30.11.01



Tecendo a rede


Postei esta chamada para o congresso do Chaos Computer Club há dois dias. O Bicarato viu, gostou e carregou pro blog dele. Mas, caprichoso, fez a coisa como deve ser feita: em vez de linkar a imagem diretamente do site de origem, copiou-a para o seu servidor. Hoje de madrugada, quando eu estava mexendo com o blog, vi que o link da minha imagem estava quebrado. Fui ao site do C3 e tudo me pareceu OK, mas a imagem continuava fora do ar; e de manhã, e de tarde idem. Cortei o link. Agora, indo ao Alfarrábio, vi a chamada piscando alegremente. E pronto, cá está ela novamente, mas dessa vez linkada no Bicarato... Legal, né?



FH no País dos Peagadês

Paulo Roberto Pires, o PRP, escreveu; a Meg linkou. Muito bom!


















Valeu, George.


Link & Pense


Amanhã é o Dia Mundial da Aids na ciber-comunidade, aquele parte incomensurável do ciberespaço habitada por pessoas físicas, manifestando-se geralmente através de blogs e páginas pessoais. A idéia -- que cada participante dedique as postagens do dia, ou parte delas, a sites, assuntos, memórias ou depoimentos sobre a Aids e o HIV -- é, naturalmente, uma idéia bonita mas utópica, sem maiores conseqüências ou resultados práticos.

Esta falta de objetivos concretos, infelizmente, desanima muitos webmasters, que não vêem sentido em participar de algo tão vago. Afinal, o que adianta pararmos todos ao mesmo tempo para pensar sobre a Aids? De um ponto de vista puramente pragmático, sinceramente, não sei responder, até porque o grupo a que a campanha pode alcançar (usuários de internet) já está, suponho, bastante informado sobre o assunto.

Mas penso que, ainda assim, algumas coisas positivas podem nascer disso. A primeira, e mais evidente, é a divulgação intensa de sites sobre a Aids, que, em alguns casos, são importantíssimas referências para os doentes e seus familiares e amigos. A outra é que talvez sejam produzidas páginas de grande impacto visual ou emotivo, capazes de sobreviver aos limites de um sábado, e de comover ou influenciar pessoas ao longo do tempo.

De imediato, contudo, acho que a principal vantagem da campanha diz respeito à internet, bem mais do que à Aids. Um blog ou um site pessoal sozinhos não são nada, mas blogs e sites pessoais linkados entre si compõem a verdadeira estrutura da teia, a razão básica de ser de uma rede cuja força é, e sempre será, um reflexo da sua admirável diversidade e da multiplicidade de vozes que a compõem.

Ao contrário do que possa pensar quem a vê assim por alto, hoje em dia, a internet não é apenas um gigantesco shopping virtual -- e, diga-se, nem foi criada com este propósito. Ela é uma forma de unir pessoas e idéias, de cortar caminhos e de manter a informação livre, em constante circulação. Qualquer movimento de base que nos lembre disso, e que reforce esta imagem da rede, já cumpre, pela sua própria existência, uma importante função social.

O resto é lucro.

29.11.01




Legislador, não passes da corrupção

Millôr Fernandes

A língua é a mais complexa, a mais milagrosa, a mais estranha, a mais gigantesca e variada invenção humana. E nada é mais dinâmico e menos sujeito a tutelas autoritárias. Agora, mais uma vez, vê-se um cidadão, ''eleito pelo povo'', propor uma lei proibindo o uso de palavras estrangeiras em nosso cotidiano, hebdomadário e até anuário.

Pera aí: estava em sua proposta de governo que ele tinha autoridade para interferir no que eu falo, escrevo ou pinto em minha tabuleta? Ele sabe, literalmente, do que está falando? Quanta idioletice!

P.S. -- Não adianta correr ao Aurélio.

Por causa deste texto, Millôr está sendo processado pelo deputado em questão. O que ele (Millôr) tem a dizer a respeito do assunto está aqui ou (obrigada, Meg!) aqui.



Para variar, os Comentes estão dando pau novamente... *sigh*



Bem na linha I Love NY, Barbara Walters (argh!), Woody Allen, Robert De Niro, Ben Stiller, Yogi Berra, Kevin Bacon e Henry Kissinger (arghhhhhhhhhhh!!!) gravaram pequenos comerciais promovendo a cidade, e tentando atrair turistas. A série é meio bobinha, mas vale pelo Woody Allen andando de patins no gelo. Ela pode ser vista aqui.

28.11.01

It was a dark night, full of scary silences. When the dawn broke over Paris, the rays of light shone on the dead body of Jean-Marie Léclair, stabbed in the back by some unknown hand. The murder was never solved, the assassin went unpunished, and the world lost a magnificent composer. Este é o começo de uma crítica de CD feita pela Laura, minha irmã. A íntegra está aqui.





EXTRA! EXTRA!


Há uns dois dias, num dos comentes, o Eduardo me pediu que fizesse uma foto da árvore de Natal da Lagoa assim que fosse iluminada. A festa acontece este fim de semana, e eu vou assistir de camarote, conforme vocês podem ver pela foto, que fiz hoje à tarde da janela. No ano passado também foi assim. A Família Gato quase morreu de susto com o foguetório, e depois a árvore saiu passeando e não parou mais tão pertinho daqui de casa; mas a festa de lançamento foi uma noite linda, inesquecível.

Pois esta madrugada, aí pelas três da matina, estava eu me preparando para postar justamente esta foto, quando um helicóptero começou a voar lá na sala. Tá, exagero. Mas o barulho era exatamente igual ao que faria se estivesse querendo pousar no sofá. Olhei pro relógio e fiquei meio revoltada: "Mas onde é que eles pensam que estão, em Mazar e-Sharif?!" Continuei no escritório, indignada com a barulheira, quando a ficha caiu: a árvore! É lógico que deviam estar filmando a árvore! Peguei a digital e corri pra sala. Dito e feito, lá estava a árvore lindona, toda acesa.


Portanto, meninos, aí vai, num exclusivo furo de reportagem do internETC., a primeira foto da árvore acessa exatamente no lugar onde será inaugurada -- e, de quebra, lá no alto, uma lua cheia, redonda como um tamanco. Devo dizer que é impossível fazer justiça à arvore em fotos. Ela está muito, mas muito mais bonita ao vivo do que nesta foto, até porque as luzes piscam, criam desenhos e ficam em foco...

SHOW!


27.11.01




O mundo lusófono vai se conectando aos pouquinhos: a Gata das Pantufas, de Setúbal, linka o internETC., que por sua vez recomenda a leitura daquele ótimo blog d'além mar.



Leitura fundamental


Mario AV escreveu um excelente artigo sobre Blogs e Anarquismo. Eu concordo com ele em gênero, número e grau -- apenas seja, talvez, um pouco menos pessimista em relação ao futuro da rede e à participação individual na sua construção e na modificação do status quo.



Weblogger? Esquece...


Durante o fim de semana, sugeri à Laura, minha irmã, que criasse um blog. Ela é flautista e professora da Unirio mas, além disso, escreve críticas de CDs clássicos para uma revista americana chamada Fanfare. Nesta revista mensal, que mais se parece com um livro do que com outra coisa qualquer, algumas dezenas de malucos descrevem, para outros malucos semelhantes, todos os lançamentos clássicos da temporada. Todos! Eles falam de vibratos, pausas e pizzicatos com a paixão de locutores esportivos narrando final de campeonato. É muito esquisito -- mas, quando a gente começa a ler, descobre que é também muito legal. O problema é que a Fanfare mal e mal se encontra fora dos Estados Unidos, e não é exatamente uma revista para músicos (a galera da minha irmã) mas para colecionadores de CDs e bibliotecas que precisam de orientação para as suas aquisições.

Ora, quando a revista para a qual você escreve não está chegando à sua turma, o que você faz? Reproduz as suas críticas num blog, obviamente. Assim lá fui eu fazer um blog para a Laura. Resolvi experimentar o similar nacional, o Weblogger, que -- em tese -- teria algumas facilidades interessantes para ela, micrófoba fundamentalista: contador e ferramenta de comentários já vêm incluídos, e postar fotos é uma moleza. Mais simples, impossível, certo?

Errado. Abrir um blog com o Weblogger é até fácil. Mas qualquer outra coisa é praticamente impossível. Tente descobrir o endereço do seu blog. Tente mudar o template. Tente carregá-lo...

TRISTE!!! Manter um blog lá é um teste de paciência além do que se pode desejar do usuário médio. Sei que há incontáveis blogueiros postando felizes por lá, mas isso apenas comprova a tese universal de que as noções de felicidade são tão variadas quanto as pessoas. Resultado: ontem de madrugada, depois de tentar em vão chegar ao blog que eu mesma havia criado (!), acabei perdendo a paciência e criando um outro blog para a Laura no nosso bom e velho blogger. Instalei um contador e o SnorComments e pronto, lá está ele solto no espaço, funcionando sem problemas. Chama-se Mostly Music, e é exatamente o que diz o título, principalmente música. Em inglês. Não porque a Laura seja um ser esnobe ou o quê, mas porque o material original está mesmo em inglês. Eu, em que pese a natural parcialidade familiar, recomendo o MM, sem restrições, a todos os melômanos anglo-parlantes (êta, nóis!): vocês vão gostar.



Rio by night

Jantando com o Oscar Niemeyer e a Vera, mais o Fernando Balbi, no nosso point habitual (diga-se o que se quiser da cidade, mas o Rio tem dessas coisas) a conversa, mais uma vez, caiu n'O Assunto. O Oscar foi convidado, com outros grandes arquitetos do mundo todo, a submeter um projeto para o espaço do WTC, em Nova York. Não topou. Está cheio de trabalho mas, ainda que não estivesse, está cheio dessa situação toda.

O Millôr, em compensação, tem uma idéia prontinha na cabeça: ele acha que está na hora, finalmente, de algum país assumir que não é o Maior, o Melhor, o Ó do Borogodó 24 horas por dia, 365 dias por ano. E sugere que seja erguido ali, em Nova York, o primeiro Arco da Derrota do mundo.

-- Como é possível que só existam Arcos do Triunfo por toda a parte? Então ninguém nunca foi derrotado?!

A idéia foi prontamente apoiada pela mesa toda, ou seja, 100% dos entrevistados: não é assim que se fazem as pesquisas de opinião pública?

26.11.01




O Stimpy tem uma teoria curiosa a respeito da verdadeira identidade de Jackie Miller!



Mais Globlogueiros


Quando, há alguns dias, escrevi sobre os coleguinhas que estão fazendo blogs, tinha certeza absoluta de que estava deixando alguém de fora: claro, numa redação daquele tamanho é normal que uma ou duas pessoas estejam fazendo um trabalho formidável do qual a gente sequer desconfia. E não deu outra.

