tudo o que conseguíramos entender é que, ao que tudo indicava, estávamos numa fria por causa de um sticker. Depois de um diálogo de surdos travado em gestos e consoantes, apareceu um terceiro guarda, que produziu um papelucho xexelento e meio rasgado, onde se lia, em várias línguas identificáveis, que, para circular pelas estradas locais, era necessário um certo sticker colado no parabrisa. Este terceiro guarda era um poliglota.

-- You no sticker. Sticker good one year. No sticker ten sticker fine.

Ah: o sticker valia por um ano. Sem sticker, multa equivalente a dez stickers. Segundo a autoridade, o sticker custava uma quantia de coroas que, convertida, correspondia a quase 29 euros. O guarda desenhou um quadradinho num papel ainda mais seboso do que o outro e apontou com o lápis:

-- Sticker! Trsjvzci?

Sim, sim, isso havíamos entendido. Ele riscou o quadradinho.

-- No sticker. Trsjvzci? 286 euro.

-- O QUÊ???????????????????????!!!!!!!!!!!!!

-- No sticker, 286 euro.

-- I don't have money, no tiengo plata, pas d?argent, trsjvzci?

-- Ne sticker, 286 euro.

-- Do you accept credit cards? Visa, Mastercard, Diners?

-- No. Euro.

Nesse instante, a Bia, que vinha acompanhando o diálogo com o respeito devido às autoridades de um país sério, chegou à correta decisão de que aquele não era assunto para amadores.

-- Mãe! Você está doida?! Eu cuido disso.

Ato contínuo, fez cara de quem ia desatar em prantos e assumiu a liderança das negociações.

-- We Brazil. No money.

Tomou o lápis do guarda e o papel seboso, escreveu NO MONEY e desenhou uma carinha triste. Em seguida tirou um real horrível, todo amassado, de dentro da bolsa.

-- See? Brazilian money. No euro.

Os guardas se entreolharam, riscaram os 289 euros que tinham escrito no papel e escreveram 120.

-- 120 euro. We like Brazil good!

-- Brazil good sim, -- disse a Bia -- mas money que é bom nós num have. Ronaldinho!

Os guardas riram. Isso eles trsjvzci.

-- Pelé!

-- Pelé! -- exclamou a Bia, como se tivesse ouvido o Terceiro Segredo de Fátima. Um dos guardas riscou os 120 euros e escreveu 80. A Bia riscou, escreveu 40 e fez um gesto tipo ?fechamos em quarentinha e não se fala mais nisso?.

-- Roberto Carlos!

Eu não duvidava mais de nada, mas mesmo assim não me contive:

-- Bia, esses caras nunca ouviram o Rei!

-- É outro Roberto Carlos, mãe...

Isso com uma lágrima cinicamente escorrendo pelo rosto, junto com um sorriso cândido e ingênuo para os guardas. Que, imaginem só, toparam a parada. A Bia entregou uma das notas de 50 euros que tinha na bolsa.

-- Thank you -- disse o guarda.

-- Thank you nada, mané, falta o troco. Ten euro!

-- Trstzcvjic prstzcjv sprztjc euro -- disse um dos guardas para o outro, que tirou a carteira do bolso e, conforme o combinado, deu o troco. Nossos passaportes nos foram devolvidos, junto com a nota de um real.

-- No, no, you keep this! -- disse a Bia, devolvendo o real. -- Brazilian money. My gift. For luck. Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Robinho!

-- Pelé! Roberto Carlos!

Os guardas nos levaram até o carro, a cordialidade em pessoa. O poliglota nos recomendou vivamente que comprássemos o sticker tcheco, porque os tchecos, explicou, são conhecidos ladrões, e sem o sticker teríamos um big problem pela frente, trsjvzci?

-- Trsjvzci! -- exclamou a Bia, dando adeusinho. Tenho até medo de perguntar qual foi a praga que ela rogou naquela nota de real que deixou com os guardas; e nem ouso imaginar o que nos teria acontecido se eles soubessem que eu estava sem a carteira de motorista.


(O Globo, Segundo Caderno, 22.9.2005)





Novo álbum de fotos!

