30.4.04



:-)))

Estou adorando a janelinha do Moblog aí ao lado, essa onde agora se vê o prédio espelhado a redação! Uma espécie de CoraCam: é tão fácil mandar as fotinhas...

Para ver a foto ampliada, é só clicar; e aí se vêem também as anteriores, entre as quais uma série da Tutu, bocejando e dormindo ao sol.


Livro pipoca

Estou lendo O Código Da Vinci. Os personagens não têm qualquer densidade, a pesquisa histórica não quer dizer nada, o estilo literário deixa a desejar... mas o livro é ótimo, sensacional, tudo de bom!

Altamente recomendável para quem está a fim de se divertir.

29.4.04



Tem uma foto minha aqui...



E tem umas fotinhas minhas , no Textamerica, um moblog cujas atualizações vocês podem acompanhar pela nova miniaturinha aí da barra ao lado.

Clicando se pode ver a foto ampliada, com espaço para comentários e tudo. Detalhe: essas são fotos feitas e transmitidas por celular.




Drogas


A liberação pode amenizar o que a guerra piora
Para quem acompanha o blog, a coluna desta semana não é novidade; vocês já leram -- e debateram muito! -- este texto. As modificações que fiz na versão para o jornal foram mínimas.

Está na moda condenar os usuários de drogas como co-responsáveis, quando não responsáveis diretos, pela violência que assola a cidade. Além da idéia bizarra de que só existe violência por causa das drogas, há um raciocínio simples (e simplista) por trás disso: “Se ninguém consumir, os traficantes não terão a quem vender”.

De fato. Onde não há demanda, não há oferta. Mas é tão fácil dizer “Parem de consumir!” quando não consumimos nada, não é? Agora olhem em volta e vejam quantas pessoas vocês conhecem irremediavelmente viciadas em substâncias legais: chope, uísque, tranqüilizantes, cigarro, carboidratos...

Eu mesma, por exemplo, que não fumo nem bebo, preciso emagrecer. Muito. Não estou acima do peso porque quero, porque desconheço o mal que isso me faz à saúde ou porque me agrade; pelo contrário. Meu maior desejo seria entrar em forma.

“Mas é tão fácil emagrecer!”, dizem todos os magros. “Basta parar de comer doce!”

Pois é. É o que venho tentando fazer desde que me tenho por gente — sem o menor sucesso. Minha sorte é que a dependência química de açúcar não me põe forçosamente em contato com criminosos. Posso comprar chocolate em qualquer lugar sem ser ameaçada de morte por traficantes, sem ser achacada por maus policiais, sem correr o risco de ir em cana. Se amanhã o chocolate for proscrito, eu talvez agüente uma ou duas semanas, mas é provável que, mais cedo ou mais tarde, acabe indo buscar uns bombons de cereja onde quer que seja, ao preço que me pedirem.

Parece brincadeira, mas não é. Estou falando sério. Tentem largar um simples hábito para imaginar como é difícil, quando não impossível, abandonar um vício. E eliminar a tal demanda.

Para mim, o único meio de se resolver o problema das drogas é fazendo com que elas deixem de ser um problema — pelo menos, um problema de polícia. Em outras palavras, liberando o seu consumo, e tirando a distribuição das mãos do crime organizado.

É lógico que quando falo em consumo livre não estou falando num sentido consumista. Ninguém que propõe a liberação das drogas com um mínimo de seriedade é louco de sugerir a distribuição descontrolada, com marcas chiques, gente sarada fazendo propaganda em outdoors e merchandising na novela das oito. A liberação das drogas deve ser uma liberação sem charme, hype , néon ou embalagens vistosas.

Sei que esta é uma idéia radical, malvista por boa parte da sociedade; também sei que contraria interesses e levanta questões — inclusive diplomáticas — de uma complexidade indescritível. Mas acho que deve, pelo menos, ser discutida. Será que a distribuição legal de drogas, controlada pelo Estado, seria tão pior do que a atual distribuição ilegal, controlada pelo tráfico?

O consumo não é, em si, um caso de polícia. É caso de saúde pública — o que não significa que os dependentes sejam coitadinhos doentes e inimputáveis, pelo contrário. Mas são, ainda assim, pessoas que precisam de tratamento. Se isso já é difícil em plena legalidade (vide alcoolismo), que dirá na ilegalidade...

O fato é que, desde que o mundo é mundo, a Humanidade se droga. Não há registro de civilização que não tenha inventado uma bebida, descoberto um cogumelo, mascado umas folhas. Achar que, justamente agora, nesses tempos nervosos, vamos subitamente parar com isso é, no mínimo, uma perigosa ingenuidade.

Outro fato é que qualquer adolescente de cidade grande tem, hoje, acesso às drogas. O que muitos não têm, até por causa da clandestinidade, é a quem recorrer, seja para se informar, seja para pedir socorro. É evidente que todos preferiríamos filhos “limpos”; mas, sem medo de encarar a realidade, o que é pior, a garotada comprando maconha na farmácia, abertamente, ou, como hoje, se envolvendo com traficantes e não raro com a polícia, com as previsíveis conseqüências?

Não é a ilegalidade que mantém os jovens longe das drogas, mas a educação e a informação. E, suspeito, uma certa carga genética.

Não acredito que todos passassem a se drogar indiscriminadamente caso as drogas fossem liberadas. Cigarro e álcool estão aí, para quem quiser, e nem todo mundo se torna fumante ou alcoólatra. De qualquer forma, o custo de campanhas educativas e de tratamentos contra a dependência seria uma fração do que custa a guerra (perdida) contra o tráfico. Com a vantagem de não fazer tantas vítimas inocentes.

Lógico que a violência, como um todo, não acabaria com a liberação das drogas. Os bandidos que hoje se dedicam ao tráfico não virariam pedreiros ou físicos nucleares da noite para o dia. Provavelmente apenas mudariam de ramo, dedicando-se com mais afinco a roubos e seqüestros. Mas a médio ou longo prazo acho que a violência pode diminuir, sim. Até porque as quantias extraordinárias de dinheiro que atualmente circulam pelas favelas teriam outro destino. Hoje, como todos sabemos, o tráfico paga R$ 500 por semana para adolescentes em começo de “carreira” (sem trocadilho!); qual é atividade honesta que pode competir com isso? Qual é o estímulo que o jovem cooptado pelo tráfico tem para permanecer na escola, aprender um ofício, tornar-se um cidadão de bem? Não adianta dizer a um vapor que o trabalho dignifica. A realidade à sua volta opõe uma multidão de desempregados ou subempregados, aterrorizados por marginais ricos, cheios de mulheres e com status de celebridade na mídia. Morrem todos aos 20 anos? Ora, para um menino de 15, 20 é uma idade quase tão distante quanto o conceito da própria morte.

Em última instância, a questão se resume a uma pergunta básica: a guerra do nosso cotidiano está servindo para alguma coisa?


(O Globo, Segundo Caderno, 29.4.2004)

28.4.04











Segredos de Photoshop

Respondendo ao Tom Taborda e ao Marcelo, que pediram maiores informações sobre as fotos anteriores:

  • Tomzinho, não puxei para 800 ISO, porque na DX6490 isso limita o tamanho da imagem a 640 x 480. Deixei em 400 ISO e aumentei a exposição.

  • A imagem original era mais escura do que a primeira dessas aí; infelizmente não tenho mais nenhum exemplo, porque ajustei o brilho de todas. A tarefa é simples, feita com a opção Curves ou Levels do Photoshop; em geral prefiro Curves.

  • Segundo passo: usar o JPEG Repair do Alien Skin Image Doctor, um conjunto básico de plugins. Se vocês repararem, ele ainda deixa uns pontinhos soltos, os "hot pixels".

  • Terceiro passo: usar mais um plugin, o Hot Pixels Fix, da DCE Tools. Esses pontinhos até dariam para consertar na mão, mas ia dar um trabalhão.

    Voilá!

    Update: Baixei o Neat Image, sugerido pelo Abel Alves, e passei a primeira imagem direto por ele, nos comandos automáticos, quer dizer -- só clicando nos botões indicados, sem ler as instruções. O resultado é a quarta foto. Valeu, Abel!
  • 27.4.04












    Festa!

    No sábado comemoramos os aniversários do João Nuno e da Bárbara, respectivamente namorado e filha da Olívia Byington, querida amiga. Com exceção das duas fotos com o bolo, todas as outras foram feitas à luz de velas, com a Kodak DX6490.

    Este é um pequeno milagre digital: com filme normal, teria sido impossível fazer essas fotos. O efeito impressionista foi causado por um plug in do Photoshop para remover "artefatos", aqueles grãos que insistem em aparecer nos jpgs feitos em pouca luz.

    Ainda assim, a minha foto favorita teve flash. É aquela em que o João Nuno e a Bárbara apagam as velas. Fiquei contentíssima em conseguir clicar no momento certo, em que eles sopravam, quase todas as velinhas já estavam apagadas e a Teodora e a Júlia faziam aquelas caras... :-)

    PS: João Nuno, querido, volte logo! Já estamos todos morrendo de saudades...

    26.4.04



    Orkutando

    Sim, eu também estou no Orkut. Depois de receber insistentes emails de amigos que já estavam lá, acabei me inscrevendo e ampliando a minha rede de conhecidos. Fiz até lista de filmes favoritos e subi retratinho e mais umas fotos.

    Estou encantada com a capacidade de tessitura de redes do sistema, muito superior — ou, pelo menos, muito mais fácil de usar — do que a de sistemas semelhantes que andei vendo ao longo do tempo; reencontrei amigos meio perdidos, como o Peter Moon, e ídolos como Julf Helsingius, que mantinha o remailer anônimo penet.fi nos tempos da internet a vapor e é, até hoje, um dos heróis de quem viveu aqueles tempos: perguntem só ao Cat. Que, aliás, também já está lá. Como estão Phil Zimmerman (que inventou o PGP), Steve Wozniak (o outro Steve da Apple), Mitch Kapor (o homem da Lotus e, depois, da Electronic Frontier Foundation) e dezenas de outros luminares da área.

    Apesar disso, sinceramente, ainda não descobri para que serve todo este potencial. Mandei um bilhetinho pro Julf relembrando os velhos tempos, dei um alô pro John Perry Barlow (imaginem se ele não estaria lá!) e me declarei fã do Cesar Valente, autor de um dos melhores blogs brasileiros, o Carta Aberta.

    Participo de algumas comunidades, e é por aí que vejo a maior utilidade do sistema; mas, por enquanto, acho que o Orkut só faria mesmo sentido para mim se, em vez (ou ao lado) do perfil estático de apresentação de cada um, se pudesse publicar lá um blog ou fotolog.


    (O Globo, Info etc., 26.4.2004)



    Chernobyl, hoje

    Há extamente 18 anos aconteceu o desastre que botou Chernobyl no mapa virtual do nosso, digamos, inconsciente coletivo -- mas, em compensação, tirou do mapa real uma região de cerca de 60 quilômetros de diâmtero, a zona de exclusão, visitada pela motoqueira Elena.

    Uma área que estima-se superior a 100 mil quilômetros, dividida entre Rússia, Ucrânia e Belarus, ainda sofre a contaminação por césio 137 em níveis acima do aceitável.

    AQUI, para os angloparlantes, um link para a situação local, hoje. E AQUI, um outro para o festival de desinformação da propaganda soviética, retirado de um livro interessantíssimo: The long road to recovery: Community responses to industrial disaster, com capítulos dedicados a outras calamidades, do vazamento de gás em Bhopal ao derramamento de óleo do Exxon Valdez.


    Que fracasso, o sucesso!

    Não há nada melhor para tirar um site do ar do que... o sucesso! É assim: alguém começa a fazer uma página útil, interessante, que agrada a muitas pessoas.