Entre a valente turma que faz o Jornal de Bairros, trabalha, quietinho, o Gustavo Leitão, que está fazendo um blog ótimo: não deixem de ler a descrição que ele faz de uma ida ao teatro para ver a peça do Gerald Thomas! (Qual delas? Ué, e faz diferença?!)

Enquanto isso, ali do lado, Cláudio Motta, também repórter do Bairros, ficou tão animado quando viu o que o Gustavo estava aprontando que resolveu partir imediatamente para uma carreira blogo, criando o Baticum. Confiram!




Sim: um ser humano como outro qualquer

Tudo começou em 1989, com o “SimCity”, que deixou muita gente viciada com o que era, então, um conceito revolucionário de game: um simulador de cidade em que o jogador, fazendo o papel de prefeito, tinha que administrar tudo — e, ainda por cima, com responsabilidade fiscal. Até hoje faz sucesso, inclusive em versão para Palm OS. Depois vieram variantes do tema, entre elas o inesquecível “SimAnt”, simulador de formigueiro.

E, claro, sucesso dos sucessos, “The Sims”. Os sims eram, inicialmente, habitantes de “SimCity”. Não passavam de pontinhos, menos relevantes e visíveis até do que as formiguinhas de “SimAnt”. Como conjunto, porém, eram importantíssimos, já que do seu bem-estar ou irritação com a cidade é que dependia o sucesso do “prefeito”. Mas eles cresceram e, literalmente, apareceram. Em “The Sims”, lançado em fevereiro de 2000, o próprio conceito do jogo mudou; da simulação de cidades, passou-se à simulação de gente, e o objetivo passou do macro para o micro: esqueça a cidade, concentre-se nas pessoas. Em suma, faça do seu sim um ser feliz e realizado, com uma família harmoniosa, vivendo numa casa rica e confortável.

Espécie de crossover de playmobil com tamagochi, o sim precisa ser alimentado, instruído e cuidado com desvelo; como qualquer humano, virtual ou não, é sensível às mudanças de clima, à fome, à sede e ao tédio. Os sims têm vida social, casam-se, divertem-se, morrem. E, como as unidades de carbono que representam, são consumidores natos: desde que foram lançados, já ganharam três pacotes de expansão para atender às suas necessidades. O mais recente, que acaba de chegar às lojas, é “Encontro marcado”, em que, pela primeira vez, saem de casa, e podem ampliar sua rede de relacionamentos para além da família e da vizinhança.

Vão fundo, sims!

(O Globo, 26.11.01)

Adendo em 27.11.01: Cliquem aqui: é um site (na verdade um mini-portal) de sims brasileiros! Muito bom!



Deu na... Radiobrás!

O mundo é mesmo um lugar estranho, que evolui das maneiras mais surpreendentes: agora, até nas agências oficiais a gente pode encontrar matérias interessantes! Com essa, sinceramente, eu não contava. Esqueçam o meu parti-pris pela espécie, e vejam que bom o texto dessa jornalista de nome tão adequado à reportagem:

Não será o gato o melhor amigo do homem?
Julia Segatto

Brasília, 23 (Agência Brasil - ABr) - Quem disse que o cachorro é o melhor amigo do homem deve rever essa afirmação. Com a redução do tamanho das residências e o ritmo acelerado de vida, os gatos, geralmente mais independentes e higiênicos do que os cães, passaram a ser os melhores companheiros do homem moderno. De acordo com estudo sobre a convivência entre humanos e animais domésticos realizado pelo professor e pesquisador Carlos C. Alberts, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o comportamento do gato com seu dono se assemelha às relações humanas contemporâneas, em que o comprometimento com o outro é menos valorizado. Continua aqui.

24.11.01




Tecendo a rede


Taí: esses dois mandaram muito bem:

(Hernani) "Utilizando as palavras do Bicarato: "gostaria de ressaltar a importância que TODOS os blogs têm nesse movimento: estamos juntos nessa, todos falando e trocando idéias, informações e conhecimentos. Daí que o mérito não é de um nem de outro, todos temos participação nisso (até porque, sem querer questionar os critérios da Jackie Miller, quaisquer critérios numa eleição como essa têm uma alta carga de subjetividade). O que interessa é isso: podemos falar à vontade, sem censura, a não ser a do nosso próprio coração!"

(Hernani) "Pois é, os mercados são conversações, falar é barato e o silêncio é fatal. Os blogs estão reverberando a nossa voz. É a renascença da publicação autoral. Isso está acontecendo em todo o mundo. O blog é uma puta ferramenta para conversar na rede. E acredito que deveríamos estar todos comemorando a nossa capacidade de criar tanta diversidade. Estamos fazendo Intenet falada em português, com muita dificuldade, sem remuneração, mas com qualidade e originalidade. E distante dos moldes tradicionais.

Só fica uma pergunta: Quem é a Jackie Miller?"

Concordo em gênero, número e grau com ambos; eles sabem mesmo das coisas.

Ah, sim, e por falar nisso: Quem é Jackie Miller?






**!*!*! U*A*U !*!*!**



Deu na Jackie Miller:

Blogs preferidos, resultado final:

1º internETC.
Burn Baby Burn
Alfarrábio
Marketing Hacker e Taperouge
Catarro Verde e Por um Punhado de Pixels


Caramba!


Este blog está no auge da emoção e, acreditem, uma vez na vida sem palavras -- não só pelo carinho demonstrado pelos leitores, mas também, e sobretudo, pela qualidade da companhia em que foi incluído.

O que é que eu posso dizer?
Hmmm... ahn... quer dizer... bom... ... ... ah!!! :

VALEU, GALERA!



E vai um agradecimento muito, muito especial ao Mario AV, autor do template que dá ao blog a linda cara que ele tem.

(O copo eu roubei lá no Bicarato, mas depois devolvo lavadinho, OK?)

23.11.01




All Your Tourist Are Belong To Us
Não é o supra-sumo do sincretismo web...?!
Achei aqui.




Repeteco do White Trash, pra gente ir entrando em clima de fim-de-semana...



Black Peru Is Beautiful

Ivan Lessa

(Gente, eu sei, a idéia básica da rede é linkar, mas achei o Ivan Lessa de hoje tão bom, mas tão bom, que não resisti e... acabei transcrevendo tudo aqui para vocês lerem...)

Eu estou há quase um mês tentando entrar em contato com vários amigos e entidades brasileiras. Estão todos acometidos de feriadão. Isso começou com o tal de Raloím, que não tinha no meu tempo: a gente simplesmente ia na Biblioteca Thomas Jefferson, ali na Avenida Atlântica, e, na seção de não-ficção, dentro de um livro de John Steinbeck, deixava o nome dos amigos e amigas que, segundo nossa avaliação, poderiam ser membros do Partido Comunista ou simpatizantes. No fim do ano, vinha a passagem de ida e volta para Nova York pela Pan American - e taca cinema, teatro e compra de disco. Era um frila, como tantos outros, e, que eu saiba, nunca deu bolo, a não ser da vez em que um colega (Carlos da Motta Barcellos, Rua Sarmento Neves, 26, apt. 202, Laranjeiras) ''entregou'' (verbinho maroto), por despeito, os pais de uma namorada (Ana Lúcia Avellar, Rua Major Diego Barbosa, 127, casa b, Jardim Botânico) que o deixara por outro (Paulo ''Demônio Louro'' Winters, Rua Casimiro Duarte, 35, apt. 701, Urca). O sr. e a sra. Avellar desapareceram da face do Jardim Botânico como que por encanto. Era um Rio de Janeiro muito diferente. Um Rio de Janeiro muito mais gente.

Alguns de nós, com ginásio e científico, tinham acesso direto à Embaixada Americana, onde se entendiam diretamente com o cônsul encarregado desses troços. Esses, os de estudo superior, iam fazer curso de literatura comparada em universidades de fina estirpe, embora no Sul.

***
Não tinha, enfim, Raloím, essas abobrinhas. Nem na Biblioteca Thomas Jefferson nem na casa do cônsul. Era uma época mais urbana. Importava-se e exportava-se com discrição. Chamávamos de intercâmbio cultural e quem quisesse criticar que tomasse cuidado: o Comando de Caça aos Comunistas gozava de prestígio e boa verba, uma bobeada e - babau! - seu papai e sua mamãe podiam sumir do mapa do Distrito Federal como se tragados por disco voador.

***
O que eu quero dizer é o seguinte: parem de comemorar bobagem. Já tem dia do papai, da mamãe, do vovô, da secretária, da madame, de quem vocês quiserem. Vão e gastem seu rico dinheirinho e não chateiem com festa que inexiste. Não querem trabalhar, se mandem para Búzios, Angra, Guaracy, e deixem o país com um mínimo de dignidade, que, afinal, muito mais que isso já não tem mais.

***
Esta semana foi o Dia do Zumbi dos Palmares, cognominado o Espártaco Negro. Dizem-nos historiadores de real valor que Zumbi, aliás batizado como Francisco, nome bastante sem sal, conhecia português, latim e bota de soldado português no rabo, tendo por este último motivo imperado em Palmares e comandado a resistência contra as tropas lusas até que, em 20 de novembro de l695, foi denunciado por um antigo companheiro (freqüentador da Biblioteca Camões, também ali na antiga Avenida Atlântica?), localizado pelas legítimas (e não eram?) autoridades, preso e degolado diante de todo mundo, inclusive seus escravos. Claro, Zumbi tinha escravos. Nisso está a picardia toda do esquema. É o famoso Paradoxo de Zumbi, quase tão conhecido quanto o de Zeno, aquele da flecha. Não tocaremos na controvertida questão de Ganga Zumba, Herói ou Traidor?, conforme tese que defendemos em vários bares que hoje não existem mais.

***
Que fique claro: sou a favor de um Dia do Zumbi. Da mesma forma que os americanos têm o dia do Dr. Martin Luther King Jr. O fato deste usar gravata, e o nosso não, deve permanecer à margem de uma discussão esclarecida sobre os méritos da questão. O que tanto nós quanto americanos estamos dizendo é que Black is Beautiful, Bro e que, através de sua cultura, afro-americanos e afro-brasileiros contribuíram de forma notável para a culinária e as artes musicais do Novo Continente. DJs e gangsta rappers são hoje, tanto em terras do Tio Sam quanto do Negrinho do Pastoreio, verdadeiros ícones e motivos de orgulho para as nações ditas black.