Aos poucos, espero conseguir arrumar todas as fotos da viagem; com sorte, até o Natal talvez eu já esteja com a metade do serviço pronto... ;-)

Acabei de subir um albinho com as fotos da visita ao Zoo lá pro Flickr.

Para ver a coleção, é só clicar no gostosão aí de cima.


Emergência Felina!!!

Recado da Leila:
Uma moça está doando um gato de um ano e meio, castrado, super mansinho, amarelo e branco. Ele era do avô dela, mas o senhor morreu e ela não tem como ficar com ele. A mãe queria levar pra SUIPA, ou então (!!!) soltar na rua...

O pobrezinho fica o dia inteiro no apartamento que foi do avô e que daqui a poucos dias, vai ser vendido. Vão lá dar comida e água pra ele, mas depois ele fica lá, sozinho...

Ela mora na Tijuca, no Rio. Quem souber de alguém que possa ficar com o gatinho, por favor escreva para sejane_rj@yahoo.com.br

21.9.05



Já vai tarde

Que figura patética, este Severino. Como é que uma criatura dessas chega à presidência do que quer que seja?!

"Empobrecimento ilícito", francamente...


Interessante!

Gostei da idéia, vejam só.

Em tempo: é tecnologia, e está em inglês. Só para a turma que não gosta do tema não se desapontar ao abrir o link...


Espaço da Bia

Queridos José Antônio, Lucas e Ribondi (os nomes estão em ordem alfabética):

Agora que o jet-leg já deu uma aliviada, passei todo o dia de ontem pensando e me aconselhando com o meu personal consultor sentimental.

À meia-noite fui dormir, feliz com a escolha a que tinha chegado: o meu par perfeito, a minha alma gêmea, a minha cara metade.

Foi uma noite linda, e eu só esperava acordar, às oito, para correr para o computador e dar a notícia ao meu eleito -? mas infelizmente o telefone tocou às sete trazendo notícias do mundo real.

O meu personal descobriu que ainda não estou divorciada legalmente; assim, por enquanto, não posso divulgar o nome que trago no coração, nem me casar com ninguém.

Devo dizer, contudo, que fiquei muito sensibilizada com todas as poesias que o Lucas compôs (Lucas, ninguém resiste a um bom brega!), com a comunidade criada pelo José Antônio (que também escreve muito bem) e com os textos geniais do Ribondi (que amo desde criancinha).

Vocês três são maravilhosos e, no fundo, devo confessar que não fiquei de todo infeliz com o detalhe do divórcio, porque, apesar de ter feito uma escolha excelente, eu viveria para sempre na dúvida do que poderia ter sido a minha vida caso tivesse sido outra a opção.

Perdi noites e noites de sono pensando nesta árdua escolha, mas em compensação ganhei uma baita massagem no ego.

Adoro vocês!

Bia

20.9.05

Lucas




Mosca e Tutu, sempre juntos






Arqueologia via Google

Recebi um ótimo email do Jayme Aranha, contando uma história sensacional: estudando a região onde mora no Google Earth, um italiano descobriu as ruínas de uma vila romana desconhecida até então.

O caso virou assunto da Nature, e foi, claro, descrito pelo próprio Luca Mori, autor do achado, no seu (dele) blog, Quelli dellla Bassa.

Como vocês vêem, o passado tem um magnífico futuro na internet...


Os danos da proibição de armas publicação apressada de artigos no blog

Postei isso aqui ainda agora:

A juíza Denise Frossard levanta pontos muito importantes aqui.

Vale a pena ler:
O bom senso, sob o fogo cerrado da proposta de proibição do comércio legal de armas, pode ser mais uma das vítimas da ingenuidade ou violência branca da demagogia.

O que se pretende com a proibição? Reduzir a criminalidade é a resposta, tão imediata quanto impensada, que nos vem à cabeça. Mas é uma resposta equivocada. A proibição do comércio legal de armas não fará recuar nem um milímetro a ousadia do crime (organizado), não baixará a taxa de delinqüência das ruas nem mesmo trará o conforto de diminuir a sensação de insegurança que, hoje, atinge em graus variados a sociedade brasileira.