    Essas pessoas avisam às outras que há lá, naquele tal endereço, um site muito bacana. As outras vão, gostam, avisam aos amigos -- e assim sucessivamente, até que os custos de banda explodem e o autor é obrigado a tirar o site do ar.

    O Pulso Único, de que falei no post abaixo, é um caso típico. O Eduardo faz sozinho um zine que muita equipe junta não consegue fazer. Acha novidades, mostra coisas curiosas, oferece horas de diversão para os internautas. Pois há meses anda circulando pela rede procurando um provedor gratuito onde possa manter o seu trabalho. Ora está num endereço, ora noutro.

    Outro caso é o maravilhoso Alma Carioca, do Paulo Afonso, um dos melhores repositórios de crônicas, casos e fotos da cidade. O Paulo Afonso, que luta há tempos para manter o Alma Carioca no ar, está jogando a toalha: simplesmente não dá conta de pagar os mais de R$ 500 mensais de provedor a que o sucesso do site o obriga.

    Será que não há nenhum provedor interessado em bom conteúdo que tenha visto estes sites?!



    Com a corda toda

    O Pulso Único está a mil -- cheio de joguinhos e descobertas interessantes. Não deixem de ir lá, é um dos melhores sites para quem quer se divertir na rede!

    Uma vez lá, não deixem, por favor, de prestigiar (leia-se clicar) os anunciantes do Eduardo Stuart, que está lutando tão valentemente para manter essa delícia de site no ar...


    Nossos comerciais

    Três semanas de anúncios renderam ao blog U$ 109,88. Acho que já dá para fazer uma previsão. A primeira semana, de novidade, não conta; a julgar pelas duas últimas, talvez ainda entrem uns U$ 25 em caixa.

    Daqui pra frente, tenho a impressão de que esses anunciozinhos vão acabar rendendo uns U$ 100 mensais.

    Ainda não dá pra viver de blog mas, de qualquer jeito, é uma graninha, né? :-)


    A Cris foi lá no Pedro e achou isso:




    Estive no Rumor))), leitura obrigatória para quem quer ficar bem informado em tecnologia e telecomunicações, e achei esta imagem arrepiante que a Cris De Luca pescou no Pedro Dória: o mosaico que forma o Bush é composto de retratos dos soldados que morreram no Iraque.

    24.4.04





    Página 23, linha 5

    Olha que divertida a brincadeira que achei lá na Bia Badaud:

    Instruções:

    1. Pegue o livro mais próximo de você;
    2. Abra o livro na página 23;
    3. Ache a quinta frase;
    4. Poste o texto em seu blog junto com estas instruções.


    Acho que, para quem não tem blog, vale postar aqui nos comentários, mesmo.

    Então, traduzindo (do inglês):
    Augusto teve sucesso porque, em vez de tentar reinventar o sistema político, simplesmente abriu lugar para si mesmo no topo.

    O livro é o guia Italy, da Lonely Planet, que anda morando aqui na escrivaninha porque, em junho, vou para a Itália com a mamãe. O livro que estava em cima dele, curiosamente, não tem nada na página 23, além da frase "Guia de Introdução"; é o manual do Norton Systemworks.

    23.4.04



    Drogas: o xis da questão

    Está muito na moda condenar os usuários de drogas como co-responsáveis, quando não responsáveis diretos, pela violência que assola a cidade. O raciocínio é simples (e simplista): "Se ninguém consumir, os traficantes não terão a quem vender".

    É tão fácil dizer "Párem de consumir" quando não consumimos nada, não é mesmo? Mas olhem em volta e vejam quantas pessoas vocês conhecem irremediavelmente viciadas em substâncias legais: chope, uísque, tranquilizantes, cigarro, carboidratos...

    Eu mesma não fumo nem bebo, mas preciso emagrecer horrores. Não estou acima do meu peso porque quero, ou porque isso me agrada; pelo contrário.

    Adoraria ser magra.

    "Mas é tão fácil emagrecer!", me dizem todos os magros. "Basta parar de comer doce, ou deixar os carboidratos pra lá..."

    Pois é. É o que eu venho tentando fazer desde que me tenho por gente. Sem o menor sucesso. E olhem que nem estou falando de drogas pesadas.

    A minha sorte é que a dependência química de açúcar não me põe em contato com criminosos. Posso comprar chocolate em qualquer lugar sem ser vítima de achaques da polícia, sem ser ameaçada de morte por traficantes e sem correr o risco de ir em cana.

    Se amanhã o chocolate for proscrito, eu talvez agüente uma ou duas semanas, mas é bem provável que, mais cedo ou mais tarde, acabe indo buscar as minhas barrinhas onde quer que seja, ao preço que me pedirem.

    Parece brincadeira, mas não é. Estou falando muito sério.

    * * *

    Para mim, o único meio de se resolver o problema das drogas é fazendo com que elas deixem de ser um problema -- pelo menos, um problema policial.

    Em outras palavras, liberando o seu consumo da forma mais ampla possível.

    É lógico que quando falo em liberação de consumo não estou falando no sentido consumista do termo. Ninguém que propõe a liberação das drogas com um mínimo de seriedade é louco de propor a sua distribuição descontrolada, com marcas chiques e mocinhas e mocinhos glamurosos fazendo propaganda na tevê e merchandising na novela das oito.

    A liberação das drogas deve ser uma liberação sem charme, sem glamour, sem neons ou embalagens vistosas.

    Antes de fugirem assustados daqui do blog, pensem: o que é pior, a distribuição legal controlada pelo estado ou a atual distribuição ilegal controlada pelo tráfico?

    O consumo não é, em si, um caso de polícia. É um caso de saúde pública. Muito difícil de tratar mesmo em plena legalidade -- vide a quantidade de brasileiros viciados em drogas lícitas -- mas virtualmente impossível de controlar na ilegalidade.

    Qualquer adolescente de cidade grande tem, hoje, acesso às drogas que quiser. O que muitos não têm, justamente por causa da criminalização das drogas, é a quem recorrer para se informar ou para pedir socorro.

    Não é a ilegalidade que mantém os jovens longe das drogas, mas a educação e a informação. E, tenho quase certeza, uma certa predisposição genética.

    Então, o que é pior: a garotada comprando maconha na farmácia a custo de cigarro, digamos, ou subindo o morro, às escondidas, pagando pelo bagulho o que tem e -- mais freqüentemente -- o que não tem?

    * * *

    Não acredito que a liberação das drogas aumente exageradamente o seu consumo. Cigarro e álcool estão aí, à solta, e nem todo mundo vira fumante ou alcóolatra só por causa disso. De qualquer forma, o custo de campanhas educativas e de tratamentos contra a dependência custariam uma fração do que custa a guerra contra o tráfico. Com a vantagem de não fazer vítimas inocentes.

    * * *

    Aliás, a guerra contra as drogas, conforme a gente sabe, nunca deu certo em lugar algum. A humanidade sempre se dopou, e vai continuar se dopando, seja lá com o que for.

    A Colômbia é um país destruído por esta guerra inútil e, ao que eu saiba, continua exportando quantidades industriais de drogas para o mundo inteiro.

    * * *

    É claro que a violência, como um todo, não acabaria com a liberação das drogas, até porque nem todo criminoso é traficante. Os criminosos que hoje se dedicam ao tráfico não virariam pedreiros ou carpinteiros da noite para o dia. Suponho que mudariam de ramo, seqüestrando e roubando em larga escala.

    Estou convencida, porém, de que, a médio ou longo prazo, a violência pode diminuir, sim, com a legalização das drogas. Hoje qualquer menino ganha, no tráfico, 500 reais por semana. Para começar. Qual é atividade honesta que pode concorrer com isso? Qual é o estímulo que um menino desses tem para permanecer na escola, aprender um ofício, se tornar um cidadão de bem?

    Não adianta dizer a eles que a vida dos traficantes é curta. Uma criança mal tem noção do que é a vida, quem dirá a morte.

    * * *

    Não tenho a ingenuidade de supor que existem soluções mágicas, muito menos de que a sociedade brasileira venha a discutir realisticamente a questão das drogas. O tema é polêmico demais e há interesses muito grandes envolvidos nisso.

    Este é só o meu ponto de vista, a minha idéia sobre um dos aspectos dessa confusão em que estamos metidos.


    Informação é poder

    Dois trens de carga transportando materiais altamente explosivos colidiram na Coréia do Norte, um dos únicos países do mundo onde ainda se consegue esconder um desastre que causa cerca de 3 mil mortes vítimas e sabe-se lá quantas mortes. A notícia está chegando à BBC através da China (o acidente aconteceu numa região de fronteira entre os dois países), da Coréia do Sul e de uma foto de satélite que mostra a nuvem de fumaça sobre a área.

    Enquanto isso, numa empresa americana no Kuwait, Tami Silicio, que teve a ousadia de fotografar caixões de soldados mortos no Iraque foi demitida, junto com o marido. Desde 1991, o Pentágono proíbe fotos de soldados mortos, caixões ou qualquer coisa que lembre aos americanos que uma guerra não é um videogame em que só morrem os "outros".

    Essas duas notícias me pareceram estranhamente parecidas.

    22.4.04





    Nossos comerciais

    Amanhã os anunciozinhos do Google completam 20 dias. A bonança financeira dos primeiros dias, quando eram novidade, acabou, como seria de se esperar; mas eles continuam totalmente incompreensíveis. Anteontem, por exemplo, 13 cliques renderam U$ 2,51; mas ontem, 21 cliques não deram mais do que míseros U$ 0,65.

    Até o momento, o blog arrecadou U$ 97,85. Não vamos quebrar o banco mas, pelo menos, a hospedagem anual no Blogspot Plus já está paga... :-)


    A Colômbia não se fez em um dia

    A carta do professor Silvio Reis, publicada aqui na semana passada, teve uma repercussão extraordinária. No blog, a discussão ultrapassou 500 comentários, em diversos posts; nas minhas duas caixas postais, deixei de contar os e-mails no sábado, quando já eram mais de 200. Não foi possível responder a todos pessoalmente, é claro, mas li um por um, encaminhei a maioria ao professor e agradeço de coração aos leitores que escreveram, e continuam escrevendo. Foi bom saber que o desabafo do Silvio, que tão bem falou por quase todos nós, encontrou eco na sociedade.

    Digo “quase” porque, na avalanche de mensagens de solidariedade e apoio, houve algumas vozes dissonantes. Mais especificamente, três, defendendo a governadora e o secretário; e cerca de uma dúzia protestando que não se pode atribuir a eles, exclusivamente, o atual estado de coisas.

    Isso é incontestável, e em nenhum momento se fez aqui esta acusação. Pelo contrário: a covardia e a omissão em relação à segurança do estado são generalizadas e, até por isso, estarrecedoras. A prefeitura nada faz contra o crescimento desordenado das favelas, enquanto o governo federal age como se o Rio ficasse em Marte ou no Iraque. Não é problema seu, não merece atenção sua, não quer dizer nada. O presidente Lula, que não perde ocasião de fazer discursos, continua mudo em relação à questão. Afinal, a Rocinha não fica em São Paulo.

    Este descaso absoluto, por parte de todos, é de cortar o coração. Quando a gente acha que chegou ao fundo do poço com a guerra da Rocinha, dá de cara com o bonde do Lulu, no São João Batista, desafiando abertamente a polícia: sete ônibus de bandidos, que deveriam ter sido recolhidos à delegacia mais próxima. Ou alguém vai querer me convencer que aqueles eram cidadãos honestos e trabalhadores, que foram se despedir, na santa paz, do amigo morto?! Passam-se dois dias, e a polícia encontra minas terrestres em poder de traficantes...