***
Mas agora bateu quinta-feira e os americanos observaram o seu Thanksgiving Day, data familiar que só perde para o Natal, em matéria de -- serei brutalmente franco -- babaquice. Suas origens se perdem nas brumas do tempo, ou seja, foi lá por volta da segunda década do século 17 -- coincidentalmente o mesmo de Zumbi -- que os peregrinos ingleses deixaram Plymouth, na Inglaterra, procurando outras terras onde perseguir aqueles que não concordavam com suas chatices e crendices religiosas. Os peregrinos eram uma espécie de Talibã da época: intolerantes e mal vestidos paca. Mandaram bala, pedra e o que houvesse à mão em índio (hoje conhecidos como Nativos Americanos) e peru. Sentaram-se para comer, não lavaram antes as mãos, e agradeceram a Deus pelo que haviam matado, degolado e cozinhado mal paca.

Foi só em 1789, assustado com a Revolução Francesa, que George Washington proclamou que, daquele ano em diante, a primeira quinta-feira de novembro seria feriado dedicado a dar graças por tudo que não era ligado à monarquia francesa ou a índio bêbado.

Lincoln, em 1863, por ser muito alto, usar barba e chapéu ridículo, vingou-se de todo mundo - Guerra Civil inclusive - e disse que não era nada disso, que o negócio era a última quinta-feira de novembro e que todos deveriam ir às ruas e assustar o maior número de pessoas possível fazendo Bu! e dando com uma abóbora na cabeça delas.

***
Aí então, como os americanos não são muito inteligentes, confundiram tudo: nunca acertam com a quinta-feira certa, atravessam o país inteiro (agora, de avião tá difícil, né?) para ir chorar e cobrar psicologismos baratos dos pais, enquanto a criançada, com suas fantasias e modos sedutores, vai para as ruas atormentar pedófilos. O presidente da República, também seguindo uma tradição, perdoa de público no jardim da Casa Branca um -- peru. Quer dizer, peru lá, safa-se, o resto é como afegão: pau neles.

***
Bush aumentou para US$ 25 milhões o prêmio pela captura de Osama. Osama, que não é de perdoar sequer peru, cobriu a aposta: ofereceu 50 milhões pela cabeça de Bush. Pra mim esse jogo não acaba em 1 a 1.


(Não está o máximo?! Estou ou não perdoada pela transcrição?)



Guardem esses nomes!


Acabei de receber uma daquelas circulares que a gALLera tem mania de mandar para todos os endereços que conhece, e mais alguns. Normalmente não tenho a menor paciência com elas, que detono sem dó, piedade ou leitura. Mas, neste caso específico, acho que o spam se justifica. A tal ponto, que faço questão de reproduzi-lo aqui, para quem não viu:

Como você sabe, foi aprovado o projeto que retira a imunidade parlamentar de crimes comuns. A imunidade tem sido usada para proteção de atitudes escusas e criminosas dos parlamentares, que se acham acima da lei. Votos a favor: 412. Contra: 9. Abstenções: 4. Temos que repudiar esses treze sujeitos nas próximas eleições! São eles:

Alberico Filho (PMDB-MA)
Almir Sa (PPR-RR)
Bonifácio de Andrada (PSDB-MG)
De Velasco (PSL-SP)
Eurico Miranda (PPB-RJ)
João Magalhães (PMDB-MG)
José Gomes da Rocha (PMDB-GO)
José Militão (PTB-MG)
Jurandir Juarez (PMDB-AP)
Mauro Lopes (PMDB-MG)
Olavo Calheiros (PMDB-AL)
Reginaldo Germano (PFL-BA)
Wigberto Tartuce (PTB-DF)

Não só concordo com o que diz este spam, como, ainda por cima, acho que todos esses camaradas deveriam ser investigados, já e com o maior rigor, pela Polícia Federal, ou seja lá quem investigue isso. Votos contra a moralidade só são dados em causa (im)própria. CPI neles!



Direto de Los Angeles


Scarlett Freund, correspondente especial do internETC., manda uma dica ótima para quem está em Los Angeles ou planeja ir até lá:

O Getty Museum acaba de inaugurar uma exposição com a qual tive envolvimento pessoal por nove meses (do que, aliás, muito me orgulho): Devices of Wonder: From the World in a Box to Images on a Screen. Ela fica em cartaz até o dia 3 de fevereiro de 2002.

Trata-se de um show genial que explora vínculos (nem sempre cronológicos) entre as novas tecnologias -- cinema, computação, internet -- e inúmeros instrumentos óticos (e exóticos) do passado, como o astrolábio, o microscópio, o telescópio, a lanterna mágica, a camera obscura, o panorama, o peep-show, a caixa de perspectiva, o pantógrafo, o diorama, o vue-d'optique, o prisma, o espelho metamórfico, o estereóscopo, o zográscopo, o robô... A lista é interminável!

Eu queria, porém, chamar atenção especial para um implemento pouco conhecido: o Wundercabinett, pequeno armário+escrivaninha portátil do séc.17, com dezenas de compartimentos onde se podiam arquivar amostras de minerais, insetos, curiosidades, moedas antigas -- a idéia sendo que, mesmo viajando, o pesquisador teria às mãos todo o material necessário para continuar seus estudos e manter a correspondência em dia. Em suma: um proto-laptop!

A exibição mostra como o impulso enciclopédico, a pesquisa científica, a vontade de estruturar o saber e de criar links visuais -- enfim, o quadro epistemológico que temos do mundo -- têm sido mediados por instrumentos visuais desde o início da Idade Moderna.

Os diversos inventos, jogos, brinquedos, marionetes, aparelhos, engenhocas e artigos de home entertainment dos séculos 18 e 19 incluídos na exposição também mostram como as tecnologias de realce da percepção influenciaram a produção das artes, enquanto infiltravam a gestalt e os hábitos de lazer da classe média, transformando tanto a cultura popular quanto a da elite.

O melhor é que a exposição foi organizada não só para atrair o público erudito, habitual freqüentador de museus, mas também quem não tem este hábito, bem como adolescentes e crianças. Quer dizer: tem objetos para estimular o interesse de qualquer pessoa! Ela é dinâmica, e seus objetos interativos permitem vivenciar como nossos ancestrais (ou nós mesmos, há vinte ou trinta anos) percebíamos o mundo.

(Na foto, o interior da galeria, de onde se pode ver o Mirrored Room, de Lucas Samaras -- uma estrutura construída de espelhos, com porta para entrar e sair. Nos espelhos estão refletidas fotografias de Cindy Sherman, uma escultura andróide, e um marionette famoso de Antonio Diavolo.)

PS: Vocês lembram quando eu disse que a gente vive esbarrando em húngaros? Pois adivinhem de onde vêm os pais da Scarlett...!




Perguntei ao João Ubaldo se tinha visto a foto que mandou postada aqui no blog (ainda está por aí, é só dar uma roladinha), e vejam só o que ele respondeu... Agora me digam se este homem não é mesmo um antropólogo nato!

Eu vi, fiquei lisonjeado. Mas claro que, como eu disse ao Millôr ontem, na casa dos Carusos, a foto não foi na Bahia. E não é só pela ausência de negros, mas porque só pode ser de um povo cujos machos saem nus em companhia de fêmeas igualmente nuas, sem que se note nenhuma ereção, ou seja, o canadense, com quase toda a certeza. Beijos antropológicos do seu
J.U.


Lar,
doce lar

Como alguns de vocês talvez ainda se lembrem -- não falo no assunto há bem uns três dias! -- as obras aqui de casa renderam até arqueologia urbana: por trás de um armário embutido (muito mal resolvido, por sinal), havia uma parede de tijolos de vidro. Vejam só o que a gente estava perdendo! E, sobretudo, observem o espaço enorme que o tal armário tomava...

No mais, informo que estamos sobrevivendo como Deus é servido. Já se pode entrar no escritório; a sala, em tese, está pronta (faltam apenas pequenos detalhes); o meu quarto e o quarto da Bia também. Em termos de obra (leia-se: sujeira) ainda faltam detalhes do banheiro da Bia, o closet (que a Tutu está examinando na foto) e, depois que ele estiver pronto, a instalação dos aramados que encomendei.

Aí vai ser só mergulhar de cabeça na parte mais complicada, que é tirar a camada de poeira que, apesar de todos os cuidados, acabou cobrindo os livros, e repô-los em seus devidos lugares. E -- ai, ai, ai -- tirar as minhas máquinas e periféricos de dentro dos sacos de lixo em que foram fechados, avaliar as dimensões do estrago feito pelo pó (que é insidioso), limpar tudo com muito cuidado e refazer aquela bela macarronada de fios que tão graciosamente ornamenta as escrivaninhas.

Olha, gente, se há uma tecnologia que eu amo de paixão é o wireless, em qualquer sabor...!



Globlogueiros

Aos poucos, a turma lá do jornal começa a se empolgar com os blogs, e a lista de Globlogueiros (ei, Rossana, será que essa vale?) vai aumentando. Tudo começou com dois diagramadores cheios de espírito pioneiro, a Mariana Bernardes, sempre à cata de baladas, e o Samuel Andrade, vulgo Samuca, com seu Imprensa marrom -- que, estranhamente, é roxo. Não sei qual dos dois começou a blogar primeiro, mas se há uma informação fácil de conseguir é essa... (meninos, please, me dêem um help aqui: qual de vocês dois foi o primeiro Globlogueiro?).

Mais tarde, comecei este internETC. que deu um empurrãozinho para a Elis Monteiro fazer o seu Diário de uma interiorana cosmopolita -- e, ato contínuo, passamos a insistir com o Marcelinho (Balbio) e o André (Machado) para que fizessem os deles.

No ínterim, trabalhando bem quietinho lá no Globo On, o Sérgio Maggi reativou um antiqüíssimo blog que havia começado no Pleistoceno, dando-lhe um nome que desfaz, de vez, qualquer dúvida que se possa ter em relação a ele (Maggi). Aí, finalmente, o André decidiu pôr mãos à obra, veio, viu e venceu -- faz o Comentários e versos do cadafalso, um baita blog literário, o que não chega a me surpreender -- dentro de cada (bom!) jornalista de tecnologia mora um poeta oprimido pela bizarra língua do nosso dia-a-dia. Vide, aliás, a própria Elis... que, em plena Cruzada Pró-Blogs, acaba de converter mais um descrente, o Arnaldo Bloch. Tenho certeza de que ele, escritor da pesada, vai fazer um dos blogs mais interessantes do pedaço: começou ontem e já está pondo as garrinhas de fora, vejam .

Neste caso, porém, acabei tendo que interferir no trabalho, porque, com um dos melhores nomes pra blogueiro do mundo, ele foi e me chamou o blog de... Bloch Blog. Pode?! Não, não, não, de jeito nenhum!!! É claro que o blog do Arnaldo Bloch só pode se chamar Arnaldo Blog. Mais óbvio, nem ululando.

22.11.01





Confesso:
essa daí, ao lado do GG (Grande Guru) rms, vai só pra matar a galera do software livre de inveja...