A proibição do comércio legal de armas, como o simples aumento de penas, a mudança do fardamento da polícia, tantas outras medidas (anunciadas ou já implementadas), tem sobre a criminalidade o mesmo efeito de um arco-íris no céu: uma ilusão bonita aos nossos olhos.

No caso da proibição do comércio de armas, a falsa sensação produzirá, no entanto, um efeito danoso: retirará do Estado a possibilidade de controle (ainda que frágil, como agora) e dificultará ainda mais a investigação de crimes praticados com esse recurso.

Proibida a comercialização, o Estado não terá mais instrumentos para o controle da circulação de armas. Como a sensação de insegurança persistirá, porque as verdadeiras causas da criminalidade (corrupção e impunidade) não são resolvidas em razão das deficiências do Estado, o mercado inteiro de armas de fogo irá para a clandestinidade.

As provas desse argumento são muitas. Uma delas está no documento "Fiscalização de Armas de Fogo e Produtos Correlatos", publicado pela imprensa, elaborado pelo coronel de infantaria Diógenes Dantas Filho, que em conjunto com o Ministério Público Militar Federal, articulou uma ação policial militar para apreensão de armas clandestinas no Rio de Janeiro. O trabalho mapeia as rotas utilizadas pelo tráfico de armas e confirma a existência, em circulação, no Brasil, de 20 milhões de armamentos sem registro, em contraposição a 2 milhões de armas registradas.

É uma absurda ingenuidade de uns (e razões suspeitas de outros) imaginar que, diante da proibição do comércio legal, ninguém mais comprará ou deixará de portar armas. O mercado não vai estancar simplesmente porque o Estado proibiu a comercialização. Historicamente não tem sido assim.

Quem não se lembra da Lei Seca, nos EUA, ou da reserva de mercado de informática, no Brasil? Nos dois casos, e em muitos outros que a experiência de proibições comerciais mundo afora construiu, cresceu o mercado clandestino e o contrabando. Esse é o terreno fértil para aumentar a corrupção.

A medida certa está no controle da fabricação e do porte de armas de fogo, e não na proibição da comercialização. Nesse ponto, é bom retirar do debate a idéia equivocada de que os que são contra a mera proibição estão no pólo oposto da argumentação, propondo "às armas, cidadãos". Não é assim. Acredito na eficiência da regulamentação e no controle rigoroso da fabricação, do porte e da importação de armas. Acredito na responsabilização direta e penal de todo aquele que, mesmo não portando armas, estimule o porte ilegal. Venho defendendo publicamente esses pontos de vista desde o começo dos anos 90.

O caminho do controle foi tomado em fevereiro de 1997, com a edição da lei 9.437, que estabeleceu condições para o registro e o porte de armas de fogo e, mais relevante, configurou como crime possuir, deter, portar, fabricar, adquirir, vender, alugar, expor à venda ou fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder (mesmo que gratuitamente), emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda e ocultar arma de fogo, de uso permitido, sem a autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar.

Até 1997, o porte ilegal de armas era uma simples contravenção penal. A partir de então, com a lei 9.437, passou a ser crime, com pena de prisão. Recentemente, o Senado melhorou ainda mais a lei, aprovando um projeto que, entre outras medidas, torna o porte ilegal de armas um crime inafiançável. A proposta do Senado será submetida à Câmara, onde terá o meu apoio.

Apesar de não produzir resultados efetivos para o esforço de redução da criminalidade, que, comprovadamente, tem causas mais graves, a proposta para proibição do comércio legal de armas acabará sendo apresentada à população como um milagroso remédio. E nisto está o segundo, e talvez mais importante, equívoco. Sendo aprovada a proposta e em nada resultando no que concerne à necessidade de redução da criminalidade, veremos aumentar a incredulidade da população com as medidas que venham do Estado. Com isso, continuaremos perdendo um importante aliado na luta contra o crime: a confiança do cidadão no Estado.

Mas, oops, o artigo é antigo, de 2003. A juíza mudou de opinião:
Porque vou votar sim para o desarmamento

No início de 2003, quando tomava corpo o debate sobre o desarmamento, duas posições radicais e antagônicas estavam presentes. Uma defendia a pura, simples e integral proibição do comércio de armas, porque isso provocaria redução substancial da criminalidade, e a outra patrocinava o comércio completamente livre, sem amarras legais, porque andar armado seria um direito do cidadão sobre o qual o Estado não deveria intervir e, em defesa dessa sua tese, apontava-se um absurdo argumento da possibilidade de aumento da criminalidade no caso da proibição.