    Às vezes a gente olha para a Colômbia e se pergunta como pôde um país daquele tamanho mergulhar tão profundamente no caos. A resposta está aqui, na nossa cara: assim, passo a passo, com a conivência e a omissão das autoridades, com a incompetência estabelecida em todos os níveis da administração. A governadora e o secretário seu marido podem até não ser os únicos do lote, mas são, certamente, os que têm a pior atitude. Ou falta de.

    * * *

    Na terça-feira, finalmente, o governo também se manifestou a respeito da coluna da quinta passada, através de um e-mail enviado por Carlos Henrique Vasconcellos, coordenador de Comunicação Social da Secretaria de Segurança Pública:

    “O espaço cedido em sua coluna do dia 15 de abril às virulentas e desrespeitosas críticas do professor Silvio Reis — classificadas pela ilustre jornalista como “desabafo” — à autoridade conferida à governadora Rosinha Garotinho pelo povo do Estado do Rio de Janeiro e ao secretário de Segurança Pública e ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, por ela nomeado, terminou por lançar ofensas que não contribuem em nada com o que há de mais importante no jornalismo: a promoção do debate para a paz social.

    A publicação de um texto marcado pelo irracionalismo e absolutamente destoante do tom empregado pelo titular da coluna em sua dura (mas respeitosa) crítica aos episódios que envolveram a tentativa de invasão da Rocinha ultrapassou os limites do aceitável. A tentativa de achincalhe, que beirou o xingamento, da autoridade máxima do Governo do Rio e do ocupante de uma das mais importantes de suas secretarias de Estado é um absurdo. Impressiona-me o fato de que, mesmo com a drástica redução dos atuais índices de criminalidade no Estado, o suposto exercício da democracia não tenha sido utilizado tão ferozmente contra aqueles que, nos últimos anos, estiveram à frente do governo e pouco ou nada fizeram para combater, de fato, à criminalidade.

    Sinceramente, seria muito melhor que, neste momento, estivesse aqui somente rebatendo as críticas feitas por você, Cora, mas, infelizmente, a abertura para uma crítica de tão baixo nível definiu como prioridade a discussão em um outro plano, ou seja, o do papel da imprensa no tratamento das questões que envolvem o Estado e o Governo. Afinal, é necessária a seguinte reflexão: por que a sensação de insegurança não condiz com a realidade de que o tráfico de drogas está sendo enfraquecido economica e belicamente, não somente na Rocinha, mas na maioria das 600 favelas da Região Metropolitana do Rio? Vamos ao debate.”

    * * *

    Mudando de assunto, antes de começar a chorar: não percam o show de Ney Matogrosso e Pedro Luís e a Parede, no Canecão! É o avesso do baixo-astral que domina a cidade, um banho de auto-estima carioca, uma mistura fenomenal de tribos diferentes em grande música: a banda boa do Rio.


    (O Globo, Segundo Caderno, 22.4.2004)


    Horror!

    No Paraná, um estudante de veterinária (!) jogou álcool num cão e ateou fogo. O coitadinho, cujo "crime" fora ter sido atraído pela cadela do monstro, morreu alguns dias depois, em conseqüência dos ferimentos.

    Há testemunhas do fato, o caso foi amplamente noticiado, mas a Unipar não quer se manifestar ou tomar providências contra o assassino até a conclusão do processo.

    Visto daqui, à distância, o comportamento da universidade parece até prudente e razoável. O único problema é que, quando o processo se concluir, Thiago B. de Lima já terá se formado como... veterinário!

    Eu, honestamente, não sei o que pensar disso. Uma pessoa capaz de um ato destes devia ir para o hospício, e a chave tinha que ser jogada fora.

    Maiores detalhes da horrível história AQUI.


    Faz sentido?!

    Juro que não entendi o que passou pela cabeça da turma que inventou o meigo Dia do Carinho na Rocinha. De que adianta meia dúzia de socialites e celebridades subirem o morro levando flores para gente que está precisando de segurança, saúde, educação e emprego?!

    21.4.04



    182 em 360

    Capturei lá no Pedro Dória:
    Um panorama em QuickTime VR é uma experiência à parte: é uma fotografia imersiva. O usuário pode ver um giro de 360o, olhar para cima ou para baixo.
    Pois ele achou site com 182 panoramas chocantes do planeta. Lindo!



    Problemas com o blog

    Há alguns dias tem estado complicado entrar aqui. No fim de semana a confusão foi geral. Agora que tive um tempo para averiguar, descobri que algo nos servidores do Blogspot pegou diversos blogs de mau jeito.

    O problema: os wwws não estavam sendo aceitos. Quem marcou a URL como www.cora blogspot.com não conseguia acesso; mas quem vinha via www.cronai.com ou cronai.com, que redirecionam para cora.blogspot.com (sem www.) entrava tranqüilo.

    A página de status do Blogger informa que o problema já está resolvido.

    20.4.04



    A Secretaria de Segurança responde

    Hoje de manhã, recebi um email de Carlos Henrique Vasconcellos, coordenador de comunicação social da secretaria de Segurança Pública do RJ. Diz o seguinte:
    "O espaço cedido em sua coluna do dia 15 de abril às virulentas e desrespeitosas críticas do professor Silvio Reis – classificadas pela ilustre jornalista como “desabafo” – à autoridade conferida à governadora Rosinha Garotinho pelo povo do Estado do Rio de Janeiro e ao secretário de Segurança Pública e ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, por ela nomeado, terminou por lançar ofensas que não contribuem em nada com o que há de mais importante no jornalismo: a promoção do debate para a paz social.

    A publicação de um texto marcado pelo irracionalismo e absolutamente destoante do tom empregado pelo titular da coluna em sua dura (mas respeitosa) crítica aos episódios que envolveram a tentativa de invasão da Rocinha, ultrapassou os limites do aceitável. A tentativa de achincalhe, que beirou o xingamento, da autoridade máxima do Governo do Rio e do ocupante de uma das mais importantes de suas secretarias de Estado é um absurdo. Impressiona-me o fato de que, mesmo com a drástica redução dos atuais índices de criminalidade no Estado, o suposto exercício da democracia não tenha sido utilizado tão ferozmente contra aqueles que, nos últimos anos, estiveram à frente do governo e pouco ou nada fizeram para combater, de fato, à criminalidade.

    Sinceramente, seria muito melhor que, neste momento, estivesse aqui somente rebatendo as críticas feitas por você, Cora, mas, infelizmente, a abertura para uma crítica de tão baixo nível definiu como prioridade a discussão em um outro plano, ou seja, o do papel da imprensa no tratamento das questões que envolvem o Estado e o Governo. Afinal, é necessária a seguinte reflexão: por que a sensação de insegurança não condiz com a realidade de que o tráfico de drogas está sendo enfraquecido economica e belicamente, não somente na Rocinha, mas na maioria das 600 favelas da Região Metropolitana do Rio? Vamos ao debate."

    Carlos Henrique Vasconcellos, coordenador de Comunicação Social da Secretaria de Segurança Pública do RJ
    Será publicada na minha coluna de quinta; mas já na edição de amanhã do Globo vocês poderão ler as novidades a respeito do enfraquecimento bélico dos traficantes.




    Animais

    No National Geographic, um programa mostra o esporte favorito de uns imbecis americanos: matar doninhas. Os cretinos têm carros possantes, binóculos e armas dignas de traficantes cariocas; e passam o dia detonando os animaizinhos, que são a base do ecossistema das planícies. Alguns chegam a gastar 2.500 balas com essa "diversão". Contam vantagem, os covardes, como se isso fosse uma grande coisa.

    Update: Apesar de tudo, só rindo...

    Olha o que deixaram aqui nos comentários:
    Os animais alvejados eram doninhas-bombas muçulmanas, que estavam preparando um ataque suicida e estavam escondendo armas de destruição em massa. Também apoiavam Osama Bin-Laden e ajudaram a planejar o ataque em Madrid. Iremos até o fim com as doninhas, para libertá-las e pra que elas possam viver em democracia, nem que pra isso seja necessário matar a todas. Que isso sirva de exemplo para os outros animais, voantes ou não. God bless America. Bush





    *sigh*

    18.4.04



    Orkut

    O Orkut, vocês sabem, é a mais nova coqueluche da internet. Uma espécie de Friendster ou Six Degrees mais bem afinado, lançado pelo Google em janeiro, onde a idéia é formar comunidades, grupos de discussão e, até, encontrar namorada ou namorado.

    O sistema é poderoso, bem desenhado e, acreditem, está quase todo mundo lá.

    E, naturalmente, já há uma quantidade de sites anti-Orkut, apontando para o fato interessante de que, ali, o Google passa a ter completo conhecimento dos seus usuários, ou para os termos realmente esquisitos do registro, pelo qual o sistema passa a ser único proprietário de qualquer coisa criada por lá.

    Está na cara que ainda vai se falar -- e se discutir -- muito sobre ele.

    A única coisa que eu ainda não consegui descobrir a repeito do Orkut, mesmo, é como fazer alguma coisa útil com ele.

    Ah sim: para os angloparlantes, aqui há uma coleção de links de broncas relativas ao Orkut.


    Aliás...

    Como é que a governadora pode, sinceramente, acreditar na evolução das espécies?


    Passeata no dia 25!

    Chegou à minha mailbox uma convocação para uma passeata contra os diminutivos no próximo dia 25, no Posto Seis, às 10 da manhã.

    Todo mundo de preto, em sinal de luto pelo Rio.

    A convocação, pelo que entendi, nasceu no grupo batuqueirosmonobloco, do Yahoo. Vocês já receberam algum email a respeito, estão sabendo de alguma coisa?

    Eu, naturalmente, dou o maior apoio.

    Agora, só queria saber por que cargas d'água o pessoal que organiza passeata escolhe um horário desgraçado desses!!! Dez da manhã de domingo?!

    O que custava fazer uma passeata depois do almoço, digamos? Ou, vá lá, ao meio-dia, bem antes do almoço?

    Ia ter muito, muito mais gente...










    Cantando para subir

    Ontem à noite fui ao Canecão ver "Vagabundo", o espetáculo de Ney Matogrosso e Pedro Luiz e a Parede. A gente acha que são dois sons que não têm nada a ver, duas tribos totalmente diferentes, essas coisas.

    Acontece que o show é simplesmente o máximo!

    Os músicos são da pesada, as músicas são excelentes, não há um só minuto de tédio.

    É tudo bom demais.

    Este é um daqueles shows antológicos, imperdíveis, que vai ficar na memória coletiva por muitos e muitos anos. Um show super carioca, antídoto certeiro contra o baixo astral dos diminutivos.

    Tem até Disritmia, do Martinho da Vila, que, por acaso, é uma das músicas favoritas do Millôr. Aliás, o Martinho estava na platéia, junto com João Bosco.

    Quanto às fotos, esta foi a primeira vez que levei a minha câmera nova, uma Kodak DX6490, para a noite. Não se portou bem?

    16.4.04



    Uma sugestão prática

    A Andrea Gouvea Vieira, jornalista e candidata a vereadora, me mandou este email:
    "Apoio incondicional! Quero criar na minha ONG Desatando os Nós do Rio um grupo de umas 200 pessoas que possam ser acionadas por e-mail e que topem se deslocar quando for preciso gritar e protestar contra as loucuras dos Governos daqui.

    Por exemplo, Rosinha vai aprovar na Assembléia projeto que tira dinheiro da Saúde para dar aos programas assistenciais - todos dirigidos pelos evangélicos. Pois vamos cercar a Assembléia para pressionar.

    Ou a sociedade se mexe ou continuaremos nesta situação."
    Quem estiver a fim de participar do movimento, deve mandar um email para ela.