Leituras

Publius: um ótimo projeto para publicação à prova de censura

JOHO: o blog do Dave Weinberger

Política Brasileira Online: um site da pesada feito por quem sabe das coisas -- ainda volto a falar nele, é importante!

Helena Rubinstein: as meninas todas vão me entender, o site é LIIIIINDO!

Zeitgeist: BBB (Bom Blog Brasileiro), pra ninguém botar defeito

Millôr: o máximo, ora essa...

21.11.01






Cartum capturado no blog do Cláudio e dedicado ao Jean Boëchat, pra ver se ele fica menos down...



Este blog, que é bobo e fica encabulado quando recebe elogios, vinha evitando falar no assunto -- mas tem sido tão consistentemente apontado entre os favoritos que a Jackie Miller pede à comunidade que escolha que se vê obrigado a sair da toca e agradecer, de coração, tanto à Jackie quanto aos seus (dele, blog) eleitores. PessoALL, sem brincadeira: vocês são uns amorecos. Muito obrigada! [blush]



A prova dos nove


OK, galera: se alguém ainda tem alguma dúvida de que o Tourist Guy de verdade é o húngaro Péter, recomendo um pulo ao site do Mario AV que, comparando as fotos pré e pós trucagem, não deixa pixel sobre pixel -- e, de quebra, dá uma aula sobre Photoshop daquelas.

Aliás, papelão maior do que o bestalhão brasileiro que teve os seus (imerecidos) 15 minutos de fama fez, mais uma vez, aquela parte da nossa imprensa que engole qualquer besteira sem checar os fatos.

20.11.01




EXTRA! EXTRA!


Acharam o homem!


Depois de mais de dois meses de intensas buscas, foi, finalmente, encontrado o homem mais procurado do planeta: o Tourist Guy! (O outro, o Bin Laden, não tem graça: a gente sabe quem ele é, e sabe até onde está: escondido numa toca no Afeganistão). As fotos, enviadas para o site Tourist Guy, não deixam margens a dúvidas. E, ao contrário do brasileiro que estava querendo faturar essa, o Tourist Guy de verdade não quer fama nem fazer propaganda da Volkswagen; na verdade, nem quer que o seu sobrenome seja divulgado. Ponto para ele. O rapaz se chama Peter e, como não podia deixar de ser, é húngaro...

(Explicando o como não podia deixar de ser...aí de cima aos não-húngaros e não-descendentes de húngaros: vocês não têm idéia de como tem húngaro espalhado no mundo! É uma coisa de doido. Qualquer coisa que acontece, em qualquer lugar do planeta, tem um húngaro metido no meio... A sensação que a gente tem é que vive esbarrando em húngaro, o que, aliás, não é de todo mau. Ter pai húngaro e dar meus pitacos no idioma já valeram um ótimo papo exclusivo com Andy Grove, da Intel; uma sobremesa de graça e um desconto legal no restaurante do Beverly Hills Hotel, em LA, onde o maitre era de Budapeste; e ótimas dicas de restaurantes e de lojas baratinhas em diversas partes do mundo.)




Está no excelente Schockwellenreiter:

"Because of the looseness of the Web's links, the covers are blown off of books. The reader can hyperlink around as she wants, so a book is no longer a stroll through a landscape being led by the hand by the author. Information is strung together much more casually. Narratives and tightly constructed essays are hard to accomplish on the Web. Our literature, educational system and epistemology all are going to change - because documents are no longer tightly bound containers."

Não é exatamente isso?! A íntegra do artigo, de David Weinberger, está aqui: The Hyperlinked Metaphysics of the Web.




Meu problema com Harry Potter


Confissão: eu adoro Harry Potter! Descobri a série quando o segundo volume saiu, e foi recebido com vivas e urros pela crítica inglesa que mencionava, en passant, a quantidade de exemplares vendidos do primeiro livro. Não era esta barbaridade que estamos vendo hoje, mas já era muita coisa. Fiquei curiosíssima, e mandei vir os dois (ainda em capa dura) da Amazon.com.

Comecei a ler -- e aí foi um problema, porque enquanto não acabei o "Sorcerer's Stone" e o "Chamber of Secrets", não quis saber de outra coisa. Eu ia trabalhar, andava pela Lagoa, saía com os amigos... mas a cabeça estava em casa, com o Harry Potter. Ainda por cima, os diabos dos livros eram grandes demais para carregar na bolsa. Me inscrevi para comprar antecipadamente o número três ("The Prisoner of Azkaban"), que a Amazon pontualmente me mandou assim que saiu e, no quarto, caí na besteira de me deixar seduzir pela Barnes and Noble, que roubou a lista de pré-encomendas da Amazon.com e me ofereceu 30% de desconto. A troca de livrarias foi uma péssima shopping experience e voltei correndo pros braços da Amazon.com, mas isso é outra história -- e um belo case de e-business.

Acho o segundo livro o mais fraco da série, e o quarto ("The Goblet of Fire"), o melhor, até agora. É um livro denso e envolvente, muito forte do ponto de vista emocional -- não pela morte de um dos meninos, mas pelas reflexões que desperta acerca da maldade intrínseca dos seres humanos. Fiquei tão abalada com a leitura que acabei chorando nos capítulos finais; e não riam, vocês aí que não leram o livro...!

Pequeno parênteses sobre o tema: provocar o choro de leitores e/ou espectadores não chega a ser marca de Grande Arte; na verdade, é uma manipulação de sentimentos bem mais simples do que provocar o riso. Vide "A Cor Púrpura", abominável filme do Spielberg, produzido com o específico propósito de fazer a platéia cair no berreiro; terminada a sessão, a gente assoa o nariz, vai para casa e nunca mais pensa no assunto. Barra pesada mesmo é "Kaos", dos irmãos Taviani, em que a gente se acaba no cinema, passa o jantar deprimida e dorme aos prantos, torcendo (em vão) para não se lembrar, no dia seguinte, do "Colóquio com a Mãe", o mais comovente dos cinco episódios do filme. Até hoje fico perturbada quando penso nesta obra-prima. Fecha parênteses.

De uns tempos para cá, no entanto, estou perdendo o encanto por Harry Potter. Não é culpa dos livros; afinal, o quinto volume ainda nem saiu, e os quatro que tenho aqui até já reli, com prazer. O problema é que, sinceramente, não agüento mais a blitzkrieg publicitária cada vez mais massacrante a que somos submetidos a pretexto do lançamento de qualquer "produto cultural"; a massa de quinquilharias inúteis e desnecessárias que Hollywood nos empurra goela abaixo na carona de qualquer fime de quinta é de dar engulhos. Para dizer o mínimo.

E é aí que a coisa pega. Harry Potter não é um produto de quinta. Os livros são de primeira; o filme pode ter seus problemas, mas certamente é uma produção bem cuidada que decolaria sozinha, levada pela simples curiosidade dos leitores. Será que precisava mesmo dessa corrupção malsã?

Mal comparando, é feito certas meninas tão bonitinhas e inteligentes que a gente vê por aí, e se admira: mas precisavam mesmo ser putas?

(A charge é uma cortesia involuntária da Slate.)





Outro achado muito legal da Nancy: uma página de bonequinhos de cortiça. Tão bonitinhos...!

19.11.01




Leituras


Tunku Varadarajan, do Wall Street Journal, descasca Christiane Amanpour, a Glória Maria da CNN.

William Safire, o conservador de plantão do New York Times, alerta, quem diria? para o poder ditatorial que, aos poucos, Bush & Cia. vão adquirindo, nas barbas da nação.

Na Technology Review, do MIT, uma sólida matéria de Claire Tristram reconhece que a metáfora da escrivaninha (desktop) está morta como interface, e tenta descobrir quais seriam as alternativas.



Tirando Deus da equação


Para quem ainda acha que na internet só tem bobagem (ainda existe gente assim?) dois pequenos trechos que traduzi de uma bela pensata de Alan Dershowitz, Por que ser uma boa pessoa?.

"Uma pessoa realmente de bem é aquela que faz a coisa certa sem qualquer promessa de prêmio ou ameça de castigo -- sem se prender a uma análise da relação custo-benefício. Fazer alguma coisa porque Deus disse para fazer não torna ninguém uma pessoa de bem; apenas nos informa que aquela pessoa é um crente prudente, semelhante à pessoa que obedece ao comando de um imperador poderoso. A disposição de Abrão de sacrificar seu filho Isaac porque Deus lhe disse para fazê-lo não faz de Abrão um homem de bem; apenas mostra que ele era um homem obediente. Pessoas demais abdicam da sua responsabilidade moral em nome de Deus."

"O bom caráter consiste em reconhecer o egoísmo que nos é inerente, e tentar equilibrá-lo com o altruísmo a que todos deveríamos aspirar. Este é um equilíbro difícil de alcançar, mas nenhuma definição de bondade pode ser considerada completa sem ele."

O original, em inglês, está aqui.

18.11.01




Galera, botei uns links novos no post sobre Ken Kesey, lá embaixo, no dia 14. Um deles leva ao obituário do NYT, o outro ao que Ken Babbs, melhor amigo de Kesey, escreveu. Dêem uma roladinha até lá...



Justiça é bom e a gente gosta

A Lu pede um help na divulgação de um abaixo assinado que corre na rede e que, a meu ver, merece o maior apoio de todos nós. Acontece que o biltre que assassinou a Daniella Perez (e que foi réu confesso) está lutando por um indulto, ou seja, pelo perdão da pena -- e, em conseguindo isso, será como se nada do que fez tivesse jamais acontecido. Entre outras vantagens, o indulto lhe permitirá, da próxima vez em que cismar de matar alguém, ser julgado como réu primário, com todas as regalias e indulgências reservadas pela lei a quem nunca fez nada de errado até o momento. Pelamordedeus!!! Pode, isso?!

Escreve a Lu: "Estamos encaminhando um abaixo-assinado eletrônico ao juiz Dr. Cássio de Souza Salomé que irá fazer o julgamento final do indulto. Se você é contra esse insulto, envie seu nome, RG e cidade para que possamos incluir no abaixo-assinado. Clique aqui."

Gente, esta é uma causa que merece a nossa mobilização. Vamos assinar e linkar este abaixo-assinado?




Too little, too late


Maureen Dowd, que é uma das melhores articulistas da página de Opinião do New York Times, escreve a respeito do discurso feito por Laura Bush denunciando o tratamento dado às mulheres pelo Taliban, e que tanto pano pras mangas deu à imprensa americana ("Oh! A primeira dama fez um discurso!"); Maureen se pergunta por que a família Bush, subitamente tão chocada com a tragédia das mulheres afegãs, não se manifesta também a respeito da total falta de liberdade das mulheres na Arábia Saudita, por exemplo, ou no Kuwait, onde não podem votar, não podem dirigir, precisam de autorização por escrito de um parente do sexo masculino para viajar ou para ir a um hospital, têm que usar bancos e escolas separados dos dos homens, e assim por diante. A resposta é óbvia: a Arábia Saudita e o Kuwait tem petróleo, e o Afeganistão não tem. E petróleo é, como se sabe, o segundo principal negócio de Bush & Cia.