Chamada ao debate, em maio daquele ano (2003), preparei um artigo que ganhou o título ?Os danos da proibição?, no qual defendi a regulamentação do porte de armas e falei do risco de se proibir sua comercialização de maneira integral e completa. Elogiei a legislação que melhorava o controle e limitava o porte de armas de fogo e alertei a população para a necessidade de cobrar a adoção de medidas complementares, porque a simples proibição ou regulamentação, sem outras medidas, não produziria os reflexos esperados sobre os números da criminalidade.

Depois de apresentar dados do mercado clandestino de armas e falar das experiências da Lei Seca e da reserva de mercado de informática, que estimularam o mercado negro de bebidas e computadores, afirmei: ?(...) é bom retirar do debate a idéia equivocada de que os que são contra a mera proibição estão no pólo oposto da argumentação, propondo ?às armas, cidadãos?. Não é assim. Acredito na eficiência da regulamentação e no controle rigoroso da fabricação, do porte e da importação de armas. Acredito na responsabilização direta e penal de todo aquele que, mesmo não portando armas, estimule o porte ilegal. Venho defendendo publicamente esses pontos de vista desde o começo dos anos 90. O caminho do controle foi tomado em fevereiro de 1997, com a edição da lei 9.437(...). Recentemente o Senado melhorou ainda mais a lei, aprovando um projeto que, entre outras medidas, torna o porte ilegal de armas um crime inafiançável. A proposta do Senado será submetida à Câmara, onde terá o meu apoio.?

Quem reler o artigo ?Os danos da proibição?, comparando-o com o Estatuto do Desarmamento, que nasceu sete meses depois, encontrará coincidências evidentes, porque, em maio, eu pedia a regulamentação e a limitação do porte de armas de fogo, o que aconteceu, em dezembro, com o Estatuto do Desarmamento.

O Estatuto do Desarmamento, o referendo, a lei 10.867, de 12 de maio de 2004, e o decreto 5.123, de 1 de julho do mesmo ano, surgiram na direção do bom senso que sempre defendi, um sentimento que percebi quando escrevi, no término do artigo ?Os danos da proibição?: ?A proposta do Senado será submetida à Câmara, onde terá o meu apoio.?

Sinto-me obrigada a retornar ao assunto, porque, na internet, claramente com o objetivo de confundir, numa atitude de baixa política e de leviano comportamento, circula o artigo publicado em maio de 2003, que está disponível em minha página na internet. Circula com um tom que não lhe dei e com um sentido que não tinha e não tem, para atribuir a mim, a partir do título, ?Os danos da proibição?, a preferência pelo ?não?, na resposta ao referendo. Com as mesmas intenções, um jornal do Rio de Janeiro, sem previamente me ouvir, resolveu, há poucos dias, republicar o artigo. Sei quem o fez, porque mandei apurar.

Perdem tempo com este jogo bobo, porque a minha opção pelo desarmamento é clara, indiscutível, e está demonstrada até pela minha decisão pessoal de nunca andar armada, mesmo tendo porte legal e passado por momentos na vida em que muitos aconselhavam o contrário.

De maneira definitiva: votarei ?sim? no referendo, e com o meu voto estarei confirmando a minha opção pelos dispositivos do Estatuto do Desarmamento e das leis que limitam e regulamentam o porte de armas de fogo.
Fica, pois, o (meu) dito ("estou com ela e não abro") pelo não dito.

Não concordo com a juíza; aliás, discordo frontalmente.

Por acaso gosto de armas, me diverti muito quando era criança e adolescente fazendo tiro ao alvo com o meu avô, e acho que esta medida imbecil terá um único efeito prático: tornar as armas inacessíveis aos cidadãos de bem, justamente aqueles nas mãos dos quais elas pouco ou nenhum mal causam.

Sou radicalmente contra a proibição do comércio legal de armas, entre outras coisas porque, como todos sabem, não é nele que as quadrilhas e os traficantes se abastecem.