    Amando Gatos com Todas as Letras

    Este é o título de um simpático livrinho de cem páginas, muitas fotos e contos, relatos e poemas sobre gatos. Com organização de Glorinha Santos, emérita gateira que trabalha para cerca de 70 felinos, reúne 17 autores que têm, em comum, o carinho aos gatos: Aguinaldo Silva, Ana Maria Tagliavini, Beatriz de Carvalho D´Amato, Cidinha Souza Pinto, Cláudio Cavalcanti, Ferreira Gullar, Franklin Chang, Glorinha Santos, Guilherme M. Ramalho, Heloisa Seixas, Liliana Ottanelli, Marco Lucchesi, Maria Lúcia Frota, Múcio Bezerra, Roberto Gáudio, Sônia Hirsch e Vera Macedo.

    Eu estaria entre eles, mas sou uma criatura enrolada que atrasa a vida dos outros e não entrega nada no prazo. A Glorinha e o Múcio esperaram o máximo que puderam, mas a blogueira que vos catamilha fez um papelão e não conseguiu terminar o textinho que prometera. Tsk!

    O lançamento é hoje à noite, a partir das 20hs, na Livraria da Travessa, Rua Visconde de Pirajá 572, em Ipanema.

    Não deixem de ir: vai ser uma linda festa felina!


    Galinha subserviente

    Tem doido para tudo, mesmo...! Digitem o comando DIE, é uma comédia.


    Repercussão

    O Globo tem um Painel de Leitores que, todos os dias, responde à seguinte pergunta: "Qual assunto ou reportagem mais chamou a sua atenção em todo o jornal?". Pois ontem, logo depois da manchete ("PM mata chefe do tráfico na Rocinha e cerca rival"), veio a minha crônica; na verdade, a carta do Silvio Reis, que tão bem falou por (quase) todos nós.

    O jornal e eu recebemos dezenas de emails de leitores, igualmente enojados com a postura dos governadores e o seu óbvio desamor à cidade. Como aqui nos comentários, muitos discutiram as razões da violência, o papel dos usuários de drogas, o papel da polícia e do exército.

    Dois me descascaram por "poupar" o prefeito; mas, na verdade, não poupei ninguém. Acho que todas, todas as autoridades, sem exceção, foram omissas e covardes. O sinistro casal de governadores foi o alvo primário porque, afinal, ela é, lamentavelmente, "governadora" do estado; e ele, secretário de "segurança".

    A postura incompetente e, repito, covarde, dos dois foi apenas a gota d'água no mar de frustração, angústia e asco em que estamos mergulhados -- e que desaguou no desabafo do Sílvio.

    É evidente que os dois não são os únicos culpados pela atual situação; nem é disso que estão sendo acusados.

    A grande maioria dos leitores manifestou grande ansiedade e vontade de participar de alguma coisa -- qualquer coisa! -- que possa ajudar a reverter o abandono a que fomos relegados. Pessoalmente, acho que sair de branco por aí pedindo paz não resolve, porque este é um pedido vago, sem destino certo; mas sair às ruas contra o governo já funcionou muito bem neste país.

    Como organizar isso? Como marcar manifestações? Como juntar os descontentes?

    Não sei, mas suponho que a internet possa ser usada de forma muito eficiente. Há um imenso potencial de mobilização na rede que ainda não está sendo devidamente explorado, não só para cobrar providências das autoridades enviando-lhes emails, mas também para convocar a galera para panelaços e outras manifestações de civismo.

    Este blog está aberto a propostas e a chamados.

    15.4.04





    Omissão e covardia

    Tendo escrito na semana passada sobre Chernobyl, eu pretendia voltar hoje à questão da energia nuclear. O tema rendeu um ótimo debate lá no blog e alguns leitores enviaram mensagens muito interessantes para a redação. Afinal, Angra fica logo ali e os gringos estão rosnando.

    Mas, entre a crônica da semana passada e a desta, o tempo fechou sobre a nossa, apesar de tudo e sempre amada, cidade. No meu coração, a questão da energia nuclear passou para segundo plano. À mente, restou registrar o absurdo da constatação: chegamos ao ponto em que escrever sobre energia nuclear, vivendo a apenas 150km de uma usina, seria alienação diante da realidade.

    Não que o despreparo e a incompetência das autoridades tenham me surpreendido. Como carioca, há tanto tempo convivo com governos desastrosos que, ao contrário, estranharia o mínimo sinal de eficiência.

    Mas o show de omissão e covardia a que assistimos no fim de semana foi inédito, de virar o estômago. Uma área gigantesca e estratégica para todo o movimento da cidade entrou em guerra, houve mortes, milhares de pessoas não puderam voltar para casa, crianças ficaram sem aula — e não se teve sinal da “governadora”. O secretário de “segurança”, que não titubeou em aparecer na TV interrogando um suspeito suspeitíssimo, preferiu continuar de folga. E, em Brasília, ninguém — ninguém! — teve nada — nada! — a declarar até o começo da semana.

    O que é isso?!

    Em qualquer lugar mais ou menos civilizado do mundo, quando uma cidade explode, as autoridades, ou pretensas autoridades, tentam, pelo menos, fazer de conta que estão a postos, atentas, “tomando providências”. Prefeitos, governadores, deputados, secretários, ministros — todos vêm a público, com ar grave, marcar presença.

    Presidentes se manifestam.

    Tentam — pelo menos! — fingir que fazem jus aos cargos de representantes do povo que ocupam. Tanto eles quanto nós sabemos que nada daquilo fará muita diferença; mas é de praxe, e faz parte do ofício, “tranqüilizar a população”, dando as caras nos maus momentos.

    Enquanto as autoridades municipais, estaduais e federais se escondiam, silenciosas, durante o feriado, a internet fervilhava. Entre manifestos, protestos e e-mails indignados, chamou a minha atenção o desabafo que Silvio Reis, pacato professor e cidadão de bem, enviou, no sábado à tarde, para a governadora. Até a noite de terça-feira, sua assessoria sequer acusara recebimento.

    “Prezada Governadora,

    Eu não acredito que a senhora ou o seu marido sejam capazes de enfrentar o problema da segurança pública no Rio de Janeiro. Não digo resolver, afinal são muitos anos de descaso de governos anteriores (como o do padrinho político do seu marido, o sr. Leonel Brizola), digo enfrentar, mostrar trabalho.

    Até o momento o seu marido só se apresenta para patetices como a do caso Staheli e agora, na Semana Santa, o que vemos? Uma guerra entre os narcotraficantes que simplesmente ignoraram a polícia, e a senhora e o seu marido estavam de folga em Angra dos Reis e mandaram dizer pela assessoria de imprensa que não iriam falar por estar de férias. O Rio explodindo, a imprensa só falou da Rocinha, mas na Tijuca se ouviram tiros durante toda a noite também, e a senhora e o seu marido de férias.

    É inadmissível este desrespeito que a senhora e o seu marido têm pelo Rio de Janeiro. É insuportável, é irritante, é absurdo, é angustiante enfrentar esse seu despreparo e o do seu marido, é angustiante tê-los como governadores do Rio.

    Todas as noites espero angustiado a minha mulher voltar do trabalho, corro angustiado para casa para acalmá-la, e só vejo meu sofrimento aumentar.

    Estou cansado da sua cara de deboche e da cara de falsidade do seu marido. Estou cansado de vocês. E nunca pensei que fosse capaz de fazer algo em relação a isso mas eu vou fazer o que todos devem fazer: lutar politicamente para expulsá-los da vida política para sempre. Quero o casal Garotinho longe do meu Rio de Janeiro, quero vocês longe daqui e vou fazer isso pelo meu voto e pelo voto de milhares de pessoas que como eu estão indignadas com essa situação vergonhosa. Eu vou lutar politicamente pelo enterro político do casal Garotinho!

    Sumam da nossa vida.

    Não quero saber o que vocês vão fazer, não quero saber do seu cabelo, da sua igreja, só que vocês não ocupem nunca mais nenhum cargo público.

    BASTA!!!

    E espero encontrar apoio em qualquer lugar, não me interessa saber de quem é o apoio, aceito apoio do diabo para tirá-los da vida pública da minha Cidade Maravilhosa. Só temo que ele já seja aliado do casal Garotinho. Os eventos da Sexta-feira Santa me deixaram atônito com o despreparo e com o perigo real de guerrilha urbana entre os grupos narcoterroristas.

    ADEUS!”


    (O Globo, Segundo Caderno, 15.4.2004)

    14.4.04



    Aos teclados, cidadãos!

    Sílvio Reis, autor do excelente desabafo enviado à governadora, está cumprindo a promessa de lutar politicamente contra o insuportável casal. Mandou hoje emails a todos os deputados do PMDB pedindo a demissão do secretário de "segurança":
    Caro Deputado,

    Solicito a sua atenção para o problema de Segurança Pública que estamos vivendo no Estado do Rio de Janeiro, cujos eleitores foram responsáveis pelo seu Mandato.

    Considerando que o atual Secretário de Segurança Pública, Anthony Garotinho, é filiado ao seu partido, o PMDB.

    Considerando o histórico democrático do PMDB em sua trajetória política desde os tempos do antigo MDB.

    Considerando que o atual Secretário de Segurança Pública, Anthony Garotinho, é incapaz de cuidar da situação com o profissionalismo e seriedade necessários e exigidos pelo cargo.

    Considerando o relacionamento entre a atual Governadora e o atual Secretário.

    Considerando o estado de saúde e emocional da Sra Governadora, que a torna incapaz de agir em favor dos interesses do Estado do Rio de Janeiro.

    Solicito a demissão do atual Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, Sr Anthony Garotinho e sua substituição por um profissional sério, com histórico à altura do desafio e dos anseios da população do Estado do Rio de Janeiro.

    Agradeço a sua atenção.

    Silvio Reis


    Vamos ajudar o Rio de Janeiro fazendo chegar aos deputados o nosso descontentamento com a atual situação!

    Estes são os emails dos deputados; para facilitar o envio do seu protesto, copie-os e cole-os no campo Cópia ou Para do seu programa de email.

    dep.almerindadecarvalho@camara.gov.br;
    dep.andreluiz@camara.gov.br;
    dep.bernardoariston@camara.gov.br;
    dep.edsonezequiel@camara.gov.br;
    dep.eduardocunha@camara.gov.br;
    dep.fernandolopes@camara.gov.br;
    dep.josedivino@camara.gov.br;
    dep.josiasquintal@camara.gov.br;
    dep.leonardopicciani@camara.gov.br;
    dep.marialucia@camara.gov.br;
    dep.moreirafranco@camara.gov.br;
    dep.nelsonbornier@camara.gov.br;
    dep.vieirareis@camara.gov.br

    Update: Bruno Litio observou, aqui nos comentários, que talvez seja mais interessante mandar o protesto 'para os deputados estaduais. Aqui estão os emails deles:

    AlbanoReis@alerj.rj.gov.br
    AparecidaGama@alerj.rj.gov.br
    delioleal@alerj.rj.gov.br
    domingosbrazao@alerj.rj.gov.br
    Ednarodrigues@alerj.rj.gov.br
    Elianaribeiro@alerj.rj.gov.br
    GracaMatos@alerj.rj.gov.br
    JorgePicciani@alerj.rj.gov.br
    JoseTavora@alerj.rj.gov.br
    Leandrosampaio@alerj.rj.gov.br
    Nelsondoposto@alerj.rj.gov.br
    NelsonGoncalves@alerj.rj.gov.br
    noeldecarvalho@alerj.rj.gov.br
    PauloMelo@alerj.rj.gov.br
    pedroaugusto@alerj.rj.gov.br
    RobertoDinamite@alerj.rj.gov.br
    Samuelmalafaia@alerj.rj.gov.br
    Sergiosoares@alerj.rj.gov.br
    uziasmocoto@alerj.rj.gov.br
    WashingtonReis@alerj.rj.gov.br

    Eu acabo de mandar um email para eles todos.