A mim, o que mais irritou no discurso falso e oportunista de Laura Bush (que, feminismo ou não feminismo, devia voltar pro tanque, levando junto o marido) não foi a ausência de referências às mulheres dos demais países islâmicos, mas sim o ar de grande novidade que ela tentou dar ao assunto. É verdade que os americanos são um dos povos mais insulares do planeta; é verdade que eles não têm a menor idéia do que acontece além das suas fronteiras; mas também é verdade que praticamente todo mundo no país tem acesso à internet onde, há pelo menos três anos, rola incessantemente uma circular (de resto irritante, como toda a circular) denunciando os abusos do Taliban. Imaginar que o status sub-humano das mulheres afegãs é, atualmente, novidade para quem quer que seja, não é só ignorância. É uma ofensa.



O passado condena


Que Michael Jackson é um dos bípedes mais esquisitos a pisar o planeta todos nós sabemos; que não há mais nada em comum entre o Michael Jackson d'antanho e o de hoje, que tão bem combina com a Elizabeth Taylor, também sabemos. Mas constatar a mudança neste morph que a Nancy descobriu é simplesmente assustador. YIKES!



E, direto da Califórnia...


...escreve a Scarlett Freund, correspondente especial do internETC.:

Um fenômeno natural deslumbrante vai acontecer no hemisfério norte da América, na Austrália, e na Asia oriental: uma chuva de meteoros de calibre jamais visto! No auge desta "chuva" será possível ver até 70 meteoros por minuto... A melhor hora para assistir a este espetáculo de estrelas cadentes será entre 3h e 6h da madrugada do dia 18 (domingo) para os habitantes da Costa Leste dos EUA e Canadá, e entre 1h e 3h da manhã para os moradores da Costa Oeste. Há mais informações no site da NASA. O Los Angeles Times também tem boas dicas.

Este blog, atrasado como sempre, está dando a notícia em cima da hora, mas se você mora nos EUA, na Costa Leste, large esta máquina imediatamente, acorde todo mundo em casa e vá lá pra fora correndo. O resto da turma pode terminar a leitura com calma, admirar as fotos dos gatinhos e fazer um lanche, que dá e sobra...

(A foto é uma cortesia involuntária do site da NASA)



Alô, alô... desliga!

Existe coisa mais irritante do que gente que se esquece de desligar o celular no cinema? Existe sim: gente que atende o diabo do telefone e fica falando baixinho, chateando todo mundo até que alguma pessoa mais descontraída dê uns berros mandando o inconveniente desligar o aparelho. Todos nós já vivemos esta cena repetidas vezes. A única coisa que muda é o cenário: teatro, restaurante, sala de aula...

A verdade é que, se já não sabemos mais viver sem celulares, ainda não aprendemos inteiramente a conviver com eles. Na verdadeira Guerra dos Celulares em que se transformou a nossa vida cotidiana, a notícia mais esquisita vem da Romenia, onde, durante uma partida de futebol oficial, um zagueiro chamado Lulica Traznea deixou o estádio inteiro bestificado ao atender uma chamada em pleno campo. O jogo parou por dez minutos enquanto ele resolvia um problema de suma importância: estava vendendo uns carneiros da sua fazenda, e precisava discutir o preço com o comprador. Foi expulso, mas se sentiu profundamente injustiçado porque, a seu ver, a culpa era toda do time: "Se a gente ganhasse direito não precisava ficar fazendo bico...". (Taí uma desculpa que não cola com jogador brasileiro!)

Este bizarro acontecimento é relatado num site especialmente desenvolvido para promover a paz entre as partes, evitar que as pessoas se matem por causa de telefonemas e, de modo geral, "auto-regulamentar" a atividade antes que o governo o faça. Ele se chama, apropriadamente, Cell Manners.

16.11.01





Mon Oncle d'Amerique

Este é o parente americano da Família Gato: chama-se Elton John, e foi adotado pela Bia num abrigo para animais abandonados.
Ninguém sabe muito bem a idade dele, mas é bastante óbvio que o Elton já é um gato senior. Ele é amarelo, gentil e amoroso, gosta de dormir no travesseiro com o focinho colado na cara da gente e só pensa naquilo: comida.

(Foto Bia)

15.11.01




Dica de leitura

Pode-se dizer qualquer coisa dos blogs, menos que eles não estão dando o que falar... O mais novo artigo sobre o assunto foi escrito pelo Fabio Marchioro, para Underweb - A Internet Subterrânea. Chama-se Weblogs sociedade perfeita, e merece ser lido por qualquer blogueiro digno dos seus posts.



Filosofia de vida

Sempre que alguém deixa URL num dos Comentes aqui do blog, vou lá conferir. Às vezes encontro coisas muito interessantes. Hoje, por exemplo, descobri o site do Marcelo Guerra, um médico radicado em Friburgo que, depois de extensa formação "tradicional", digamos assim, resolveu seguir outros caminhos: estudou homeopatia e dedica-se hoje, também, à medicina oriental. Ele me pareceu muito sério, e o que escreve sobre a teoria da alimentação tibetana é fascinante. Leiam! Aqui vai um trechinho, não deste "capítulo", mas do que ele escreve antes sobre a sua formação:

"Em 1997 fui a Kathmandu, no Nepal, onde trabalhei voluntariamente no Himalayan Healing Centre, fundação assistencial mantida pelo Lama Gangchen Rimpoche. Nessa oportunidade, entrei em contato com diversos ramos da Medicina Oriental, como Medicina Ayurvedica, Medicina Tibetana, Yogaterapia ... e fiquei fascinado pelos métodos usados e resultados obtidos em muitos, milhões mesmo, de pacientes. Fiz diversos cursos lá e, desde então, estou destrinchando os detalhes nas dezenas de livros que comprei (não sou rico, os livros no Nepal e na Índia são baratos demais!), e tiro as dúvidas (que não são poucas) com os meus professores de lá."




(Foto Maria Beatriz)

Lembram da Sissi? Aqui está ela, de novo...



Arqueologia

Estava eu lendo (bondade; passeando) pelo Schockwellenreiter, excelente blog alemão -- que merece a visita, ainda que a gente não fale uma palavra do idioma, já que tem muitos posts em inglês e ótimos links -- quando, de repente, dei com esta notícia sensacional: foi encontrado um antigo blog romano, que uma alma caridosa e cultivada já traduziu do latim (tendo, é lógico, o cuidado de fazer uma postagem bilíngue latim/inglês, para que se possa melhor apreciar tanto a raridade encontrada quanto o capricho da tradução). Muito legal!



Information Overload


Mais uma empresa jornalística tenta resolver a sua presença on-line pondo à disposição do leitor os seus vastos arquivos. Desta vez é a revista Time, que tem uma respeitabilíssima base de dados com a íntegra de todos os artigos publicos desde 1985. Segundo os editores, são mais de 30 mil arquivos, aos quais se somam todas as capas da revista ao longo desses 16 anos (escolhi essa aí, de 5 de janeiro de 1987, a respeito de um tema cada vez mais atual; gostaram?)

Seguindo um modelo que, aos poucos, transforma-se em padrão da indústria, a Time oferece diversas modalidades de pagamento, de US$ 2,50 por artigo a US$ 49,50 por ano. Assinantes da edição analógica, em papel, têm desconto especial e pagam apenas US$ 29,50. Mas ninguém precisa embarcar na aventura de olhos fechados: a revista oferece trinta dias de teste gratuito, ainda que usando o irritante sistema de pedir o número do seu cartão de crédito. Em tese, o usuário faz uma assinatura anual; antes dos trinta dias do teste, deve entrar em contato com a empresa para cancelar a transação. Caso contrário, a quantia será automaticamente debitada.

Eu simplesmente ODEIO isso!!! É o mesmo esquema dos sites pornô, e a mesma esperança: que os internautas gostem do conteúdo e/ou simplesmente se esqueçam da coisa. A vantagem disso para a Time é, imagino, que ainda que a gente se lembre do trato e diga Ciao, baby, todas essas pseudo-transações podem ser apresentadas como assinaturas nas suas campanhas de marketing.



¡ Ay, que nerbios!

Saindo do médico hoje à tarde, ali na Rua do Catete, passei na drogaria ao lado. Fiquei lá menos de cinco minutos, o tempo de pedir o remédio, recebê-lo, e escolher um shampoo a caminho do caixa. Pois bem, nesse curtíssimo espaço de tempo, uma meia dúzia de pessoas entrou na drogaria, e três (juro: uns 50% da clientela!) queriam Lexotan. Nem o balconista ofereceu, nem qualquer dos clientes pediu, o Bromazepan genérico.

Há uma moral nessa história, mas ela me escapa. E acho que ao governo também.



Um e-mail do João Ubaldo

Prezados amigos,

Estou precisando de adesões à minha causa.

Esse Carnaval baiano já está passando dos limites, na minha opinião. Cartas para o editor chefe de "A Tarde", em Salvador. Abraços e beijos de

João Ubaldo

14.11.01




Brazil nas paradas

Sarah Kerr, crítica de cinema da Vogue e de arte da Slate, adorou a exposição brasileira no Guggenheim -- mas detestou a falta de informações que não permite a quem trava contato com a arte ter uma idéia do país que a produziu. Ela destaca particularmente o trabalho de Tarsila, que compara a Frida Kahlo e Georgia O'Keefe como pioneira do modernismo, e do Aleijadinho -- que vira, para Kerr, um pobre-coitado do século XVIII conhecido como... "The Little Cripple". Soa esquisitíssimo pra nós, mas está certo: a moça fez o dever de casa, e transmite, aos seus leitores, uma vontade enorme de correr até o museu para ver as maravilhas produzidas naquele país exótico ao Sul do equador.



Barlow & Kesey


Novo mail de John Perry Barlow na caixa postal: a homenagem mais bonita e mais sincera que li até agora sobre a morte de Ken Kesey -- que, quando muito, as pessoas ligam a seu livro mais famoso, "One Flew Over the Cuckoo's Nest". Acontece que Kesey foi bem mais do que autor de um livro de sucesso: Kesey foi uma viagem, intensamente vivida entre sexo, drogas e rock'n roll -- na época em que essas coisas ainda eram divertidas, em que ninguém usava camisinha, LSD era legal (em todos os sentidos) e rock era tocado por bandas como o Grateful Dead.