Lucas e a cadeira estranha




19.9.05

Mosca, Tutu e o pacote grande






Ninguém é bom por nada...

O Ribondi escreveu um texto tão bonito e delicado nos comentários que eu não quis correr o risco de que passasse despercebido de vocês.
"Aquele negócio que aquele moço disse lá no outro post sobre pretos e problemas sociais -- que bobagem. Cair na farra, brincar com gatos e cães, beijar na boca, gozar até revirar os olhos, comer comida boa (eu disse boa e não necessariamente cara), viajar pro fim do mundo ou até ali na casa da avó da gente são das boas coisas da vida. Ficar satisfeito não aliena ninguém.

E eu disse ficar satisfeito porque, sim, acho que a felicidade é coisa mais complicada. Ser feliz sozinho é matematicamente impossível porque a felicidade é conta de somar sem nove fora: ou vai todo mundo ou não vai ninguém.

Por que? Quem explica isso de maneira irrevogavelmente brilhante é o poeta Newton Braga, irmão de Rubem Braga -- sendo que o Rubem, que foi pro Rio, ficou famoso e o irmão, que nunca saiu de Cachoeiro de Itapemirim, só era conhecido da gente lá mesmo. Na praça de Cachoeiro tem o busto dele e, na placa de mármore ao lado, um poema que eu lia todo dia a caminho da escola, com palavras que ficaram pra sempre impressas em mim, e que era assim:

"A sensibilidade,
esta antena delicadíssima,
me ligando a todas as dores do mundo,
e que me fará morrer
de dores que não são minhas."

Pela oportunidade de todo dia passar em frente ao busto do Newton Braga e ler esse poema aí, e só por isso, eu acho que tive uma baita de uma sorte de ter crescido lá em Cachoeiro."


A velha e boa TV

(Ai, não é que ia me esquecendo da coluna?)
Às vezes, a impressão que se tem é de que as copas do mundo existem única e exclusivamente para dar uma força à indústria de televisores. Na IFA 2005, pelo menos, era impossível fugir desta sensação. Apesar da profusão de gadgets e objetos diversos em exposição, as telas planas de grande formato dominaram o ambiente. As letras que movem este mundo são HDTV, a sigla para TV de alta definição.

É que a Copa de 2006 promete entrar para a História como a primeira em que os jogos serão transmitidos, em sua totalidade, em alta definição. Para nós, brasileiros, que sequer chegamos a uma decisão em relação ao padrão que será adotado no país, o sonho pode parecer distante; na Europa, a realidade é concreta.

Não há um único fabricante que já não tenha uma linha de aparelhos HD-ready, ou seja, prontos a captar as transmissões em alta definição. Até que as emissoras abertas estejam transmitindo em HD, em 2010, o consumidor já pode assistir filmes que praticamente não deixam a dever ao que se vê no cinema; e podem gravar e exibir seus próprios vídeos em altíssima definição.

Emissoras a cabo -- como Sky, Astra, Premiere e Canal+ -- já estão fazendo transmissões experimentais.

A diferença para os padrões a que estamos acostumados é abissal, mais ou menos como a que se vê entre uma fotinha singela de telefone celular e uma foto caprichada feita numa câmera de muitos megapixels.

Mas os aparelhos mais sofisticados em exibição não fazem só transmitir. Eles também permitem a gravação de programas, como Sky Plus brasileiro, embora reproduzir a gravação ainda seja tabu por causa do berreiro que vem sobretudo de Hollywood, da MPAA -- a esclarecida associação dos produtores de cinema que, um dia, já quis proibir a fabricação de aparelhos de videocassete, porque, nas palavras de Jack Valenti, seu presidente, eles "arruinariam a indústria do cinema".

Estava tão enganado o senhor Valenti (como de hábito) que, ao contrário, o videocassete acabou provando ser a salvação da lavoura cinematográfica, com a proliferação das locadoras e de usuários interessados em manter suas próprias videotecas.

O cipoal em que se transformou a questão dos direitos autorais está afetando diretamente o desenvolvimento da tecnologia -- e não só a dos aparelhos de TV. Como este é um continente onde a leitura é hábito geral, há muita grita por parte das editoras. A União Européia lida com 25 diferentes sistemas de direito autoral, boa parte dos quais funciona através de associações como o nosso Ecad, isto é: um escritório central recolhe o que supõe que os usuários estão consumindo, e distribui de acordo com o que imagina ser justo.