    ClassiBlog

    O Tom Taborda, assíduo colaborador do blog que muitos de vocês conhecem dos comentários, avisa: tem este estudiozinho para alugar na Urca. Fica num terceiro andar, em frente a uma pracinha, e tem até varanda envidraçada (entre as árvores e o poste, na foto da fachada).

    O preço é R$ 800, mais taxas, e a tarefa de alugá-lo está com a Lucia: 9388-6388.


    Brinquedinhos bons

    Estou escrevendo este post da sala, com dois brinquedinhos que me emprestaram: um notebook HP Compaq nx5000 brasileirinho da silva e uma placa de conexão CDMA1x da Vivo. Até aqui, tudo são flores: a conexão equivale a uma conexão discada rápida e o notebook, ainda que seja um sujeito parrudinho, categoria desktop replacement -- mais pesado do que os ultra-thins com que estou acostumada -- é ótimo.

    A tela, comparada aos miudinhos, é um espanto: e-nor-me!!!

    Por enquanto, estranho só duas coisas: teclado em português (em geral trabalho com teclado americano, sem cedilha, e com os acentos em local diferente) e touchpad.

    Nada que brincar mais um pouquinho não resolva... :-)


    Fala!



    Angra e... Rosinha?!

    A coluna da semana passada, em que eu falava de Elena, a motoqueira de Chernobyl, rendeu panos pras mangas e muitas dúvidas (a começar pela própria palavra: como diabos se escreve Chernobyl?). Vocês leram aqui a mensagem de um engenheiro nuclear a favor das usinas de Angra; agora leiam o que escreveu o leitor Lucillo Bueno.
    Lí com muito interesse e muita admiração o artigo que você publicou sobre a coragem da motoqueira Elena, que voltou a Tchernóbil, desafiando um inimigo invísivel e mortal, movida pelo sentimento quase atávico de retornar ao berço natal. Voltou para contar o que aconteceu de fato ao seu lugar de origem e para nos relembrar da condenação desse lugar à morte, pelos próximos 600 anos.

    Para mim, foi impossível ler essa história sem fazer analogia com a situação das Usinas Atômicas brasileiras. Com o que pode acontecer, se Angra I ou II sofrerem um acidente na proporção do que ocorreu em Tchernóbil. Começa que o o Governo não tem um plano realista para retirar as pessoas da região. O existente define a responsabilidade federal apenas sobre um raio de cinco quilôemtros em torno das usinas. O resto, justamente a área ocupada pelos 150 mil habitantes de Angra, fica por conta da Prefeitura. O que significa dizer que esses moradores só contam com a Rio-Santos para escapar, porque nem a estrada de ferro existente no Porto de Angra dos Reis, e que hoje está desativada, foi considerada como possibilidade para tirar as pessoas da região, no caso de um acidente nuclear.

    Isso é extremamente preocupante, quando lembramos o que vários sites sobre o acidente de Tchenóbil relatam: só no primeiro dia, a nuvem de radiação atingiu um raio de 70 quilômetros de diâmetro. E deveria ser o suficiente para tirar o sono dos responsáveis por Angra I e II, se considerarmos que a distância entre Itaórna, onde estão as usinas, e Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro, é exatamente de 70 quilômetros. Como na Costa Verde prevalece o vento sudoeste, é fácil concluir que numa situação de vazamento nas usinas, a nuvem radioativa de Angra chegaria ao Rio de Janeiro já no primeiro dia.

    Fico me perguntando, então, por que insistir nestes monstrengos que só geram energia elétrica a custo altíssimo para um país tão privilegiado em bacias hidrográficas. Recursos cuja má administração quase nos levou a um apagão, em 2001, e que, claro, contribuiu para o lobby pró Angra III. Questiono como pode-se cogitar construir mais uma usina nuclear, se até hoje as existentes não sabem o que fazer com os dejetos que geram -- o próprio lixo atômico. Como não levar em consideração os riscos para a população de Angra e do próprio Rio de Janeiro.

    As respostas para cada uma dessas questões passam por interesses muitos e outros que nada têm a ver com a segurança e o bem-estar da população. Passam por fatores provavelmente semelhantes aos que determinaram a construção das usinas de Tchernóbil e que estão ligados às causas do acidente que devastou a região russa. A tragédia que gerou a cidade-fantasma à qual Elena retorna.

    Eu só espero que, no futuro, não haja Elenas cariocas pedalando em nossas ciclovias, para irem até a Rio-Santos matar as saudades..."

    O meu pensamento vai mais por aí do que pela estrada tranqüila apontada pelo engenheiro. Se a questão não fosse no mínimo polêmica, usinas européias não estariam sendo desativadas.

    Mas o que me preocupa mesmo em relação às usinas de Angra é que elas estão no Brasil. Em todos os sentidos.

    Vocês conseguem imaginar o que seria um desastre nuclear sob a administração Garotinho?! Com o apoio federal do PT?!

    Ma-nhêêêêêêê...!!!


    Nossos comerciais (continuação)

    Acho que as iscas que eu joguei pro Google funcionaram!

    Pela primeira vez em uma semana, os anúncios lá de cima mudaram no meu browser; por outro lado, sumiram os títulos dos anunciozinhos e as URLs. No momento há dois sites de leilão (Arremate e Mercado Livre), um relógio de parede e -- agora sim, estão falando comigo! -- chocolate.

    Diet, mas chocolate... :-)

    Mais uma coisa estranha: como contei a vocês, daqui de casa, que é onde edito o blog, não consigo clicar nos anúncios. Isso é compreensível: eles querem evitar. No entanto, também não consigo clicar nos anúncios de outros blogs e websites que usam o AdSense -- e isso não faz o menor sentido.

    Ah: o blog já faturou U$ 70,57.

    Vai quebrar o banco...

    Vou escrever pro povo do Google para saber dessas coisas.

    13.4.04



    ARRRRGGGGGGHHHHHHHHH!!!!!

    -- Eu acho muito estranho que durante um período todas pessoas estavam comentado que a segurança no Rio melhorou. Um fato que acontece, lá na Rocinha, de uma briga entre bandidos para tomar conta de um ponto de drogas, aí parece que toda política de segurança veio por água abaixo. Não veio não! Este é um fato.
    Rosinha Garotinho, em entrevista à rádio CBN.


    Habeas blog

    Delegada sem senso de humor é fogo! Felizmente uma juíza teve bom-senso e liberou o blog Bangu 1, que havia sido retirado do ar por ordem judicial.

    Enquanto isso, na Rocinha...


    Nossos comerciais

    Hoje a barra de anúncios do Google aí de cima completa dez dias e U$ 65.34. Não posso divulgar os índices, mas o FAQ do Google não fala nada a respeito do total arrecadado, portanto acho que posso revelar isso a vocês.

    Durante o feriado quase não entrou nada na caixinha, mas menos por falta de cliques do que por falta de gente: afinal, todo mundo tem mais o que fazer em feriado do que se conectar e ficar cavucando a internet.

    Mas uma coisa continua me deixando muito intrigada: para mim, os anúncios não mudam nunca. Ou, pelo menos, o tema dos anúncios não muda. Até agora, não vi ninguém oferecendo acerola, flores ou ovos de páscoa; nada dos livros, video-clubes ou clippings de notícias que já encontrei em anúncios em outros websites.

    A única coisa que me oferecem é recuperação de HD, recuperação de HD, recuperação de HD -- mas isso não preciso mais, obrigada, já fiz.

    O que é que tem aparecido nos browsers de vocês?

    Ah sim: as palavras acima estão em negrito a título de teste. Me disseram que o Google tem uma preferência por palavras grifadas. Vamos ver se ele se toca de que há outros assuntos no mundo além de discos detonados...


    Na base do baseado

    Foi o utilíssimo Ueba que deu a dica; o texto, ótimo, está no Chongas.


    Mais um teste de QI

    Como sabe quem acompanha este blog há algum tempo, não tenho a menor fé em testes de QI; aliás, não tenho fé nem em QI -- a não ser no clássico Quem Indicou, que não falha nunca.

    Mas testes de QI são perfeitos para uma coisa: distrair a gente e dar alguns nós nos miolos. Aqui está um todo baseado em seqüências lógicas visuais, que dispensam o conhecimento desta ou daquela língua.

    Se você estiver no trabalho, aproveite! São 40 minutos de expressão de grande concentração garantida.

    Pesquei lá no Pulso Único. Às vezes vou lá ver os arquivos do querido Eduardo Stuart.


    Otimista, como sempre...

    Desesperado com a Rocinha? Enojado com a Rosinha? Leia o Jabor!

    Não tem nada a ver com o Rio, mas está imperdível.

    12.4.04



    Escreve um cidadão

    "Prezada Governadora,

    Eu não acredito que a senhora ou o seu marido sejam capazes de enfrentar o problema da segurança pública no Rio de Janeiro. Não digo resolver, afinal são muitos anos de descaso de governos anteriores como o do padrinho politico do seu marido, o Sr Leonel Brizola, digo enfrentar, mostrar trabalho.

    Até o momento o seu marido só se apresenta para patetices como a do caso Staheli e agora na semana santa o que vemos? Uma guerra entre os narcotraficantes que simplesmente ignoraram a policia e a senhora e o seu marido estavam de folga em Angra dos Reis e mandaram dizer pela assessoria de imprensa que não iriam falar por estar de férias. O Rio explodindo, a imprensa só falou da Rocinha mas na Tijuca se ouviram tiros durante toda a noite também, e a senhora e o seu marido de férias.

    É inadmissivel este desrespeito que a senhora e o seu marido tem pelo Rio de Janeiro. É insuportável, é irritante, é absurdo, é angustiante enfrentar esse seu despraro e do seu marido, é angustiante tê-los como governadores do RJ.

    Todas as noites espero angustiado a minha mulher voltar do trabalho, corro angustiado para casa para acalmá-la, e só vejo meu sofrimento piorar como o do caso da vizinha que foi sequestrada (e dane-se as firulas dos seus advogados imorais, é sequestro!!!) e morta em São Gonçalo.

    Estou cansado da sua cara de deboche e da cara de falsidade do seu marido. Estou cansado de vocês. E nunca pensei que fosse capaz de fazer algo em relação a isso mas eu vou fazer o todos devem fazer: Lutar politicamente para expulsá-los da vida politica para sempre. Quero o casal Garotinho longe do meu Rio de Janeiro, quero vocês longe daqui e vou fazer isso pelo meu voto e pelo voto de milhares de pessoas que como eu estão indignadas com essa situação vergonhosa.

    EU VOU LUTAR POLITICAMENTE PELO ENTERRO POLITICO DO CASAL GAROTINHO!

    SUMAM DA NOSSA VIDA.

    Não quero saber o que vocês vão fazer, não quero saber do seu cabelo, da sua igreja, só que que vocês não ocupem nunca mais nenhum cargo publico.

    BASTA!!!

    E espero encontrar apoio em qualquer lugar, não me interessa saber de quem é o apoio, aceito apoio do DIABO para tirá-los da vida pública da minha Cidade Maravilhosa. Só temo que ele já seja aliado do casal Garotinho.

    Os eventos da sexta-feira santa me deixaram atônito com o despreparo e com o perigo real de guerrilha urbana entre os grupos narcoterroristas.

    Peço desculpas aos amigos para quem estou enviando uma copia (oculta) deste desabafo. Conto com o apoio de vocês.

    ADEUS!

    Atenciosamente,

    Silvio Reis"



    Privacidade? Na rede?
    Estão me gozando...

    Acho muito curiosa a celeuma que vem sendo armada em torno do GMail, novo serviço de email anunciado pelo Google (vejam reportagem do André Machado na página 4) .