Um trecho do texto memorável do Barlow, para os anglo-parlantes, o situa perfeitamente: mesmo quem nunca ouviu falar nele ouviu falar nele, e a partir daqui vai ligar o nome à pessoa: "Ah, quer dizer que era ele?!":

But scarcely had he finished it ["Sometimes a Great Notion", a novel] when he took his Merry Pranksters, a fine platoon of loons - out on the most culturally influential road trip since Kerouac's. (The events of the next two years are chronicled in Tom Wolf's jabbering account, "The Electric Kool-Aid Acid Test.") Along the way, they commandeered venues and invited anyone who felt like it to come and drink their fill from bathtubs full of LSD-laced Kool-Aid. In the process, they were hugely responsible for turning the 60's into the 60's.

A íntegra está aqui.




A Comdex deve estar verde...

Neste momento, como jornalista de informática de longo curso, eu devia estar em Las Vegas, na Comdex, certo? E por que não estou? Boa pergunta! Não tenho medo de avião, adoro viajar e, apesar de sempre reclamar muito quando estou lá, adoro a Comdex também -- que, mais do que grande encontro da tribo, é um dos dois momentos cruciais para se tomar o pulso da indústria como um todo (o outro é a PC Expo, em Nova York, geralmente realizada em julho). Então, por que não estou lá? Hmm... bem, porque... hmm... ora, porque este ano acabou se enrolando de tal maneira, sobretudo depois do 911, que, por incrível que pareça, eu me esqueci completamente de dar partida ao processo de viagem/inscrição/essas coisas em tempo hábil!

Pode?! Não, não pode. Eu definitivamente estou precisando de uma placa de expansão de memória.

O único consolo é que, pelo que tenho lido, a Comdex deste ano não está lá aquelas maravilhas. Dos 200 mil visitantes esperados, se 150 mil forem, os organizadores já se dão por satisfeitos; ao mesmo tempo, vários expositores cancelaram presença. Querem saber de uma coisa? Esta feira deve estar verde, mesmo...

Uma amiga muito, muito querida (e, lógico, bem menos distraída do que eu!) está lá, e me confirmou esta impressão. Reproduzo o e-mail que ela mandou tal como veio; os dois SS em lugar das cedilhas são quase que tradição no meio quando temos que usar máquinas sem talento para idiomas:

"Estou aqui em Las Vegas em uma feira pra la de caida em relaSSao aa do ano passado.
Mas ca estou. E com minha digital Kodak de cama, pois ela me traiu e quebrou em agosto. Pode?
Acho que temos mais dois coleguinhas aqui na cidade da entediante jogatina, mas nao consegui localiza-los.
Andaram divulgando por ai que a seguranSSa da feira foi reforSSada.
Foi. De fato. Vc passa por um detetor. E so. Pois nao eh que uma velhinha bonitinha de olhos azuis esfuziantes olhou minha bolsa, cheia de ziperes, e teve o desplante de me perguntar se havia muitos ziperes?! Nao respondi e ela mal olhou um por um.
Na palestra de Bill Gates, que inspirava sono, a seguranSSa foi mais reforSSada, mas vi uma loiraSSa passando batido com sua bolsinha sem ninguem abri-la.
Aqui, na volta da feira, entrei na sala de imprensa e poderia ter trazido todo tipo de material para explodir este troSSo.
Ninguem revistou nada....
Beijinhos, e mande noticias."


Este "mande notícias" vindo justamente de onde as notícias deveriam estar vindo me lembrou, aliás, uma história ótima que contam como verdade verdadeira sobre o Jeff Thomas, colunista que brilhou na imprensa carioca lá pelos anos 50/60. Um dia, um editor sem juízo resolveu mandá-lo como correspondente para Moscou. Pois lá foi ele, e estava tudo indo às mil maravilhas até que, uma semana depois, saindo do hotel de manhã, ele viu a cidade em polvorosa, o povo nas ruas, paradas militares e, espalhados por toda a parte, cartazes gigantescos, com um rosto que ele nunca tinha visto na vida. Desesperado, voltou para o hotel e disparou um telegrama para a redação:

"Pelo amor de Deus, alguém por favor me diga o que está acontecendo aqui!!!"

Era o Gagarin, que tinha voltado da sua missão histórica. Quanto à missão histórica do Jeff, foi abortada ali mesmo, no ato.

Adendo em 15.11.01: Agradeço ao Sr. Arsênio, que corrigiu um erro grave desta nota: eu havia confundido o Jeff Thomas com o Jacintho de Thormes.

13.11.01




Desmoralizar o governo? Uai, e precisa?


Acabo de ver o ministro Paulo Renato, aquela elegante sumidade, dizendo na TV que os professores em greve têm um único objetivo: desmoralizar o governo. Parece que a síndrome de FhC ("Eu! Eu! Eu!") lhe subiu à cabeça. Eu não sou professora, graças a Deus, mas tenho uma irmã e diversos amigos que são. Um professor universitário trabalhando em horário integral -- impossibilitado, portanto, de ter outro emprego -- não chega a ganhar dois mil reais por mês. Com isso, quer o ministro (cuja bela indumentária deve ter custado até mais) que o professor sustente família, se vista e se alimente, pague aluguel e condomínio, condução e colégio de filho, para não falar em extravagâncias como remédio em caso de doença, revista e livro em caso de atualização, cinema e chopinho em caso de relax.

E, sobretudo, que fique quieto e que não reclame, porque o governo não suporta concorrência: ele consegue se desmoralizar sozinho muito bem, obrigado.

12.11.01





Lar, doce lar


Agora já está começando a ficar com cara de casa, não está? Mas não se deixem iludir: este é o único ângulo mais ou menos fotografável por enquanto.

Por outro lado, fizemos uma sensacional descoberta de arqueologia urbana hoje à tarde, quando o pessoal estava tirando os velhos armários embutidos do closet: uma das paredes, que dá para uma área de ventilação interna, é feita de tijolos de vidro de alto a baixo! E é linda!!!

Eu nunca soube que ela estava lá. Fico pensando no que deu na cabeça dos antigos moradores para fecharem uma parede dessas. Quando estiver tudo arrumado (quer dizer, lá pelo ano que vem) vou postar uma foto para vocês verem se é ou não é um luxo.



Tá. Às vezes uma coincidência é só isso, uma coincidência, assim como às vezes um charuto é só um charuto. Mas olha, se isso é só uma coincidência, é a Maior Puta Coincidência da história da aviação comercial em todos os tempos; e no futuro, quando formos velhinhos bem velhinhos, ainda vamos estar discutindo o assunto ferozmente...



O homem certo no lugar certo


Estou assistindo à CNN, onde o prefeito Giuliani dá o seu habitual show de gerenciamento de crise. O homem é inacreditavelmente bom nisso: não responde ao que não sabe, não tem nenhum problema em dizer que não sabe o que não sabe, não usa metáforas nem meias-palavras, usa sempre o tom de voz correto. Em suma: passa a firmeza que as pessoas esperam de um homem público num momento desses. Tenho sérias dúvidas se Michael Bloomberg, um bilionáriozinho mimado, vai conseguir dar conta deste tipo de recado. Se tiver um pingo de juízo, vai manter o Giuliani num super-cargo qualquer, tipo Gerente de Catástrofe, e interferir o mínimo possível nos trabalhos.



Here we go again...

Bom, mandei um e-mail pro Leo Dillon, do Snorland, pra saber o que diabos está acontecendo com o SnorComments, e acabo de receber a resposta dele:

"There were some brief problems with server disk space, and some SnorComments posts may not have been saved. Sorry about this, but the problem has now hopefully been resolved. If you continue to have any problems, please alert me of them. Leo."

Em suma: o mesmíssimo problema que abateu o Reblogger!

Gente, alguém sabe de algum sistema de Comments que de fato funcione? Hernani, Mario AV, Nancy, Edu2... HELP!!!




Almas em technicolor


Pronto, era só o que faltava! Depois da astrologia e da numerologia, que pretendem decifrar o ser humano nos mínimos detalhes através dos astros e dos números, respectivamente, a onda agora é tentar decifrar quem somos, como nos sentimos e o que o destino nos reserva através das cores de que gostamos ou, inversamente, detestamos.

A nova "ciência" chama-se Colorgenics e, ao que eu saiba, ainda não foi batizada em português. Seus praticantes alegam que, desde que nasce, o ser humano é cercado pelas cores e pelo significado simbólico que a sociedade lhes atribui. A partir daí, traçando um paralelo entre cores e sentimentos, seria possível mapear a alma humana.

Fico me perguntando como isso pode funcionar se o valor simbólico das cores varia tanto entre as diferentes sociedades.O luto, tradicionalmente preto para nós, é branco para os orientais; para os americanos, fitas amarelas significam saudade; para nós, não passam de um costume exótico baseado numa cor de gosto questionável.

Em compensação nós temos certas associações de cores que despertam paixões fundamentalistas que ninguém mais no mundo consegue entender: rubro-negro, verde-rosa, por aí vai...

Mas, pelo menos como brincadeira, a coisa vale. Naturalmente já há um teste bem engraçadinho online, através do qual podem-se descobrir várias características pessoais através das cores escolhidas. Ele está aqui e pode funcionar como uma boa distração para o noticiário novamente tensio da BBC e da CNN. Enjoy!



Nem tudo em família

Os ânimos andam exaltados no mundo da TI. A tentativa de acordo da Microsoft com o DoJ ainda estava dando panos pras mangas (e continuará dando, agora que a primeira audiência com os nove estados dissidentes foi oficialmente marcada para março) quando o caso HP+ Compaq, que tantas críticas recebeu na época do anúncio da fusão, voltou às folhas com carga total.

Acontece que, na terça-feira, às dez da manhã, Walter Hewlett deu um rápido telefonema para Carly Fiorina, CEO da HP, dizendo que ele e sua família se manifestariam publicamente contrários ao casamento com a Compaq. Meia hora depois, ele distribuiu um press release urbi et orbi, deixando à cúpula da HP a tarefa de correr atrás do prejuízo.

No meio da tarde, David PackardJr. distribuiu um outro comunicado, em que manifestava seu descontentamento com a fusão e o seu total apoio a Walter Hewlett.

Walter e David Jr. são filhos de Bill Hewlett e Dave Packard, os fundadores da HP. Normalmente figuras discretas, pouco dadas a demonstrações públicas, os dois jogaram água na fervura de um takeover de US$ 20 bilhões — que, em sendo levado a termo, seria a maior fusão jamais vista na história da tecnologia de informação.

Segundo o Wall Street Journal, um dos grandes erros estratégicos da atual administração da HP foi não avaliar corretamente o peso das famílias Hewlett e Packard no negócio e, principalmente, não tentar convencê-las com suficiente eloqüência do acerto da compra da Compaq.

Eu, pessoalmente, acho que isso não foi um erro estratégico; foi uma tremenda grosseria, mesmo. Erro estratégico foi propor esta fusão, em que ambas as companhias saem perdendo.