A falta de transparência é absoluta. Na Alemanha, o suposto valor das cópias a serem feitas pelo consumidor, já embutido nos equipamentos, pode adicionar cerca de 75 euros a um conjunto de PC e impressora dos mais simples; na Espanha, por causa do mesmo raciocínio, copiadoras, que poderiam custar menos de 80 euros, não saem por menos de 130.

Neste momento, a grande briga da EICTA, a associação de fabricantes de sistemas de informação, tecnologia da comunicação e eletroeletrônicos é a criação de um sistema único, baseado em DRM (Digital Rights Management), que permita ao usuário fazer cópias de acordo com os termos das licenças do que quer copiar.


(O Globo, Info etc., 19.9.2005)


As tendências da IFA


WI-FI: Palavra-chave, quase sempre associada a Bluetooth. Um aparelho sem capacidade de comunicação com outros aparelhos é uma criatura aleijada.

TELAS de plasma de 65 polegadas em diante. Lindos sonhos, ainda inviáveis para a maioria dos bol$o$.

MÚSICA e entretenimento móvel, sempre, o tempo todo. Leia-se players de MP3, consoles de games, celulares capazes de transmitir programação de TV.

BLU-RAY, os sucessores dos CDs e DVDs, com capacidade para 25Gb e 50Gb. Ninguém precisa entrar em pânico: praticamente todos os fabricantes propõem backwards compatibility, isto é, a leitura dos CDs e DVDs existentes pelos aparelhos de leitura e gravação de discos Blu-Ray.

TVS INTERATIVAS: Um velho sonho da indústria, desta vez em versões acasaladas com celulares.

NOTEBOOKS que funcionam também como receptores de TV. Já não era sem tempo!

CELULARES em pé de igualdade com players de MP3, com mais de 4Gb de espaço de armazenagem.

CELULARES COM CÂMERAS que já podem ser chamadas de câmeras, com boas lentes e mais de 2 megapixels de resolução.

(O Globo, Info etc., 19.9.2005)


Pára de complicar!

Na sua edição de 3 de setembro, a revista "The Economist" deu uma descascada no conceito de "casas inteligentes", ou "casas do futuro", como volta e meia são apresentadas. Observava, com razão, que tudo o que se tem feito nesse sentido no Vale do Silício é a busca de alternativas para o mercado corporativo, que já está consolidado, e onde não existem mais lucros astronômicos a conquistar a curto prazo.

O problema, porém, é que o usuário final está muito bem como está, e não quer mais tecnologia. Quer menos.

A "casa do futuro" é mesmo uma obsessão de todos os laboratórios de tecnologia que conheço. Todos, sem exceção, têm espaços que simulam o que seria a vida num espaço "inteligente" e conectado, onde tudo converge para uma estação de controle e onde todos os problemas se resolvem, magicamente, a um estalar de dedos. É tudo muito interessante e acho até que, em casos excepcionais, pode funcionar.

Dizem que na casa de Bill Gates sensores reconhecem as visitas pelo crachá e automaticamente tocam suas músicas favoritas; mas sinto arrepios só de pensar nessa espécie de Neverland hi-tech onde visitas têm que usar crachá.

Na vida real, onde nove em cada dez pessoas têm problemas para programar o videocassete, o conceito esbarra naquele pequeno detalhe que tanto atrapalha o desenvolvimento da alta tecnologia: o ser humano, este bípede tonto que prefere acender e apagar a luz através de interruptores antiquados a usar o controle remoto de uma estação central, em que há um programa sofisticadíssimo especialmente desenvolvido para isso.

Na época em que esta "Economist" chegou às bancas, eu estava, coincidentemente, visitando mais uma "casa do futuro", onde, por acaso, vi duas ou três coisas que me pareceram, mais do que viáveis, até cobiçáveis. Eu estava em Eindhoven, Holanda, num dos laboratórios da Philips -- e isso é que fez a diferença.