    Está todo mundo no auge da preocupação com questões de privacidade porque, em troca do Gigabyte que oferecerá aos usuários, o Google vai “varrer” a correspondência em busca de palavras-chave, para adicionar às mensagens publicidade dirigida. Mais ou menos como acontece atualmente na sua máquina de busca ou nos websites que usam o sistema de anúncios AdSense.

    A meu ver, porém, esta questão simplesmente não existe — até porque só vai usar o serviço do Google quem quiser. A tal varredura da correspondência só afetará, portanto, usuários que decidam usar o GMail, e que pouco estão se importando se alguém varre ou não as suas mensagens. Duvido que perigosos terroristas da Al Qaeda venham a trocar emails conspiratórios via GMail, ou mesmo que gente de bom senso use, hoje, um hotmail da vida para enviar Informações Realmente Relevantes (IRR) — se é que ainda existem Informações Realmente Relevantes por aí.

    Eu, pessoalmente, já deixei de acreditar em privacidade — na rede ou fora dela — há muito tempo. No dia em que tiver uma IRR para mandar para alguém, vou usar um sistema de criptografia básico, como o PGP, ou enviar uma carta pelo correio. Daquelas simplinhas, mesmo — registrado chama a atenção.

    De resto, todo o conceito de privacidade é muito relativo — e muito recente. Até outro dia, a humanidade vivia amontoada e todo mundo sabia da vida de todo mundo. Como ainda sabe: afinal, qual é a privacidade que se tem atualmente numa cidadezinha do interior, numa rua inglesa ou num edifício com porteiro curioso? A melhor proteção que se pode ter é não escrever jamais, num email, nada que não possa sair na primeira página do jornal — para não sair na primeira página do jornal.

    O mais estranho em relação à grita contra a varredura do Google é que ela nada mais é do que o que já fazem inúmeras ferramentas anti-spam, pelas quais se paga um bom dinheiro. Elas ferramentas percorrem cabeçalhos e conteúdo das mensagens em busca de palavras-chave, mas com um propósito diferente do Google: o de eliminar o lixo. Em tese, porém, poderiam ser tão fuxiqueiras quanto se teme que venham a ser as do GMail.

    Babylon & Michaelis


    Novidade no Babylon Pro: a empresa israelense fechou acordo com a Melhoramentos para pôr online, à disposição dos seus 22 milhões de usuários, o “Michaelis moderno dicionário da língua portuguesa”, cujos 200 mil verbetes vêm se somar ao verdadeiro mar de palavras do portal, especializado em tradução e conversões de modo geral.

    Até breve, Cris!


    Cristina De Luca, “sócia-fundadora” do Info etc. , que ajudou a criar e com o qual colabora desde o primeiro número, despede-se hoje destas páginas — mas não dos leitores. Ela poderá ser encontrada em breve, com o brilho de sempre, numa banca perto de vocês... ;-)


    (O Globo, Info etc., 12.4.2004)


    Além de incompetentes, covardes.
    Todos, sem exceção!

    Com a ineficiência das autoridades nós já contávamos; estamos, infelizmente, acostumados. Afinal, para uma cidade chegar ao ponto a que chegamos, as autoridades precisam ser muito, mas muito incompetentes.

    O show de omissão e covardia a que estamos assistindo, porém, é inédito -- e de virar o estômago.

    Há uma guerra comendo solta na cidade, e não se tem sinal da "governadora"; o secretário de "segurança", que no outro dia estava todo pimpão na tevê interrogando o maluco da vez, engoliu a língua e agora está mudo; em Brasília, ninguém -- ninguém! -- tem nada -- nada! -- a declarar.

    O que é isso?!

    Em qualquer lugar mais ou menos civilizado do mundo, quando uma cidade explode, as autoridades, ou pretensas autoridades, tentam, pelo menos, fazer de conta que estão a postos, atentas, "tomando providências".

    Governadores, secretários e ministros fazem ares graves e vêm a público dizer bobagens: faz parte do ofício dar as caras nos maus momentos.

    Presidentes se manifestam.

    É de praxe.

    Tentam todos -- ao menos! -- fingir que fazem jus aos cargos que ocupam.

    Aqui, no entanto, tudo o que temos é a declaração esdrúxula do vice-governador propondo a construção de um muro em volta das favelas.

    O resto é silêncio.

    Como diz o Ivan Lessa, com licença, que eu vou lá dentro vomitar.

    11.4.04




    Boa Páscoa!

    A Bia esteve numa fazenda de avestruzes na semana passada para fazer uma reportagem para o Fantástico e trouxe algumas fotos.

    Roubei este camaradinha aí para desejar a todos uma ótima Páscoa: afinal, ovo por ovo, eles são campeões. Quer dizer, elas, claro!

    Do nosso Departamento de Cultura Inútil: vocês sabiam que um ovo de avestruz equivale a duas dúzias de ovos de galinha? Isto é um teste: flores livros cinema

    10.4.04





    O outro lado

    "Cara Cora

    O saite da ucraniana é mesmo impressionante, e minhas poucas palavras aqui não são para desmerecer isso, de forma alguma. O relato é humano e tocante.

    Mas como pesquisador, especialista trabalhando na área desde 1978, não posso me furtar a deixar sem respostas alguns poucos absurdos surreais contidos na sua coluna de hoje. Vou tentar ser resumido sobre um assunto tão complexo:

    1. Não morreram "milhares de pessoas" no acidente. Só se conhecem de morte direta do acidente cerca de 34 pessoas, a maioria bombeiros que se espuseram diretamente para tentar tapar o buraco aberto pela explosão de vapor. Sim, é verdade que pode haver muitas outras mortes decorrentes de cânceres adquiridos sem tratamento, porque a área era [é] tão pobre que não havia, por exemplo, pastilas de iodo para fornecer à população [o que evita que se inale o Iodo-131 que pode causar câncer da tireóide]. Assim, o número exato de mortes é rigorosamente desconhecido, mas isso não quer dizer que morreram "milhares" de pessoas. A indústria do petróleo na década de 1980 em Cubatão matou dezenas a centenas de pessoas, assim como fez nascer diversas crianças sem cérebro. Mas o fato de não conhecermos o número exato de pessoas atingidas pela poluição atmosférica em Cubatão não nos autoriza a dizer que podem ter sido "milhares" ou "centenas de milhares", pois não?

    2. As pessoas que tenham morrido ou que venham a morrer devido a insistirem em morar na área, mesmo conhecendo os riscos, na minha modesta opinião não podem ser contabilizadas como mortes que passam para o público como decorrentes do acidente, porque isso mascara a gravidade do acidente. Se um asteróide radioativo cair numa área e matar, digamos, 50 pessoas, fazendo com que uma grande área fique radioativa, não se pode imputar ao asteróide a causa da morte das pesoas que, posteriormente, mesmo sabendo dos riscos, insistam em morar lá. Eu defendo o direito de se suicidar, eu me sensibilizo profundamente com essas pessoas, até concordo de certa forma com o argumento delas, mas não se pode somar os suicídios àqueles mortos que foram atingidos diretamente, por exemplo, e daí tirar conclusões sobre o nível de gravidade do evento. É polêmico, por exemplo, se devemos contabilizar mortes por erupções vulcânicas as de pessoas que insistem em morar dentro da região de risco imediato em caso de erupção.

    3. O reator de Chernobyl, apenas para esclarecimento da população brasileira, é tão parecido com Angra 1, 2 e 3 quanto um carrinho de mão se parece com um Mercedez em termos de segurança. Os reatores semelhantes à Angra 1, do tipo PWR, são em número de cerca de 430 em operação no mundo, com um único acidente, o de TMI nos EUA, que destruiu o reator mas não matou nem um passarinho do lado de fora, em mais de 30 anos.

    4. Ainda há três reatores semelhantes ao de Chernobyl que explodiu funcionando nos países que eram a URSS; embora medidas de segurança tenham sido tomadas e assim a segurança destes reatores seja hoje maior do que era na época, ainda constituem projetos de risco inaceitável, e que preocupam a comunidade internacional.

    Cordialmente,

    Pedro P. de Lima-e-Silva
    Engenheiro Ambiental
    Serviço de Segurança Radiologica e Ambiental
    Divisão de Reatores Nucleares
    Comissão Nacional de Energia Nuclear"
    A carta é muito gentil e o autor está, é óbvio, infinitamente mais bem preparado do que eu para falar sobre energia nuclear.

    Agradeço, de coração, a gentileza que teve em escrevê-la, e publico-a para que vocês conheçam os argumentos do outro lado.

    Digo "outro lado" porque, apesar de não conhecer a respeito do assunto mais do que aquilo que se pode encontrar na internet, sou -- em princípio -- contra o uso de energia nuclear onde existam outras alternativas. Leia-se, em primeiríssimo lugar, o Brasil.

    Não ignoro que praticamente todas as formas de geração de energia são poluentes e/ou causam grandes danos ao meio-ambiente (vide Itaipu), mas o uso de algo que pode dar tão errado quanto Chernobyl me deixa no mínimo intranqüila -- para não dizer apavorada, mesmo.

    Isso pode ser -- e provavelmente é -- fruto da minha ignorância; mas ainda não consegui encontrar argumentos que de fato me convençam do contrário.

    Sei que a tecnologia do setor fez enormes progressos, e que hoje se trabalha com muitíssimo mais segurança; assim como sei que é praticamente impossível que um acidente como o de Chernobyl venha a se repetir. No entanto, o assunto está longe de ter passado em julgado, e continua dando margens a discussões intermináveis e acaloradas (sem trocadilho!).

    Desconfio, portanto, de todas as informações que recebo a respeito, seja do pessoal contra energia nuclear, seja do pessoal a favor.

    Por exemplo: nosso amigo engenheiro que me perdoe, mas como é que alguém pode acreditar que um desastre daquelas proporções matou apenas 34 pessoas?! Pode alguém, em sã consciência, aceitar qualquer dado oficial saído da União Soviética?!

    No mais, acho impossível mascarar a gravidade de um acidente que contaminou uma região daquele tamanho para todo o sempre. Ou, vá lá, apenas para os próximos 600 anos.

    Por outro lado, também não acredito inteiramente nos dados horripilantes que venho recebendo de ativistas contra as usinas nucleares, mas eles, ainda que estejam enganados ou sejam excessivamente alarmistas, estão tentando salvar o mundo -- e isso merece minha inteira simpatia.

    O que me impressionou no site da Elena foi, justamente, a ausência de sectarismo. Ela mostra o que viu e conta o que sabe, sem ser panfletária.

    Os fatos -- e as fotos -- falam por si.


    Fala sério!

    William Waack, no intervalo do filme ridículo e num mesmo parágrafo:

    "Cobertura completa do tiroteio que já matou pelo menos cinco pessoas na Rocinha, onde traficantes enfrentam rivais e a polícia... Brasil vai mandar tropas para ajudar a manter a paz no Haiti..."

    Peralá!

    O que é que o Haiti tem que nós não temos?!


    Glub glub glub

    Titanic, que está passando na televisão, é mesmo um dos filmes mais ridículos que já vi. A idéia de que houvesse aquela luz toda acessa no navio durante o naufrágio; a fleuma dos músicos que não sentiam frio algum; o capitão na ponte de comando todo arrumadinho, de unforme seco; e, sobretudo, o parzinho romântico enfrentando a água do Atlântico Norte, sobrevivendo aos mergulhos sem nem ao menos roupa de neoprene... sinceramente.

    *sigh*


    Nossos comerciais

    Hoje finalmente tive um tempinho para ler todo o FAQ do AdSense, e descobri que não posso divulgar as estatísticas para vocês: são consideradas informação confidencial.

    Poxa. :-(

    9.4.04



    O blogueiro de Bagdá -- ao vivo e a cores!