Walter Hewlett, desenvolvedor de software de 57 anos que ensina música em Stanford, escreve programas de conversão de formatos musicais e tem o excelente hábito de fazer imensas doações financeiras para universidades.

Já David Packard, que tem 61 anos, foi professor de grego clássico na UCLA e, tomado de amores pelo cinema mais antigo de Palo Alto, o Stanford, restaurou-o caprichosamente. Detalhe: o Stanford só passa filmes antigos e, em fins de semana, a fila para entrar dá voltas no quarteirão.

Obviamente Bill Hewlett e Dave Packard souberam educar muito bem os filhos, que se tornaram pessoas interessantes e estimadas. A tal ponto que, quando ambos anunciaram estar contra a fusão com a Compaq, as ações da HP subiram 17%. Este, aliás, deve ser uma espécie de número mágico nessa história: as famílias Hewlett e Packard, mais as fundações a elas ligadas, detém exatos 17% das ações da empresa. Para a maioria dos analistas do mercado, com as duas famílias manifestando seu desagrado, a fusão já era.

Na Compaq, tudo como dantes. As ações nem subiram nem desceram. Seus oito diretores assinaram juntos uma declaração de que continuam dando apoio integral à proposta de fusão; a atual administração da HP fez a mesma coisa, mas digamos que, neste momento, Carly Fiorina não está no emprego mais seguro do mundo ocidental.

(O Globo, 12.11.01)



Pode um filme com Marlon Brando, Robert de Niro e Edward Norton ser péssimo, abominável, abaixo de qualquer crítica?! Acreditem: PODE! Millôr e eu fomos assistir a "Cartada Final" (que, ainda por cima, é dirigido por Frank Oz, diretor do incrível, fantástico, extraordinário "A Pequena Loja de Horrores", de 1986), e até agora não nos recuperamos da chocante experiência: muito talento e muito dinheiro jogados fora, bestamente.



Teste: você é viciado em blogs?


Estava demorando: um teste para que a gente descubra se é ou não é viciado em blogs. Ele fica aqui, e é a última mania na internet: de acordo com o Blogdex, máquina do MIT que cataloga sites pela freqüência de links, o teste está em primeiríssimo lugar na preferência da turma.

Tudo bem, mas... será que, depois disso, alguém ainda precisa fazer o teste?!

Eu, que não resisto a essas bobagens, fui lá. Resultado: 52 pontos.

You are a dedicated weblogger. You post frequently because you enjoy weblogging a lot, yet you still manage to have a social life. You're the best kind of weblogger. Way to go!

Taí, gostei disso!



Outro teste: sou 33% geek, e você?



Como todo mundo, eu também fiz o outro teste da hora, aquele que indica o grau de "geekice" do ser que acaba de responder às suas 30 perguntas. Discordo do resultado; sinceramente, não me acho tão geek assim! Mas não é agora que a gente vai começar a levar essas coisas a sério, né?

Enfim, aqui está o meu resultado:

I probably work in computers, or a history department at a college. I never really fit in with the "normal" crowd. But I have friends, and this is a good thing.

Sim, eu trabalho com computadores; mas não, eu não trabalho no departamento de História de uma universidade. Sim, eu realmente não consigo me entrosar bem com gente "normal" (até porque não sei o que seja isso). Sim, eu tenho amigos. E sim, isso é muito, muito bom.



E mais um teste: seu vocabulário vai bem?


Este está no InterNey: teste o seu vocabulário. São 30 perguntas -- algumas até difíceis -- através das quais a gente checa como anda a nossa intimidade com a última flor do Lácio.

Fui lá também, é claro... Resultado: 28 ponto(s) = excelente vocabulário

Eu ia ficar mais contente ainda se na descrição das minhas virtudes vocabulares não houvesse dois erros de lascar. Mas a teste dado não se olham as mancadas...

11.11.01








Os meninos da casa,
Paulinho e Joseph,
durante o Halloween,
em Austin, no Texas:
o Joseph, reparem só,
está vestido de...
E R V I L H A ! ! !


8-)~ <= vó coruja, babando...










Atenção: Dêem uma rolada aí pra baixo até um post intitulado "Péssimo jornalismo"; acrescentei a ele uma interessantíssima tese da Cris Camargo sobre o Tourist Guy brasileiro.



Aviões em família


Até hoje não entendi porque o Cat não tem um blog; ele faz os websites mais malucos do ciberespaço, e não se anima a brincar com o Blogger...! Bom, na falta deste que seria indiscutivelmente um blog campeão, pesquei uma nota que o moço escreveu para as Parabólicas da GloboNews.com:

"Segundo um artigo de Francesco Piccioni, publicado no jornal italiano Il Manifesto em 25 de setembro de 2001, o número de coincidências ligando a família Bush à família bin Laden é um pouco maior do que o normal. Em 1968, Muhammad bin Laden, o pai de Osama, morreu quando seu avião sobrevoava os poços de petróleo de George Bush pai, com quem tinha negócios. Surpreso? Mas tem mais. Esta morte não abalou a relação, tanto que Salem bin Laden, o mais velho dos 52 filhos do falecido Muhammad, chegou a dar uma mãozinha para George W. Bush, o filho, quando os empreendimentos petrolíferos do rapaz andavam mal das pernas. Mas parece que a família bin Laden andava precisando se benzer pois, em 1988, Salem, o irmão mais velho de Osama, também morreu na queda duma outra aeronave, quando sobrevoava a mesma região do Texas. Em suma, acidentes à parte, vê-se que as duas famílias já estavam ligadas desde os tempos do avô do atual presidente dos Estados Unidos, Prescott Bush. E agora, em setembro passado, mais encrenca com aviões. Que uruca! Para quem não lê em italiano e quer conhecer maiores e sórdidos detalhes dessa história que ainda vai dar muito pano pra manga, Frei Betto preparou uma versão abrandada do texto para nosso idioma. Abrandada porque ele não é bobo e preferiu não pôr o dedo em detalhes, como direi?, delicados. Bem, tudo fica mais claro quando se compara os textos."



Land of the free


Preparem-se para voltar a ouvir falar nas famigeradas eleições da Flórida: a AP deve soltar hoje, logo mais, os resultados das pesquisas realizadas pelo National Opinion Research Center (NORC), respeitadíssimo instituto de pesquisas, por encomenda de um consórcio de publicações: The New York Times, The Wall Street Journal, Washington Post Co., Tribune Publishing, CNN, Associated Press, St. Petersburg Times e The Palm Beach Post.

O número de publicações não fica só nisso, porque o New York Times é dono do Boston Globe, do Sarasota Herald-Tribune, e do Lakeland Ledger. O grupo que publica o Washington Post também é proprietário da revista Newsweek; e a Tribune Publishing, de Chicago, tem não apenas o Chicago Tribune como o Los Angeles Times, o Orlando Sentinel, e o South Florida Sun-Sentinel.

Segundo o NORC, a proposta do estudo não é definir, de uma vez por todas, quem ganhou ou perdeu na Flórida (coisa que, de resto, ninguém fora dos Estados Unidos precisa de pesquisa alguma para saber), mas sim testar a eficácia dos diversos mecanismos de votação utilizados no estado. Então, tá.

Esses resultados científicos e desinteressados ficaram prontos em meados de setembro; mas aí, segundo os jornais que os encomendaram, não havia clima para divulgá-los. A título de curiosidade, das três outras pesquisas semelhantes realizadas até agora, duas deram inquestionável vitória a Al Gore; a terceira, que bem podia ter sido feita pelo PSDB, chegou a conclusão de que, contando de um jeito, Gore ganhava; de outro, ganhava Bush.

Isso é que é democracia: você não só escolhe o presidente como, ainda por cima, escolhe o jeitinho de contar os votos...

De qualquer forma, a essa altura, Inês é morta. A Bush, Inc. está mais firme do que nunca no poder, fazendo a felicidade de todos os seus aliados: fabricantes de armas e de cigarros, empresas petrolíferas e monopólios de todos os tipos. E tudo isso, maravilha das maravilhas! com tal controle sobre os direitos civis que faria corar de inveja qualquer ditadura militar cucaracha dos anos 70.

God, bless America -- e, sobrando um tempinho, o resto do mundo também, will You?




Leituras do dia:


O Livro Das Fotos

Lanceiro Livre

Alfarrábio

Morfina

electrondk

Piores Blogs®




10.11.01




Câmbio


Nossa, que semana! Daqui a alguns minutos me desconecto aqui da máquina do jornal e, finalmente, vou pra casa. Mal pude postar o que queria, e estou com inúmeros links e assuntos para comentar; o dia, porém, continua com 24 horas. Logo no começo da lista está a questão da obrigatoriedade do diploma para jornalistas. Aviso: sou contra. Nunca me formei em nada, mas não é porisso não (jamais tive qualquer dificuldade em exercer a profissão, diploma ou não diploma). Mais tarde, quando eu estiver acordada, explico os meus motivos. Inté!

9.11.01




Boa pergunta...


Contemplando umas caveiras maravilhosas, o Daniel Sansão se pergunta por que não sabe fazer aquilo. Bom, eu já nem sonho tão alto: por mim, se soubesse fazer um gif animado feito a gatinha daí de baixo já estava me sentindo plenamente realizada...







BLOG'IN RIO


Este blog tem o prazer de comunicar que está, novamente, sendo transmitido do Rio de Janeiro. A viagem a São Paulo -- bom, desta vez foi mesmo uma viagem, até despachamos bagagem na Ponte Aérea! -- foi ótima, cheia de bons momentos mas, sendo el hombre un animal de costumbres, não há mesmo lugar como o lar, doce lar -- ainda que o dito lar esteja, temporariamente, de pernas (vá lá, patas) viradas pro ar.

A Família Gato, que já fez todas as gracinhas do repertório, está, neste momento, espalhada pelo escritório, aliviada ao constatar que o seu bípede não perdeu o hábito das rotinas: estou sentada na minha poltrona favorita, usando o bom e velho Thinkpad -- de onde saem, às vezes, uns barulhos estranhos que muito me divertem. Há caixotes, livros espalhados, estantes no chão. Do alto desta bagunça, embrulhadas em plástico preto, as duas máquinas "de verdade", poderosas mas ainda desconectadas, me contemplam.

No som, The Little Shop of Horrors.

Ah lar, doce lar!