É que, ao contrário dos outros laboratórios que já visitei, orientados para um mundo que gira em torno de computadores, este desenvolve, tradicionalmente, eletrodomésticos. E descobri que a visão de quem faz computadores e a de quem faz aparelhos para o lar é muito diferente.

A "casa do futuro" da Philips não impressiona como ficção científica, mas tem um fio-terra que mexe naquele ponto do cérebro que leva direto ao talão de cheques. A primeira coisa que vem à cabeça de qualquer um que vê uma imensa tela de plasma de alta definição é: "Eu quero!".

Outra pequena maravilha da casa era um espelho de banheiro onde uma tela inobstrusiva num dos cantos pode apresentar o telejornal, conectar-se diretamente ao canal do tempo na web ou, horror dos horrores, mostrar o peso da criatura que o contempla. A mágica se faz através de um sensor posto no tapete, combinado a um leitor de altura que, à primeira vista, parece apenas um minúsculo e inocente facho de luz azul.

Esta inconveniente propriedade do espelho, nem preciso dizer, pode ser desligada a um simples toque de tela. Na verdade, toque de margem de tela, para evitar que os dedos a manchem. Bacana, né?

* * *

No seu discurso de abertura da IFA, uma das maiores feiras mundiais de eletroeletrônicos, que se realiza anualmente em Berlim, Rudy Provoost, CEO da Philips, voltou a bater na tecla da usabilidade:

-- Já vimos muitas novidades tecnológicas em que a tecnologia é um fim em si mesma; quando, na verdade, a simplicidade é que deve estar no centro da experiência do consumidor. Os resultados das nossas pesquisas e o nosso conhecimento do que os consumidores desejam indicam que o público está cansado. Cansado de não saber gravar um programa de televisão, cansado de gastar horas lendo um manual de instruções, cansado de complicações desnecessárias. A verdade é que as nossas vidas já são complexas demais. Queremos simplicidade no nosso relacionamento com a tecnologia, uma tecnologia que dá conta do serviço em vez de chamar a atenção para si mesma, que dá conta do recado sem que a gente sequer perceba que está lá.

Convenhamos: não há como discordar disso.

* * *

Na verdade, esta simplicidade é o Santo Graal de todo mundo da área, mesmo dos alpha geeks do Vale do Silício. Conceitos como "computação ubíqua" ou "computação pervasiva" vêm sendo debatidos há décadas; no legendário Parc, da Xerox, a "computação invisível" é objeto de estudos desde princípios dos anos 80.

A idéia por trás de tudo isso é sempre a mesma: uma tecnologia tão integrada à vida humana que "desapareça" no ambiente -- mais ou menos como os interruptores de luz, ou mesmo os aparelhos de TV.

Os domínios do tempo, que é o senhor da razão, também se estendem ao mundo da alta tecnologia. Um dia, ela estará tão desenvolvida que sequer será tida como alta tecnologia, mas sim como um fato corriqueiro da vida. Assim foi com a água corrente, com a luz elétrica e mesmo com as canetas esferográficas -- todas, em seu tempo, objeto de maravilha e deslumbramento.

Por enquanto, sempre encantada com a tecnologia que me cerca, continuo achando feitiçaria tirar fotos do celular e mandá-las direto para o blog, de onde quer que esteja, ou parar num caixa eletrônico no Centro de Budapeste, inserir um cartãozinho vagabundo, apertar três botões e ver dinheiro jorrar aos borbotões na minha mão -- esquecida da mágica de verdade que vou ter que fazer quando voltar para casa e tiver que cobrir o rombo no banco...

(O Globo, Info etc., 19.9.2005)


As férias, em animação!

Não percam, é um lindo filminho feito pelo Eduardo Stuart: muito obrigada, querido!

Aliás, assim que eu tiver um tempinho, vou fazer um scrapbook com tudo o que esta viagem rendeu nos comentários: músicas, blog pra Bia, fotos dos quero-queros, receitas diversas, poemas...

Agora, para me mostrar que o que é bom dura pouco, a agenda se abriu aqui na máquina e berrou:

DENTISTA!!!

* suspiro *

Pronto, voltamos mesmo à realidade.

Para completar o choque, só falta chegarem as contas dos cartões de crédito.

Fui!

Reina a paz...