    Eu achava que o Salam Pax, do Blog de Bagdá, era um garoto novo; estou vendo uma entrevista com ele e, no começo, fiquei meio desapontada. Ele é um jovem senhor, meio carequinha.

    Mas estou me acostumando.

    Como já dava para perceber pelo blog, é muito simpático... :-)

    8.4.04



    B2P*

    Cientistas israelenses testam sistema Wi-fly e concluem: é mais rápido do que ADSL!

    * B2P: Back To Pigeons




    Em Chernobyl, os relógios não contam as horas

    "Esta é a nossa estrada. Nós vamos ver cada vez menos carros e outros sinais de civilização à medida em que nos aproximarmos da Cidade Fantasma. A terra vai ficando mais barata e as estradas vão ficando melhores... exatamente ao contrário do que acontece em qualquer outro lugar do mundo. É um presságio do que está por vir.”

    Estamos na estrada com Elena, vinte e tantos anos, motoqueira, moradora de Kiev, Ucrânia. Às vezes, ela aponta sua Kawasaki Ninja rumo ao Norte, e viaja no tempo para abril de 1986. Seu destino geográfico é a zona contaminada em torno da usina de Chernobyl, palco do pior desastre nuclear que já se viu.

    “O tempo parou na Cidade Fantasma” — escreve em seu website. — “Talvez seja porque os relógios aqui não contam as horas. Contam apenas níveis de radiação.”

    Além do primeiro nome e do número de uma caixa postal, Elena revela muito pouco a respeito de si mesma. Filha de um físico nuclear envolvido em pesquisas sobre o acidente, cresceu à sombra de Chernobyl, tem bons conhecimentos de física e de biologia, e compara suas viagens de moto através da zona morta à travessia de um equilibrista na corda bamba:

    “Num dos lados da vara com que se equilibra está a intensidade da emissão dos raios gama; na outra ponta, está o tempo de exposição aos raios. O arame, porém, também está coberto por uma poeira escorregadia, e é nela que reside o maior perigo.”

    Elena não tira os olhos do contador Geiger e, por precaução, viaja sempre sozinha, pelo meio da estrada, para não correr o risco de respirar a tal poeira, que seria eventualmente levantada por outros veículos:

    “Às margens da estrada, a radiação já é duas ou três vezes maior do que no meio. Se você se afastar um metro, será quatro ou cinco vezes mais intensa. A radiação está no chão, na grama, nas maçãs e nos cogumelos, mas não é retida pelo asfalto, o que torna viagens pela área relativamente seguras.”

    O impacto do website simples, sem maiores sofisticações tecnológicas, é tão extraordinário quanto universal. Suas 28 páginas de texto e de fotos atraíram, em menos de um mês, cerca de dois milhões de visitantes. Num fenômeno típico da internet, cópias fiéis, chamadas “espelhos”, têm aparecido por toda a rede, graças a internautas dispostos a fazer com que o conteúdo chegue aos quatro cantos da Terra. Resultado: calcular o seu número exato de leitores é, hoje, tão difícil quanto calcular o número exato de vítimas de Chernobyl.

    “Quantas pessoas morreram de radiação? Ninguém sabe — nem por alto. Os números oficiais vão de 300 a 300 mil mortos, e outras fontes chegam aos 400 mil. A conta final não será conhecida durante as nossas vidas e, talvez, sequer durante as dos nossos filhos.”

    A estrada, percorrida por Elena no começo da primavera, passa por aldeias abandonadas, casebres em ruínas, bosques desertos. A desolação é geral, e inquietantemente assustadora. Além da própria Elena e dos guardas que impedem a passagem de pessoas não-autorizadas nos pontos de entrada da zona morta, o único outro bípede que se vê nas fotos é um homem numa carroça:

    “Ele é um dos 3,5 mil que ou se recusaram a deixar a área ou voltaram para as suas aldeias depois da fusão nuclear em 1986. Admiro esses indivíduos, que são, todos, filósofos à sua maneira. Quando você pergunta se não têm medo, respondem que preferem morrer de radiação em casa a morrer de saudades numa terra estranha. Eles comem a verdura das suas próprias hortas, bebem o leite das suas próprias vacas e se declaram saudáveis... mas o velho da carroça é um entre apenas 400 sobreviventes. Talvez venha a se juntar, em breve, aos seus 3,1 mil vizinhos, que descansam para todo o sempre na terra dos seus adorados lares.”

    Elena, boa e atenta fotógrafa, é, principalmente, ótima escritora, num inglês fluente cujas pequenas falhas vem corrigindo aos poucos. Seu texto, informado e informativo, claro e desassombrado, revela perplexidade diante da tragédia e, sobretudo, uma profunda humanidade. Vai ser surpresa para mim se não acabar em livro com lançamento mundial e/ou documentário do Discovery.

    “A área de Chernobyl permanecerá contaminada pelos próximos 48 mil anos, mas humanos poderão repovoá-la dentro de uns 600 anos. Os especialistas dizem que, até lá, os elementos mais perigosos terão desaparecido, ou terão se diluído suficientemente pelo resto do mundo. Se o governo dispuser do dinheiro e da vontade política necessários à pesquisa científica, é possível que se descubra alguma forma de limpar ou neutralizar a contaminação um pouco antes. Caso contrário, nossos distantes descendentes terão de esperar até que a radiação volte a níveis toleráveis. De acordo com as melhores estimativas, isso vai acontecer daqui a 300 anos... ou, para outros cientistas, só daqui a 900. Eu acho que serão 300, mas as pessoas sempre dizem que sou muito otimista.”


    (O Globo, Segundo Caderno, 8.4.2004)



    Chalabi 1 x BBC 0

    Nunca tive boa impressão de Ahmed Chalabi, o suposto líder iraquiano apoiado pelos Estados Unidos. Agora, porém, a BBC está me fazendo mudar de idéia.

    Estou assistindo a "Hard Talk", um programa de entrevistas que costumava ser bom, mas está apenas ridículo. No lugar de Tim Sebastian, uma entrevistadora, que obviamente decidiu que Chalabi é um marginal, tenta bancar a dona da verdade com ele -- que está se saindo muito bem.

    Para começo de conversa, responde com calma às perguntas histéricas, mal formuladas e, sinceramente, bastante bobas da moça; e cobra dela a objetividade que ela, como jornalista, deveria ter por princípio.

    Acho que todo entrevistado tem que ser tratado com cortesia e, na medida do possível, com tranquilidade. Não adianta gritar, fazer cara feia e não deixar que responda a perguntas acusatórias; em última instância, cabe ao público decidir se ele merece ou não confiança, e se está ou não com a razão.

    A isso se chega com boas perguntas e com fatos bem apurados.

    Não suporto essas entrevistas em que os jornalistas tratam os entrevistados como criminosos -- ainda que eles o sejam -- e não os deixam terminar sequer uma frase.

    Arre!

    7.4.04



    Vestido para matar

    Desde que a polícia carioca apresentou o caseiro Jossiel como assassino confesso do casal Staheli -- e que o secretário de segurança (!) fez aquele papel patético de aparecer ao lado do "monstro", como se tivesse solucionado pessoalmente o caso -- tenho pensado no problema das camisetas.

    Sei que é muita futilidade me deter num detalhe desses diante de tal tragédia, mas realmente fiquei pensando no que estaria passando pela cabeça do pessoal da Essencial ao ver a sua marca exposta com tal destaque em circunstância tão pouco edificante.

    No dia seguinte, um dos diretores da Mary Zaide, dona da grife, deu uma declaração ao Joaquim, dizendo que aquela era apenas uma camiseta promocional feita para um evento, daquelas que as pessoas passam para os empregados, etc.

    Ficou meio esquisita a declaração, mas é compreensível que o rapaz não soubesse o que dizer. Afinal, o que é que se pode fazer diante disso? Se você vende roupas, está sujeito a vê-las usadas por todo o tipo de gente, de caseiros suspeitos a secretários de segurança.

    Isso, no entanto, me trouxe à cabeça uma velha dúvida que volta e meia se manifesta: o que leva certas empresas a fazer camisetas promocionais tão feias?!

    Produzir uma camiseta feia ou uma bonita custa o mesmo preço. Muitas das camisetas que a gente ganha por aí são excelentes como acabamento, e eu não teria nada contra usá-las no dia-a-dia... se não fossem tão espaventosas.

    Há tempos me pergunto porque a Brahma, por exemplo, não faz umas camisetinhas mais maneiras, que a gente gostasse de usar, em vez dos monstrengos que distribui no carnaval. Não era melhor para a marca ver uma ocasional celebridade flagrada fazendo ginástica ou indo à praia com o seu modelinho mais discreto?

    Enfim.

    Tou só pensando em voz alta.

    Mas que nunca vou entender a política das camisetas horrendas, lá isso não vou.

    Ah, sim: no dia seguinte, o caseiro apareceu com uma camiseta do Yahoo.

    E, como seria de esperar, desdisse tudo o que disse ao Coronel Bolinha na tevê.


    6.4.04



    Privacidade

    Muito curiosa a celeuma em torno do Gmail, novo serviço de email anunciado pelo Google.

    Está todo mundo estressado com questões de privacidade, porque o Google deve usar um sistema semelhante ao dos anúncios aí de cima para pôr propaganda dirigida nas msgs (ou seja: preparem-se para receber um monte de anúncios de colchões para cavalos!). Para isso, a correspondência seria varrida por máquinas de busca, e é aí que a porca está torcendo o rabo.

    Mas gente, essa questão simplesmente não existe! Até porque só vai usar o serviço quem quiser. Duvido que perigosos terroristas da Al Queda venham a trocar emails via Google, ou gente de bom senso use um Hotmail da vida para enviar Informações Realmente Relevantes (IRR) -- se é que ainda existem Informações Realmente Relevantes por aí.

    Eu já deixei de acreditar em privacidade -- na rede ou fora dela -- há muito tempo. No dia em que tiver uma IRR para mandar para alguém, vou usar um sistema de criptografia básico, como o PGP, ou mandar uma carta pelo correio. Daquelas simplinhas, mesmo.

    E pronto.

    De resto, todo o conceito de privacidade é muito relativo -- e muito recente. Até outro dia a humanidade vivia amontoada e todo mundo sabia da vida de todo mundo. Como ainda sabe.

    Afinal, qual é a privacidade que se tem numa cidadezinha do interior, ou num edifício com um porteiro curioso?

    A melhor proteção que se pode ter é nunca escrever num email nada que não possa sair na primeira página do jornal -- para não sair na primeira página do jornal.


    Plantão chocolate

    Chamando todos os chocólatras! O BuscaPé, site de comparação de preços, avisa que está no ar o seu especial de Páscoa. A idéia é facilitar a vida do consumidor que pesquisa preços de ovos de Páscoa & similares.

    Como o patrocínio é do Pão de Açúcar, o que aparece de ovo por lá não é brincadeira; mas, honra seja feita, o serviço mostra outras lojas quando têm preços melhores.

    O site fica no ar até 11 de abril, domingo de Páscoa.

    Além da comparação de preços há, na página de abertura, um interessante ranking dos seis ovos mais procurados. No momento em que vos catomilho, o campeão é o Alpino, que nem acho aquelas maravilhas: sou mais chocolate amargo ou Diamante Negro, sempre tão mal cotados...




    Barcelona més que mai!

    Demorou, mas até que enfim alguém na Espanha chega à conclusão de que tourada é uma barbaridade: a cidade de Barcelona está pensando em banir o "esporte".

    Não era sem tempo.

    Tinha que ter sido banido há séculos -- antes mesmo de começar.

    5.4.04



    Recuperando dados... em casa!