8.11.01




Péssimo jornalismo

Tom Taborda rides again e me manda um e-mail que vai direto ao ponto desta história toda em relação ao Tourist Guy:

"Como é primária a cobertura da imprensa brasileira! Ninguém mais sabe investigar, desconfiar do que é afirmado? 'Descobriram' que o Tourist Guy é brasileiro. Li as matérias publicadas, vi a entrevista na TV. Ficam os repórteres naquela de "e como está sua vida depois dessa história?". Com o tal sujeito, todo prosa, dizendo que já foi até convidado para uma campanha publicitária. E nada dos bastidores da criação da foto que deu origem a tudo, o original, a colagem. Numa das matérias, ele se esquiva "foi um amigo, que não sei quem é, mas desconfio, que fez a colagem, usando meu rosto. Nunca subi ao terraço do WTC". Como o cara se parece com o da foto, esta é a única "prova" que basta para a nossa imprensa.

O webmaster do Touristguy.com, sem ser jornalista, mas com muito mais critério e lógica, apenas pede "The proof that I would like would be the original unedited photo of him on the Word Trade Center tower and/or a picture with the same outfit depicted in the original photo". Que ninguém aqui foi capaz de obter. Em outras matérias, outras histórias, a mesma falta de critério, de não desconfiar da notícia, é seguida no que é publicado. Vivemos imersos em factóides."


Como de hábito, o Tom mandou extremamente bem (por falar nisso: ô, Tom, quando é que você começa o teu blog?!). Eu também ainda não encontrei nessa história um único indício que me convença, de fato, de que o Tourist Guy é este cara que diz ser o Tourist Guy. Pode até ser que ele esteja agindo de boa fé, e acredite piamente que é o Tourist Guy; em Las Vegas, por exemplo, a gente encontra um Elvis em cada esquina, todos iguaizinhos ao original, muitos até convencidos de são o Elvis; mas nem por isso a imprensa precisa cair no conto com tanta credulidade.

Adendo em 11.11.01 (há, data binária!):
A Cris levanta uma hipótese altamente plausível para a súbita notoriedade do Tourist Guy brasileiro, vejam só:

"Visto que as matérias enfatizam que o suposto Tourist Guy já foi contratado para fazer uma campanha publicitária, divulgando inclusive o nome da agência criadora, eu vejo grande possibilidade desta descoberta de que "o Tourist Guy é nos-so, a-ha u-hu" ser nada mais do que um blefe publicitário. (Vocês não imaginam do que "a minha raça" é capaz pra lançar uma campanha com estardalhaço, zênti! Isso é parte do business.) Me parece que tudo isso não passa de uma matéria paga para chamar a atenção para a campanha que será lançada. É uma possibilidade, apenas uma teoria... quando o assunto é lançamento de campanha, pode-se esperar tudo. Não sei como será essa campanha nem o conceito dela, mas tô esperando pra ver. Essa campanha publicitária é sempre parte da notícia, junto com a revelação da "identidade secreta" do moço: "Tourist Guy é brasileiro, e vai estrelar uma campanha da Almap BBDO..."

Hummmmm..... muito estranho....

Acho, sim, MUITO estranho que a imprensa dê tanta corda para o cara sem que ele apresente a foto original como prova. Pô, sósias do cara devem existir por aí às PENCAS. Tasca um gorrinho e um óculos e tá feito."

7.11.01




Life on the fast (p)lane

O Concorde, como vocês devem ter visto nas paradas, volta a voar hoje com passageiros. Adorei a notícia; eu tinha ficado tristíssima quando houve a idéia de tirarem aquele lindo avião do ar. Não que isso vá modificar a minha vida em nada. Mas uma das minhas lembranças bizarras de viagem é ter tido a chance de, um dia, voar num deles. Mais tarde conto como isso aconteceu, mas adianto que é lógico, óbvio e evidente que não foi chegando num balcão da Air France e comprando uma passagem... <$igh>

Fiquei tão maravilhada com a minha sorte que nem me importei de pagar mico, fotografando a aventura nos mínimos detalhes. O meu álbum desta viagem está aqui; para entrar, usem a senha Concorde.



Censura made in U$A

Escreve a Scarlett Freund, correspondente especial (chique este blog, hein?) do internETC. em Los Angeles:

"O Pentágono gastou milhões de dólares para impedir a mídia de ver imagens nítidas, capturadas via satélites comerciais, que mostram os efeitos dos bombardeios na população afegã. Ao invés de invocar seu poder jurídico (que teria precipitado protestos públicos e processos por parte da mídia), o Pentágono simplesmente comprou os direitos exclusivos de todas as imagens da Afghanistan Off Space Imaging, a companhia que gerencia os satélites! O acordo foi feito retrospectivamente, para incluir as imagens do início da campanha de bombardeios. É por isso que as cenas de guerra nas televisões americanas aparecem quase que sem vítimas."

Obviamente, não foi na imprensa americana que ela descobriu isso, mas sim no Guardian, inglês.







Cecília

Hoje é o centenário de Cecília Meireles. Zanzando por aí, li, na Zel, uma idéia linda que a Maria Elisa teve: que cada blogueiro poste, hoje, um dos seus poemas. No Flabbergasted há, naturalmente, uma verdadeira Edição Especial Cecília, com poemas, links e fotos.

Lá encontrei este texto escrito pelo meu pai:

"Considero o lirismo de Cecília Meireles o mais elevado da moderna poesia de língua portuguesa. Nenhum outro poeta iguala o seu desprendimento, a sua fluidez, o seu poder transfigurador, a sua simplicidade e seu preciosismo, porque Cecília, só ela, se acerca da nossa poesia primitiva e do nosso lirismo espontâneo... A poesia de Cecília Meireles é uma das mais puras, belas e cálidas manifestações da literatura contemporânea." (Paulo Rónai)

E agora, aqui, na madrugada de um hotel em São Paulo, longe dos meus livros mas sempre conectada, penso como é vasta e maravilhosa esta rede em que de repente acho -- e republico -- um trecho que meu pai escreveu, provavelmente antes mesmo do meu nascimento. A enorme saudade despertada pelo encontro inesperado é, ao mesmo tempo, apaziguada pela viagem no tempo, pelos links que sigo e pelos poemas que leio.

Papai e Cecília Meireles traduziram juntos um dos meus livros favoritos, "Cartas a um jovem poeta e A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristóvão Rilke". A amizade entre ambos não se restringia à literatura; papai e mamãe eram tão amigos de Cecília que, quando nasci, ela foi minha madrinha. Não tenho recordações muito nítidas dela, que morreu quando eu tinha 11 anos, mas me lembro claramente da sua beleza -- ou, melhor dizendo, da sua presença, daquilo que quase se poderia descrever como carisma, se não fosse um elemento mais sutil -- e, curiosamente, da sua voz, uma impressão que com certeza se fixou mais tarde, talvez de tanto ler e amar a sua poesia.

Numa daquelas voltas que o mundo dá, hoje o meu agente literário -- que eu não conhecia até o ano passado -- é Alexandre Teixeira, neto de Cecília e um dos principais organizadores das homenagens que vêm sendo prestadas, este ano, à memória de sua avó.

Quanto à homenagem deste blog fica, além do carinho, em três poemas fundamentais que sei de cor há muitos e muitos anos. Escolher um só foi, pura e simplesmente, impossível.



Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.

Irmão das coisas fugidias
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
-- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
-- mais nada.



Guitarra

Punhal de prata já eras,
punhal de prata!
nem foste tu que fizeste
a minha mão insensata.

Vi-te brilhar entre as pedras,
punhal de prata!
-- no cabo flores abertas,
no gume, a medida exata.

Exata, a medida certa,
punhal de prata,
para atravessar-me o peito
com uma letra e uma data.

A maior pena que eu tenho,
punhal de prata,
não é de me ver morrendo,
mas de saber quem me mata.



Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?



Em tempo: o já famoso retrato lá de cima foi feito por Arpad Szenés, húngaro como meu pai e amigo comum dele e de Cecília. Szenés era casado com a pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva.

6.11.01





Esta é a Sissi, clicada pela sua bípede Beatriz que, num dia de 1965, me viu na Aliança Francesa de Copacabana ao lado do meu pai. Como ela me contou no e-mail, eu estava usando um vestido bem rodado, dernier cri da época para menininhas. A Sissi não é a coisa mais linda e simpática?!



Steve Gibson: "Why Windows XP will be the ***Denial of Service*** Exploitation Tool of Choice for Internet Hackers Everywhere". Aqui.



Dica de blog

Uma das minhas leituras favoritas tem sido o blog da Ca Mam Wong, uma chinesinha brasileira (ou seria o contrário?) radicada nos Estados Unidos, neste momento em visita à família, na China. A Ca Mam tem humor, um senso de observação afiadíssimo e, ainda por cima, fotografa muito bem. É uma experiência rara, porque ela fala chinês, está integrada à cultura chinesa, mas mantém uma visão bem brasileira de mundo. Dilícia!



Sampa, novamente...

...mas, pelo menos, desta vez vim em boa companhia, para completo espanto da galera que, com toda a razão, estranha demais quando o Millôr sai, já nem digo do Rio, mas de Ipanema...

Motivo: o jantar que abriu os trabalhos do lançamento de um novo livro do Pedro Corrêa do Lago, Caricaturistas brasileiros, que vai ao ar junto com uma exposição de desenhos da troupe toda. A inauguração da exposição é no dia 7, às 20h, no Instituto Cine Cultural. Não sei se o Millôrzinho agüenta tanto tempo longe do Rio -- mas eu, de qualquer forma, já pego na seqüência eventos da Samsung e da Cisco, dos quais vos darei fiel notícia.

(Na foto, que fiz durante o jantar aproveitamento a curiosa iluminação do jardim, Millôr e Paulo Caruso, discutindo seriamente -- juro! -- a crise do Oriente Médio & arredores.)


5.11.01





e$quece...


Eu confesso que ainda não tive estômago para escrever sobre o acordo entre a M$ e o DoJ. Certas coisas são nojentas demais e, sinceramente, cansativas demais -- li o texto do acordo no fim-de-semana mas, em vez de ficar no auge da indignação, como seria de esperar, aquilo me deu um desânimo completo, um tédio indescritível. Meu Deus, de que adiantou o processo todo, todos os milhares de páginas escritas nos jornais do mundo inteiro, a constatação (pra lá de óbvia) de que a M$ é um monopólio safado que não só sempre agiu como tal como pretende como tal continuar agindo, se não de forma ainda mais descarada, se para o atual governo americano isso não é um defeito mas, claramente, uma virtude? Que diferença faz uma coluna a mais ou a menos, ainda por cima publicada no Brasil, periferia do Império, se nem mesmo quando o Wall Street Journal (o WSJ! Aquele bastião do capitalismo selvagem!) faz objeções às práticas comerciais da M$ a justiça americana presta atenção?! De modo que, pelo menos por enquanto, não pretendo escrever sobre isso. Mas recomendo a todos os anglo-parlantes da casa que não deixem de ler o Dan Gillmor, que disse tudo o que eu queria dizer e mais alguma coisa.




Linkado do blog da Alê.