    Há coisa de dois meses perdi um disco rígido inteiro. Lá se foram 120 gigabytes, não todos ocupados, naturalmente, mas mesmo assim o suficiente para me dar uma baita dor de cabeça. Várias empresas se especializam na recuperação de dados; mas aproveitando o limão oferecido para fazer a proverbial caipirinha, decidi procurar uma solução mais rápida e, possivelmente, mais barata. Eu tinha backup de boa parte dos dados, e podia continuar trabalhando sem aquele HD; não se tratava de um caso de UTI.

    Percorri sites de segurança e de downloads, li blogs e comentários de usuários, rodei programas que ou não conseguiam enxergar o disco doente ou liam tudo — mas sem a estrutura de diretórios e sem os nomes dos arquivos. Finalmente achei um software, com o sugestivo nome de “Get Data Back” ( em www.runtime.org), que não só encontrou direitinho o disco, como foi capaz de ler todos os dados que lá estavam, com respectivos diretórios.

    Tirando a óbvia perda de tempo, a recuperação dos dados transcorreu sem maiores problemas. A US$ 69, o “Get Data Back” provou ser ótima compra, com uma vantagem extra: em modo demo, ou seja, de graça, ele lê o que há no disco perdido. O usuário só paga se quiser de fato recuperar os arquivos encontrados, copiando-os para local seguro.

    Os programas de recuperação de dados devem, sempre, ser instalados num disco diferente do danificado. Um dos segredos da recuperação é não gravar absolutamente nada no HD doente, de onde os programas apenas lêem os dados, como se os estivessem escaneando. Uma vez lidos, eles são salvos no outro HD, onde se instalou o programa — um disco livre de problemas e com espaço suficiente, é claro, para armazenar o que se quer recuperar do falecido.

    Advertência: se você tem medo de computador, ou se a sua vida está inteirinha naquele HD detonado, recorra aos serviços de um profissional da área. E se a sua máquina está perfeita, com tudo funcionando direitinho, aproveite: este é o momento ideal para fazer um bom backup dos seus dados.

    * * *

    Por falar em disco rígido, para mim, o grande milagre da informática não está na velocidade dos processadores, mas na multiplicação da armazenagem. Meu primeiro HD, do tamanho de um tijolo, com míseros 20Mb, custou US$ 750, ou US$ 37,50 por megabyte; hoje, discos de 200Gb não são incomuns — um Seagate Barracuda 7200.7 sai, nos EUA, a cerca de US$ 160 — ou seja, insignificantes frações de centavo por megabyte.

    Isso sem falar no tamanho cada vez menor que a armazenagem ocupa: basta ver os cartões de memória cada vez menores e mais poderosos que usamos em nossos PDAs e câmeras digitais. A própria Seagate, aliás, acaba de lançar uma linha de HDs de 2,5”, a Savvio, com até 73Gb para uso empresarial, quer dizer, duros na queda: além de serem 70% mais compactos do que os habituais discos de 3,5”, os bichinhos consomem 40% menos energia e têm tempo de busca do processador 15% mais rápido. E vocês viram aqui, há três semanas, o micro micro drive da Toshiba, que deve chegar ao mercado com 3Gb, ou seja, bem umas 150 vezes maior do que o meu primeiro HD — aquele, que eu nunca esqueço.

    Moda online

    Lula Rodrigues está assinando uma coluna semanal no recém-inaugurado site da TNT. Eu adoro o Lula, que curte moda na medida certa e sabe, como ninguém, ver o humor que se esconde por trás de tantas sedas, desfiles, alfinetes. Na coluna de estréia, que fica no ar até sexta que vem, tudo sobre o homem de saia.


    (O Globo, Info etc., 5.4.2004)


    Nota zero para o Discovery!

    Os programas são ótimos, mas acho que não há caso registrado na televisão mundial de intervalos mais ruidosos e desagradáveis.

    Não só os mesmos anúncios são repetidos duas ou três vezes no mesmo intervalo, como todos, mas todos mesmo, têm uma trilha sonora, sonoplastia ou seja lá como se designe aquele barulho, insuportável.

    Bota insuportável nisso!

    A relação custo x benefício está começando a não compensar mais.

    Quer dizer: prefiro não assistir mais aos ótimos documentários a ter que aturar a droga daqueles intervalos.

    Que raiva!


    Recado para a Sue

    Querida, parabéns pela casa nova! Esse condomínio aí está ficando bem frequentado que só...

    O único problema é que não estou conseguindo comentar, as caixinhas simplesmente não abrem nem no Firefox nem no M$ IE... :-(

    4.4.04



    Viva!

    Parabéns pro Fantástico, que fez uma linda homenagem ao Evandro Teixeira, um dos nossos maiores fotojornalistas!

    É muito bom ver espaços dedicados a quem já passou dos 30, não é "celebridade" nem faz parte do elenco de Malhação.

    A verdade é que ando ligeiramente cansada de ver os holofotes sempre apontados para a mesma (duvidosa) direção.


    4.4.04

    Que data bonitinha, né?


    Anúncios Google

    Como vocês podem notar, há uns anúncios aí em cima.

    É a barra do AdSense, do Google, que instalei para ver como (e se) funciona. Pode ser que mude de lugar e/ou formato nos próximos dias, ou suma de todo -- por enquanto é só uma experiência, e peço a vocês um pouco de paciência com o visual canhestro.

    A boa notícia é que, se funcionar e render alguma coisinha, pode vir a ser uma forma de auto-sustento do blog. Que, por enquanto, ainda me custa uns trocados em moeda forte...

    Update: Aqui há um bom FAQ, em português, para quem quiser saber mais sobre o serviço do Google. Em tese, a gente ganha pelos clics no anúncios, e recebe cheques em dólar, enviados dos EUA pelo correio, quando tiver mais de US$ 100 na conta. O Google não diz quanto gera cada clic, mas deve ser coisa de centavos, ou fração de centavos. Minha impressão é que, a menos que a gente tenha um site pornô, ou outra coisa qualquer de grande rotatividade, não dá para ganhar nada.

    Como eu disse, é só uma experiência, mesmo. Estou querendo descobrir quanto dá, se as pessoas clicam, que tipo de anúncios aparecem, etc. Quando eu chegar a alguma conclusão, é claro que vocês serão os primeiros a saber.

    2.4.04



    Uma bike em Chernobyl

    A Barbara Locke, que é funcionária do Roscoe, um dos gatos mais engraçadinhos de São Francisco, me mandou esta dica sensacional: o site de uma motoqueira russa que adora passear pela cidade fantasma de Chernobyl.


    1.4.04



    Querem ficar malucos?

    Então tentem completar este teste: um alfabeto feito com letras retiradas de logotipos de marcas de tecnologia bem conhecidas. A coisa é tão aflitiva que os caras vendem as respostas!

    Update: Nós já chegamos a 23 24 respostas certas aqui no Info etc. -- só faltam o U e o V.

    ACABAMOS!!!

    Não comprem as respostas, mais tarde eu dou a pala aqui...

    Felizmente o caderno só fecha amanhã...




    O dia em que não matei o presidente

    -- Caramba! — exclamou um amigo quando viu o Lula tão pertinho, nas minhas fotos. — Se você quisesse, podia ter matado o presidente...

    Ao longo da semana, várias pessoas que visitaram o meu fotolog me fizeram esta curiosa observação: durante a entrega do prêmio Faz Diferença, do GLOBO, lá no Copacabana Palace, eu podia ter matado o presidente. Nenhuma dessas pessoas é particularmente anti-Lula, nem eu sou um modelo de pessoa particularmente feroz, à eterna espera do momento ideal para detonar as autoridades presentes. Mas ter feito meia dúzia de fotos Dele me pôs, quem diria, na categoria de pesadelo de guarda-costas.

    Fiquei intrigada com a reação. Já fiz fotos de toda a espécie de personalidades, de artistas plásticos a bailarinos, passando por atores internacionais antipáticos e até políticos, mas nunca ninguém jamais me disse que eu podia ter matado qualquer delas. Será que o presidente, mesmo num país que não tem qualquer tradição no ramo, é, de repente, o Grande Alvo? Engraçado: se eu tivesse feito uma entrevista com o presidente, ou até tomado café a sós com o presidente, como fez o Franklin Martins na quarta-feira, ninguém diria nada.

    Não, a questão não parece estar na proximidade, mas no uso da máquina. Mais do que isso, no uso pessoal dela, na captura do instantâneo que não se espera. Se eu fosse fotógrafa profissional, e lá estivesse com dez quilos de equipamento, ninguém diria nada também. Mas, ponham em cena uma ainda misteriosa — por diminuta? — câmera digital, e as coisas mudam instantaneamente — sem trocadilho — de figura.

    Vá entender!

    * * *

    Quando o presidente Jimmy Carter esteve no Brasil, em 1978, eu trabalhava em Brasília, e fui destacada para a cobertura. Os americanos, sempre mais preocupados com assassinos de presidentes do que nós brasileiros, revistaram todos os jornalistas e me levaram um estilete que, na época, se usava muito para cortar papéis em diagramação. O diabo do estilete era importado, caro, complicadíssimo de comprar e não me foi devolvido.

    Mandei uma carta indignada para a embaixada, reclamando da apropriação indébita e, para minha surpresa, dez dias depois recebi um estilete novinho em folha. Com um estojinho de lâminas sobressalentes.

    Mas, estilete ou não estilete, o fato é que eu ou qualquer dos meus colegas, seguindo a lógica da câmera digital, poderíamos ter matado facilmente o presidente Carter. Apesar da ditadura, os tempos eram menos paranóicos, e em pelo menos duas ocasiões ele atravessou trechos cercados de populares, apertando mãos aqui e ali. A minha, inclusive: eu havia me plantado em meio à multidão, estrategicamente, para surpreendê-lo com uma ou duas perguntas fora do script.

    Não me lembro mais do que perguntei ou do que ele respondeu, mas me lembro até hoje do orgulho que senti quando, no dia seguinte, o curto diálogo virou manchete como a entrevista exclusiva que, afinal, não deixava de ser. Como se vê, não era tão difícil contentar jovens jornalistas numa época em que fazia parte da rotina da profissão passar horas de pé diante do Ministério da Justiça ou do Forte Apache apenas para ouvir o perpétuo “Nada a declarar” das autoridades.

    * * *

    O Zuenir reclamou do terno e da gravata, eu — que vivo de jeans e camiseta — reclamei da roupa chique; mas foi muito legal a festa dos prêmios do GLOBO. Foi bom ver juntas tantas pessoas tão talentosas, tão dedicadas, tão brasileiras. Foi bom ouvir o português perfeito carregado de sotaque no discurso do professor Radovan Borojevic, especialista em células-tronco; bom ver o auditório aplaudindo de pé o bravo coronel Erir Ribeiro; bom ter a honra de entregar o prêmio a um artista tão merecedor como Aderbal Freire-Filho.

    Valeu a pena sair do meu modelito nerd habitual para conhecer, afinal, o estilista Oskar Metsavath, da Osklen, a quem sempre admirei à distância pela criatividade e pelo apoio dado a jovens atletas; abraçar Luiz Schwarcz, um dos meus editores favoritos; e me emocionar com a presença digna e elegante de dona Gilda Vieira de Mello, mãe do alto comissário Sérgio Vieira de Mello, cuja morte no Iraque comoveu o mundo.

    Foi, enfim, uma bela ocasião para celebrar o país e as pessoas que fazem o país. Apesar de todos os problemas o Brasil é imbatível no coração da gente; e é ótimo conferir, entre um juiz venal aqui e uma quadrilha de pitboys ali, que a paixão da gente ainda tem tanta razão de ser.

    * * *

    Apesar das muitas fotos do presidente, a minha favorita da noite foi esta, do José Dirceu, ao lado de dona Lily Marinho, prestando atenção à Maria Rita. Mas a coleção completa pode ser vista em public.fotki.com/cronai /oglobo.


    (O Globo, Segundo Caderno, 1 de abril, 2004)